3.10. Marino, centurião
sob Galieno Pode parecer estranho falar de um mártir sob o imperador Galieno
(260-268), que não perseguiu os cristãos, e, pelo contrário, facilitou-lhes a
vida, revogando os editos e restituindo os bens confiscados, como diz Eusébio
num outro ponto do mesmo livro VII da História Eclesiástica.
Marino, de fato, não foi vítima de uma perseguição organizada, mas da
rivalidade de um competidor na carreira militar. Nobre, rico, tendo chegado a
um alto grau da hierarquia, Marino talvez tenha tido um momento de hesitação
diante da intimação do juiz, tanto que usou o tempo que lhe fora concedido para
refletir, diversamente de muitos outros que, em situações semelhantes, tinham
tomado logo a resolução de enfrentar o martírio, mas, oportunamente acompanhado
pelas palavras do seu bispo, não teve mais incertezas.
O fato é muito importante, porque permite compreender que, mesmo quando
não havia uma perseguição oficial, ficavam sempre latentes as razões de
dissídio entre a estrutura político-moral-religiosa do império romano e os
princípios do cristianismo.
Durante o tempo em que a paz reinava em todos os lugares nas igrejas
cristãs, foi decapitado na Cesareia da Palestina por ter confessado sua fé, Marino, que pertencia aos
altos graus da hierarquia militar e era ilustre pela nobreza e riqueza.
A causa da condenação foi a seguinte: existe entre os romanos um
distintivo formado por um ramo de videira, e o merecedor dele torna-se centurião.
Como havia um lugar vago, a promoção cabia de direito a Marino, mas, quando já
estava para conseguir tal honra, apresentou-se um outro ao tribunal, dizendo
que, segundo as antigas leis, não lhe era lícito receber qualquer
honorificência dos romanos, porque era cristão e não sacrificava aos deuses; o
indivíduo sustentou, então que o lugar cabia a ele e não a Marino.
Impressionado pelo fato, o juiz, que se chamava Arqueo, perguntou
primeiramente a Marino qual a religião que seguia e, quando ouviu-o
confessar-se firmemente cristão, concedeu-lhe três horas de tempo para
refletir. Quando Marino saiu do tribunal, Teotécno, bispo de Cesareia, chamou-o
para uma conversa, tomou-o pelas mãos e levou-o à igreja.
Tão logo chegaram ao lugar sagrado, o bispo acompanhou Marino até diante
do altar, levantou um pouco o seu manto e, indicando-lhe a espada que aí estava
presa, colocou ao lado dela o livro do Evangelho, impondo-lhe a escolha entre
as duas coisas segundo a sua consciência. Sem sombra de incerteza, Marino
estendeu a mão direita e segurou a divina Escritura.
"Permanece sempre junto do Senhor - disse-lhe Teotécno - e obterás
o que escolheste. Fortificado pela sua graça, vai em paz". Enquanto Marino
saía da igreja, o pregoeiro chamava-o em voz alta diante do tribunal, porque
havia terminado o tempo concedido para a decisão. Diante do juiz, Marino
mostrou grande fervor em confessar a própria fé e, levado ao suplício do modo
que estava, consumou o martírio.
Recordam-se também na mesma circunstância a franqueza e o fervor
religioso de Astírio,
que pertencia à ordem senatorial, estava em relações de amizade cordial com os
soberanos e era conhecido de todos pela nobreza e pelos bens.
Estando presente ao martírio de Marino, tão logo este foi consumado,
levantou o cadáver, carregou-o nos ombros, sobre a veste cândida e preciosa, e
levou-o para que tivesse uma sepultura honrosa, digna da sua condição.
(Eusébio, História Eclesiástica, l. VII, c. 15 e ss.)
Organizado e publicado por:
Domingos Teixeira Costa