Ignacio Ortega.
Moscou, 8 abr (EFE).- Após derrubar o presidente Kurmanbek Bakiyev, que não renunciou ao poder, e já com o aparente apoio da Rússia, o Governo provisório criado pela oposição assumiu hoje o controle total político e militar do Quirguistão, uma das ex-repúblicas soviéticas.
"Bakiyev já não é mais o presidente do país. Rosa Otunbayeva é a chefe do Governo provisório. O Parlamento foi dissolvido", afirmou hoje à Agência Efe o opositor Temir Sariev, vice-primeiro-ministro do novo Governo.
Segundo Sariev, as novas autoridades controlam a situação em todo o Quirguistão, com exceção da região de Jalal-Abad, no sudoeste do país e onde está Bakiyev.
"Jalal-Abad é um décimo do país e nós controlamos o resto. Não permitiremos uma guerra civil", advertiu.
Já Otunbayeva, que protagonizou a Revolução das Tulipas (2005), assegurou que as Forças Armadas passaram para o lado da oposição, mas que Bakyiev não tem a intenção de renunciar.
O presidente derrubado rompeu o silêncio para ressaltar que não renunciará. "Não posso influir na situação na república", ressaltou, porém.
"Anuncio que, como presidente, não renunciei, nem renunciarei a minhas faculdades", assinalou Bakyiev em comunicado divulgado na internet, já que a oposição controla a televisão pública.
O líder deposto qualificou a tomada do poder pela oposição de "tentativa de golpe de Estado" e, seguidamente, denunciou que "forças externas" estiveram por trás de sua derrocada, em velada alusão à Rússia.
"Não nomearei o país concreto, mas sem forças externas é impossível realizar operação coordenada semelhante", declarou à emissora de rádio "Eco de Moscou", antes de reconhecer que os protestos antigovernamentais o pegaram "desprevenido".
De acordo com ele, "apesar de o Exército e as forças da ordem terem se subordinado às novas autoridades, os corpos de segurança são incapazes de restabelecer a ordem".
"Em muitas regiões do país, especialmente na capital, se observa um completo caos, se estende a onda de violência e saque, surgem conflitos interétnicos", detalhou.
Ao mesmo tempo, disse que está disposto a assumir a responsabilidade pelo que chamou de "fatos trágicos" se houver uma investigação "objetiva e imparcial".
A respeito, Sariev antecipou que as novas autoridades processarão Bakyiev e outros dirigentes depostos por terem ordenado que atirassem, ontem, contra os manifestantes que tentavam invadir a sede do Governo em Bishkek.
Segundo o Ministério da Saúde, pelo menos 75 pessoas morreram, a maioria baleada, e mil ficaram feridas durante os violentos choques de ontem entre Polícia e oposição na capital e em outras cidades.
O primeiro-ministro russo, Vladimir Putin, falou hoje por telefone com Otunbayeva, no que representa um primeiro apoio às novas autoridades do Quirguistão.
"A Rússia sempre prestou e está disposta a prestar toda a ajuda humanitária necessária ao povo quirguiz", disse Putin.
Em declarações à "Eco de Moscou", Otunbayeva assegurou que Putin, que criticara ontem Bakyiev por cair no nepotismo, se interessou pela situação no país.
"Acordamos que o vice-primeiro-ministro, Almaz Atambayev, viajará para Moscou para expor nossas necessidades. Estamos agradecidos à Rússia e a seu primeiro-ministro pela significativa ajuda que nos deram para trazer à luz a verdade sobre este regime criminoso", ressaltou.
Segundo a imprensa russa, Bakiyev decepcionou o Kremlin ao permitir aos Estados Unidos instalar perto de Bishkek um centro de passagem para cargas militares com destino ao Afeganistão.
A Rússia, que conta com uma base militar em solo quirguiz (Kant), ofereceu a Bakiyev um crédito de US$ 2 bilhões e o perdão de parte da dívida externa para que fechasse a base americana, mas ele cedeu às pressões de Washington.
O próprio Bakyiev, que não admite a derrota, mas deixou aberta a possibilidade de abandonar o país, reconheceu à "Eco de Moscou" que nenhum funcionário do Governo russo tinha se interessado por seu estado nos últimos dias.
Em 2005, Putin apoiou abertamente o então presidente do Quirguistão, Askar Akayev, derrubado na Revolução das Tulipas após ser acusado de fraude eleitoral e de nepotismo. O ex-líder, então, se exilou em Moscou.
Bishkek continua como palco de manifestantes, alguns armados, que tentaram ter acesso ao bairro diplomático. Por isso, as novas autoridades liberaram a Polícia para utilizar armas de fogo para restabelecer a ordem. EFE
http://g1.globo.com
Envie um e-mail para mim!