Por Maurício Savarese
SÃO PAULO (Reuters) - Disposto a conquistar um terceiro mandato no Palácio do Planalto, o PT elegerá neste domingo a direção que vai comandar o partido no processo de sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2010. O atual líder petista, deputado Ricardo Berzoini (SP), é o favorito entre os sete candidatos na disputa.
De acordo com petistas, quatro candidaturas à presidência da sigla contam com maior apoio entre os 917.809 filiados ao partido que estão aptos a votar. Berzoini, eleito em 2005 após o escândalo do mensalão, tem chances de ser reeleito no primeiro turno, mas o mais provável é que a disputa se estenda a uma segundo rodada.
Disputam a outra vaga para um eventual segundo turno o secretário de Relações Internacionais do PT, Valter Pomar, e os deputados federais Jilmar Tatto (SP) e José Eduardo Cardozo (SP), ambos de São Paulo. Os prováveis figurantes são Markus Sokol, da tendência mais à esquerda do partido, José Carlos Miranda, ligado ao movimento negro, e Gilney Viana, representante de grupos ambientalistas.
Os envolvidos na disputa avaliam que a defesa de uma candidatura petista para suceder Lula é essencial para manter as chances na eleição interna. Uns mais enfáticos e outros mais moderados -para não molestar os presidenciáveis de partidos da base aliada, dizem-, todos esperam fortalecer a sigla na disputa por prefeituras no ano que vem para emplacar em 2010.
"Hoje o ambiente é muito melhor do que em 2005, quando estávamos em crise. Esse processo de agora é para acertar em 2008 e ajeitar tudo para ter mira precisa em 2010", disse Berzoini à Reuters por telefone. "O PT tem vocação inequívoca para candidatura nacional e, como Lula não pode ser candidato, a direção partidária terá um papel importante para a definição."
TODOS CONTRA UM?
Candidato que contou com o apoio de Lula em 2005, Berzoini é vinculado ao antigo "Campo Majoritário", atual "Construindo um Novo Brasil". É essa a corrente interna que foi acusada por de outras tendências de ser tolerante com a corrupção, após a denúncia de compra de apoio político há dois anos e meio.
Hoje Berzoini não conta com a mesma empolgação do máximo líder petista com a sua candidatura, que preferia ter o assessor de relações internacionais Marco Aurélio Garcia à frente do partido e que viu o deputado se desgastar ao fim da eleição de 2006 no escândalo do dossiê antitucano.
Mas a aversão dos adversários é a mesma.
"O atual presidente representa o continuísmo e eu, a renovação", disse Jilmar Tatto. "O partido está burocratizado, distanciado dos movimentos sociais e eu quero que volte para luta social... Minha candidatura é de centro e a dele é direita, dentro do espectro petista. Acabou o ciclo deles", afirmou Tatto, próximo à ministra do Turismo e ex-prefeita de São Paulo, Marta Suplicy.
Apoiado por Tatto em 2005, Valter Pomar concorda na oposição franca a Berzoini e se vê como única alternativa de esquerda na eleição interna petista, já que as candidaturas de Tatto e José Eduardo Cardozo, classificadas por ele como de centro, e poderiam tirar força uma da outra em um eventual segundo turno contra o atual mandatário.
"A oposição perdeu em 2005 porque tinha gente perto de sair do PT e que estava na eleição. Hoje o risco é de alguém não votar. Se Tatto for para o segundo turno, Cardozo pode não dar votos e vice-versa. Acho que tenho chances porque um já votou em mim e o outro representa um setor que votou no segundo turno de 2005 com o Raul Pont, rival do Berzoini", disse Pomar.
Expoente petista durante a crise do mensalão, não como investigado, e sim como investigador, o deputado Cardozo se vê como "nova força", com apoio da corrente em que milita o ministro da Justiça, Tarso Genro. Para ele, o partido ainda tem demônios éticos para expurgar e precisa costurar melhor a candidatura da base aliada em 2010 com outros partidos.
"Parece natural que o PT indique o candidato, mas não pode ter arrogância. Entendo que isso faça parte da discussão desta eleição interna, mas não dá para atropelar em troca de um voto aqui e outro acolá", afirmou. "Esta eleição também tem de mostrar a bandeira ética do partido, que tem de seguir forte."
O processo eleitoral petista estava previsto para o ano que vem, mas foi antecipado em um congresso da sigla para não coincidir com as eleições municipais de 2008. Caso haja segundo turno na disputa, ele deve ocorrer no dia 16 de dezembro.
(Reportagem adicional de Carmen Munari)