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15 de nov. de 2017

Mártires no império (XV)





3.17. As pérolas da Igreja pisadas pelos porcos. Martírio de Piônio Em Esmirna (Turquia), Piônio foi preso, com Sabina, Asclepíade, Macedônia e Lino, quando celebrava o aniversário de Policarpo. Estavam concluindo as orações e tinham acabado de tomar o pão consagrado, quando apresentou-se Polemone, guarda dos templos, com os esbirros encarregados de prender os cristãos e levá-los a sacrificar aos ídolos e comer as carnes imoladas. - Conheceis sem dúvida - acusou-os Polemone - o decreto do imperador que vos ordena sacrificar aos deuses.

Piônio respondeu: - Nós conhecemos o mandamento de Deus que nos ordena adorar somente a ele. Homens de Esmirna, que, orgulhosos da vossa cidade, vos gloriais de serem incluídos entre os concidadãos de Homero, rides dos Apóstolos, escarnecei dos que espontaneamente vão sacrificar ou não recusam de o fazer porque serão obrigados, mas deveríeis seguir o conselho de vosso Homero que diz ser uma coisa ímpia burlar de quem está para morrer.

É doce viver, mas nós estamos em busca de uma vida melhor. É bela a luz, mas nós desejamos a verdadeira luz! Sei que a terra é bela, mas ela é obra de Deus. Nós não renunciamos a ela por desgosto ou desprezo, mas porque preferimos bens melhores. Sabina sorria e, à pergunta de Polemone e de seu séquito, se estava contente, respondeu: - Sim, somos cristãos por graça de Deus; aqueles que acreditam em Cristo estão certos de ir para a felicidade eterna.

E eles: - As mulheres que se recusam a sacrificar devem preparar-se para a casa de prostituição; isso não te desagrada? - O Deus de santidade velará por mim - respondeu Sabina.

Aos que, depois de terem apostatado, foram vê-los na prisão, disse Piônio: - Tenho uma tristeza que me destroça o coração, ao ver pisadas pelos porcos as pérolas da Igreja, caídas por terra as estrelas do céu, destruída pelo javali a vinha plantada pela mão direita do Senhor; a Satanás foi permitido abanar-nos como o trigo na peneira, e o Verbo de Deus tem nas mãos um tridente de fogo para limpar a eira; em sua misericórdia, está pronto a acolher-vos novamente.


Foi levada a lenha, e foram amontoados os feixes ao redor dos condenados; Piônio fechou os olhos, e a multidão pensou que tivesse morrido, mas ele rezava em silêncio; concluída a oração, reabriu os olhos, enquanto a chama subia. Com intensa alegria nos olhos, disse: - Amém, Senhor, recebe a minha alma. Um leve estertor, e depois expirou sem dor.


Organizado e publicado por
Domingos Teixeira Costa



13 de nov. de 2017

Mártires no império (XIV)




3.16. "Gosto de viver" - Martírio de Apolônio, "santo e nobilíssimo apóstolo de Cristo" Apolônio, senador romano, era conhecido entre os cristãos da Urbe pela elevada condição social e profunda cultura.

Denunciado provavelmente por um escravo, o juiz convidou Apolônio a justificar-se diante do senado. Ele "apresentou - escreve Eusébio de Cesareia - uma eloquentíssima defesa da própria fé, mas foi igualmente condenado à morte.

O procônsul Perênio, em respeito à nobreza e fama de Apolônio, estava sinceramente desejoso de salvá-lo, mas foi obrigado a emitir a sentença de condenação devido ao decreto do imperador Cômodo (por volta do ano 185).

 Apresentamos algumas passagens do processo, no qual o mártir afirma o seu amor pela vida, recorda as normas dos Cristãos, recebidas do Senhor Jesus, e proclama a esperança de uma vida futura.

Apolônio: Os decretos dos homens não podem suprimir o decreto de Deus; quantos mais crentes matares, mais será multiplicado o seu número por obra de Deus. Não achamos difícil morrer pelo verdadeiro Deus, porque, por meio dele, somos o que somos; para não morrer de morte ruim, suportamos tudo com constância; vivos ou mortos, somos do Senhor.

Perênio: Com estas ideias, Apolônio, provas que gostas de morrer! Apolônio: Eu gosto de viver, mas é só por amor à vida que não temo realmente a morte; não existe, sem dúvidas, nada mais precioso do que a vida, mas da vida eterna que é imortalidade da alma para quem viveu bem nesta vida terrena.

