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28 de fev. de 2007
Ex-embaixador nos EUA critica o Itamaraty
Diplomacia
O ex-embaixador do Brasil em Washington criticou na terça-feira a condução da política externa do país no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. De acordo com o diplomata Roberto Abdenur, há influência ideológica na área. Abdenur disse ainda que o modelo político adotado por Hugo Chávez, aliado de Lula, faz da Venezuela uma ditadura. As declarações foram feitas em audiência pública no Senado.
Abdenur foi convidado a falar à Comissão de Política Exterior e Defesa Nacional da Casa depois da publicação de uma entrevista por VEJA, no começo do mês. Na ocasião, o diplomata já acusara influência ideológica no Itamaraty. Aposentado depois de mais de quatro décadas de atividade diplomática, Abdenur disse que não pretende "denegrir" o Itamaraty, mas confirmou que a política externa foi alvo de uma tentativa de doutrinação.
{ Costa }
Ainda conforme o diplomata, as relações com os Estados Unidos foram enfraquecidas com Lula.Os senadores Eduardo Azeredo (MG) e Flexa Ribeiro (PA), ambos do PSDB, foram os responsáveis pela convocação de Abdenur para a audiência. Depois de ouvir o diplomata por mais de seis horas, eles concluíram que a comissão deve seguir mais de perto a condução da política externa, inclusive chamando embaixadores em atividade para prestar contas de seu trabalho.
{ Costa }
Venezuela está ´montando uma ditadura´, diz Abdenur
Para ex-embaixador brasileiro, entrada plena do país no Mercosul é inconveniente
BRASÍLIA - O ex-embaixador brasileiro em Washington, Roberto Abdenur, criticou a entrada da Venezuela no Mercosul como membro pleno e disse que o país está montando “verdadeiramente uma ditadura”.
“Considero não ser conveniente a entrada plena da Venezuela no Mercosul”, afirmou Abdenur na Comissão de Relações Exteriores do Senado.
“É inadequado, indesejado e contraproducente”, disse ele. “Tanto por razões econômicas como pelo perfil político, que vai alterar em detrimento do Brasil o jogo de poder dentro do Mercosul”, afirmou o embaixador, que foi removido do cargo em janeiro deste ano por meio de um telegrama do Itamaraty.
De volta ao Brasil, ele pediu aposentadoria depois de 44 anos na carreira diplomática e há três semanas deu uma entrevista à revista Veja criticando o que considera a ideologização da política externa brasileira.
"Ideário econômico"
Abdenur disse que a situação no país andino não é compatível com o compromisso democrático do Brasil e dos outros países do Mercosul.
“Tenho a impressão de que, infelizmente, o que se está se montando hoje na Venezuela é verdadeiramente uma ditadura”, afirmou o ex-embaixador brasileiro na capital americana.
Ele disse que o governo da Venezuela tem um “ideário econômico” incompatível e contraditório com o projeto de integração do Mercosul.
“Ele tem outras idéias, ele está trabalhando na base do escambo, troca petróleo por serviço e não tem interesse em estimular pra valer o comércio internacional”, afirmou.
Integração energética
Abdenur também disse que a crise do gás com a Bolívia mostra a vulnerabilidade energética do Brasil e a dificuldade da integração energética na região.
“A integração energética na América do Sul é mais complicada. A integração física é mais fácil. O Brasil precisa tomar cuidado para não colocar-se numa posição de vulnerabilidade”, afirmou.
A integração energética é uma das vantagens apontadas pelo governo brasileiro para a entrada da Venezuela e da Bolívia no bloco, além de projetos conjuntos de gasodutos e refinarias de petróleo.
Os problemas de relacionamento com os vizinhos têm que ser encarados como uma conseqüência do tamanho do Brasil, disse Abdenur. “O Brasil tem que ter sempre em mente que nós somos os novos gringos na região.”
China
Abdenur também aprofundou a crítica à relação do Brasil com a China, considerada o estopim do desgaste do embaixador junto ao ministro Celso Amorim.
No ano passado, Abdenur disse que a China não deveria ser vista como parceira, mas como concorrente.
Na sessão do Senado, disse que foi um erro o reconhecimento da China como economia de mercado pelo governo brasileiro. “Eu digo agora que foi precipitado”, afirmou.
A relação do Brasil com China, disse ele, deve levar em conta o desenvolvimento econômico, tecnológico e militar do país nos últimos anos.
