Vez
por outra, ouve-se a história de um motorista que bateu em outro carro
num estacionamento e, diante do olhar de testemunhas, fingiu
identificar-se e colocar o seu endereço e o número do telefone em um
bilhete pregado no para-brisa do carro abalroado, para posterior
contato, quando na verdade escreveu: “Acabei de bater em seu carro. As
pessoas que viram estão me observando, talvez achando que eu estou a
escrever o meu endereço e telefone... mas não estou”. Ele estava apenas
fingindo, dissimulando, encobrindo com astúcia um malfeito. Embora
provavelmente todos pudessem pensar em seu gesto como algo honesto, o
fingido bem sabia que estava apenas fingindo.
Como
estou tratando de cristãos, se tomarmos apenas as aparências e os
estereótipos, assim de cara, nunca saberemos quem realmente está sendo
verdadeiro ou apenas fingindo. Mas cada pessoa, indubitavelmente, sabe
se está sendo verdadeiro ou apenas fingindo. E Deus, acima de todos,
sabe tão bem quanto.
Lembro-me
do caso de um jovem que foi participar de uma entrevista para ocupar um
cargo em uma empresa. Ele apresentou-se bem vestido e causou, de
primeira, uma boa impressão ao diretor de recursos humanos. Ele também
apresentou um excelente currículo, onde listou como referência o pastor
da igreja onde frequentava, assim como o seu professor da escola bíblica
e um diácono.
O
diretor, após analisar o currículo por alguns minutos, então falou:
“Aprecio as recomendações de seus amigos da igreja. Mas eu gostaria
realmente de saber a opinião de alguém que se relaciona com você durante
a semana”.
É
lamentável dizer, mas a posição tomada pelo diretor parece revelar que
há um nítido contraste na forma como alguns cristãos agem na igreja e o
seu comportamento no mundo. Quando na igreja, diante da vista do Deus
onisciente, que tudo vê e tudo conhece, todos deveriam ser verdadeiros –
porque o próprio Deus está em busca de adoradores que o adorem em
espírito e em verdade –, parece que o ambiente se torna muito mais
propício ao fingimento de uma espiritualidade quase perfeita do que a
uma expressão de fé genuína de gente imperfeita mas sincera.
Não
pretendo desmerecer ou julgar ninguém, mas, como pastor, trato
diariamente com questões dessa natureza. Não são poucos os cristãos que,
mesmo sendo assíduos na igreja, embora parecendo quase perfeitos, na
realidade não podem ser tomados como modelo de vida cristã autêntica,
tanto na sua relação com Deus como em seu relacionamento com as pessoas.
Alguns
cristãos vivem um padrão duplo, pois sua conduta diária teima em ser
inconsistente com os valores espirituais; sua caminhada no mundo
mostra-se francamente em desarmonia com sua suposta caminhada com Deus.
São cristãos dissimuladores, que apenas fingem certos aspectos de sua
fé.
Um
bom teste para sabermos se estamos sendo coerentes é nos perguntarmos:
Será que os nossos amigos da igreja se chocariam se observassem nossas
ações e ouvissem o que falamos no trabalho ou em casa? As pessoas de
nossa casa se impressionariam ao observarem o nosso comportamento no
ambiente da igreja?
Há
outras questões que não querem (e não podem) calar. Na verdade, que
exemplo é deixado para as pessoas com as quais convivemos e que
rotineiramente nos observam? Um bom cristão aos domingos não deveria
também ser um bom cristão durante a semana toda?
Jesus
nos ensinou que temos o dever de ser tanto “sal da terra” como “luz do
mundo”. E isso todo dia, não só aos domingos; e o dia todo, não só na
hora do culto. Isso quer dizer que o nosso testemunho deve ser
efetivamente produtivo e verdadeiramente sincero. Mas Jesus também
advertiu quanto ao perigo de o nosso testemunho vir a tornar-se
improdutivo e incoerente, exemplificando isso com a possibilidade de o
sal perder o sabor e a luz ficar escondida (Mt 5.13-20).
Há,
porém, duas coisas que devemos considerar sobre esses elementos.
Primeiro, o sal só é útil para dar sabor se estiver em contato com a
comida, misturado a ela. Jesus nos chama para darmos “sabor” à sociedade
em Seu nome, por meio do nosso envolvimento com as pessoas, obviamente
com o nosso testemunho condizente com os valores espirituais que
professamos. Assim, temos de viver, “acima de tudo, por modo digno do
evangelho de Cristo” (Fp 1.27).
Segundo,
a luz deve ser sempre visível, senão perde o seu papel e importância.
Cristãos que vivem como “agentes secretos” de Deus precisam sair do
esconderijo e ser conhecidos como discípulos. Em vez de “povo
encolhido”, precisamos ser vistos como “povo escolhido” de Deus, cuja
profissão de fé deve ser evidenciada por meio das boas obras, “as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas” (Ef 2.10).
O
sal se imiscui na comida sem alarde e lhe dá sabor. Quando ele não está
lá, logo se nota. Assim também a luz, quando fata, que falta faz. Moody disse: “Um farol não precisa fazer alarido para atrair a atenção dos navios. Ele apenas brilha”.
Assim, cada um de nós precisa responder: sou um cristão verdadeiro ou estou apenas fingindo?
Samuel Câmara
Pastor da Assembleia de Deus em Belém
Publicação
Domingos Teixeira Costa
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