A palavra de Deus, o nosso Salvador Jesus Cristo, "ensinou-nos a deter a ira, a moderar o desejo, a mortificar a concupiscência, a superar as dores, a ser abertos e sociáveis, a aumentar a amizade, a destruir a vanglória, a não buscar a vingança contra os que nos fazem o mal, a desprezar a morte pela lei de Deus, a não trocar ofensa com ofensa, mas a suportá-la, a crer na lei que ele nos deu, a honrar o soberano, a venerar somente o Deus imortal, a crer na alma imortal, no juízo que virá depois da morte, a esperar no prêmio dos sacrifícios pela virtude, que o Senhor concederá após a ressurreição daqueles que viveram santamente.

Quando o juiz pronunciou a sentença de morte, Apolônio disse: "Dou graças ao meu Deus, procônsul Perênio, junto com todos os que reconhecem como Deus o seu onipotente e unigênito Filho Jesus Cristo e o Espírito Santo, também por esta tua sentença que é, para mim, fonte de salvação".

Apolônio morreu decapitado em Roma no dia 21 de abril de 183. Eusébio comenta assim a morte de Apolônio: "O mártir, muito amado por Deus, um santíssimo lutador de Cristo, foi ao encontro do martírio com alma pura e coração fervoroso. Seguindo o seu fúlgido exemplo, vivificamos a nossa alma com a fé".

Sabemos ainda do mesmo Eusébio que o acusador de Apolônio e mais tarde do bispo Calisto foi condenado a ter as pernas despedaçadas. De fato, segundo uma disposição imperial, trazida por Tertuliano (Ad Scap. IV, 3), atribuída a Marco Aurélio, os acusadores dos cristãos deviam ser condenados à morte. Os Atos do martírio de Apolônio, descobertos no século passado, existem também em versão armênia e grega, e em várias traduções modernas.



Organizado e publicado por:
Domingos Teixeira Costa



11 de nov. de 2017

Mártires no império (XIII)




3.15. "Porque sorris?" - Martírio de Carpo, Papilo e Agatonice Foram martirizados naquele tempo, na cidade de Pérgamo (Ásia Menor), o bispo Carpo, o diácono Papilo e a fiel Agatonice, mãe de família cheia do temor de Deus.

 Ao processo, Carpo declarou: "Sou cristão, não posso aderir às vossas práticas" Disse o procônsul: "Sacrifica aos deuses, ou o que dizes?" Carpo respondeu: "É impossível que eu sacrifique; realmente, jamais sacrifiquei aos ídolos".

O procônsul, imediatamente, mandou suspende-lo num poste e esfolá-lo; o mártir gritou: "Sou cristão!". Esfolado por muito tempo, ficou sem forças e não pode mais falar.

O procônsul, então, passou ao outro. Diante do convite a sacrificar, Papilo disse com orgulho: "Sempre servi a Deus, desde a juventude; jamais sacrifiquei aos ídolos porque sou cristão; nada existe para mim de maior e mais belo do que me oferecer como vítima ao Deus vivo e verdadeiro".

Os tormentos ocupavam os carnífices por turno, mas ele não emitiu qualquer lamento: "Não sinto as torturas - disse -, não existem para mim porque há alguém que sofre em mim; tu não o podes ver". Enfim, tanto o bispo como o diácono foram condenados a queimar vivos.

Os servos do mal despiram Papilo de suas roupas e crucificaram-no, depois elevaram o poste; a chama começou a subir, e o mártir serenamente entregou a alma a Deus.

Passaram depois a Carpo, e os presentes, vendo-o sorrir, perguntaram-lhe: - Porque sorris? - Vi a glória do Senhor e enchi-me de alegria. Bendito sejas tu, Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, porque fizeste de mim, pecador, digno da tua morte.

Havia entre os espectadores um mulher chamada Agatonice, que vendo Carpo em contemplação da glória do Senhor, compreendeu que era um chamado do céu e disse em voz alta: - Este banquete está preparado também para mim; eu também devo participar dele; quero degustar esse alimento de glória.

Tirando o manto, chamou a atenção dos que a olhavam pela sua beleza e, alegre, estendeu-se sobre a fogueira. Os presentes não podiam segurar as lágrimas e diziam: "Terrível juízo e injustos decretos!".

