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Samuel Câmara
Pastor da Assembleia de Deus em Belém
Davi, rei de Israel, era soberano, líder máximo. Tinha um exército
fabuloso e bem treinado, e ganhou todas as guerras de que participou.
Era temido pelos inimigos e amado pelo seu povo. Foi compositor, poeta,
cantor e profeta. Seus Salmos, ainda hoje, tocam profundamente o
coração das pessoas. Se tivéssemos que escolher um epitáfio para
adornar seu túmulo, alguns certamente usariam frases com rasgados
elogios. A opinião do próprio Deus a seu respeito era: “Achei Davi,
filho de Jessé, homem segundo o meu coração”.
Davi, porém, tinha uma ideia do seu próprio tamanho, expressa
corretamente neste Salmo: “Senhor, não é soberbo o meu coração, nem
altivo o meu olhar; não ando à procura de grandes coisas, nem de coisas
maravilhosas demais para mim. Pelo contrário, fiz calar e sossegar a
minha alma; como a criança desmamada se aquieta nos braços de sua mãe,
como essa criança é a minha alma para comigo. Espera, ó Israel, no
Senhor, desde agora e para sempre” (Sl 131).
Temos aqui três visões em perspectiva. A visão das pessoas e a visão
de Deus a respeito de Davi, assim como a visão de Davi sobre si mesmo.
Assim acontece também conosco. As decisões que tomamos na vida partem
sempre de uma dessas visões, ou mesmo de todas juntas. A ordem em que
priorizamos cada visão, porém, é que determina o sucesso ou o fracasso
que teremos na vida.
O exemplo de Davi, embora distante na história, é singular e
profundamente expressivo, pois serve de modelo, ainda hoje, para nos
ajudar a ver corretamente a vida e vivê-la de modo intenso e produtivo.
Para Davi, Deus era único e tudo na sua vida, o ponto de partida e de
chegada, não aquilo que pensava sobre si mesmo, ou o que os outros
achavam dele. Seus Salmos falam insistentemente na grandeza de Deus como
Criador, apregoam a Sua sabedoria, testemunham o cuidado amoroso com
os que sofrem, afirma a fortaleza que Deus representa para os abatidos,
entre outras coisas. Mas o que seus Salmos demonstram de um modo
espetacular é a intimidade de Davi com o Senhor. Ele dizia: “A
intimidade do Senhor é para os que o temem, aos quais ele dará a
conhecer a sua aliança” (Sl 25.14).
Davi entendia que fora criado com um propósito divino, não era um
mero fruto do acaso (Sl 139). O propósito maior era amar a Deus sobre
todas as coisas e ser um instrumento para o Seu louvor. Seus Salmos, em
vista disso, eram verdadeiros poemas de amor a Deus.
A palavra poema vem da mesma palavra grega traduzida para criação e
manufatura. Indica que somos uma “obra de arte” feita por Deus, não
objetos de uma linha de montagem de produção em massa. Fomos objetos de
reflexão, o que de certa forma tomou, por assim dizer, o tempo de Deus.
O resultado é uma obra-prima, exclusiva e feita sob medida, o que
torna cada ser humano único e especial. Davi celebrava isso também em
seus Salmos.
Nem sempre é possível evitar que as opiniões alheias nos influenciem,
nem mesmo que nos causem algum dano, principalmente quando são
injustas e infundadas. Davi, como qualquer um de nós, também era vítima
dessas coisas. Mas em vários Salmos vemos o rei de Israel de joelhos
diante do Senhor, pedindo que Deus o proteja, que lhe faça justiça
contra os seus inimigos. Não o vemos exercendo justiça com as próprias
mãos, embora o pudesse fazer, pois era o rei mais poderoso de sua
época.
A maioria de nós anda em busca de grandes coisas, ou luta por
reconhecimento. Muitos querem mais poder, mais dinheiro, mais disso,
mais daquilo. Enfim, são testemunhas vivas de que a medida do ter jamais
se enche. Mas quem faz calar e sossegar a própria alma, só o faz
porque sabe o caráter que tem e se vê na perspectiva correta diante da
vida. Em outras palavras, não tem o coração soberbo, nem olha a vida de
um modo altivo; antes, importa-se com o que Deus pensa a seu respeito.
Como uma criança desmamada nos braços da mãe, confia em Deus e somente
Nele coloca a sua esperança.
A razão pela qual tomei Davi como exemplo, é porque ele era um
grande homem, em todos os sentidos. Era rei, rico, bonito, sábio,
poderoso, famoso, enfim, tudo o que a maioria das pessoas de algum modo
desejaria ser.
Infelizmente, não são poucos os que pensam que servir a Deus é só
para os pobres e desvalidos. Mas Davi, com sua história, contradisse
tal falácia, assim como o fizeram também muitos servos de Deus.
Servir a Deus não é somente o maior tesouro que se pode ter na vida,
disponível a todos, é também o que nos torna verdadeiramente grandes.
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