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24 de nov. de 2017

Mártires no Império (XIX)




Conclusão

6.Os mártires, testemunhas radicais "Ser mártir é uma vocação. O Espírito Santo, não o juiz ou carnífice, faz os mártires, isto é, as grandes testemunhas. É o modo como cada vocação exprime uma dimensão da existência cristã que é comum a todos". É esse o fio condutor da reflexão que segue sobre a necessidade, atualidade e radicalidade do martírio e sobre a sua força de atração.

Os Sínodos da África, da América e da Ásia enumeraram o martírio e a memória dos mártires entre os pontos mais importantes da vida cristã atual e da nova evangelização. Da vida e não da história cristã! Os mártires não são apenas "glórias" ou "exemplos", mas revelação viva de uma dimensão do ser cristão: o testemunho de Cristo e da verdadeira vida.

Martírio, no sentido original do termo, indicava a deposição de uma testemunha, por escrito e sob juramento, com valor de prova: o máximo, portanto, que se podia pedir de credibilidade, de garantia de verdade.

O Evangelho aplica a palavra a Jesus que dá testemunho do Pai e da verdadeira vida com a palavra e a ação; mas sobretudo, com a paixão e morte. Ele é a testemunha, o mártir por excelência. Aplica-a depois àqueles que narraram a ressurreição de Jesus ou, em seguida, a anunciavam. Isso comportava expor-se à falência e à derrisão e também ao risco de morte, como verificou-se já no início da Igreja com o martírio de Estêvão.

O próprio Jesus associa a confissão de seus discípulos à assistência do Espírito Santo. "Sereis levados aos tribunais... e haverão de torturar-vos... sereis minhas testemunhas diante deles e diante dos pagãos... Não vos preocupeis com o que devereis dizer ou como o direis. Não sereis vós a falar, mas será o Espírito do vosso Pai que falará por vós" (Mt 10,17-18.20).

Logo e para sempre na história, o martírio tomou o sentido de oferta da vida em morte cruenta como testemunho da fé. O mártir não se defendia com argumentos para demonstrar a própria inocência diante de quem o acusava.

Aproveitava para falar de Jesus, declarava o quanto fosse importante para si a fé em Cristo, confessava a sua pertença ao grupo cristão. Tinha até mesmo a coragem de exortar juizes e carnífices a mudar de opinião e ser sensatos. Ainda hoje, mata-se por motivo de fé, religiosos, religiosas e leigos, caídos onde grassavam o integralismo ou formas mágicas de religiosidade.

Outros morreram e morrem no exercício da caridade ou no esforço de reconciliação durante conflitos étnicos, guerras civis e situações de insegurança geral. É mais frequente, porém, uma razão "humana", ligada profundamente à fé.

Assim, os regimes ideológicos do século XX fizeram massacres de crentes, católicos, protestantes, ortodoxos sob a acusação de oposição ao bem do povo, de subversão, de favorecimento dos inimigos do Estado.

Não perguntavam nem sequer se o acusado queria renunciar à fé. Eliminavam-no sem processo. Difamavam-no, muitas vezes, através de uma imprensa poderosa e encenavam tribunais fantoches. É interessante ver como realiza-se a palavra de Jesus: esquecemo-nos das montagens acusatórias.

Recordamo-nos e somos beneficiados daquilo que os mártires proclamaram com o próprio sofrimento e silêncio: o valor da vida, a dignidade da pessoa chamada à comunhão com Deus e à responsabilidade diante dele, a liberdade de consciência, a crítica contra desvios trágico como o racismo, o integralismo, o poder absoluto do Estado, a discriminação, a exploração dos pobres. Diz-se que nenhuma causa vai adiante sem os seus mártires, sem aqueles que acreditam nela a ponto de dar a vida pelo que creem. A fé comporta sempre uma certa violência.

Jesus ensina que se chega à vida plena através da morte. Ele chegou à glória através da paixão. Quem quiser a coroa, diz Paulo, deve suportar a luta, e quem quiser a meta deve agarrar-se à corrida; e treinar com sacrifício.

Hoje, este pensamento não nos é muito congenial. Há um dom do Espírito Santo que no-lo faz entender e assumir: a fortaleza. Todos precisamos dela. Ninguém, provavelmente, quererá matar-nos em vista da nossa crença religiosa. Existe, porém, toda uma concepção cristã da existência a ser sustentada e opções de vida que exigem lucidez e resistência. E há circunstâncias pessoais, doenças, situações de família e de trabalho, que exigem uma sólida ancoragem na esperança.

