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20 de janeiro de 2013

Walmor Chagas escolheu a hora de sua morte, diz amigo do ator ao falar sobre suposto suicídio


Walmor Chagas escolheu a hora de sua morte, diz amigo do ator ao falar sobre suposto suicídio 
Amigo há 19 anos de Walmor Chagas, o empresário Antônio Carlos Cardoso, 71, dono de um restaurante em Guaratinguetá, interior de São Paulo, contou que os últimos dias de vida do ator foram sofridos por conta de sua saúde fragilizada.

"Eu o conheci quando ele veio para cá. Ficamos amigos. Quase todo dia nós conversávamos. Walmor era leve, nunca se revoltava, tinha problemas de saúde, mas não queria dar trabalho para os outros. Ele era exibicionista apenas nos palcos, sua saída foi discreta. Acredito que seu suicídio foi resultado da sua teimosia, não queria ser um peso para ninguém. Ele na verdade quis escolher a hora de sua própria morte".  

Cardoso revelou que o artista esteve em um hospital em São Paulo para realizar uma bateria de exames na quinta-feira, um dia antes de sua morte. Walmor estava com dificuldades para se locomover e há quatro anos era obrigado a passar por sessões de injeções intraoculares, mas mesmo assim, estava praticamente cego.

Advogada da família do ator Walmor Chagas, Maria Dalva Copola afirmou em entrevista por telefone ao UOL que a arma calibre 38 encontrada no colo do ator era usada para sua proteção.

"Descobrimos que ele tinha uma arma agora, mas não é tão estranho pensar que ele guardava uma. Ele morava em um lugar muito longe, em hotel fazenda, com pouco movimento. Ela era para proteção", disse Maria Dalva.

De acordo com a advogada, a família acredita na hipótese de suicídio, uma vez que o ator estava deprimido por causa de "fragilidades da idade", já que estava com 82 anos. "Ele já estava com a mobilidade reduzida, diabetes, hipertensão. Ele sempre teve essas coisas, mas de um ano para cá piorou por causa da catarata. Ele era um leitor nato, adorava livros. A impossibilidade de ler deixou ele muito triste", comentou Maria Dalva.

"A perícia necessária para descobrir a causa da morte já foi realizada, um laudo necroscópico deve ser emitido nesta terça", completou.

Caseiro da propriedade de Walmor e amigo do ator há 30 anos, José Arteiro de Almeida também esteve no cemitério Parque das Flores, em São José dos Campos, neste sábado (19), para se despedir do "pai" e estava abalado. Almeida contou que todos os vizinhos e amigos de Chagas em Guaratinguetá estavam muito tristes, e que gostariam de ter dado o último adeus ao ator. "Todos queriam vir, mas a família deixou claro que preferia uma cerimônia reservada para poucas pessoas. Eu perdi um pai", afirmou.

O caseiro seria o dono da propriedade onde Walmor vivia e foi encontrado morto. A pousada teria sido dada pelo próprio ator. "Walmor gostava muito do José. Ele (José) trabalhava há mais de 30 anos para o Walmor, e o ajudava em tudo", contou Cardoso.

No site da pousada "Sete Nascentes", a amizade de Walmor e José Arteiro fica nítida na mensagem de boas- vindas aos hóspedes:

A antiga "Pousada da Pedra" do ator Walmor Chagas está sob nova direção e mudou-se de nome - "Pousada 7 Nascentes.

O novo administrador, José Arteiro de Almeida, manterá as mesmas tradições culinárias anteriores assim como os passeios com acompanhamento pelas trilhas dentro da floresta entre as nascentes até a Pedra do Macaco".

A atriz Lucélia Santos foi a única representante da classe artística a comparecer ao cemitério. Ela chegou por volta das 16h40, quando já havia começado a cerimônia de cremação. Ficou o tempo todo ao lado da filha de Chagas, Maria Clara Becker, fruto do relacionamento com a atriz Cacilda Becker.

Muito emocionada, Lucélia falou da admiração que tinha pelo amigo. "Ele era um ator perfeito, um intelectual, uma referência para todos nós. E como se ele estivesse em cima de um poste e a gente olhasse, desejando estar lá. O Brasil perdeu um mestre", declarou a atriz.

Atrasado, o político José Genoino também esteve presente, mas só conseguiu cumprimentar Clara Becker pelo vidro do carro, pois a cerimônia já havia acabado e todos estavam de saída. "Éramos amigos há 40 anos, visitei seu sítio duas vezes e ele esteve em dezembro na minha casa", contou o político.

O corpo do ator Walmor Chagas, encontrado morto na tarde de sexta-feira foi cremado no fim da tarde de sábado. O processo iniciou às 17h30, quando todos já tinham ido embora, e levou cerca de 2h para ser concluído. As cinzas devem ser entregues à família dentro de dois dias.

De acordo com amigos da família, as cinzas do ator devem ser jogadas na Serra da Mantiqueira, como era a vontade de Chagas. "Ele amava esse lugar, escolheu aqui para viver, e sempre dizia
Walmor Chagas escolheu a hora de sua morte, diz amigo do ator ao falar sobre suposto suicídio
Corpo de Walmor Chagas chega ao cemitério Parque das Flores, em São José dos Campos Clique para ampliar a imagem
que quando morresse queria que espalhassem suas cinzas pela Mantiqueira" disse o amigo Antônio Carlos. No entanto, ninguém da família confirmou ainda o destino.