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{ Costa }
27 de fev. de 2007
O Processo e Morte de Jesus
Por Louis Waller
Falo a vós a partir duma perspectiva judaica. Estava ciente da morte Jesus desde que era um garoto pequeno. O meu interesse no processo de Jesus foi gerado por dois episódios particulares. Um era a visita à Monash Law School em 1969 do juiz Haim Cohn que chegou a ser o presidente da Corte Supremo de Israel. Deu um seminário ao corpo docente sobre esse assunto, publicara um artigo sobre o tópico na Revista da Lei de Israel, e, subseqüentemente, saiu o seu livro, intitulado em inglês The Trial and Death of Jesus [O Processo e Morte de Jesus] (1971). Vou-me fiar substancialmente em que o juiz Cohn escreveu e, por assim dizer, pousar nos ombros da sua erudição extensa em lei judaica e romana, em história e em ciência rabínica, o que é tudo esclarecido e efetivamente manifestado no seu livro.
O segundo estímulo para o meu interesse era menor, mas também agudo. Faz aproximadamente 40 anos, que o nosso maior juiz, o falecido Sir Owen Dixon, Juiz Chefe da Austrália, proferiu a Oração Syme no Colégio Australiano Real de Cirurgiões. O assunto dessa oração era a procura por verdade como base para ação, que ilustrava vivamente por um número de exemplos tirados, não só da sua experiência judicial, mas também das suas experiências como Ministro Australiano para os Estados Unidos nos anos mais terríveis da Segunda Guerra Mundial..Pelo fim da sua oração, é isto que disse: "Se verdade fosse um atributo que pudesse ser atribuído a uma conclusão puramente legal, ela deveria estar ao nosso alcance… Mas é que," disse Dixon, "ao Essay on Truth [Ensaio sobre Verdade] de Bacon que tornei para o título desta oração: 'O que é verdade?' disse Pilatos gracejando, e não esperava por uma resposta." Esta é a última frase de Dixon: "Não esqueci que, quando Pilatos disse isso, estava a fim de sair da sala do julgamento." O adjetivo que o Lorde Bacon empregou, e o qual Dixon tão poderosamente enfatizou, escolhendo "Pilatos gracejando" para intitular o seu discurso tocou uma corda vibrante na minha mente, a qual continuou a vibrar.
Deixai-me pôr a cena!
A dinastia régia dos hasmoneus, iniciada pelo heróico Judas Macabeu - o Martelo que derrotou as forças de Antíoco Epífanes da Síria e re-santificou o Segundo Templo - se esgotou em conflitos mortíferos. Em 63 aEC [antes da Era Comum], o general romano Pompeu, abrigado na Síria, foi convidado a entrar na Judéia e a "proteger" esta. O convertido Herodes convenceu os regentes de Roma, Marco Antônio e Otaviano, que o apontassem Rei da Judéia, sob a soberania de Roma. Depois da sua morte em 4 aEC [antes da Era Comum, o seu filho Arquelau foi feito Etnarca - não Rei - da Judéia e Samaria, enquanto os seus outros filhos, Antipas e Filipo, foram apontados Tetrarcas da Galiléia e da Província Noroeste, respectivamente. Era Antipas que, para agradar Salome, assassinara João Batista e apresentara a cabeça deste num prato a ela.
No ano de 6 EC [da Era Comum], Augusto César depositou o Arquelau desesperadamente ineficiente, para chegar a ser o reinante absoluto da Judéia, designando um procurador, subordinado ao Legado na Síria, para exercer a sua autoridade. Em 33 EC, aquele procurador era Póncio Pilatos. A capital da Judéia foi mudada para Cesaréia, e guarnições romanas foram estacionadas pela província que a era agora.; "Judéia tinha o nome", escreveu o historiador judaico bem conhecido, o dr. Cecil Roth, "da mais inflamatória e mais difícil de todas as províncias romanas."
Os cidadãos estavam divididos em que poderíamos hoje chamar de facções, embora eles muitas vezes fossem referidos como seitas. As diferenças entre eles eram de espécie mais profunda. A facção mais larga eram os Perushim, ou Fariseus, os quais estavam para sobreviver como os antepassados dos judeus de hoje, anunciando a sua crença e aceitação da Toráh shebiktav, a Toráh que Moisés recebeu e escreveu, e também da Toráh shebe`al pé, a Tora Oral, que recebeu no Sinai e transmitiu a Joshuáh, este que, por sua vez, a transmitiu aos juizes de Israel, assim que chegou aos grandes rábis do povo judaico, os quais, finalmente, lhe deram forma escrita com a Mishnáh e a Guemará, ambas perfazendo o Talmude. Os fariseus exibiam o que hoje descreveríamos como senso alto de justiça social. As multidões que saudaram Jesus quando ele veio a Jerusalém eram quase todos fariseus ou simpatizantes daquela Weltanschauung [visão do mundo].
