O
rei Davi tinha um poder tão absoluto que poderia ter o que
contemplassem os seus olhos e desejasse a sua alma. Se lhe agradasse um
campo, ou uma virgem, ou qualquer outra coisa, poderia requisitar tudo o
que quisesse em nome do reino, com a bênção de Deus, e ninguém ousaria
contrariá-lo (1Sm 12.8). Davi tinha este elevado padrão moral a
guiar-lhe os procedimentos: “Não porei coisa injusta diante dos meus
olhos; aborreço o proceder dos que se desviam; nada disto se me pegará”
(Sl 101.3).
Todavia, esse mesmo Davi foi testado, quando deu a maior escorregada
moral de sua vida, exatamente quando se permitiu olhar lascivamente para
uma bela mulher que tomava banho num córrego perto do palácio real. Até
hoje, fala-se muito sobre o adultério de Davi com Bate-Seba, e essa
mancha jamais se apagará de sua biografia, apesar dos grandes feitos de
toda uma vida. Tudo começou com um olhar, em colocar diante dos olhos a
“coisa injusta”, ao contrário do que se comprometera evitar a todo
custo.
Alípio
era um teórico da música do quarto século, que havia se comprometido a
viver uma vida digna. O escritor J. N. Norton conta que Alípio era
sempre convidado por seus vizinhos a assistir aos combates de
gladiadores, mas se recusava terminantemente, pois detestava a
brutalidade desses programas bárbaros. Um dia, no entanto, conseguiram
coagi-lo a ir. Como Alípio estava determinado a não assistir ao
espetáculo sangrento, fechou bem os olhos e nada quis ver. Mas um grito
cortante o fez dar uma olhadinha na hora em que um dos lutadores estava
sendo ferido mortalmente. O que ocorreu com ele a partir daquele momento
foi emblemático. Com a sua sensibilidade embotada, Alípio juntou a sua
voz aos gritos e exclamações da multidão barulhenta que o cercava.
Daquele momento em diante, ele passou a ser um homem mudado – mas
mudado para pior; não apenas se tornou assíduo frequentador desse
esporte, mas passou também a instar com outros a fazerem o mesmo. A
lição que Norton destaca é que, apesar de Alípio ter entrado na arena
contra a sua vontade, a exposição ao mal mostra o que pode acontecer com
as melhores pessoas ao sentirem o gostinho pelo prazer destrutivo.
Antes de o perceberem, já estão escravizados a ele.
Assim, cuidado com o que você coloca diante dos seus olhos. Cuidado com
o que assiste. Pergunte a si próprio – e procure responder com
sinceridade – se a sua sala de estar é local de assassinatos diários.
Verifique se você tem recebido costumeiramente convidados que xingam
você e fazem piadas sobre a sua fé. Já aconteceu de alguém aparecer em
sua casa e tentar convencê-lo de que o pecado sexual é uma piada, que
traição é algo normal, e que a violência é uma forma de entretenimento?
Se você geralmente passa algumas horas por dia diante da televisão, ou
navegando pelos porões da internet, então tudo isso certamente já lhe
aconteceu. Embora não seja nenhuma novidade, o conteúdo moral da
televisão, assim como da internet, tem decaído constante e rapidamente
nos últimos anos. A boa notícia é que nós não temos que cair junto.
No Brasil, tem sido debatido se a regulamentação de horários de
programação televisiva deve ser restrita aos próprios meios de
comunicação, ou se a tarefa deve ser efetivada pelo governo. Mas isso
não importa. O fato é que a maior parte do mundo do entretenimento fala
muito sério sobre retirar todas as restrições. Tão seriamente que parece
só nos restar o desafio de procurar proteger as nossas mentes.
Antes de ser rei, Davi fora pastor de ovelhas. Ele sabia tanto sobre
televisão quanto a maioria de nós sabe a respeito de cuidar de ovelhas. A
despeito de si mesmo e de seus defeitos, ele fez a opção que todos
deveríamos fazer: “Não porei coisa injusta diante dos meus olhos”.
Um
salmista anônimo preferiu pedir ao Senhor que o ajudasse nisso: “Desvie
os meus olhos de olharem para coisas sem valor” (Sl 119.37). O
patriarca Jó, prezando a fidelidade conjugal, disse: “Fiz aliança com
meus olhos; como, pois, os fixaria eu numa donzela?” (Jó 31.1). O
apóstolo Paulo orientou o jovem Timóteo para fugir do mal, ou seja,
cortá-lo pela raiz (2Tm 2.22). Todos eles sabiam que substituir desejos
maus pela busca das coisas justas de Deus é a melhor maneira de evitar
problemas.
A maioria das pessoas não se importa com as sementes malignas que
diuturnamente o inimigo de nossas almas tem semeado em suas mentes e
corações. Mas há aqueles que se importam em seguir as orientações
bíblicas, que certamente lhes ajudarão a guardar suas mentes e corações
puros para Deus.
Portanto,
procure fugir de piadas sobre sexo e também não se permita a ouvir
linguagem vulgar (1Co 6.18; Ef 5.3,4,12). Não permita que as propagandas
lhe excitem a cobiça (Ex 20.17; Cl 3.5). Decida-se a não deixar que
seus olhos lhe façam pecar (Mt 18.9).
Acima
de tudo, devemos ter cuidado com o que colocamos diante dos nossos
olhos, pois isso tem o potencial de abençoar ou destruir a nossa vida.
Mas a decisão cabe a cada um de nós.
Pastor da Assembleia de Deus em Belém
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