Agatonice, lambida pelas chamas, gritou três vezes: - "Senhor, Senhor, Senhor, vem em meu auxílio; em ti eu me refugiei!". Em seguida, entregou a alma a Deus e consumou o martírio entre os santos.

Os cristãos recolheram às escondidas os seus restos e conservaram-nos para a glória de Cristo e louvor dos mártires. Foi também martirizado na Ásia naquele tempo, o bispo de Laodicéia, Sagaris, do qual não temos aqui a história do seu martírio. (Eusébio, História Eclesiástica, l. IV, 26,3.5).



Organizado e publicado por:
Domingos Teixeira Costa



9 de nov. de 2017

Mártires no império (XII)




3.13. Crucificado um ancião de 120 anos: martírio de Simeão O martírio de Simeão, bispo de Jerusalém na Palestina, não se deve à aplicação das disposições do imperador Trajano ("rescrito" de Trajano a Plínio), mas à perseguição judaica.

O historiador Hegesipo, testemunha bem informada das coisas da Palestina, informa-nos que, por volta de 117 d.C., o bispo foi acusado de pertencer à estirpe de Davi e ser cristão, para mal estar de judeus heréticos. Estes aproveitaram um momento crítico do império em luta contra os Partos, desfrutando o estado de espírito do imperador contrariado pelas veleidades das insurreições judaicas.

Segundo o testemunho de Eusébio, a perseguição causada sobretudo por tumultos populares atingiu Simeão, filho de Cléofas à idade de 120 anos. O parente do Senhor, como escreve Eusébio - "foi atormentado durante muitos dias com duríssimos tormentos, mas confessou sempre com firmeza a fé em Cristo; fê-lo com tal força que o próprio procônsul Ático e todos os presentes ficaram admirados ao ver como um velho de 120 anos pudesse resistir a tantos tormentos: por sentença do juiz, foi finalmente crucificado" (Eusébio, História eclesiástica, III, 3 2,1-6).

3.14. "Tenho prontas as feras..." - Martírio de Policarpo O martírio de Policarpo é uma das mais antigas "paixões epistolares". Discípulo do apóstolo João, Policarpo foi feito bispo de Esmirna, uma das mais importantes comunidades cristãs.

Em Esmirna (Turquia), no ano 155, a intolerância manifestou-se com o martírio do bispo Policarpo, provocado pela multidão enfurecida. O magistrado Herodes procedeu à prisão do bispo que, entretanto tinha deixado a cidade. Mandou-o levar ao estádio onde procurou convence-lo a renegar a fé: - Pensa na tua idade e jura pelo gênio de César, convence-te uma vez por todas a gritar a morte dos ateus. - Sim, morram os ateus! - Jura e coloco-te em liberdade; amaldiçoa o Cristo. - Fazem 86 anos que o sirvo, e ele nada fez de errado para comigo; como posso blasfemar contra o meu Rei e Salvador? - Tenho prontas as feras; se não mudas de idéia lanço-te a elas. - Chama-as! Nós cristãos não admitimos que se mude, passando do bem ao mal, mas acreditamos que é preciso converter-nos do pecado à justiça. - Se não te importam as feras e se continuas a ter a mesma idéia fixa farei com que sejas consumido pelo fogo. - Ameaças-me com um fogo que queima por pouco e depois se apaga; vê-se que não conheces aquele do juízo futuro, da pena eterna reservada aos ímpios. Porque queres ser condescendente? Faz o que quiseres. Dizia isso com coragem e serenidade, irradiando tal graça do seu rosto, que nem parecia que fosse ele o processado, mas sim o Procônsul.

Quando a fogueira foi preparada, amarraram-no com as mãos às costas, como um carneiro de um grande rebanho escolhido para o sacrifício, holocausto aceito por Deus. Elevando os olhos, ele rezou: - Eu te bendigo, Senhor Deus onipotente, porque me fizeste digno deste dia e desta hora, de ser enumerado entre os mártires, de compartilhar o cálice do teu Cristo, para ressuscitar à vida eterna da alma e do corpo na incorruptibilidade do Espírito Santo.

Concluída a oração, a fogueira foi acesa; as chamas, porém, dobrando-se em forma de abóbada, como se fosse uma vela inchada pelo vento, circundou o corpo do mártir como um muro. Estava no meio não como corpo que queima, mas como pão que se doura assando ou como ouro e prata que são refinados no cadinho; sentiu-se um perfume como de incenso ou outro aroma precioso. Afinal, um carnífice matou-o com a espada.



