Samuel Câmara
Pastor da Assembleia de Deus em Belém
Imagine
que você está diante de um professor, na sala de aula, e este lhe
apresente uma grande folha de cartolina branca, pintada na parte
inferior com um pontinho preto, e lhe pergunte: “O que você estão
vendo?”. A sua resposta pode não lhe deixar reprovado no final do ano,
mas serve para indicar se você tem ou não a visão de um vencedor.
O
ex-Secretário-Geral da ONU, Koffi Anan, algum tempo atrás se reportou a
uma situação semelhante acorrida quando ainda era criança, que mudou
seu modo de ver os problemas da vida. Um por um dos alunos respondeu que
via apenas um pontinho preto na cartolina branca.
Depois
que todos falaram, o professor aplicou-lhes a seguinte lição: “Se vocês
forem para a vida com essa atitude, serão todos derrotados. Quem
enxerga a vida pelo lado pior das coisas, acaba sempre machucado. Vocês
se acostumaram a pensar pequeno, a olhar apenas problemas, porque têm
uma visão inferior de si próprios. Vejam bem, de fato, há um pontinho
preto; mas o que dizer do resto da folha de cartolina? Não é toda ela
branca? O ponto preto representa os problemas da vida. A parte branca
representa as possibilidades diante de vocês. Mudem sua visão, mudem o
modo como se veem diante dos problemas, vejam antes as possibilidades, e
se habilitarão a ser verdadeiros vencedores!”.
Constantemente
eu tenho atendido a inúmeras pessoas no gabinete pastoral, a maioria
cheia de problemas e alquebradas por diversas tristezas, quer sejam
causadas por simples erros cometidos ou pecados repugnantes, ou porque
alguém de alguma forma os fez sofrer.
Normalmente
quem enfrenta problemas tem dois sentimentos básicos que precisam ser
enfrentados: um é a estreiteza de mente que teima em deter a visão
demasiadamente no passado; o outro, a obtusidade de sentimentos em
valorizar demais as coisas negativas.
Os
que detém a sua visão no passado e pensam em demasia no que poderia ter
acontecido, correm um risco semelhante ao de alguém que caminha numa
calçada olhando para trás, ou ao de um motorista que dirige olhando pelo
retrovisor do carro, atentando ao que se passa na retaguarda, mas se
descuidando do caminho adiante. Ambos têm uma grande possibilidade de
uma desastrosa trombada.
A
experiência, ou a estrada já percorrida, é uma grande mestra. Os
destroços da retaguarda servem apenas como balizamento das lições que
aprendemos, mas não servem para nos sinalizar a caminhada à frente.
Sejam quais forem os erros que cometemos, ou quaisquer que sejam os
erros cometidos contra nós, nosso único caminho é seguir em frente. O
que foi e o que poderia ter sido podem servir como advertência, mas é a
estrada adiante e seus alvos propostos que devem motivar a nossa
atenção.
Quem
só enxerga o lado ruim das coisas, perde a capacidade de celebrar e
viver o que a vida oferece de melhor. Prefere antes centrar-se no
sofrimento e culpar a Deus pelos males do mundo, em vez de se esforçar
para melhorar o mundo ao seu redor. Não consegue ver propósito algum nas
coisas corriqueiras. Se faz calor, é um “calor infernal”; se chove, é
“chuva maldita”; e toda dor demanda logo uma droga que lhe estanque.
Mas
a irritação não solucionará problema algum e as contrariedades não
alteram a natureza das coisas. Além do mais, os desapontamentos que
temos não fazem o trabalho que só o tempo conseguirá realizar – tanto
para sermos curados interiormente, como para nos ajudar a ver melhor as
coisas e delas tirar proveitosas lições para a vida.
Qualquer
que tenha sido o problema, a dor que sentimos não impedirá que o sol
brilhe amanhã sobre os bons e os maus, e a nossa tristeza não iluminará
os caminhos. É bom lembrar, também, que o desânimo que sentimos não
edificará ninguém e as nossas lágrimas não substituem o suor que devemos
verter em benefício da nossa própria felicidade. Ademais, as nossas
reclamações jamais acrescentarão nos outros uma só grama de simpatia por
nossa vida.
É
necessário que aprendamos a ver cada situação difícil da vida como uma
oportunidade de operação do milagre de Deus em nosso favor. Deus nos ama
e se importa conosco, sabe que sofremos e pode nos ajudar. Mas temos
que aprender a manter a fé e uma atitude correta diante dos problemas
que enfrentamos.
O
apóstolo Paulo, a despeito dos embates da vida e de suas limitações
pessoais, tinha a visão de um vencedor. Ele dizia: “Uma coisa faço:
esquecendo-me das coisas que para trás ficam e avançando para as que
adiante de mim estão, prossigo para o alvo, para o prêmio da soberana
vocação de Deus em Cristo Jesus” (Fp 3.13,14).
A
visão de um vencedor não se detém nas experiências trágicas do passado
nem nas dificuldades do presente, mas serve-se delas como coadjuvantes
de sua caminhada de fé vitoriosa na construção da obra prima de sua
própria vida.
E-mail: samuelcamara@boasnovas.tv
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