As operações Vegas e Monte Carlo, da Polícia Federal, têm, ao total, 416 ligações entre Demóstenes Torres (sem partido-GO) e o bicheiro Carlinhos Cachoeira. As informações foram dadas nesta terça-feira pelos delegados Matheus Mella e Raul Alexandre Marques, da Polícia Federal, responsáveis pelas duas operações.
O senador Randolfe Rodrigues (PSol-AP), que acompanha a sessão secreta de oitiva dos delegados no Conselho de Ética do Senado, disse que eles aprofundaram informações já prestadas em depoimento na semana passada à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que investiga a rede de influências de Cachoeira.
De acordo com o senador, a primeira operação reuniu 63 diálogos entre os dois, num período de 45 dias. A segunda, Monte Carlo, contabilizou 353 telefonemas entre Demóstenes e Cachoeira em quase um ano de investigações. Além disso, há conversas de Demóstenes com outros 25 investigados. Outros 293 diálogos citam o nome do senador.
"Numa das conversas, o tesoureiro Gleyb (Ferreira) liga para Cachoeira e diz que está na porta da casa de Demóstenes com os R$ 20 mil dele, ao que Cachoeira responde: "entrega para ele (Demóstenes)", informou o senador Randolfe, que saiu da sessão secreta para falar com jornalistas.
De acordo com senador, o Conselho de Ética pretende investigar se Demóstenes fez lobby a favor da legalização de jogos e máquinas de caça-níqueis, favorecendo os negócios do bicheiro. "Num dos diálogos entre Demóstenes e Cachoeira sobre um projeto de lei que trata da legalização do jogo, Demóstenes termina a ligação dizendo: eu sou contra, mas se você quer, eu vou fazer, dando a entender que trabalharia para que o projeto fosse aprovado", contou Randolfe.
O advogado de Demóstenes, Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, que acompanha a sessão secreta, fez perguntas e aos delegados. Segundo Randolfe, a linha seguida pelo advogado é mostrar que a investigação foi ilegal, já que foi feita sobre alguém com foro privilegiado - o senador Demóstenes Torres. "A tentativa dele é anular a investigação e, depois, anular uma possível cassação no Conselho de Ética", disse.
Kakay disse que não vai se pronunciar sobre o mérito da questão - o nível de envolvimento de Demóstenes com o bicheiro - por considerar que isso afeta sua estratégia de defesa. "Se eu falo sobre ela, estou validando essa prova. Claramente um senador da República foi investigado pela polícia, o que é claramente inconstitucional, ilegal. Se eu comentar, estarei partindo de um processo que é todo nulo. A defesa do mérito será feita pelo Demóstenes, quando vier", afirmou o advogado. Seu argumento é que como um senador tem foro privilegiado, somente o Supremo Tribunal Federal (STF) tem autonomia para investigar Demóstenes.
Sobre a ida de Cachoeira para prestar depoimento na CPI e no Conselho de Ética, Kakay, que arrolou o bicheiro como testemunha de defesa do senador, disse que o que o contraventor tem a dizer é importante para seu caso. "A expectativa é que ele venha, mas é uma decisão do advogado dele", afirmou.
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