Nem
sempre é fácil imaginar Deus numa perspectiva maternal, pois fomos
acostumados à ideia de que Deus é Pai. Isso soa quase como um clichê
numa cultura paternalista. O próprio Deus, quando resolveu revelar-se à
humanidade, o fez utilizando essa mesma visão cultural: nasceu como
Homem, viveu como Homem, morreu como Homem, ressuscitou como Homem. E
Jesus, o Homem perfeito, deixou bem claro essa imagem paterna e
masculinizada de Deus, quando disse: “Eu e o Pai somos um” (Jo 10.30).
Jesus se referiu ao templo como “casa de meu Pai”. Deus era “Aba”, seu
“paizinho” querido.
Quando
Filipe indagou: “Senhor, mostra-nos o Pai, e isso nos basta”, Jesus lhe
respondeu: “Filipe, há tanto tempo estou convosco, e não me tens
conhecido? Quem me vê a mim vê o Pai; como dizes tu: Mostra-nos o Pai?”
(Jo 14.8-10).
Embora
Sua resposta não pudesse ser necessariamente diferente numa cultura de
padrão masculino e patriarcal, não é desse tipo de critério que Jesus se
utiliza para identificar o Pai. Ele está falando mais de caráter do que
de forma ou gênero. Até porque essa imagem machista só tem razão de ser
relativamente ao aspecto cultural. Não no trato superior da vida
espiritual. É assim que, ao expor sobre a vida espiritual e eterna,
Jesus também deixa claro que, no céu, não haverá divisão de sexualidade:
“Porque, na ressurreição, nem casam, nem se dão em casamento; são,
porém, como os anjos no céu” (Mt 22.30).
Na
eternidade, não haverá para nós, assim como nunca houve essencialmente
para os anjos, nem para Deus, essa visão de macho e fêmea. Em Cristo,
não há “nem homem nem mulher”, porque somos um só corpo com Ele (Gl
3.28). Deus é o Verbo, o “EU SOU”, o Ser Perfeito e Supremo, onde todos
os outros seres encontram seu sentido e importância na Criação, pois
“Nele existimos e nos movemos” (At 17.28).
Desse
modo, embora Deus não tenha gênero, como o ser humano, Ele é Pai e
também é Mãe. Ou seja, Deus traz em Seu Ser a natureza de um Pai e de
uma Mãe em sua expressão última, plena e definitiva. Tudo o que há de
melhor em um pai ou em uma mãe tem a sua origem e sentido Nele, pois
Deus é a Fonte de onde tudo isso emana.
A
verdade é que Jesus chama de Pai o mesmo Ser que algumas vezes também
se identificou como Mãe. Isto porque Deus não vê problema em tomar
emprestado da natureza os exemplos das mais extremadas mamães. Por isso,
Ele evoca para si a imagem de uma águia, mestra na arte de ensinar seus
filhotes a voar: “Como a águia desperta a sua ninhada e voeja sobre os
seus filhotes, estende as asas e, tomando-os, os leva sobre elas, assim,
só o Senhor o guiou” (Dt 32.11,12).
Quando
estava muito zangado, Deus se comparava a uma “ursa, roubada de seus
filhos” (Os 13.8). E quem brincaria com uma mamãe ursa zangada?
Jesus
era o Filho de Deus, “o resplendor da glória e a expressão exata do seu
Ser” (Hb 1.3). Era o próprio Deus em essência e natureza, mas não achou
de pouca monta se comparar a uma galinha, quando disse: “Jerusalém,
Jerusalém, que matas os profetas e apedrejas os que te foram enviados!
Quantas vezes quis eu reunir os teus filhos, como a galinha ajunta os
seus pintinhos debaixo das asas, e vós não o quisestes!” (Mt 23.37). Por
quê?
O
historiador judeu Flávio Josefo nos ajuda a entender isso. Tratando
sobre o cerco e destruição de Jerusalém, em 70 A.D., ele conta que um
soldado romano encontrou uma galinha totalmente torrada, com as asas
arqueadas como se estivesse chocando seus ovos. Quando a afastou com a
espada, debaixo dela saíram uma dezena de assustados pintinhos. A
conclusão óbvia é que o instinto “materno” falou mais alto. Mesmo diante
do fogo destruidor, a galinha fez o que só uma mãe extremada pode
fazer: preferiu morrer para salvar seus “filhinhos”.
Esse
era o mesmo sentimento que havia em Jesus, quando comparou a Sua
compaixão por Israel com o cuidado extremado de uma galinha. Porque
nenhum outro animal tem comportamento semelhante, pois, diante do fogo,
qualquer outro animal foge. A galinha, contudo, quando tem de salvar
seus pintinhos, mesmo em face da morte, não hesita. Do mesmo modo, Jesus
não amarelou nem fugiu da raia quando teve de sofrer na horrenda cruz
para nos salvar.
É,
portanto, uma grande injustiça chamar de “galinha” alguém que, por mero
mau-caratismo, não consegue ser fiel ao cônjuge. Jesus, mostrando-se
fiel à infiel Jerusalém, como uma “Mãe” sempre fiel, mantinha sempre as
“asas” abertas oferecendo acolhimento a quem não merecia.
Deus é Pai, bem mais pai que todos os pais. Deus é “Mãe”, bem mais mãe
que todas as mães. Como está escrito: “Acaso, pode uma mulher
esquecer-se do filho que ainda mama, de sorte que não se compadeça do
filho do seu ventre? Mas ainda que esta viesse a se esquecer dele, eu,
todavia, não me esquecerei de ti” (Is 49.15).
Deus é Pai. Deus também é “Mãe”. Por causa do Seu Amor incondicional, todas as mães merecem ter um Feliz Dia das Mães!
Pastor da Assembleia de Deus em Belém
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