Ser mártir é uma vocação. O Espírito, não o juiz ou o carnífice, faz os mártires, isto é, as grandes testemunhas. E como toda vocação, exprime uma dimensão da existência cristã que é comum a todos.

Em Roma, a lembrança dos mártires é familiar. Tem-na viva muitas igrejas, mas sobretudo as catacumbas, que fazem referência às condições precárias da comunidade cristã nos tempos de perseguição, aos acontecimentos nos quais se viram envolvidos indivíduos cristãos por acusações que se referiam à sua religião. Pinturas, desenhos, incisões, sarcófagos e ambientes são uma verdadeira catequese, uma reflexão sobre a fé feita em "tempos" de martírio: tempos de minoria, significatividade provocadora, provações, adesões e amor.

Em outros contextos é uma realidade atual, mas nem sempre se encontra a meditação intensa, rica e articulada que nos impressiona nesses lugares clássicos. Os pressupostos, as implicações, aquilo que está à base do martírio, é parte não prescindível da formação na fé. Ela é fonte de alegria e de luz, mas não é oferecida de modo "barato". Isso é-nos recordado pela parábola do "tesouro escondido", pelo qual o comprador deve vender tudo o que possuía.

O martírio está relacionado com uma das notas sem as quais o Evangelho perde o seu colorido, o seu sabor, o seu fio, a radicalidade. É uma espécie de dinamismo interno pelo qual se almeja o máximo possível e é típico da fé. Não é integralismo, adesão cega à materialidade das proposições; não é maximização, pretensão e ostentação de coerência nas ideias e exigências. É "gosto" e conhecimento da verdade, adesão de amor à pessoa de Cristo.

Diante dos fatos relacionados neste comentário, podemos dizer que existe registros da história de fé do povo de Deus, daqueles que estão sendo contados como martes por causa do testemunho deram de sua fé na palavra de Deus e de seu Filho Jesus Cristo. No cumprimento de vida santa em meio a um mar de incrédulos, para que haja o fiel cumprimento das verdadeiras palavras de Jesus a respeito do sofrimento na tribulação por ele predita, desde o seu dias, até o tempo do fim (Dn 12.1,4,13, Jo 15.20 Ap 6.9-11).  



Domingos Teixeira Costa



22 de nov. de 2017

Mártires no império (XVIII)




5. Concluindo, e como comentário à leitura dos Atos dos Mártires, apresentamos alguns pensamentos sobre o significado e o valor do martírio como "testemunho coerente do amor de Cristo e da Igreja e como prova eloquente da verdade da fé", e uma reflexão sobre a radicalidade e atualidade do martírio na Igreja das origens.

A MEMÓRIA DOS MÁRTIRES testemunho perene do amor de Cristo e da Igreja "A Igreja do primeiro milênio - É um testemunho que não se deve esquecer," a história da Igreja é uma história de santidade e de martírio... por isso a Igreja em todos os ângulos da terra deverá permanecer ancorada no testemunho dos mártires e defender ansiosamente a memória deles".

"Um sinal perene, e hoje particularmente eloquente, da verdade do amor cristão é a memória dos mártires. O seu testemunho não fique esquecido. Eles anunciaram o Evangelho, dando a vida por amor. Sobretudo nos nossos dias, o mártir é sinal daquele amor maior que contém em si todos os outros valores.

A sua existência reflete aquela palavra suprema, pronunciada por Cristo na cruz: "Perdoa-lhes, ó Pai, porque não sabem o que fazem" (Lc 23, 34). O fiel que tenha considerado seriamente a sua vocação cristã, dentro da qual o martírio aparece como uma possibilidade preanunciada na Revelação, não pode excluir esta perspectiva do horizonte da própria vida.

Estes dois mil anos depois do nascimento de Cristo estão marcados pelo persistente testemunho dos mártires. Também a época atual, conheceu numerosíssimos mártires, sobretudo por causa do nazismo, do comunismo e das lutas raciais ou tribais. Sofreram pela sua fé pessoas das diversas condições sociais, pagando com o sangue a sua adesão a Cristo e à Igreja ou enfrentando corajosamente infindáveis anos de prisão e de privações de todo o gênero, para não cederem a uma ideologia que se transformou num regime de cruel ditadura.