Organizado e publicado por:
Domingos Teixeira Costa




7 de nov. de 2017

Mártires no império ( XI )




3.12. Os Quarenta Mártires de Sebástia (Armênia menor) Temos, sobre estes mártires, alguns discursos dos capadócios Basílio e Gregório de Nissa e outros do sírio Efrém, todos de particular autoridade pela proximidade entre as regiões dos informantes e aquela onde aconteceu o martírio.

 A "Paixão" tem uma autoridade muito pequena, mas o "testamento" coletivo que redigiram, pouco antes de morrer, deve ser considerado autêntico. O martírio deu-se em 320, durante a perseguição de Licínio.

"Estavam alistados numa legião de guarda de fronteira: parece certo que fosse a XII legião, a Fulminada, que participara da conquista de Jerusalém no ano 70, e, em seguida, fora deslocada para o Oriente, com sede em Melitene, na Armênia Menor.

Existia uma espécie de tradição cristã no interior dessa Legião, porque ela tinha contado com cristãos em suas fileiras já no século III, e talvez antes; outras ligações com cristãos, através de amizades e parentela, deviam ter surgido durante a permanência na Armênia, onde eram muitos os cristãos.

O martírio aconteceu ao norte de Melitene, na cidade chamada Sebástia (mais exato do que Sebaste), onde talvez a legião mantivesse um grande destacamento. Os quarenta eram muito jovens, mais ou menos pelos vinte anos; em seu "testamento", no qual enviam uma última saudação aos seus caros, só um saúda a mulher com o filhinho e apenas um, a noiva, enquanto os demais saúdam os pais vivos: deveriam estar ainda, em geral, na primeira juventude.

Quando chegou ao acampamento a ordem de Licínio para que os soldados participassem dos sacrifícios idólatras, eles recusaram-se decididamente; foram presos uns aos outros por uma só corrente, muito longa, e, em seguida, fechados na prisão. A prisão prolongou-se por muito tempo, provavelmente porque se esperavam ordens de comandantes superiores ou ainda - dada a gravidade do caso - do próprio Licínio.

Os prisioneiros, à espera, prevendo o próprio fim, escreveram o seu "testamento" coletivo pela mão de um deles, um certo Melézio. Os destinados à morte exortam, no documento insigne, profundamente cristão, parentes e amigos a se despreocuparem dos bens caducos da terra para preferirem os bens ultra terrenos; cumprimentam em seguida as pessoas que lhes eram mais caras; enfim, prevendo que surgiram disputas entre os cristãos pela posse de seus corpos - como já acontecera no passado com as relíquias dos mártires - eles dispõem que seus restos sejam sepultados todos juntos na vila de Sarein, perto da cidade de Zela.

O documento traz, como de costume, os nomes de todos os quarenta testadores, e de aqui os nomes foram recopiados em outros documentos, com pequenas divergências de grafia.

Chegada a sentença de condenação, os quarenta foram destinados à morte por assideração: deviam ser expostos nus durante a noite, no auge do inverno, sobre um reservatório gelado de água, e aí esperar o próprio fim.

O lugar escolhido para a execução parece ter sido um amplo pátio diante das termas de Sebástia, onde os condenados seriam subtraídos à curiosidade e simpatia do público e, ao mesmo tempo, vigiados pelos funcionários das termas.

Existia no pátio, um amplo reservatório d'água, uma espécie de charco, que estava em comunicação com as termas. Basílio disse que o lugar estava no centro da cidade, e que a cidade era próxima ao reservatório: talvez a reserva d'água a serviço das termas, não fosse senão uma derivação de um verdadeiro lago externo.

Na camada gelada, numa temperatura baixíssima, os tormentos dos corpos nus deviam ser assustadores. Para aumentar os espasmos, fora deixada aberta a bela porta de ingresso às termas, por onde saiam, com a luz, os jatos de vapor do calidarium: tratava-se de uma poderosa visão para os que estavam sofrendo, porque bastariam poucos passos para sair dos tormentos e retomar aquela vida que saia aos poucos de seus corpos, minuto a minuto.

