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3 de novembro de 2017

Mátires no império (IX)




3.10. Marino, centurião sob Galieno Pode parecer estranho falar de um mártir sob o imperador Galieno (260-268), que não perseguiu os cristãos, e, pelo contrário, facilitou-lhes a vida, revogando os editos e restituindo os bens confiscados, como diz Eusébio num outro ponto do mesmo livro VII da História Eclesiástica.

Marino, de fato, não foi vítima de uma perseguição organizada, mas da rivalidade de um competidor na carreira militar. Nobre, rico, tendo chegado a um alto grau da hierarquia, Marino talvez tenha tido um momento de hesitação diante da intimação do juiz, tanto que usou o tempo que lhe fora concedido para refletir, diversamente de muitos outros que, em situações semelhantes, tinham tomado logo a resolução de enfrentar o martírio, mas, oportunamente acompanhado pelas palavras do seu bispo, não teve mais incertezas.

O fato é muito importante, porque permite compreender que, mesmo quando não havia uma perseguição oficial, ficavam sempre latentes as razões de dissídio entre a estrutura político-moral-religiosa do império romano e os princípios do cristianismo.

Durante o tempo em que a paz reinava em todos os lugares nas igrejas cristãs, foi decapitado na Cesareia da Palestina por ter confessado sua fé, Marino, que pertencia aos altos graus da hierarquia militar e era ilustre pela nobreza e riqueza.

A causa da condenação foi a seguinte: existe entre os romanos um distintivo formado por um ramo de videira, e o merecedor dele torna-se centurião. Como havia um lugar vago, a promoção cabia de direito a Marino, mas, quando já estava para conseguir tal honra, apresentou-se um outro ao tribunal, dizendo que, segundo as antigas leis, não lhe era lícito receber qualquer honorificência dos romanos, porque era cristão e não sacrificava aos deuses; o indivíduo sustentou, então que o lugar cabia a ele e não a Marino.

Impressionado pelo fato, o juiz, que se chamava Arqueo, perguntou primeiramente a Marino qual a religião que seguia e, quando ouviu-o confessar-se firmemente cristão, concedeu-lhe três horas de tempo para refletir. Quando Marino saiu do tribunal, Teotécno, bispo de Cesareia, chamou-o para uma conversa, tomou-o pelas mãos e levou-o à igreja.

Tão logo chegaram ao lugar sagrado, o bispo acompanhou Marino até diante do altar, levantou um pouco o seu manto e, indicando-lhe a espada que aí estava presa, colocou ao lado dela o livro do Evangelho, impondo-lhe a escolha entre as duas coisas segundo a sua consciência. Sem sombra de incerteza, Marino estendeu a mão direita e segurou a divina Escritura.

"Permanece sempre junto do Senhor - disse-lhe Teotécno - e obterás o que escolheste. Fortificado pela sua graça, vai em paz". Enquanto Marino saía da igreja, o pregoeiro chamava-o em voz alta diante do tribunal, porque havia terminado o tempo concedido para a decisão. Diante do juiz, Marino mostrou grande fervor em confessar a própria fé e, levado ao suplício do modo que estava, consumou o martírio.

Recordam-se também na mesma circunstância a franqueza e o fervor religioso de  Astírio, que pertencia à ordem senatorial, estava em relações de amizade cordial com os soberanos e era conhecido de todos pela nobreza e pelos bens.


Estando presente ao martírio de Marino, tão logo este foi consumado, levantou o cadáver, carregou-o nos ombros, sobre a veste cândida e preciosa, e levou-o para que tivesse uma sepultura honrosa, digna da sua condição. (Eusébio, História Eclesiástica, l. VII, c. 15 e ss.) 


Organizado e publicado por:
Domingos Teixeira Costa





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