Os mártires de Tebas, Tiro e Ponto
3.2. Os Mártires da
Tebaida (Egito) "Não há palavras suficientes para falar das torturas e
dores padecidas pelos mártires da Tebaida, dilacerados no corpo todo com cacos
de louça até que expirassem. Em lugar dos ganchos de ferro, as mulheres que,
amarradas ao alto por um pé e, por meio de roldanas, puxadas pela cabeça para
baixo, com o corpo inteiramente nu, oferecendo aos olhares de todos o mais
humilhante, cruel, e desumano dos espetáculos.
Outros morriam acorrentados aos troncos de árvores. Através de
mecanismos, os carnífices dobravam ramos de árvores puxando, unindo-os, aos
ramos mais duros, e amarravam a cada um deles as pernas dos mártires, deixando,
depois que os ramos voltassem à sua posição natural, produzindo então um
esquartejamento total dos homens contra os quais eram arquitetados tais
suplícios.
Todas essas coisas não aconteceram por poucos dias ou por breve tempo,
mas duraram por um longo período de anos; todos os dias pessoas eram mortas,
algumas vezes, mais de dez, outras, mais de vinte, outras vezes ainda não menos
de trinta, ou até mesmo cerca de sessenta pessoas. Num só dia foram dados à
morte, acertadamente, cem homens com seus filhinhos e mulheres, justiçados
através de um constante seguir-se de refinadas torturas.
Nós mesmos, presentes no lugar da execução, constatamos que num só dia
foram mortas em massa fileiras de pessoas, em parte decapitadas, em parte queimadas
vivas, tão numerosas eram os mortos, a ponto de fazer com que os carnífices perdessem
as forças, e até mesmo quebrar, a lâmina de ferro que matava, enquanto os
próprios carnífices, cansados, deviam ser substituídos.
Contemplamos então, o maravilhoso vigor, a força verdadeiramente divina
e o zelo dos crentes em Cristo, o Filho de Deus. Tão logo, de fato, era
pronunciada a sentença contra os primeiros condenados, outros surgiam de vários
lugares diante do tribunal do juiz declarando-se cristãos, prontos a
submeterem-se, sem sombra de hesitação, às terríveis penas e aos múltiplos
gêneros de tortura que eram preparados contra eles.
Corajosos e intrépidos na defesa da religião do Deus do universo,
acolhiam a sentença de morte com gestos de alegria e risos de júbilo, a ponto
de entoarem hinos e cânticos e dirigir ações de graças ao Deus do universo, até
o momento em que exalavam o último suspiro.
Realmente maravilhosos esses cristãos, mas ainda mais maravilhosos os
que, gozando no século de uma brilhante posição devido à riqueza, nobreza,
cargos públicos, eloquência, cultura filosófica, puseram tudo isso depois da
verdadeira religião e da fé no Salvador e Senhor nosso, Jesus Cristo"
(Eusébio, História Eclesiástica, l. VIII, c. 9).
3.3. Os mártires de
Tiro da Fenícia. ”Foram também admiráveis, os que testemunharam a sua fé na
própria terra, onde homens, mulheres e crianças, aos milhares, enfrentaram
vários gêneros de morte pelo ensinamento do nosso Salvador.
Alguns foram queimados vivos, depois de terem sido submetidos a
raspagens, ganchos, chicotadas, e outros milhares de refinadas torturas,
terríveis só de ouvir. Outros foram lançados ao mar, outros ofereceram
corajosamente a cabeça aos carnífices, outros morreram durante as próprias
torturas ou esgotados pela fome. Outros ainda foram crucificados, quem da
maneira comum aos ladrões, quem de maneira ainda mais cruel, isto é, pregados
com a cabeça para baixo e vigiados até à morte, ou seja, até quando morriam de
fome nos mesmos patíbulos” (Eusébio, História Eclesiástica, l. VIII, c. 8).
3.4. Os mártires do
Ponto (Ásia Menor) "Os mártires das cidades do Ponto padeceram sofrimentos
terríveis: alguns tiveram os dedos perfurados com bambus pontiagudos a partir
da extremidade das unhas; para outros, fazia-se o derretimento de chumbo e,
quando a matéria ardia e fervia, era derramada nas costas da vítima e as partes
vitais do corpo eram queimadas.
Outros sofreram, em seus membros mais íntimos e nas vísceras, torturas
repugnantes, cruéis, intoleráveis mesmo só de ouvir, que os ilustres juízes,
vigilantes da lei, inventavam cheios de zelo, ostentando toda a própria
maldade, como se fosse uma sabedoria particular, e concorrendo um com o outro
na superação de invenções cruéis, como quem disputa os prêmios de uma
competição.
O cúmulo da desventura abateu-se sobre os cristãos quando as autoridades
pagãs, cansadas do excesso dos massacres e das mortes, saciadas do sangue
derramado, assumiram uma atitude que, segundo eles, era de brandura e
benignidade, parecendo que já não seriam capazes de excogitar algum castigo
terrível contra nós.
Não seria justo - diziam eles - manchar cidades inteiras com o sangue de
cidadãos, nem agir de modo a culpar de crueldade a suprema autoridade dos
soberanos, benévola e branda para com todos; era necessário, contudo, estender
a todos o benefício do humano poder imperial, não mais condenando ninguém à
morte; pela indulgência dos imperadores foi, de fato, abolida esta pena em
relação a nós.
Ordenou-se, então, que se arrancassem os olhos aos nossos irmãos e se
lhes estropiasse uma perna, porque isso, segundo os pagãos, era um ato de
humanidade e a mais leve das penas que se podiam aplicar. Como consequência
dessa "generosidade" dos ímpios soberanos, não era possível dizer que
se visse uma multidão de pessoas sem que a espada não tivesse arrancado a
alguém o olho direito e, em seguida, cauterizado.
A outros, com ferros em brasa, era estropiado o pé esquerdo sob a
articulação, depois do que eram destinados às minas de cobre das províncias,
não tanto para que pudessem dar algum rendimento mas para aumentar a miséria e
a desventura da situação deles.
Além destes, tão martirizados, havia outros submetidos a outras provas
que nem sequer é possível nomear, porque as "bravuras" realizadas
contra nós superam qualquer descrição. Distinguindo-se nessas provas sobre toda
a terra, os nobres mártires de Cristo surpreendiam os que foram testemunhas do
seu valor, e através de sua conduta ofereceram provas evidentes da secreta e
realmente divina força do nosso Salvador. Seria muito longo, para não dizer
impossível recordar o nome de cada um". (Eusébio, História Eclesiástica,
l. VIII, c. 12)
Organizado e publicado por
Domingos Teixeira Costa