Do ponto de vista psicológico, o martírio é a prova mais eloquente da verdade da fé, que consegue dar um rosto humano inclusive à morte mais violenta e manifestar a sua beleza mesmo nas perseguições mais atrozes. Inundados pela graça, poderemos mais vigorosamente erguer ao Pai a nossa gratidão, o exército resplandecente dos mártires que "lavaram as suas vestes e as tornaram cândidas no sangue do Cordeiro" (Ap 7, 14).

Por isso, a Igreja espalhada por toda a terra deverá permanecer ancorada ao seu testemunho e defender zelosamente a sua memória. Possa o povo de Deus, revigorado na fé pelos exemplos destes autênticos campeões de diversa idade, língua e nação, cruzar com confiança o limiar do terceiro milênio.


À admiração pelo seu martírio associe-se, o desejo de poder, com a graça de Deus, seguir o seu exemplo, caso o exijam as circunstâncias.


Organizado e publicado por
Domingos Teixeira Costa 



20 de nov. de 2017

Mártires no Império (XVII)




3.20. Martírio dos ascetas Xiamuna e Gurias. Diocleciano não perturbou a paz da Igreja nos primeiros 19 anos de governo; por instigação de Galério, enfim, decretou que o exército fosse depurado dos cristãos (ano 297), fossem destruídas e queimadas as igrejas e as Escrituras, fossem destituídos dos cargos públicos os nobres cristãos e privados da liberdade os cristãos plebeus (ano 303).

Houve mártires, porém, desde o ano 289. Os dois ascetas Xiamuna e Gurias tiveram que responder em Edessa (Ásia Menor): - Obedeceremos ao Rei dos reis que está nos céus e ao seu Cristo, e não faremos a vontade dos pecadores; não morreremos, porém, viveremos se fizermos a vontade daquele que nos criou; se obedecêssemos aos teus príncipes seríamos precipitados na morte...

Poucos dias depois, em Antioquia, o governador Misiano de Urai transmitiu ordens precisas: - Ordenam os nossos príncipes que deveis sacrificar aos deuses; queimar incenso, derramar vinho diante de Zeus; não vos oponhais à vontade deles porque não tereis força para resistir às torturas que vos esperam.

Como eles (os cristãos) estavam irredutíveis, ordenou a Leôncio que os dependurassem pelos braços e os puxassem cruelmente, deixando-os ali das nove às duas da tarde. Era surpreendente a resistência deles.

Uma vez que os próprios carnífices ficaram cansados, o governador ordenou-lhes que parassem e os levassem à prisão chamada "buraco escuro", onde ficaram de agosto a meados de novembro.

O governador, então, mandou-os comparecer à sua presença, mas eles insistiam: - Já confessamos a nossa fé, estamos inabaláveis e, quanto a ti, faz o que te foi ordenado; tens poder sobre nossos corpos, não, porém, sobre nossas almas.
Visto que o governador estava disposto a condená-los à morte, foram invadidos pela alegria e disseram: - Seja louvado Aquele que nos julgou dignos de suportar todo tormento pelo nome de Jesus Cristo.

Chegando a uma colina, o carnífice mandou-os descer do carro; estavam cheios de alegria ao verem finalmente chegado o dia da coroa. Pediram um pouco de tempo para rezar (orarem), e o carnífice permitiu-o dizendo: - Orai também por mim, pelo mal que faço diante de Deus.

4.Quantos foram os Martires? Qual o número dos mártires? È impossível precisá-lo. Foram muitos, antes e depois de Constantino, para que a palavra de Cristo fosse salva ou não fosse dita em vão.

Estavam já às portas as perseguições dos persas, que de 309 a 438 fizeram outros mártires, sob Sapor II e Baram V. Poderíamos acrescentar aos mártires já nomeados dos três primeiros séculos, os que, no ocidente e no oriente, marcaram de maneira particular a história da cruz de Cristo, e poderiam ser propostos como modelo da sua vitória sobre o mundo pagão ou paganizante: as sete virgens da Galácia; Judite, viúva da Capadócia; Zenóbio, médico e sacerdote; Pânfilo, douto e santo; Cassiano, humilde mestre de escola; o homem do povo Taraco e o nobre Próbo; a cortesã convertida Afra e o pobre taberneiro Teódoto de Ancira, etc.

O exemplo deles sirva-nos de estímulo a viver cristãmente a vida, usando dos bens terrenos sem perder de vista os bens celestes, orando pelos perseguidores e irradiando a alegria do Ressuscitado enquanto ainda estão no corpo mortal.


Somos chamados a testemunhar o Evangelho, no calvário da doença ou entre as outras cruzes quotidianas. Em certo sentido, a perseguição sempre esteva ativa. Seja-o também o nosso testemunho de fidelidade a Cristo e à sua Igreja.