O velório iniciou após a chegada do caixão ao local, por volta das 11h30 da manhã. O caixão estava aberto e o corpo foi velado em uma capela dentro das dependências do cemitério, cercado por seguranças e com acesso restrito apenas a família. O clima era de desolação e os pouco parentes que estavam no local, evitavam sair da capela, ou falar com a imprensa.

A primeira a chegar ao cemitério foi a irmã de ator, Jussara Chagas, acompanhada do marido, filho e nora. Jussara veio na noite da sexta de Porto Alegre onde mora. Em entrevista ao UOL, declarou que todos da família ainda estão atordoados com a notícia da morte do irmão. "Nós nem conseguimos falar, ainda não consegui digerir tudo que aconteceu nas últimas 24 horas. É um choque, todos estão profundamente tristes", desabafa Jussara.

O Padre João Luiz Uzan Malnalcich da Congregação dos Padres do Sagrado Coração de Jesus, foi chamado por um amigo da família para presidir a cerimônia de exéquias. Questionado sobre o suposto suicídio o clérigo disse que cabe a Deus julgar e não aos homens. "Que Deus dê todo o consolo à família e aqueles que sentiram a falta deste grande homem", pediu o referendo.

Corpo não estava liberado para cremação
Durante a tarde, por volta das 14h, o delegado Henrique Gomes, do 3º distrito policial de São José dos Campos, esteve no cemitério para interrogar o sobrinho e cunhado de Walmor. "Eu vim apenas atender um pedido de informações complementares, mas toda a investigação está sendo feita por Guaratinguetá. Não há nada apontando na investigação até o momento outra causa que não seja suicídio. E a família não dúvida da situação de suicídio", disse Gomes.

Segundo o delegado até aquele momento do dia a justiça ainda não havia emitido a ordem judicial que autorizaria a cremação do corpo.
A ordem para cremação foi emitida após duas horas.

Hipótese de suicídio
O delegado Juramir Alves, que registrou a ocorrência da morte, disse ao UOL que, a princípio, a polícia trabalha com a hipótese de suicídio.

O médico legista Hebert Hichwin, responsável pela necrópsia no corpo do ator, confirmou que a causa da morte foi um tiro na cabeça. "O laudo será encaminhado ao delegado responsável, e é ele que, de posse deste laudo, da análise da perícia e das informações decorrentes da investigação, poderá determinar se foi ou não suicídio", ressaltou o legista. O IML deve encaminhar o laudo ao 2º Distrito Policial de Guaratinguetá, que assumirá as investigações somente na segunda-feira.

Repercussão
Para o ator José Wilker, que trabalhou com ele no filme "Xica da Silva", Chagas foi "um dos maiores atores que este país já produziu". "Tive a oportunidade de trabalhar com ele em 'Xica da Silva', acompanhar como ele criava os personagens, um senso de humor muito dele. Uma pessoa sensacional."

O último trabalho do ator foi no cinema, no papel de um general aposentado, em "Cara ou Coroa", de Ugo Giorgetti.

A carreira
Gaúcho da cidade de Alegrete, Walmor Chagas nasceu no dia 28 de agosto de 1930. Ele se mudou para São Paulo nos anos de 1950 para apostar no cinema. Seu primeiro filme foi "São Paulo S.A." (1965), de Luís Sérgio Person, ao lado de Eva Wilma.

Além de "Cara ou Coroa", no ano passado, Walmor pôde ser visto também em "A Coleção Invisível", de Bernard Attal. No cinema, deixou como legado os longas "Valsa para Bruno Stein" (2007), "Asa Branca - Um Sonho Brasileiro" (1980) e "Beto Rockfeller" (1970), entre outros.

Na TV, ele começou com uma participação no programa "Grande Teatro Tupi", da TV Tupi, em 1953. Mas sua estreia como ator foi na Globo, em 1974, na novela "Corrida do Ouro".

Entre os folhetins da Globo em seu currículo estão "A Favorita" (2008), "Pé na Jaca" (2006), "Esperança" (2002), "Selva de Pedra" (1986) e "Vereda Tropical" (1984). Na Record, ele fez "Os Mutantes: Caminhos do Coração" (2007). Em 1992, ele também foi apresentador do programa "Você Decide".

Walmor Chagas fundou, em 1952, o Teatro das Segundas-Feiras, com Ítalo Rossi. A primeira peça foi "Luta Até o Amanhecer", de Ugo Betti. Entre as principais peças estão "Quem Tem Medo de Virgínia Woolf?" (1965), "Esperando Godot" (1969) e "Um Equilíbrio Delicado" (1999).

Com mais de 60 anos de carreira, ele atuou em cerca de 40 peças, 20 filmes e 30 novelas. Walmor era viúvo da atriz Cacilda Becker, com quem teve uma filha, Maria Clara Becker Chagas.


Fonte: UOL televisão


http://midiacon.com.br/materia.asp?id_canal=17&id=53714


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