O
hiato histórico entre a morte e a ressurreição de Jesus foi terrível
para aqueles discípulos que colocaram toda a sua esperança no seu Mestre
amado. Entre a sexta-feira da paixão e o domingo da ressurreição só
restaram tristezas, dúvidas, incertezas, frustrações e a perspectiva de
que toda a sua esperança se esvaíra numa tragédia épica de suplício
romano, a crucificação.
Os
discípulos tiveram a chance de contemplar o seu Mestre naquele madeiro
e, acuados pelo medo paralisante sob o poderio da coorte romana, ainda
se sentiam premidos pelo remorso de terem abandonado o seu Mestre e
fugido. Porém, mais do que isso, se viam esmagados pela imensa culpa
moral de serem, eles próprios, corresponsáveis pela morte de um
inocente.
Esse
mesmo sentimento, dezesseis séculos depois, inundou a alma do artista
holandês Rembrandt Harmenszoon van Rij, quando pintou a mais famosa tela
da crucificação de Cristo. Ao contemplá-la, o que primeiro chama a
atenção é a imponente cruz e, obviamente, o crucificado. Há uma multidão
ao redor da cruz, cujas faces atônitas revelam sua culpa na
participação daquele terrível crime.
Numa
extremidade do quadro divisa-se uma figura quase escondida nas sombras.
Alguns críticos de arte afirmam que tal figura seria um autorretrato de
Rembrandt, numa afirmação velada de que reconhecia que os seus pecados
ajudaram a pregar Jesus naquela horrenda cruz. Outros afirmam que a
intenção de Rembrandt era lembrar que aquela figura poderia ser qualquer
pessoa que tivesse a mesma convicção. Ele, assim, conseguiu eternizar
aquele momento em que cada um de nós se sente culpado diante do suplício
de Jesus, exatamente porque foram os nossos pecados que o fizeram
morrer na cruz.
Essa
é uma realidade inescapável: todos nós somos culpados pela morte de
Jesus! Por quê? Porque todos somos pecadores! E Jesus morreu pelos
pecados de todas as pessoas de todas as épocas do mundo inteiro. Se
Jesus não tivesse morrido, continuaríamos culpados e morreríamos nos
nossos pecados. O problema é quando paramos nesse ponto e deixamos a
tristeza e a culpa tomarem lugar em nossa alma. É exatamente assim que
muitas pessoas religiosas e sinceras se comportam por ocasião da Semana
Santa. Essa é mesma síndrome da culpa que inundou o coração dos
discípulos de Jesus e também encheu a alma de Rembrandt.
Esse
tipo de síndrome é uma “doença espiritual” cuja cura é totalmente
possível, pois o próprio Deus forneceu o “remédio”, exatamente pelo
sacrifício expiatório de Jesus Cristo. Os discípulos de Jesus sofreram
os efeitos dessa síndrome entre a sexta-feira da crucificação e o
domingo da ressurreição. Estavam sorumbáticos, desesperançados,
amedrontados e desiludidos; nada mais restara daquele reino proposto por
Jesus, tudo se evaporara no ar, tudo se fora naquela horrenda cruz.
Naquele
domingo, dois discípulos tiveram o santo privilégio de conversar com o
Salvador ressuscitado a caminho de Jerusalém para Emaús, tendo-o
recebido em sua casa e ceado com Ele. Eles nem mesmo o tinham
reconhecido, uma vez que o sofrimento os mantinha de olhos vendados para
a realidade. Eles só reconheceram a Jesus quando o Senhor partiu o pão e
deu graças, mas depois desapareceu. Eles retornaram imediatamente para
Jerusalém, onde ouviram dos outros discípulos a alvissareira notícia de
que o Senhor Jesus vivia, tinha ressuscitado como havia dito (Lc
24.29-34). Eles tiveram a mesma surpresa que os demais, quando as
mulheres afirmaram que a tumba estava vazia. Surpresa?
Muito
estranho a notícia da ressurreição de Jesus ter sido uma surpresa!
Jesus havia dito repetidamente que ressuscitaria no terceiro dia: “É
necessário que o Filho do Homem sofra muitas coisas, seja rejeitado
pelos anciãos, pelos principais sacerdotes e pelos escribas; seja morto
e, no terceiro dia, ressuscite” (Lc 9.22). Mesmo assim, quando Jesus foi
crucificado, os discípulos foram tomados de tristeza e desespero,
quando deveriam aguardar ansiosa e alegremente a Sua ressurreição.
A
ressurreição de Jesus é a cura para esse tipo de síndrome da culpa. É a
ressurreição que dá sentido à cruz. Claro, a morte de Jesus isolada é
motivo de tristeza; mas seguida de Sua ressurreição é uma boa notícia.
Sua ressurreição é a certeza de que a obra foi completa. Por isso Jesus,
ao morrer, bradou: “Está consumado!” (Jo 19.30).
A
ressurreição de Jesus é a doutrina central da Bíblia. Se acreditarmos
em Sua ressurreição real e física, então não teremos dificuldade em crer
em qualquer outro aspecto da Palavra de Deus. Se a rejeitarmos,
todavia, é melhor desistirmos de crer nas outras partes da revelação da
Bíblia. Pode até parecer rude colocar as coisas desse modo, mas o
apóstolo Paulo afirmou enfaticamente: “E, se Cristo não ressuscitou, é vã a vossa fé, e ainda permaneceis nos vossos pecados” (1Co 15.17).
Ora, se a fé é vã, para nada serve. E, se permanecemos nos nossos pecados, resta apenas a síndrome da culpa. Desse modo, “se
Cristo não ressuscitou, nós não temos nada para anunciar, e vocês não
têm nada para crer”. Porém, Ele vive! “Porque Ele vive, posso crer no
amanhã. Porque Ele vive, temor não há. Pois eu bem sei que a minha vida
está nas mãos do meu Jesus que vivo está!”
Samuel Câmara
Pastor da Assembleia de Deus em BelémEnvie um e-mail para mim!
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