Os Tsadukim, ou Saduceus, eram os oponentes dos fariseus. Era principalmente gente de riqueza e de status social alto, incluindo muitos dos sacerdotes que realizavam os serviços do Templo, cujo chefe era o Sacerdote Sumo, ou Kohen Gadol. "Chegaram perto a serem", escreve o rábi Joseph Telushkin em Jewish Literacy 1991 "literalistas bíblicos". Desapareceram depois de que o Templo foi destruído pelos romanos em 70 EC.
Os Ishiím ou Essênios eram um grupo ascético pequeno, a maioria dos quais se mudara para o deserto perto do Mar Morto. Alguns dos famosos rolos descobertos em 1947 em Qumran foram escritos por eles.
Essa então era a Judéia, na qual Jesus de Nazaré vivia e morreu. Os relatos da sua vida e do seu processo e da sua execução pelo pendurar na cruz - a sua crucificação - nos quatro Evangelhos não são de evidência de olho e de testemunhas de ouvir. Foram escritos, como agora está universalmente de acordo, pelo menos quarenta ou até tanto quanto oitenta anos depois daquele evento de cataclismo, diferindo um do outro em muitos particulares críticos. Foram, como todos os livros de momento alto, escritos a partir de perspectivas específicas e com finalidade e objeto particulares.
Que Jesus era processado perante Pôncio Pilatos, na corte deste, sob a acusação de reivindicar ser Rex Judaeorum, isso é Rei dos Judeus, uma acusação de alta traição, condenado, sentenciado a morte e pendurado na cruz estão independentemente reportado pelo historiador romano Tácito e pelo famoso historiador judaico Flávio Josefo em Antigüidades dos Judeus - embora a autenticidade desse relato está sendo energicamente disputada e fortemente asseverada como sendo uma interpretação posterior. É como segue:
Agora havia naquele tempo, Jesus, um homem sábio, se for leal o chamar de um homem, pois ele era fazedor de obras miraculosas - um professor de tais homens que recebem a verdade com prazer. Ele atraiu para si muitos dos judeus e muitos dos gentílicos. Ele era [o] Cristo, e, quando Pilatos, à sugestão dos homens principais entre nós, o condenara à cruz (3 de abril de 33 AD [Anno Domini]), aqueles que o amavam primeiro não o abandonaram, pois ele lhes apareceu vivo outra vez no terceiro dia (5 de abril de 33), como os profetas divinos preconizaram essas e mais outras 10.000 coisas milagrosas a respeito dele; e a tribo de cristãos, assim chamada por ele, não está extinta até este dia.
Tudo isso é retilíneo e, de fato, em linha daquilo o que é conhecido dos modos em que a hegemonia de Roma estava sendo preservada. As palavras "Rei dos Judeus" estavam escritas na tábua pregada acima da cabeça de Jesus, como nos foi contado, com prescrito pela lei romana - Titulus qui causam poenae indicat [Título que indica a causa da pena] - como Suetônio o tem. Jesus foi condenado na base da sua própria resposta à pergunta dirigida a ele por Pilatos: "'Tu és o Rei dos Judeus?' E lhe respondeu e disse: 'Tu o dizes'." A insurreição ou traição inerente naquela reivindicação de ser rei, não nomeado pelo Imperador de Roma, era um crime hediondo sob a Lex Iulia Maiestatis, a qual Augusto promulgou no 8 aEC. Levou a punição de morte. Estava dentro da jurisdição dos procuradores nas províncias, os quais estavam investidos com o ius gladii ou poder de passar a sentença de morte. O procurador podia transferir o caso a Roma, se o acusado fosse romano. Não tinha poder de perdoar - esse era do Imperador somente.
Pôncio Pilatos pode, escreve o juiz Haim Cohn, ter agido ilegalmente. Em 36 EC, de fato, foi revogado em desgraça, por abuso de poder. Mas eram, segundo Filo no seu Legatio ad Galum, os seus excessos despóticos e tirânicos os que finalmente levaram à sua caída, nos quais cometeu "inúmeros atrocidades e numerosas execuções sem qualquer processo prévio". Isso mal concorda com os relatos dos Evangelhos dum governador relutante bem-disposto a Jesus e ansioso para o absolver e o saltar. Está em disparidade com o julgamento de Bacon contido no adjetivo singular, inesquecível: "gracejando".
O que aconteceu na noite antes daquele processo na sala de julgamento de Pilatos? Havia um processo perante o Sanedrim, da Corte Judaica de 23 ou até de 71, que ouviram e determinaram a acusação de blasfêmia dirigida contra ele sob a lei de Moisés, a lei da Toráh, e que resultou isso num julgamento de culpado e à transferência de Jesus aos romanos, o assim chamado "poder civil", para execução? A visão de Haim Cohn é que, na noite antes do seu processo, Jesus estava de fato na casa do Sumo Sacerdote. Mas aí não havia processo.
Cohn dá sete razões cogentes para essa conclusão.
