3.13. Crucificado um ancião
de 120 anos: martírio de Simeão O martírio de Simeão, bispo de
Jerusalém na Palestina, não se deve à aplicação das disposições do imperador
Trajano ("rescrito" de Trajano a Plínio), mas à perseguição judaica.
O historiador Hegesipo, testemunha bem informada das coisas da
Palestina, informa-nos que, por volta de 117 d.C., o bispo foi acusado de
pertencer à estirpe de Davi e ser cristão, para mal estar de judeus heréticos.
Estes aproveitaram um momento crítico do império em luta contra os Partos,
desfrutando o estado de espírito do imperador contrariado pelas veleidades das
insurreições judaicas.
Segundo o testemunho de Eusébio, a perseguição causada sobretudo por
tumultos populares atingiu Simeão, filho de Cléofas à idade de 120 anos. O
parente do Senhor, como escreve Eusébio - "foi atormentado durante muitos
dias com duríssimos tormentos, mas confessou sempre com firmeza a fé em Cristo;
fê-lo com tal força que o próprio procônsul Ático e todos os presentes ficaram
admirados ao ver como um velho de 120 anos pudesse resistir a tantos tormentos:
por sentença do juiz, foi finalmente crucificado" (Eusébio, História
eclesiástica, III, 3 2,1-6).
3.14. "Tenho
prontas as feras..." - Martírio de Policarpo O martírio de
Policarpo é uma das mais antigas "paixões epistolares". Discípulo do
apóstolo João, Policarpo foi feito bispo de Esmirna, uma das mais importantes
comunidades cristãs.
Em Esmirna (Turquia), no ano 155, a intolerância manifestou-se com o
martírio do bispo Policarpo, provocado pela multidão enfurecida. O magistrado
Herodes procedeu à prisão do bispo que, entretanto tinha deixado a cidade.
Mandou-o levar ao estádio onde procurou convence-lo a renegar a fé: - Pensa na
tua idade e jura pelo gênio de César, convence-te uma vez por todas a gritar a
morte dos ateus. - Sim, morram os ateus! - Jura e coloco-te em liberdade;
amaldiçoa o Cristo. - Fazem 86 anos que o sirvo, e ele nada fez de errado para
comigo; como posso blasfemar contra o meu Rei e Salvador? - Tenho prontas as
feras; se não mudas de idéia lanço-te a elas. - Chama-as! Nós cristãos não
admitimos que se mude, passando do bem ao mal, mas acreditamos que é preciso
converter-nos do pecado à justiça. - Se não te importam as feras e se continuas
a ter a mesma idéia fixa farei com que sejas consumido pelo fogo. - Ameaças-me
com um fogo que queima por pouco e depois se apaga; vê-se que não conheces
aquele do juízo futuro, da pena eterna reservada aos ímpios. Porque queres ser
condescendente? Faz o que quiseres. Dizia isso com coragem e serenidade,
irradiando tal graça do seu rosto, que nem parecia que fosse ele o processado,
mas sim o Procônsul.
Quando a fogueira foi preparada, amarraram-no com as mãos às costas,
como um carneiro de um grande rebanho escolhido para o sacrifício, holocausto
aceito por Deus. Elevando os olhos, ele rezou: - Eu te bendigo, Senhor Deus
onipotente, porque me fizeste digno deste dia e desta hora, de ser enumerado
entre os mártires, de compartilhar o cálice do teu Cristo, para ressuscitar à
vida eterna da alma e do corpo na incorruptibilidade do Espírito Santo.
Concluída a oração, a fogueira foi acesa; as chamas, porém, dobrando-se
em forma de abóbada, como se fosse uma vela inchada pelo vento, circundou o
corpo do mártir como um muro. Estava no meio não como corpo que queima, mas
como pão que se doura assando ou como ouro e prata que são refinados no
cadinho; sentiu-se um perfume como de incenso ou outro aroma precioso. Afinal,
um carnífice matou-o com a espada.
Organizado e publicado por:
Domingos Teixeira Costa