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6 de agosto de 2014

Deus é Pai, Deus é Mãe





Nem sempre é fácil imaginar Deus numa perspectiva maternal, pois fomos acostumados à ideia de que Deus é Pai. Isso soa quase como um clichê numa cultura paternalista. O próprio Deus, quando resolveu revelar-se à humanidade, o fez utilizando essa mesma visão cultural: nasceu como Homem, viveu como Homem, morreu como Homem, ressuscitou como Homem. E Jesus, o Homem perfeito, deixou bem claro essa imagem paterna e masculinizada de Deus, quando disse: “Eu e o Pai somos um” (Jo 10.30). Jesus se referiu ao templo como “casa de meu Pai”. Deus era “Aba”, seu “paizinho” querido.
Quando Filipe indagou: “Senhor, mostra-nos o Pai, e isso nos basta”, Jesus lhe respondeu: “Filipe, há tanto tempo estou convosco, e não me tens conhecido? Quem me vê a mim vê o Pai; como dizes tu: Mostra-nos o Pai?” (Jo 14.8-10).
Embora Sua resposta não pudesse ser necessariamente diferente numa cultura de padrão masculino e patriarcal, não é desse tipo de critério que Jesus se utiliza para identificar o Pai. Ele está falando mais de caráter do que de forma ou gênero. Até porque essa imagem machista só tem razão de ser relativamente ao aspecto cultural. Não no trato superior da vida espiritual. É assim que, ao expor sobre a vida espiritual e eterna, Jesus também deixa claro que, no céu, não haverá divisão de sexualidade: “Porque, na ressurreição, nem casam, nem se dão em casamento; são, porém, como os anjos no céu” (Mt 22.30).
Na eternidade, não haverá para nós, assim como nunca houve essencialmente para os anjos, nem para Deus, essa visão de macho e fêmea. Em Cristo, não há “nem homem nem mulher”, porque somos um só corpo com Ele (Gl 3.28). Deus é o Verbo, o “EU SOU”, o Ser Perfeito e Supremo, onde todos os outros seres encontram seu sentido e importância na Criação, pois “Nele existimos e nos movemos” (At 17.28).
Desse modo, embora Deus não tenha gênero, como o ser humano, Ele é Pai e também é Mãe. Ou seja, Deus traz em Seu Ser a natureza de um Pai e de uma Mãe em sua expressão última, plena e definitiva. Tudo o que há de melhor em um pai ou em uma mãe tem a sua origem e sentido Nele, pois Deus é a Fonte de onde tudo isso emana.
A verdade é que Jesus chama de Pai o mesmo Ser que algumas vezes também se identificou como Mãe. Isto porque Deus não vê problema em tomar emprestado da natureza os exemplos das mais extremadas mamães. Por isso, Ele evoca para si a imagem de uma águia, mestra na arte de ensinar seus filhotes a voar: “Como a águia desperta a sua ninhada e voeja sobre os seus filhotes, estende as asas e, tomando-os, os leva sobre elas, assim, só o Senhor o guiou” (Dt 32.11,12).
Quando estava muito zangado, Deus se comparava a uma “ursa, roubada de seus filhos” (Os 13.8). E quem brincaria com uma mamãe ursa zangada?
Jesus era o Filho de Deus, “o resplendor da glória e a expressão exata do seu Ser” (Hb 1.3). Era o próprio Deus em essência e natureza, mas não achou de pouca monta se comparar a uma galinha, quando disse: “Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas e apedrejas os que te foram enviados! Quantas vezes quis eu reunir os teus filhos, como a galinha ajunta os seus pintinhos debaixo das asas, e vós não o quisestes!” (Mt 23.37). Por quê?
O historiador judeu Flávio Josefo nos ajuda a entender isso. Tratando sobre o cerco e destruição de Jerusalém, em 70 A.D., ele conta que um soldado romano encontrou uma galinha totalmente torrada, com as asas arqueadas como se estivesse chocando seus ovos. Quando a afastou com a espada, debaixo dela saíram uma dezena de assustados pintinhos. A conclusão óbvia é que o instinto “materno” falou mais alto. Mesmo diante do fogo destruidor, a galinha fez o que só uma mãe extremada pode fazer: preferiu morrer para salvar seus “filhinhos”.
Esse era o mesmo sentimento que havia em Jesus, quando comparou a Sua compaixão por Israel com o cuidado extremado de uma galinha. Porque nenhum outro animal tem comportamento semelhante, pois, diante do fogo, qualquer outro animal foge. A galinha, contudo, quando tem de salvar seus pintinhos, mesmo em face da morte, não hesita. Do mesmo modo, Jesus não amarelou nem fugiu da raia quando teve de sofrer na horrenda cruz para nos salvar.
É, portanto, uma grande injustiça chamar de “galinha” alguém que, por mero mau-caratismo, não consegue ser fiel ao cônjuge. Jesus, mostrando-se fiel à infiel Jerusalém, como uma “Mãe” sempre fiel, mantinha sempre as “asas” abertas oferecendo acolhimento a quem não merecia.
       Deus é Pai, bem mais pai que todos os pais. Deus é “Mãe”, bem mais mãe que todas as mães. Como está escrito: “Acaso, pode uma mulher esquecer-se do filho que ainda mama, de sorte que não se compadeça do filho do seu ventre? Mas ainda que esta viesse a se esquecer dele, eu, todavia, não me esquecerei de ti” (Is 49.15).
       Deus é Pai. Deus também é “Mãe”. Por causa do Seu Amor incondicional, todas as mães merecem ter um Feliz Dia das Mães!


Samuel Câmara
Pastor da Assembleia de Deus em Belém


 

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