Organizado e publicado por
Domingos Teixeira Costa


  

17 de nov. de 2017

Mártires no império (XVI)





3.18. Mártires a não mais acabar - Martiri a non finire No mesmo ano 250, na Ásia Menor, foi martirizado Acácio, bispo de Antioquia da Psídia, que teria sido enganado pelo legado do imperador Décio: - Vives sob a lei romana; amas, então, os nossos príncipes.

- Ninguém ama o imperador mais do que nós - respondeu Acácio - que dirigimos a Deus constantes orações pela sua longa vida de governo justo dos povos na paz; oramos também pela salvação dos saldados e pela prosperidade do império e do mundo, mas o imperador não pode exigir que nós que aos deuses sacrifiquemos.

Máximo, homem do povo, que exercia o pequeno comércio, preso e lavado diante do procônsul da Ásia, suportou as torturas em nome do Senhor, achando-as doces como bálsamo em relação às eternas.

- Se fosse infiel aos mandamentos do meu Senhor - dizia - se não seguisse o Evangelho, perderia a minha vida... não sinto nem as chicotadas, nem as unhas de ferro, nem o fogo, pois está em mim a graça de Cristo.

Em Nicomédia (ainda na Ásia Menor) entre 250 e 251 foram queimados vivos Luciano, que, de antigo "perseguidor", tornara-se "pregador", e Marciano, que já havia adorado deuses falsos e se tinha convertido ao culto do Deus verdadeiro.

3.19. Martírio de Conão Na Panfília (Ásia Menor) foi martirizado o velho Conão, "servo de Cristo, sem malícia, alma simples". O governador: Diz-me, grande homem, de onde és? Quem são os teus pais, e qual o teu nome? Conão: Sou de Nazaré da Galiléia, mas não tenho parentela com o Cristo, que nós reconhecemos como Deus do universo e a quem servimos de pai para filho.

O tirano: Se reconheces o Cristo, porque não reconhecer os nossos deuses? Conão: Que descaramento blasfemar assim contra o Deus do universo! O tirano, então, ordenou que o fizessem correr com os pés presos ao seu carro, enquanto era chicoteado por dois soldados; ele, porém, não opunha resistência, mas cantava as palavras do salmo.


- Coloquei toda a minha esperança no senhor, que se curva para mim e escuta a minha oração. Perdidas as forças, caiu elevando os olhos ao Mestre: - Senhor Jesus Cristo, recebe a minha alma... Depois, entregou a alma a Deus.


Organizado e publicado por
Domingos Teixeira Costa 



15 de nov. de 2017

Mártires no império (XV)





3.17. As pérolas da Igreja pisadas pelos porcos. Martírio de Piônio Em Esmirna (Turquia), Piônio foi preso, com Sabina, Asclepíade, Macedônia e Lino, quando celebrava o aniversário de Policarpo. Estavam concluindo as orações e tinham acabado de tomar o pão consagrado, quando apresentou-se Polemone, guarda dos templos, com os esbirros encarregados de prender os cristãos e levá-los a sacrificar aos ídolos e comer as carnes imoladas. - Conheceis sem dúvida - acusou-os Polemone - o decreto do imperador que vos ordena sacrificar aos deuses.

Piônio respondeu: - Nós conhecemos o mandamento de Deus que nos ordena adorar somente a ele. Homens de Esmirna, que, orgulhosos da vossa cidade, vos gloriais de serem incluídos entre os concidadãos de Homero, rides dos Apóstolos, escarnecei dos que espontaneamente vão sacrificar ou não recusam de o fazer porque serão obrigados, mas deveríeis seguir o conselho de vosso Homero que diz ser uma coisa ímpia burlar de quem está para morrer.

É doce viver, mas nós estamos em busca de uma vida melhor. É bela a luz, mas nós desejamos a verdadeira luz! Sei que a terra é bela, mas ela é obra de Deus. Nós não renunciamos a ela por desgosto ou desprezo, mas porque preferimos bens melhores. Sabina sorria e, à pergunta de Polemone e de seu séquito, se estava contente, respondeu: - Sim, somos cristãos por graça de Deus; aqueles que acreditam em Cristo estão certos de ir para a felicidade eterna.

E eles: - As mulheres que se recusam a sacrificar devem preparar-se para a casa de prostituição; isso não te desagrada? - O Deus de santidade velará por mim - respondeu Sabina.

