Por Jorge Silva
SAN ANTONIO, Venezuela (Reuters) - Na segunda-feira, a Venezuela, o Equador e a Colômbia saíram em busca de apoio internacional em meio à crise que provocou temores sobre o início de uma guerra depois de os governos venezuelano e equatoriano ordenarem o envio de soldados à fronteira colombiana.
A crise iniciou-se quando a Colômbia, no fim de semana, realizou com helicópteros e soldados um ataque contra uma área do Equador matando um líder rebelde colombiano, em uma ação que representou um pesado golpe contra a mais antiga guerrilha da América Latina.
Governos de vários países, da França ao Brasil, tentaram debelar a crise nos Andes, onde o presidente colombiano, Alvaro Uribe, um fiel aliado dos EUA, enfrenta dois dirigentes esquerdistas ferozmente avessos às propostas norte-americanos de liberalização da economia.
O trânsito de veículos fluía normalmente em San Antonio, principal posto da fronteira entre a Venezuela e a Colômbia. E, apesar de os governos venezuelano e equatoriano terem anunciado que enviariam mais soldados para a fronteira, não houve por enquanto qualquer sinal das manobras militares.
A Colômbia afirmou que não deslocaria um contingente suplementar de soldados para as fronteiras com a Venezuela e o Equador.
O governo colombiano tentou nesta segunda-feira justificar sua operação, afirmando que as leis internacionais permitem ações do tipo contra "terroristas" e acusando o Equador de permitir que os rebeldes da guerrilha esquerdista Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) se refugiassem em seu território.
"Nunca fomos um país propenso a tomar atitudes aventureiras no campo da política ou no campo militar", afirmou o vice-presidente colombiano, Francisco Santos, em Genebra.
Mas o Equador, aliado da Venezuela, disse que a Colômbia tinha violado deliberadamente sua soberania e conclamou os demais países da América Latina a pressionarem os dirigentes colombianos a fim de que não se repita essa "agressão".
O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, prometeu retaliar militarmente, usando jatos de fabricação russa, caso a Colômbia realize uma operação do tipo dentro do seu país.
Chávez fechou a embaixada venezuelana em Bogotá e o presidente do Equador, Rafael Correa, expulsou o embaixador colombiano de Quito. Chávez, que disse haver o perigo de uma guerra eclodir na região, e Correa chamaram Uribe de "mentiroso."
Os títulos da dívida venezuelana e equatoriana bem como a moeda colombiana sofreram baixas nesta segunda-feira.
"Isso aumenta os índices de risco para os três países de forma significativa," afirmou Gianfranco Bertozzi, da Lehman Brothers.
VIZINHOS TENTAM APLACAR CRISE
O Brasil, o peso pesado da diplomacia latino-americana, disse que tentaria resolver o impasse e observou que a tensão poderia desestabilizar as relações regionais.
A presidente do Chile, Michelle Bachelet, exigiu da Colômbia que explicasse à região por que suas tropas haviam ingressado no Equador.
"O mais importante hoje é o fato de que podemos evitar uma escalada desse conflito", acrescentou.
A França, que se empenha em libertar reféns mantidos pelas Farc, pediu calma aos envolvidos e disse que a morte do líder rebelde era uma notícia ruim porque ele tinha papel fundamental nos esforços para que fossem soltas as pessoas sequestradas.
A Colômbia pediu desculpas pela operação e tentou diminuir as tensões.
Apesar da crise, analistas de política consideram improvável a deflagração de uma guerra.
Chávez está mais interessado em ampliar sua base de apoio com suas declarações contundentes e não pode arcar com o custo de ficar sem os alimentos comprados da Colômbia. A Venezuela enfrenta escassez de alimentos.
"Há poucas chances de um conflito armado instalar-se, já que há muita coisa em jogo para todos os lados," disse Bertozzi. "As tensões devem dissipar-se nos próximos dias."
(Reportagem adicional de Antonio de la Jara, em Santiago, Patrick Markey, em Bogotá e Raymond Colitt em Brasília)
http://oglobo.globo.com/mundo/mat/2008/03/03/ venezuela_equador_colombia_buscam_ apoio_do_exterior-426055968.asp