3.11. Martírio de Êuplio Diácono, sob
Diocleciano, no ano 304 O martírio de Êuplio, diácono de Catânia, aconteceu em
304, como pode ser deduzido da indicação do consulado de Diocleciano e
Maximiano, e do fato que o cristão é convidado a sacrificar aos deuses, conforme
a ordem do IV edito imperial, emanado naquele ano. Certamente ainda estava em
vigor o edito contra a conservação dos livros sagrados, porque o ponto
principal da acusação contra Êuplio refere-se ao evangelho, que o diácono tinha
conservado e mostrava com orgulho. Os Atos que nos chegaram, num breve texto
latino, une a ata da prisão e da primeira confissão de Êuplio à do
interrogatório pelo qual passou em meio às torturas.
Uma frase do capítulo I: "...estando fora da tenda do escritório do
governador, o diácono Êuplio gritou: "Sou cristão e desejo morrer pelo
nome de Cristo", leva a crer que ele não tivesse sido preso, mas que se
tivesse denunciado espontaneamente, talvez durante o interrogatório de outros
fiéis; a hipótese é confirmada também pelas palavras do juiz que o entrega aos
esbirros: "Como é evidente a tua confissão..." (c. I) e parece levado
a proceder pela atitude do cristão, mais do que por uma vontade pessoal
inquiridora.
"Durante o nono consulado de Diocleciano e o oitavo de Maximiano,
na vigília dos idos de agosto, na cidade de Catânia, estando fora da tenda do
escritório do governador, o diácono Êuplio gritou: "Sou cristão e desejo
morrer pelo nome de Cristo".
Ouvindo isso, o procurador Calvisiano disse: "Que entre a pessoa
que gritou". Tão logo Êuplio entrou no escritório do juiz, tendo os
evangelhos nas mãos, um dos amigos de Calvisiano, que se chamava Máximo, disse:
"Não é lícito ter estes livros, contra a ordem imperial".
Calvisiano perguntou a Êuplio: "De onde vêm estes livros? Saíram da
tua casa?". Êuplio respondeu: "Não tenho casa. Sabe-o também o meu
Senhor, Jesus Cristo". O procurador Calvisiano retomou: "Foste tu
quem os trouxestes aqui?". Êuplio respondeu: "Eu os trouxe, como tu
mesmo vês. Fui encontrado com eles".
Calvisiano ordenou: "Lê-os". Abrindo o evangelho, Êuplio leu:
"Bem-aventurados os que sofrem perseguições por causa da justiça, pois
deles é o reino dos céus", e, numa outra passagem: "Quem quiser vir
após mim, tome a sua cruz e siga-me". Enquanto lia esses e outros passos,
Calvisiano perguntou: "O que é isso tudo?". Êuplio respondeu: "É
a lei do meu Senhor, que me foi confiada".
Calvisiano insistiu: "Por quem?". Êuplio respondeu: "Por
Jesus Cristo, Filho do Deus vivo". Calvisiano interveio novamente dizendo:
"Como é evidente a tua confissão, sejas entregue ao ministro da tortura e
interrogado em meio a suplícios". Quando foi-lhes entregue, começou o
segundo interrogatório, em meio às torturas.
Durante o nono consulado de Diocleciano e o oitavo de Maximiano, na
vigília dos idos de agosto, o procurador Calvisiano disse a Êuplio, em meio aos
tormentos: "O que repetes agora daquilo que declaraste na tua
confissão?". Traçando o sinal da cruz sobre si com a mão livre, o mártir
respondeu: "Aquilo que disse antes, confirmo-o agora: sou cristão e leio
as divinas Escrituras".
Calvisiano rebateu: "Por que não entregaste estes livros, cuja
leitura os imperadores vetaram, mas os mantiveste contigo?". Êuplio disse:
"Porque sou cristão e não me era lícito entregá-los. É melhor, para um
cristão, morrer do que entregá-los; neles está a vida eterna. Quem os entrega
perde a vida eterna e, para não perde-la, eu ofereço a minha".
Calvisiano interveio dizendo: "Seja torturado Êuplio que,
infringindo o edito dos príncipes, não entregou as Escrituras, mas leu-as ao
povo". Êuplio disse, em meio aos tormentos: "Agradeço-te, ó Cristo.
Protege-me porque sofro tudo isso por ti!".
Calvisiano exortou-o com estas palavras: "Desiste dessa loucura,
Êuplio. Adora os deuses e serás libertado". Êuplio respondeu: "Adoro
a Cristo, detesto os demônios. Faz de mim o que quiseres, sou cristão. Desejei
isto por muito tempo. Faz o que quiseres. Aumenta os meus tormentos. Sou
cristão".
A tortura já durava muito tempo quando Calvisiano ordenou aos carnífices
que parassem e disse ao mártir: "Adora os deuses, infeliz! Venera Marte,
Apolo e Esculápio!". Êuplio respondeu: "Adoro o Pai, o Filho e o
Espírito Santo. Adoro a Santíssima Trindade, fora da qual não existe outro
Deus. Pereçam os deuses que não criaram o céu, a terra e tudo o que neles
existe. Eu sou cristão".
O prefeito Calvisiano insistiu: "Sacrifica, se queres ser
libertado!". Êuplio respondeu: "Justamente agora sacrifico-me a
Cristo Deus. Não existe nenhum outro sacrifício que eu deva fazer. Tentas em
vão fazer-me renegar a fé. Eu sou cristão".
Calvisiano ordenou que fosse torturado mais violentamente ainda; durante
os tormentos, Êuplio disse: "Rendo-te graças, ó Cristo, socorre-me;
Cristo, sofro isto por ti, Cristo!". Repetiu muitas vezes estas invocações
e, quando faltaram-lhe as forças, já sem voz, dizia apenas com os lábios estas
e outras orações.
Entrando no interior do seu escritório, Calvisiano ditou a sentença e,
saindo, leu a ata que levara consigo: "Ordeno que Êuplio, cristão, que
despreza os editos dos príncipes, blasfema contra os deuses e não se arrepende
disso tudo, seja passado a fio de espada. Levai-o ao suplício".
O evangelho com que fora encontrado no momento da prisão foi pendurado
ao pescoço do mártir, e o pregoeiro ia dizendo: "Êuplio, cristão, inimigo
dos deuses e dos soberanos".
Alegre, Êuplio respondia sempre: "Graças a Cristo Deus!".
Chegando ao lugar da execução, ajoelhou-se e orou longamente. Dando ainda
graças ao Senhor, apresentou o pescoço e foi decapitado pelo carnífice. “O seu
corpo foi depois recolhido pelos cristãos e embalsamado com perfumes, e
sepultado".
Organizado e publicado por:
Domingos Teixeira Costa