FELIPE MAIA
A oferta de US$ 44,6 bilhões da Microsoft pela compra do Yahoo! é a mais clara tentativa da empresa de rivalizar com o Google na internet, seu maior obstáculo nesta seara. Trata-se do ápice de um processo em que a gigante dos softwares procura ganhar espaço no mercado on-line, de olho principalmente nos crescentes ganhos com publicidade.
No comunicado enviado ao Yahoo!, a Microsoft deixa claro que seu objetivo no negócio é ganhar espaço no mercado de publicidade on-line.
Em clara referência ao Google, a empresa afirma: "Hoje o mercado é cada vez mais dominado por um 'player' que está consolidando seu domínio por meio de aquisições. Juntos, Microsoft e Yahoo! podem oferecer uma alternativa confiável para consumidores, anunciantes e editores".
Ng Han Guan/AP |
"Nós estamos confiantes de que esse é o caminho certo para a Microsoft e para o Yahoo!", diz Steve Ballmer, da Microsoft |
De acordo com a Microsoft, o mercado de publicidade on-line está crescendo rápido --deve passar de US$ 40 bilhões em 2007 para quase US$ 80 bilhões em 2010, nas contas da empresa.
Contra-ataque
"A Microsoft está tentando se adiantar para um embate na área de publicidade on-line. Com o negócio, a Microsoft impede que Google tente comprar o Yahoo! ou fazer uma fusão. Se isso acontecesse, a Microsoft ficaria isolada no mercado de softwares", afirma José Calazans, analista de mídia do Ibope/NetRatings.
Para Calazans, caso o negócio se concretize, o Google vai contra-atacar e também colocar os pés no principal mercado do concorrente. "Provavelmente o Google vai ser levado a apostar em sistemas operacionais e programas on-line. Há um interesse em que isso se desenvolva", afirma o analista.
Diante desse cenário, a Microsoft parece determinada a fechar o negócio. Durante uma entrevista coletiva realizada hoje, o executivo-chefe da empresa, Steve Ballmer, sugeriu que não vai aceitar um "não" do Yahoo!.
"Essa é uma decisão sobre a qual nós [a Microsoft] --e eu-- pensamos muito e durante muito tempo", afirmou Ballmer. "Nós estamos confiantes de que esse é o caminho certo para a Microsoft e para o Yahoo!".
Analistas internacionais consideram que o negócio pode ser positivo para as duas empresas. "Já era hora. Ótimo para a Microsoft. Ótimo para os acionistas do Yahoo!. Esses mercados de internet são segmentos 'um-vencedor-leva-tudo' e não podem ser construídos. O tempo é muito valioso. O Yahoo! tem umas das melhores posições na internet porque integrou propaganda com buscas", afirma Laura Martin, analista da Soleil-Media Metrics, em Nova York.
Processo
Em outubro do ano passado, a empresa fundada por Bill Gates pagou US$ 240 milhões por uma fatia de apenas 1,6% do site de relacionamentos Facebook. Antes, a companhia já havia desembolsado US$ 6 bilhões pela empresa de marketing digital aQuantive.
A compra da Musiwave, que atua no mercado de músicas para celular, e da Multimap, de mapas on-line são outros exemplos desse movimento. A Microsoft já havia inclusive tentado um acordo com o Yahoo! entre o fim de 2006 e o começo de 2007 --de parcerias comerciais a uma fusão. Entretanto, as propostas foram rejeitadas.
A Microsoft vê a compra do Yahoo! como uma chance de fazer frente ao Google no mercado de buscas, que, com o sistema de links patrocinados, fica com grande parte do investimento em publicidade na internet.
Sozinho, o Google tem uma participação no mercado de buscas maior que todos os seus concorrentes juntos. Segundo a consultoria comScore, em dezembro, o Google foi utilizado para 62,4% das buscas, seguido pelo Yahoo!, com 12,8%. Já a Microsoft ficou com apenas 2,9%.
"É um negócio interessante. Separadas, ambas as empresas não conseguem gerar escala [no mercado de buscas]. Juntas, mesmo que somadas ainda sejam menores que o Google, elas passam a ser um 'player' mais relevante", afirma Marcelo Sant'Iago, diretor de novos negócios da MidiaClick e ex-presidente do IAB (Interactive Advertising Bureau) Brasil.
Regulamentação
Entretanto, caso concluído, o negócio ainda terá de ser aprovado por entidades reguladoras de comércio. O Departamento de Justiça dos Estados Unidos já anunciou que está "interessado" em analisar o impacto do negócio sobre o mercado. A Microsoft disse esperar que o negócio seja fechado e seja aprovado por órgãos reguladores ainda este ano.
Pela proposta da Microsoft, os acionistas do Yahoo! poderão escolher se querem receber sua parte no negócio em dinheiro ou em ações da Microsoft. Caso escolham a última opção, eles se tornariam acionistas da empresa de Bill Gates. No total, a Microsoft se propõe a pagar metade em dinheiro e metade em ações.
De acordo com Microsoft, o acordo pode gerar uma economia de gastos no valor de US$ 1 bilhão --no comunicado, a empresa fala em "eliminar a infra-estrutura redundante e custos operacionais duplicativos".
Crise
A oferta ocorre na mesma semana em que o Yahoo! anunciou que vai demitir mil empregados, o que representa 7% de seu quadro de funcionários. Trata-se da maior eliminação de postos de trabalho que a empresa promove desde a sua fundação. Atualmente, a empresa conta com 14.300 funcionários.
Na terça-feira (29), a empresa divulgou o balanço dos negócios referente ao quarto trimestre de 2007. O Yahoo! registrou um lucro líquido de US$ 206 milhões, 23% a menos do que no mesmo período do ano anterior.
Com informações das agências France Presse, Associated Press, Reuters e France Presse
http://www1.folha.uol.com.br/folha/informatica/ult124u368947.shtml