Havia, porém, no meio, uma barreira insuperável: o Cristo invisível, que eles teriam que renegar. As horas passavam terrivelmente monótonas: nenhum dos condenados afastava-se da extensão gelada; o vigia das termas assistia à cena como que sonhando acordado.

Num dado momento, um dos condenados, extremado pelos espasmos arrastou-se na direção da porta iluminada: aí, porém, por um normal fato fisiológico, morreu envolvido pelos vapores quentes. Àquela visão, o vigia, num ímpeto de entusiasmo, decidiu substituir o pusilânime, reintegrando o número dos quarenta: livrando-se das roupas, proclamou-se cristão e estendeu-se sobre o gelo entre os outros condenados.

A manhã do dia seguinte iluminou uma extensão de cadáveres. Um só continuava vivo: era o mais jovem, um adolescente a quem algum documento dá o nome de Melitão. A tenacidade por viver assombrou sua mãe, cristã de fé admirável que esteve presente quando os cadáveres foram carregados sobre o carro para serem levados à cremação: ao ver seu filho deixado de lado porque ainda estava vivo, ela tomou-o entre os braços e levou-o por si mesma ao carro, para que a sua criatura não fosse defraudada do coro comum. Aqueles braços que alguns anos antes o tinham carregado como criança lactante, carregavam-no como agora atleta triunfante. Naquele amplexo materno, o adolescente expirou.

O vigia convertido é chamado Agláios em alguns documentos. Comparações feitas, confrontando os vários testemunhos levaram a suspeitar que o pusilânime que abandonou o combate e morreu às portas das termas, fosse justamente Melézio, o escritor do "testamento"; mas isso é apenas conjectura. A narração deixa lugar a dúvidas quanto a alguns particulares, mas em seu conjunto pode ser aceita com segurança.


A veneração dos Quarenta Mártires foi muito popular no oriente. Também no ocidente, no final do mesmo século, fala deles Gaudêncio de Bréscia, que era particularmente informado das coisas do oriente. Além disso, em Roma, cenas do martírio deles ainda são conservadas num afresco do século VII-VIII.


Organizado e publicado por:
Domingos Teixeira Costa 



6 de nov. de 2017

Mártires no império ( X )





3.11. Martírio de Êuplio Diácono, sob Diocleciano, no ano 304 O martírio de Êuplio, diácono de Catânia, aconteceu em 304, como pode ser deduzido da indicação do consulado de Diocleciano e Maximiano, e do fato que o cristão é convidado a sacrificar aos deuses, conforme a ordem do IV edito imperial, emanado naquele ano. Certamente ainda estava em vigor o edito contra a conservação dos livros sagrados, porque o ponto principal da acusação contra Êuplio refere-se ao evangelho, que o diácono tinha conservado e mostrava com orgulho. Os Atos que nos chegaram, num breve texto latino, une a ata da prisão e da primeira confissão de Êuplio à do interrogatório pelo qual passou em meio às torturas.

Uma frase do capítulo I: "...estando fora da tenda do escritório do governador, o diácono Êuplio gritou: "Sou cristão e desejo morrer pelo nome de Cristo", leva a crer que ele não tivesse sido preso, mas que se tivesse denunciado espontaneamente, talvez durante o interrogatório de outros fiéis; a hipótese é confirmada também pelas palavras do juiz que o entrega aos esbirros: "Como é evidente a tua confissão..." (c. I) e parece levado a proceder pela atitude do cristão, mais do que por uma vontade pessoal inquiridora.

"Durante o nono consulado de Diocleciano e o oitavo de Maximiano, na vigília dos idos de agosto, na cidade de Catânia, estando fora da tenda do escritório do governador, o diácono Êuplio gritou: "Sou cristão e desejo morrer pelo nome de Cristo".

Ouvindo isso, o procurador Calvisiano disse: "Que entre a pessoa que gritou". Tão logo Êuplio entrou no escritório do juiz, tendo os evangelhos nas mãos, um dos amigos de Calvisiano, que se chamava Máximo, disse: "Não é lícito ter estes livros, contra a ordem imperial".

Calvisiano perguntou a Êuplio: "De onde vêm estes livros? Saíram da tua casa?". Êuplio respondeu: "Não tenho casa. Sabe-o também o meu Senhor, Jesus Cristo". O procurador Calvisiano retomou: "Foste tu quem os trouxestes aqui?". Êuplio respondeu: "Eu os trouxe, como tu mesmo vês. Fui encontrado com eles".

