BRASÍLIA - A instabilidade na República de Guiné-Bissau, após os assassinatos do presidente João Bernardo Vieira e do chefe das Forças Armadas, general Tagmé Na Waié – mortos no começo de março – está mobilizando a comunidade internacional. A situação será discutida pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas na próxima quarta-feira (8).
O presidente, conhecido como Nino, controlou Guiné-Bissau por quase 23 anos, foi deposto durante uma guerra civil e reeleito em 2005, após ter ficado nove anos fora do poder. Nino foi assassinado por soldados no dia 2 de março, horas depois de o general Tagme Na Waie ter sido morto em um ataque a bomba. O Exército de Guiné-Bissau responsabilizou Nino pela morte de Tagme Na Waie.
Na madrugada de quarta para quinta-feira (2), o advogado Pedro Infanda foi detido ilegalmente, e o presidente do Tribunal de Contas e ex-primeiro ministro, Francisco Fadul, foi espancado por homens armados e uniformizados, supostamente devido a críticas feitas em coletiva de imprensa quanto à atuação do governo e de militares. As chefias militares do país negaram participação no ataque, segundo informações da Agência Lusa.
Em nota, a presidência portuguesa da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) – da qual o Brasil faz parte – ressaltou que esse tipo de ação pode comprometer o processo de reconciliação nacional e a confiança necessária à mobilização da comunidade internacional e dos parceiros de Guiné-Bissau, e pediu às autoridades guineenses que assegurem clima de tranqüilidade e segurança ao país.
Em relatório divulgado ontem, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, voltou a pedir uma rigorosa investigação sobre os ataques a Nino Vieira e ao general Tagme Na Waie e fez um apelo à comunidade internacional para que não abandone o país africano neste momento e ofereça apoio técnico e financeiro para a realização das eleições presidenciais marcadas para 28 de junho (com custo estimado de 3 milhões de euros).
O Brasil já anunciou que pretende colaborar financeiramente e também enviará missão de cooperação militar para áreas de treinamento das Forças Armadas e elaboração de políticas para o setor – no dia 21 deste mês, o Brasil participará de reunião da CPLP sobre a reforma das Forças Armadas de Guiné-Bissau. Em outubro, a ONU aprovou financiamento de US$ 5,6 milhões para a reabilitação de quartéis das forças armadas, formação e criação de emprego para jovens e reabilitação de quatro estabelecimentos prisionais – ações previstas no Plano Estratégico de Consolidação da Paz para a Guiné-Bissau.
Não está descartada a possibilidade do envio de um contingente militar ou policial das Nações Unidas e da União Africana, com o apoio da CPLP e da Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental (Cedeao). A hipótese foi anunciada esta semana pelo primeiro-ministro de Cabo Verde, José Maria Neves.
Em entrevista à Agência Lusa, nesta sexta (3), o diretor do Departamento de África do Itamaraty, embaixador Fernando Simas ,informou, no entanto, que o envio de contingente militar só ocorrerá caso seja solicitado explicitamente por Guiné-Bissau, e sob mandato das Nações Unidas. "Essas são as duas premissas. Guiné-Bissau aceitou tacitamente a proposta feita no último dia 19 em reunião da Cedeao, da qual o país faz parte. Mas o fundamental agora é que se passe do tácito ao explícito", afirmou à agência portuguesa de notícias.
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