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21 de outubro de 2017

Mártires no império ( III )



Os mártires de Tebas, Tiro e Ponto 

3.2. Os Mártires da Tebaida (Egito) "Não há palavras suficientes para falar das torturas e dores padecidas pelos mártires da Tebaida, dilacerados no corpo todo com cacos de louça até que expirassem. Em lugar dos ganchos de ferro, as mulheres que, amarradas ao alto por um pé e, por meio de roldanas, puxadas pela cabeça para baixo, com o corpo inteiramente nu, oferecendo aos olhares de todos o mais humilhante, cruel, e desumano dos espetáculos.

Outros morriam acorrentados aos troncos de árvores. Através de mecanismos, os carnífices dobravam ramos de árvores puxando, unindo-os, aos ramos mais duros, e amarravam a cada um deles as pernas dos mártires, deixando, depois que os ramos voltassem à sua posição natural, produzindo então um esquartejamento total dos homens contra os quais eram arquitetados tais suplícios.

Todas essas coisas não aconteceram por poucos dias ou por breve tempo, mas duraram por um longo período de anos; todos os dias pessoas eram mortas, algumas vezes, mais de dez, outras, mais de vinte, outras vezes ainda não menos de trinta, ou até mesmo cerca de sessenta pessoas. Num só dia foram dados à morte, acertadamente, cem homens com seus filhinhos e mulheres, justiçados através de um constante seguir-se de refinadas torturas.

Nós mesmos, presentes no lugar da execução, constatamos que num só dia foram mortas em massa fileiras de pessoas, em parte decapitadas, em parte queimadas vivas, tão numerosas eram os mortos, a ponto de fazer com que os carnífices perdessem as forças, e até mesmo quebrar, a lâmina de ferro que matava, enquanto os próprios carnífices, cansados, deviam ser substituídos.

Contemplamos então, o maravilhoso vigor, a força verdadeiramente divina e o zelo dos crentes em Cristo, o Filho de Deus. Tão logo, de fato, era pronunciada a sentença contra os primeiros condenados, outros surgiam de vários lugares diante do tribunal do juiz declarando-se cristãos, prontos a submeterem-se, sem sombra de hesitação, às terríveis penas e aos múltiplos gêneros de tortura que eram preparados contra eles.

Corajosos e intrépidos na defesa da religião do Deus do universo, acolhiam a sentença de morte com gestos de alegria e risos de júbilo, a ponto de entoarem hinos e cânticos e dirigir ações de graças ao Deus do universo, até o momento em que exalavam o último suspiro.

Realmente maravilhosos esses cristãos, mas ainda mais maravilhosos os que, gozando no século de uma brilhante posição devido à riqueza, nobreza, cargos públicos, eloquência, cultura filosófica, puseram tudo isso depois da verdadeira religião e da fé no Salvador e Senhor nosso, Jesus Cristo" (Eusébio, História Eclesiástica, l. VIII, c. 9).

3.3. Os mártires de Tiro da Fenícia. ”Foram também admiráveis, os que testemunharam a sua fé na própria terra, onde homens, mulheres e crianças, aos milhares, enfrentaram vários gêneros de morte pelo ensinamento do nosso Salvador.

Alguns foram queimados vivos, depois de terem sido submetidos a raspagens, ganchos, chicotadas, e outros milhares de refinadas torturas, terríveis só de ouvir. Outros foram lançados ao mar, outros ofereceram corajosamente a cabeça aos carnífices, outros morreram durante as próprias torturas ou esgotados pela fome. Outros ainda foram crucificados, quem da maneira comum aos ladrões, quem de maneira ainda mais cruel, isto é, pregados com a cabeça para baixo e vigiados até à morte, ou seja, até quando morriam de fome nos mesmos patíbulos” (Eusébio, História Eclesiástica, l. VIII, c. 8).

3.4. Os mártires do Ponto (Ásia Menor) "Os mártires das cidades do Ponto padeceram sofrimentos terríveis: alguns tiveram os dedos perfurados com bambus pontiagudos a partir da extremidade das unhas; para outros, fazia-se o derretimento de chumbo e, quando a matéria ardia e fervia, era derramada nas costas da vítima e as partes vitais do corpo eram queimadas.

Outros sofreram, em seus membros mais íntimos e nas vísceras, torturas repugnantes, cruéis, intoleráveis mesmo só de ouvir, que os ilustres juízes, vigilantes da lei, inventavam cheios de zelo, ostentando toda a própria maldade, como se fosse uma sabedoria particular, e concorrendo um com o outro na superação de invenções cruéis, como quem disputa os prêmios de uma competição.

O cúmulo da desventura abateu-se sobre os cristãos quando as autoridades pagãs, cansadas do excesso dos massacres e das mortes, saciadas do sangue derramado, assumiram uma atitude que, segundo eles, era de brandura e benignidade, parecendo que já não seriam capazes de excogitar algum castigo terrível contra nós.

Não seria justo - diziam eles - manchar cidades inteiras com o sangue de cidadãos, nem agir de modo a culpar de crueldade a suprema autoridade dos soberanos, benévola e branda para com todos; era necessário, contudo, estender a todos o benefício do humano poder imperial, não mais condenando ninguém à morte; pela indulgência dos imperadores foi, de fato, abolida esta pena em relação a nós.

Ordenou-se, então, que se arrancassem os olhos aos nossos irmãos e se lhes estropiasse uma perna, porque isso, segundo os pagãos, era um ato de humanidade e a mais leve das penas que se podiam aplicar. Como consequência dessa "generosidade" dos ímpios soberanos, não era possível dizer que se visse uma multidão de pessoas sem que a espada não tivesse arrancado a alguém o olho direito e, em seguida, cauterizado.

A outros, com ferros em brasa, era estropiado o pé esquerdo sob a articulação, depois do que eram destinados às minas de cobre das províncias, não tanto para que pudessem dar algum rendimento mas para aumentar a miséria e a desventura da situação deles.

Além destes, tão martirizados, havia outros submetidos a outras provas que nem sequer é possível nomear, porque as "bravuras" realizadas contra nós superam qualquer descrição. Distinguindo-se nessas provas sobre toda a terra, os nobres mártires de Cristo surpreendiam os que foram testemunhas do seu valor, e através de sua conduta ofereceram provas evidentes da secreta e realmente divina força do nosso Salvador. Seria muito longo, para não dizer impossível recordar o nome de cada um". (Eusébio, História Eclesiástica, l. VIII, c. 12)



Organizado e publicado por
  Domingos Teixeira Costa



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