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1 de abril de 2007

Passageiros dormem no chão e reclamam de longas esperas

Quem aguardava nos aeroportos teve que inventar meios de passar o tempo Marcos D´Paula/AE
Passageira dorme em Brasília após horas de espera SÃO PAULO - Dormir no chão, encostado nas mochilas e malas no saguão do aeroporto. Comer um lanche rápido no salão de embargue, enquanto aguarda com preocupação o horário do vôo. Mais de 10, 20 horas de espera. Filas de mais de 200 metros para check-in, sem previsão de embargue.
O que era para ser algo raro virou rotina nos aeroportos. Segundo a Infraero, cerca de 30 mil pessoas enfrentaram problemas nos vôos deste a noite de sexta, quando controladores entraram em greve e todos os aeroportos do Brasil foram fechados. Neste sábado, as atividades foram retomadas, mas os reflexos ainda persistem nos aeroportos e os passageiros enfrentam grandes atrasos e transtornos.
No Rio, nada melhor que dormir
Enquanto isso, no Rio, era mais de meia-noite e uma passageira aproveitou para dormir em cima das mochilas no saguão de embarque do Terminal 1 do Aeroporto Internacional Tom Jobim. O namorado ficou preocupado, não era um bom lugar para descansar. Mas não tinha outra solução. Ainda na tarde deste sábado, o tumulto continuava. Nas filas, passageiros reclamavam da superlotação e da falta de previsão para os vôos.
Em Brasília, dominó e invasão de avião
O que fazer além de esperar? No Aeroporto Juscelino Kubitscheck, em Brasília, um grupo de jovens cariocas tirou o jogo de dominó da mala e sentou em uma das mesas da sala de alimentação.
André Dusek/AE
Passageiros jogam dominó na espera em Brasília
Pela manhã, um grupo de 30 passageiros tentou invadir um avião da TAM com destino a Belo Horizonte. A situação foi controlada pela Polícia Federal, que estava de plantão no local para evitar incidentes.
Também pela manhã, a TAM fretou um ônibus para levar a Goiânia os passageiros de um vôo que estavam hospedados em hotéis da capital desde sexta. As filas nos balcões de algumas companhias visivelmente diminuíram neste sábado, mas muitas delas ainda ultrapassam os limites do saguão e vão até a via onde os passageiros chegam de carro para o embarque.
Hotel e jantar pagos em São Paulo
Em São Paulo, os hotéis próximos ao Aeroporto de Congonhas ficaram lotados, com cerca de 90% da ocupação, enquanto que o normal para uma noite de sexta-feira seria de 30%. Os passageiros que tiveram os vôos cancelados, entre eles a consultora Marta Dias, foram deslocados para os hotéis e tiveram o jantar e o café da manhã pagos pelas companhias. "Pelo menos isto, né? Já basta o caos que tá e as longas horas de espera", disse ela à Globo News.
Pelo menos um pouco de riso no aeroporto. Ivan de Oliveira e outros atores do Café com Bobagem, do Pânico, apareceram em Congonhas para tirar sarro de quem aguardava e também dos funcionários das companhias aéreas, que estavam perdidos e sem informações.
O aposentado José Maria Pereira calculou o prejuízo de ter ficado mais de 20 horas esperando. "Pelo menos uns R$ 500, R$ 600, eu perdi com a espera. Tem que alimentar e entreter as crianças neste tempo todo. Quando isso vai acabar?", questionou.
Em Porto Alegre, apagão aéreo na ida e na volta
O médico cearense Tarcísio Brito, 40 anos, teve o azar de enfrentar o caos aéreo na chegada e na partida do Rio Grande do Sul. No dia 18 de março, quando também ocorreram problemas nos aeroportos, ele passou mais de 10 horas esperando para viajar de Fortaleza a Porto Alegre. Neste sábado, já eram mais de nove horas esperando um vôo da Gol para São Paulo.
Ele chegou ao aeroporto Salgado Filho às 6 horas para embarcar às 8 horas. Foi ao balcão, remarcou a saída para às 13 horas e a conexão, para Fortaleza, para às 16 horas. "Na vinda foi pior", comparou. Apesar de demonstrar paciência para enfrentar a situação sentado numa cadeira do saguão, considerou a falta de solução para o problema do tráfego aéreo como um "desrespeito" aos viajantes.
No início da tarde, pelo menos metade das mesas da praça de alimentação, que tem cerca de 500 lugares, estava tomada por passageiros à espera de seus vôos.
Cansaço em Curitiba
"Isso cansa", reclamou Eurides Morais, 76 anos, quando, por volta das 15h30, ainda aguardava o vôo previsto para as 6h da manhã que a levaria a Natal (RN). Na cidade, além da greve, um nevoeiro provocou o fechamento do aeroporto por mais de 11 horas.
Indignação também expressava a atriz e diretora teatral Maria Luíza Mendonça, que participou do Festival de Teatro de Curitiba. "É um absurdo a carga horária que essas pessoas (controladores) têm", disse. "As informações são truncadas, não tem satisfação para o povo brasileiro, acho uma falta de respeito absurda com o País".
No Aeroporto Afonso Pena, o passageiro gaúcho Luiz Fernando Ferrari Mosca morreu ao esperar pelo vôo, marcado para as 6h deste sábado.
Ferrari foi levado para a sala vip da Infraero, às 5h30, onde recebeu os primeiros atendimentos médicos. Por volta das 6h, uma ambulância da empresa estatal que administra os aeroportos do país levou o passageiro para o Hospital Santa Cruz. Ainda não foi divulgada a causa da morte.