JERUSALÉM - O governo israelense reagiu duramente à passagem de milhares de palestinos para o Egito, em busca de suprimentos não encontrados na Faixa de Gaza devido ao bloqueio imposto por Israel. Depois que extremistas explodiram o muro na fronteira do território palestino com o Egito, o vice-ministro da Defesa israelense, Matan Vilnai, disse que Israel gostaria de cortar o restante de seus laços com a Faixa de Gaza. Hoje, o teritório controlado pelo Hamas - que, segundo o jornal "Haaretz", planejou durante meses a derrubada do muro - dependende de Israel para receber suprimentos básicos, como alimentos, medicamentos, combustível para geração de energia e gasolina.
" Quando Gaza é aberta para o outro lado, perdemos responsabilidade "
- Precisamos entender que quando Gaza é aberta para o outro lado, perdemos responsabilidade por ela. Assim sendo, gostaríamos de nos desconectar dela - disse o vice-ministro israelense à Rádio do Exército.
Israel, que ocupou a Faixa de Gaza em 1967, começou a se separar do território em 2005, ao retirar tropas e colonos da região. O país ainda controla as fronteiras norte e leste de Gaza, assim como o espaço aéreo e as águas costeiras. Agora, o vice-ministro da Defesa israelense disse que os esforços de Israel para se distanciar de Gaza "continuam".
" Queremos parar de abastecer eletricidade para eles, parar de abastecer água e remédios "
- Queremos parar de abastecer eletricidade para eles, parar de abastecer água e remédios, para que possam vir de outros lugares - disse Vilnai. - Somos responsáveis enquanto não houver outra alternativa.
Forças egípcias foram mobilizadas para a fronteira sul de Gaza, onde extremistas usaram bombas e escavadeiras, na quarta-feira, para destruir o muro. Depois de entrar em confrontos com palestinos na passagem de Rafah, na terça-feira, deixando pelo menos 60 mulheres feridas e outras 15 presas, as forças de segurança egípcias não reagiram após a derrubada do muro. Na manhã desta quinta-feira, milhares de palestinos continuavam atravessando a fronteira.
O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores do Egito anunciou, na quarta-feira, que as fronteiras continuarão abertas "enquanto houver crise humanitária".
" Estamos abrindo porque há uma crise humanitária terrível "
- Nós não estamos abrindo a passagem de Rafah apenas para todo mundo cruzar a fronteira. Estamos abrindo porque há uma crise humanitária terrível - disse o porta-voz Hassam Zaki. - Nós esperamos que todos voltem para suas casas em Gaza em um curto período de tempo.
A postura do Egito enfureceu o governo de Israel, que afirma que extremistas palestinos costumam receber armas contrabandeadas pela fronteira egípcia. O primeiro-ministro israelense, Ehud Olmert, disse na quarta-feira que não permitirá uma crise humanitária na Faixa de Gaza, mas que seus moradores não podem esperar uma vida normal enquanto houver foguetes atingindo o território israelense, fazendo um alerta sobre possíveis bombardeios contra Israel.
O governo israelense disse esperar que as autoridades no Cairo impeçam a passagem de mais palestinos e fechem a fronteira. Israel estima que mais de 100 mil pessoas já atravessaram a fronteira.
" Eu acredito que o Egito sabe qual é seu trabalho "
- Eu acredito que o Egito sabe qual é seu trabalho, e nós esperamos que eles cumpram sua tarefa - disse o ministro da Defesa de Israel, Ehud Barak, na quarta-feira, em uma entrevista à emissora de televisão francesa Canal 10, durante uma visita à França.
Autoridades da área de segurança disseram que a conduta do Egito aumenta a preocupação de que o Cairo esteja ignorando propositalmente as demandas de Israel. O governo egípcio teria se recusado repetidamente a combater o contrabando de armas na fronteira.