Esperado, Narsalo, Citino, Vetúrio, Félix, Aquilino, Letâncio, Genara, Generosa, Véstia, Donata e Segunda".
3.8. Martírio dos
Santos Silitanos (na Numídia, - África setentrional) O processo contra os
cristãos de Sílio aconteceu no verão de 180 d.C., quando Cômodo era imperador
há poucos meses, e pode ser considerado como continuação das perseguições
iniciadas sob o predecessor Marco Aurélio. A fé cristã já estava difundida
provavelmente na África proconsular, tendo chegado também aos pequenos centros:
Sílio era, justamente, um vilarejo da Numídia. O texto latino do qual se
apresenta a tradução é contemporâneo aos fatos; talvez seja a própria ata do
processo, à qual foi acrescentada pelo transcritor apenas a última parte.
É o primeiro documento sobre o tributo de sangue que os cristãos da
África versaram. "Dezesseis dias antes das calendas de agosto (17 de
julho), quando eram Procônsules Presente, pela segunda vez, e Claudiano, foram
convocados à autoridade judiciária Esperado, Narsalo, Citino, Donata, Segunda e
Véstia. O procônsul Saturnino disse-lhes: "Podeis merecer a indulgência do
nosso soberano, se retornardes a pensamentos de retidão". Respondeu
Esperado: "Nada fizemos de mal, nem cometemos qualquer iniquidade, nem
falamos mal de alguém, pelo contrário sempre retribuímos o mal com o bem; por
isso obedecemos ao nosso imperador".
Disse ainda o procônsul Saturnino: "Nós também somos religiosos, e
a nossa religião é simples. Juramos pelo gênio do nosso soberano e fazemos
súplicas aos deuses pela sua salvação, coisa que vós também deveis fazer".
Respondeu Esperado: "Se me escutares com calma, eu te explicarei o
mistério da simplicidade". Saturnino rebateu: "Não te escutarei nesta
iniciação em que ofendes os nossos ritos; jurai, entretanto, pelo gênio do
nosso soberano".
Respondeu Esperado: "Eu não conheço o poder do século, mas estou
sujeito àquele Deus que nenhum homem viu nem pode ver com seus olhos. Jamais
cometi um furto, mas toda vez que concluo um negócio pago sempre o tributo,
porque obedeço ao meu soberano e imperador dos reis de todos os séculos".
O procônsul Saturnino disse aos outros: "Desisti dessa convicção".
Esperado rebateu: "Trata-se de um mau sistema o fato de ameaçar de morte
se não se jura em falso".
Disse ainda o procônsul Saturnino: "Não consintais nessa
loucura". Disse Citino: "Não temos nada a temer de ninguém a não ser
de nosso Senhor que está nos céus". Acrescentou Donata: "Honra a
César, como soberano, mas temor somente a Deus". Véstia continuou:
"Sou cristã". Disse Segunda: "Aquilo que sou, quero ser".
O procônsul Saturnino perguntou a Esperado: "Persistes em
declarar-te cristão?" Esperado respondeu: "Sou cristão" e todos
concordaram com suas palavras. O procônsul Saturnino perguntou, então:
"Quereis um pouco de tempo para decidir?" Respondeu Esperado:
"Numa questão tão claramente justa, a decisão já está tomada".
Perguntou então o procônsul Saturnino: "O que há em vossa
caixinha?" Esperado respondeu: "Livros e as cartas de São Paulo,
homem justo". Disse o procônsul: "Tendes uma prorrogação de trinta
dias para refletir. Esperado respondeu: "Sou cristão", e todos
estiveram de acordo com ele.
O procônsul Saturnino leu o decreto do ato: "Decreta-se que sejam
decapitados Esperado, Narsalo, Citino, Donata, Véstia, Segunda e todo os outros
que declararam viver segundo a religião cristã, porque, embora tenha sido dada
a eles a faculdade de retornar às tradições romanas, recusaram-na
obstinadamente". Esperado disse: "Damos graças a Deus". Narsalo
acrescentou: "Hoje seremos mártires no céu. Sejam dadas graças ao
Senhor!".
O procônsul Saturnino mandou proclamar a sentença pelo pregoeiro:
"Foram condenados à pena capital: Esperado, Narsalo, Citino, Vetúrio,
Félix, Aquilino, Letâncio, Genara, Generosa, Véstia, Donata, Segunda".
Todos disseram: "Sejam dadas graças a Deus!", e foram em seguida
degolados pelo nome de Cristo".
Organizado e publicado por:
Domingos Teixeira Costa