Calvisiano ordenou: "Lê-os". Abrindo o evangelho, Êuplio leu: "Bem-aventurados os que sofrem perseguições por causa da justiça, pois deles é o reino dos céus", e, numa outra passagem: "Quem quiser vir após mim, tome a sua cruz e siga-me". Enquanto lia esses e outros passos, Calvisiano perguntou: "O que é isso tudo?". Êuplio respondeu: "É a lei do meu Senhor, que me foi confiada".

Calvisiano insistiu: "Por quem?". Êuplio respondeu: "Por Jesus Cristo, Filho do Deus vivo". Calvisiano interveio novamente dizendo: "Como é evidente a tua confissão, sejas entregue ao ministro da tortura e interrogado em meio a suplícios". Quando foi-lhes entregue, começou o segundo interrogatório, em meio às torturas.

Durante o nono consulado de Diocleciano e o oitavo de Maximiano, na vigília dos idos de agosto, o procurador Calvisiano disse a Êuplio, em meio aos tormentos: "O que repetes agora daquilo que declaraste na tua confissão?". Traçando o sinal da cruz sobre si com a mão livre, o mártir respondeu: "Aquilo que disse antes, confirmo-o agora: sou cristão e leio as divinas Escrituras".

Calvisiano rebateu: "Por que não entregaste estes livros, cuja leitura os imperadores vetaram, mas os mantiveste contigo?". Êuplio disse: "Porque sou cristão e não me era lícito entregá-los. É melhor, para um cristão, morrer do que entregá-los; neles está a vida eterna. Quem os entrega perde a vida eterna e, para não perde-la, eu ofereço a minha".

Calvisiano interveio dizendo: "Seja torturado Êuplio que, infringindo o edito dos príncipes, não entregou as Escrituras, mas leu-as ao povo". Êuplio disse, em meio aos tormentos: "Agradeço-te, ó Cristo. Protege-me porque sofro tudo isso por ti!".

Calvisiano exortou-o com estas palavras: "Desiste dessa loucura, Êuplio. Adora os deuses e serás libertado". Êuplio respondeu: "Adoro a Cristo, detesto os demônios. Faz de mim o que quiseres, sou cristão. Desejei isto por muito tempo. Faz o que quiseres. Aumenta os meus tormentos. Sou cristão".

A tortura já durava muito tempo quando Calvisiano ordenou aos carnífices que parassem e disse ao mártir: "Adora os deuses, infeliz! Venera Marte, Apolo e Esculápio!". Êuplio respondeu: "Adoro o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Adoro a Santíssima Trindade, fora da qual não existe outro Deus. Pereçam os deuses que não criaram o céu, a terra e tudo o que neles existe. Eu sou cristão".

O prefeito Calvisiano insistiu: "Sacrifica, se queres ser libertado!". Êuplio respondeu: "Justamente agora sacrifico-me a Cristo Deus. Não existe nenhum outro sacrifício que eu deva fazer. Tentas em vão fazer-me renegar a fé. Eu sou cristão".

Calvisiano ordenou que fosse torturado mais violentamente ainda; durante os tormentos, Êuplio disse: "Rendo-te graças, ó Cristo, socorre-me; Cristo, sofro isto por ti, Cristo!". Repetiu muitas vezes estas invocações e, quando faltaram-lhe as forças, já sem voz, dizia apenas com os lábios estas e outras orações.

Entrando no interior do seu escritório, Calvisiano ditou a sentença e, saindo, leu a ata que levara consigo: "Ordeno que Êuplio, cristão, que despreza os editos dos príncipes, blasfema contra os deuses e não se arrepende disso tudo, seja passado a fio de espada. Levai-o ao suplício".

O evangelho com que fora encontrado no momento da prisão foi pendurado ao pescoço do mártir, e o pregoeiro ia dizendo: "Êuplio, cristão, inimigo dos deuses e dos soberanos".


Alegre, Êuplio respondia sempre: "Graças a Cristo Deus!". Chegando ao lugar da execução, ajoelhou-se e orou longamente. Dando ainda graças ao Senhor, apresentou o pescoço e foi decapitado pelo carnífice. “O seu corpo foi depois recolhido pelos cristãos e embalsamado com perfumes, e sepultado". 



Organizado e publicado por:
Domingos Teixeira Costa