Em entrevista coletiva convocada em cima da hora para este sábado, Orlando Silva anunciou que os boatos da imprensa em torno dos gastos ministeriais haviam ultrapassado os limites. “Indignado” e sem medo de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), o responsável pela pasta dos esportes no governo federal recolheu aos cofres públicos um total de R$ 30.870,38, por meio de duas Guias de Recolhimento da União (GRU) – uma no valor de R$ 4.276,57 e outra com a quantia de R$ 26.594,21 – ambas retiradas de sua conta de pessoa física.
Os cartões corporativos foram instaurados pelo governo para melhor controlar os gastos públicos, colocando os débitos dos políticos à vista da população no Portal da Transparência da Controladoria Geral da União (CGU). Em janeiro, Matilde Ribeiro aparecia como a campeã de gastos entre donos do cartão, com despesas em torno de R$ 175 mil. Nesta sexta-feira, a ministra anunciou a renúncia ao cargo e garantiu não estar arrependida.
Já Orlando Silva, para escapar de polêmicas envolvendo seu nome e colocando em dúvida sua gestão, tomou medida diferente. “Decidi recolher aos cofres públicos cada centavo utilizado pelo cartão corporativo desde que assumi o ministério, pois percebi que há um debate politizando uma questão administrativa. Temos a convicção de que cada gasto foi feito dentro da absoluta legalidade e quero que os órgãos de controle possam avaliar cada um dos gastos e chegar a uma conclusão, já que há controvérsias do que pode ou não”, pronunciou.
Cabeça tranqüila: O ministro dos Esportes, no entanto, espera ser ressarcido da quantia após avaliação. “Fiz todos meus gastos dentro da absoluta legalidade, dentro daquilo que estava estabelecido para o uso. Como se definiu uma discussão, vou aguardar a decisão sobre o que pode ser feito e a partir daí posso requerer a devolução”, prosseguiu. De acordo com Orlando Silva, grande parte dos gastos foi com hospedagens em cidades brasileiras, exceto Brasília (onde possui residência paga pelo governo federal) e São Paulo (onde moram suas esposa e filha).
Orlando Silva havia passado os últimos dias em Barcelona, na Espanha, como membro da Comissão de Candidatura do Rio de Janeiro como sede aos Jogos Olímpicos de 2016. Ao desembarcar no Brasil, acompanhou os escândalos envolvendo Matilde Ribeiro e optou pela devolução, uma vez que a situação havia chegado a um ponto insustentável.
“Na vida, tudo tem limite. Para vocês (jornalistas) terem uma idéia, chegaram a me perguntar se era razoável que eu permitisse que a minha filha de nove meses ocupasse o mesmo quarto de um apartamento; se isso não seria um gasto questionável do ponto de vista administrativo. Considerando uma agenda que vocês acompanham por vezes de 12, 14 e até 16 horas de trabalho, num período de final de semana, a hipótese de permitir que a minha filha, que ainda é amamentada pela própria mãe, seja questionada como ônus a mais, me pergunto se isso não seria demasiado e entrava na minha intimidade. Quando um repórter me perguntou o nome e a idade da minha filha para publicação, achei que ultrapassamos a barreira do bom senso”, criticou.
“Tenho 36 anos, sendo que 20 deles foram dedicados à militância. Sempre me pautei pelo respeito à conduta, pelo respeito e pela defesa da minha honra. Meus únicos patrimônios são a minha família, a minha honra e a minha integridade. O limite a que o caso chegou é o de atacar a minha família e a minha integridade, então foi preciso agir com sobriedade e colocar o foco nas questões concretas”, emendou.
Apesar da medida tomada, Orlando Silva defendeu o uso do cartão corporativo e apontou que mais políticos deveriam utilizá-lo. Embora tenha devolvido os quase R$ 31 mil gastos nos últimos dois anos, afastou a possibilidade de que outros políticos devam adotar a mesma medida e apontou que continuará utilizando o cartão.
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