Conclusão
6.Os mártires, testemunhas radicais
"Ser mártir é uma vocação. O Espírito Santo, não o juiz ou carnífice, faz
os mártires, isto é, as grandes testemunhas. É o modo como cada vocação exprime
uma dimensão da existência cristã que é comum a todos". É esse o fio
condutor da reflexão que segue sobre a necessidade, atualidade e radicalidade
do martírio e sobre a sua força de atração.
Os Sínodos da África, da América e da Ásia enumeraram o martírio e a
memória dos mártires entre os pontos mais importantes da vida cristã atual e da
nova evangelização. Da vida e não da história cristã! Os mártires não são
apenas "glórias" ou "exemplos", mas revelação viva de uma
dimensão do ser cristão: o testemunho de Cristo e da verdadeira vida.
Martírio, no sentido original do termo, indicava a deposição de uma
testemunha, por escrito e sob juramento, com valor de prova: o máximo,
portanto, que se podia pedir de credibilidade, de garantia de verdade.
O Evangelho aplica a palavra a Jesus que dá testemunho do Pai e da
verdadeira vida com a palavra e a ação; mas sobretudo, com a paixão e morte.
Ele é a testemunha, o mártir por excelência. Aplica-a depois àqueles que
narraram a ressurreição de Jesus ou, em seguida, a anunciavam. Isso comportava
expor-se à falência e à derrisão e também ao risco de morte, como verificou-se
já no início da Igreja com o martírio de Estêvão.
O próprio Jesus associa a confissão de seus discípulos à assistência do
Espírito Santo. "Sereis levados aos tribunais... e haverão de
torturar-vos... sereis minhas testemunhas diante deles e diante dos pagãos...
Não vos preocupeis com o que devereis dizer ou como o direis. Não sereis vós a
falar, mas será o Espírito do vosso Pai que falará por vós" (Mt
10,17-18.20).
Logo e para sempre na história, o martírio tomou o sentido de oferta da
vida em morte cruenta como testemunho da fé. O mártir não se defendia com
argumentos para demonstrar a própria inocência diante de quem o acusava.
Aproveitava para falar de Jesus, declarava o quanto fosse importante
para si a fé em Cristo, confessava a sua pertença ao grupo cristão. Tinha até
mesmo a coragem de exortar juizes e carnífices a mudar de opinião e ser
sensatos. Ainda hoje, mata-se por motivo de fé, religiosos, religiosas e
leigos, caídos onde grassavam o integralismo ou formas mágicas de
religiosidade.
Outros morreram e morrem no exercício da caridade ou no esforço de
reconciliação durante conflitos étnicos, guerras civis e situações de
insegurança geral. É mais frequente, porém, uma razão "humana",
ligada profundamente à fé.
Assim, os regimes ideológicos do século XX fizeram massacres de crentes,
católicos, protestantes, ortodoxos sob a acusação de oposição ao bem do povo,
de subversão, de favorecimento dos inimigos do Estado.
Não perguntavam nem sequer se o acusado queria renunciar à fé.
Eliminavam-no sem processo. Difamavam-no, muitas vezes, através de uma imprensa
poderosa e encenavam tribunais fantoches. É interessante ver como realiza-se a
palavra de Jesus: esquecemo-nos das montagens acusatórias.
Recordamo-nos e somos beneficiados daquilo que os mártires proclamaram
com o próprio sofrimento e silêncio: o valor da vida, a dignidade da pessoa
chamada à comunhão com Deus e à responsabilidade diante dele, a liberdade de
consciência, a crítica contra desvios trágico como o racismo, o integralismo, o
poder absoluto do Estado, a discriminação, a exploração dos pobres. Diz-se que
nenhuma causa vai adiante sem os seus mártires, sem aqueles que acreditam nela
a ponto de dar a vida pelo que creem. A fé comporta sempre uma certa violência.
Jesus ensina que se chega à vida plena através da morte. Ele chegou à
glória através da paixão. Quem quiser a coroa, diz Paulo, deve suportar a luta,
e quem quiser a meta deve agarrar-se à corrida; e treinar com sacrifício.
Hoje, este pensamento não nos é muito congenial. Há um dom do Espírito
Santo que no-lo faz entender e assumir: a fortaleza. Todos precisamos dela.
Ninguém, provavelmente, quererá matar-nos em vista da nossa crença religiosa.
Existe, porém, toda uma concepção cristã da existência a ser sustentada e
opções de vida que exigem lucidez e resistência. E há circunstâncias pessoais,
doenças, situações de família e de trabalho, que exigem uma sólida ancoragem na
esperança.
Ser mártir é uma vocação. O Espírito, não o juiz ou o carnífice, faz os
mártires, isto é, as grandes testemunhas. E como toda vocação, exprime uma
dimensão da existência cristã que é comum a todos.
Em Roma, a lembrança dos mártires é familiar. Tem-na viva muitas
igrejas, mas sobretudo as catacumbas, que fazem referência às condições
precárias da comunidade cristã nos tempos de perseguição, aos acontecimentos
nos quais se viram envolvidos indivíduos cristãos por acusações que se referiam
à sua religião. Pinturas, desenhos, incisões, sarcófagos e ambientes são uma
verdadeira catequese, uma reflexão sobre a fé feita em "tempos" de
martírio: tempos de minoria, significatividade provocadora, provações, adesões
e amor.
Em outros contextos é uma realidade atual, mas nem sempre se encontra a
meditação intensa, rica e articulada que nos impressiona nesses lugares
clássicos. Os pressupostos, as implicações, aquilo que está à base do martírio,
é parte não prescindível da formação na fé. Ela é fonte de alegria e de luz,
mas não é oferecida de modo "barato". Isso é-nos recordado pela
parábola do "tesouro escondido", pelo qual o comprador deve vender
tudo o que possuía.
O martírio está relacionado com uma das notas sem as quais o Evangelho
perde o seu colorido, o seu sabor, o seu fio, a radicalidade. É uma espécie de
dinamismo interno pelo qual se almeja o máximo possível e é típico da fé. Não é
integralismo, adesão cega à materialidade das proposições; não é maximização,
pretensão e ostentação de coerência nas ideias e exigências. É
"gosto" e conhecimento da verdade, adesão de amor à pessoa de Cristo.
Diante dos fatos relacionados neste comentário, podemos dizer que existe
registros da história de fé do povo de Deus, daqueles que estão sendo contados
como martes por causa do testemunho deram de sua fé na palavra de Deus e de seu
Filho Jesus Cristo. No cumprimento de vida santa em meio a um mar de incrédulos,
para que haja o fiel cumprimento das verdadeiras palavras de Jesus a respeito
do sofrimento na tribulação por ele predita, desde o seu dias, até o tempo do
fim (Dn 12.1,4,13, Jo 15.20 Ap 6.9-11).
Domingos Teixeira Costa