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24 de junho de 2007

Acordo modesto na OMC é melhor do que nada, dizem analistas

Por Laura MacInnis
GENEBRA (Reuters) - Até mesmo um pacto comercial global modesto pode ser melhor do que nada, segundo economistas e analistas, para quem a implosão das negociações na Organização Mundial de Comércio pode ter alto custo.
Países perderam prazo após prazo nos quase seis anos em busca de um novo acordo para dar um impulso às nações mais pobres no comércio global e reduzir barreiras mundiais no comércio e na agricultura, indústria e serviços.
As negociações estancaram no ano passado, quando países ricos resistiram aos pedidos para derrubar suas proteções ao politicamente sensível setor agrícola e quando países em desenvolvimento insistiram em exigências para colocar seus setores industriais em mais condições de concorrência.
As perspectivas diminuíram ainda mais na semana passada, quando uma tentativa de reduzir as diferenças entre Estados Unidos, União Européia, Brasil e Índia fracassaram na Alemanha, lançando dúvidas sobre a chance de consenso na OMC, formada por 150 países, necessário para a conclusão da rodada de Doha.
Razeen Sally, diretor do Centro Europeu de Política Econômica Internacional, disse que as posições defensivas dos negociadores significam que qualquer potencial acordo sobre Doha terá alcance limitado e "não mudará praticamente nada".
Ele disse que é importante para os países salvarem alguma coisa das negociações da OMC a fim de restaurar a confiança no sistema comercial global e nos acordos existentes.
"A ansiedade real não é por ganhos potenciais perdidos ou perdas a curto prazo na frente de liberalização. É muito mais sobre as regras. O perigo de não se chegar a um acordo é de que as regras existentes sejam desprezadas e rompidas", disse.
TENSÕES CHINESAS David Woods, analista de comércio e ex-porta-voz da OMC, disse que o fracasso de um acordo de Doha provavelmente provocará uma erupção de acordos bilaterais e regionais, prejudicando os negócios de importação e exportação nestes sistemas.
Ele advertiu que uma quebra da rodada de Doha poderá causar escalada de conflitos comerciais entre grandes potências, que já apresentaram queixas na OMC em relação a bens como milho, algodão, aeronaves e peças de automóveis.
A OMC tem papel vital para relaxar as tensões nos ciclos econômicos, disse Woods, notando que um crescimento do protecionismo em consequência do colapso de Doha pode agravar as crescentes tensões entre a China e seus parceiros comerciais, como os EUA.
"Uma diminuição da credibilidade da instituição através de um fracasso da rodada de Doha não ajudará. Torna muito mais difícil o trabalho de lidar com a China", disse.
Economias pequenas e vulneráveis também perderiam em caso de fracasso, já que poucas potências se interessariam por alianças bilaterais. Metas de desenvolvimento atreladas à agenda de Doha também seriam abandonadas em caso de colapso. A agência de ajuda Oxfam disse que já foram oferecidas concessões importantes nas negociações da OMC, incluindo cota de acesso livre de impostos a países menos desenvolvidos e promessas de troca de "ajuda por comércio", para ajudar países mais pobres a melhorar a infra-estrutura comercial, como estradas, portos e redes de comunicação.
Mas sem um acordo que trate das tarifas e subsídios dos EUA e da Europa, que distorcem o mercado, a porta-voz da Oxfam, Amy Barry, disse que produtores de algodão do oeste africano e outros agricultores de países pobres "continuariam sofrendo de verdade".
"Estas reformas são completamente necessárias", disse. "Não estamos falando sobre revisões enormes e vastas das economias de países ricos. Estamos falando apenas sobre reformas que dão oportunidade decente a países pobres."