Aos que, depois de terem apostatado, foram vê-los na prisão, disse Piônio: - Tenho uma tristeza que me destroça o coração, ao ver pisadas pelos porcos as pérolas da Igreja, caídas por terra as estrelas do céu, destruída pelo javali a vinha plantada pela mão direita do Senhor; a Satanás foi permitido abanar-nos como o trigo na peneira, e o Verbo de Deus tem nas mãos um tridente de fogo para limpar a eira; em sua misericórdia, está pronto a acolher-vos novamente.


Foi levada a lenha, e foram amontoados os feixes ao redor dos condenados; Piônio fechou os olhos, e a multidão pensou que tivesse morrido, mas ele rezava em silêncio; concluída a oração, reabriu os olhos, enquanto a chama subia. Com intensa alegria nos olhos, disse: - Amém, Senhor, recebe a minha alma. Um leve estertor, e depois expirou sem dor.


Organizado e publicado por
Domingos Teixeira Costa



13 de nov. de 2017

Mártires no império (XIV)




3.16. "Gosto de viver" - Martírio de Apolônio, "santo e nobilíssimo apóstolo de Cristo" Apolônio, senador romano, era conhecido entre os cristãos da Urbe pela elevada condição social e profunda cultura.

Denunciado provavelmente por um escravo, o juiz convidou Apolônio a justificar-se diante do senado. Ele "apresentou - escreve Eusébio de Cesareia - uma eloquentíssima defesa da própria fé, mas foi igualmente condenado à morte.

O procônsul Perênio, em respeito à nobreza e fama de Apolônio, estava sinceramente desejoso de salvá-lo, mas foi obrigado a emitir a sentença de condenação devido ao decreto do imperador Cômodo (por volta do ano 185).

 Apresentamos algumas passagens do processo, no qual o mártir afirma o seu amor pela vida, recorda as normas dos Cristãos, recebidas do Senhor Jesus, e proclama a esperança de uma vida futura.

Apolônio: Os decretos dos homens não podem suprimir o decreto de Deus; quantos mais crentes matares, mais será multiplicado o seu número por obra de Deus. Não achamos difícil morrer pelo verdadeiro Deus, porque, por meio dele, somos o que somos; para não morrer de morte ruim, suportamos tudo com constância; vivos ou mortos, somos do Senhor.

Perênio: Com estas ideias, Apolônio, provas que gostas de morrer! Apolônio: Eu gosto de viver, mas é só por amor à vida que não temo realmente a morte; não existe, sem dúvidas, nada mais precioso do que a vida, mas da vida eterna que é imortalidade da alma para quem viveu bem nesta vida terrena.

A palavra de Deus, o nosso Salvador Jesus Cristo, "ensinou-nos a deter a ira, a moderar o desejo, a mortificar a concupiscência, a superar as dores, a ser abertos e sociáveis, a aumentar a amizade, a destruir a vanglória, a não buscar a vingança contra os que nos fazem o mal, a desprezar a morte pela lei de Deus, a não trocar ofensa com ofensa, mas a suportá-la, a crer na lei que ele nos deu, a honrar o soberano, a venerar somente o Deus imortal, a crer na alma imortal, no juízo que virá depois da morte, a esperar no prêmio dos sacrifícios pela virtude, que o Senhor concederá após a ressurreição daqueles que viveram santamente.

Quando o juiz pronunciou a sentença de morte, Apolônio disse: "Dou graças ao meu Deus, procônsul Perênio, junto com todos os que reconhecem como Deus o seu onipotente e unigênito Filho Jesus Cristo e o Espírito Santo, também por esta tua sentença que é, para mim, fonte de salvação".

Apolônio morreu decapitado em Roma no dia 21 de abril de 183. Eusébio comenta assim a morte de Apolônio: "O mártir, muito amado por Deus, um santíssimo lutador de Cristo, foi ao encontro do martírio com alma pura e coração fervoroso. Seguindo o seu fúlgido exemplo, vivificamos a nossa alma com a fé".

Sabemos ainda do mesmo Eusébio que o acusador de Apolônio e mais tarde do bispo Calisto foi condenado a ter as pernas despedaçadas. De fato, segundo uma disposição imperial, trazida por Tertuliano (Ad Scap. IV, 3), atribuída a Marco Aurélio, os acusadores dos cristãos deviam ser condenados à morte. Os Atos do martírio de Apolônio, descobertos no século passado, existem também em versão armênia e grega, e em várias traduções modernas.



Organizado e publicado por:
Domingos Teixeira Costa