A primeira era que o Sanedrim não podia, e nunca fez, exercer jurisdição na casa do Sumo Sacerdote ou em qualquer lugar fora da Casa da Corte e do recinto do Templo.
Em segundo lugar, processos criminais tinham de ser conduzidos e terminados durante o tempo de dia, nenhuma sessão da corte criminal era permissível na noite.
Em terceiro lugar, processo criminal não era permitido tomar lugar na véspera de um dia de festa, nem no dia de festa mesmo, e o cenário é Péçah ou Páscoa.
Em quarto lugar, nenhum homem poderia ser encontrado culpado na base da sua própria confissão.
Em quinto lugar, a prova devia proceder do testemunho de, pelo menos, duas testemunhas confiáveis e independentes, que dessem evidência tanto no que se refere à perpetração da ofensa na sua presença mesma como também ao conhecimento do acusado de que o ato era punível por uma punição particular.
E em sexto lugar, a ofensa de blasfêmia não está sendo cometida se as testemunhas não testificam que o acusado pronunciara, na presença destes, o nome inefável de Deus, o tetragrama [YHVH], que não pudesse ser pronunciado senão uma vez por ano no Dia de Expiação pelo Sumo Sacerdote no mais íntimo santuário do Templo em Jerusalém, o QoDeSh-QòDòShÍM. "A violação aparente", o juiz Cohn prossegue, "de todas as regras de procedimento e de todas as provisões da lei criminal substantiva guarnece aos proponentes da teoria de processo judaica o argumento conclusivo bem reto de que tanto o processo como a sentença era ilegal. Mas longe de provar a falsidade da sua teoria, essa ilegalidade só adiciona infâmia e opróbrio à perversão e malogro do judiciário que caracterizou o processo. De outro lado, porém, se mantinha que tal violação indiscriminada de todas as regras da lei e do procedimento não está altamente improvável, mas, em vista da exatidão rigorosa e formalista pela qual os fariseus eram naturalmente notórios, bastante inconcebível."
O que houve, então, naquele lugar naquela noite fatal antes da festa do Péçah o Páscoa? Haim Cohn sugere que houve uma tentativa desesperada pelo Sanedrim, liderada pelo Sumo Sacerdote, para afastar ou, pelo menos, mitigar, o fado aprendido de Jesus, cuja entrada na Cidade de Jerusalém fora saudada por uma multidão de aderentes animados. O único modo em que o Sanedrim ainda podia prevenir a execução de Jesus, e está claro que sabiam que estava para ser levado diante Pilatos no dia seguinte, era efetuar a sua absolvição ou, pelo menos, a suspensão da sentença caso se obrigar a ser de bom comportamento. Para segurar uma absolvição, Jesus tinha de ser persuado a prometer que não se iria, no futuro, engajar em quaisquer atividades de traição. Essa é a explicação de Cohn para os eventos específicos, inclusive o convite de muitas testemunhas pretensas, naquilo que era, na sua vista, esse esforço extraordinário para prevenir o que tomou lugar no dia seguinte.
As testemunhas que foram chamadas, as 'testemunhas falsas', não produziram contestação ou refutação nenhuma de Jesus, que mantinha a sua paz, como dizem os Evangelhos, embora não estivesse somente esperado, mas aparentemente também chamado, para exame cruzado e as desacreditar. Mas como estavam de fato falando a verdade, não havia realmente ponto nenhum na sua intervenção. Era só quando o próprio Sumo Sacerdote começou a lhe fazer perguntas que, de acordo com os Evangelhos, Jesus reagiu. Ao ser perguntado se era Cristo, Filho do Bendito, replicou, não só que era, mas também acrescentou "e vereis o filho de homem sentado a direita do poder e vindo nas nuvens do céu". Não sabemos se essa era a única pergunta que lhe foi feita pelo Sumo Sacerdote ou se o Sumo Sacerdote o também perguntara antes sobre os seus ensinos e opiniões em geral, o que é a conclusão que pode ser derivada do evangelho de São João. Seja isso como for, diz Cohn, está claro que era a resposta de Jesus a essa última questão que causou o Sumo Sacerdote e o Sanedrim a desistir em desespero. "A natureza da questão", diz Cohn, "não é tal como ser caracterizada como blasfêmia. E a reportagem," conclui, "que o Sanedrim sentenciou Jesus à morte ao ouvir blasfêmia deste está, assim, certamente não-histórico. Já que não havia blasfêmia nenhuma, e já que não havia processo nenhum, não havia sentença." Porque então, como os Evangelhos reportam, o Sumo Sacerdote rasgou as suas vestes, o sinal tradicional de lamentar para esse mesmo dia entre os judeus? Se o Sumo sacerdote rasgou os seus vestidos naquela noite, Cohn escreve, era porque falhou fazer Jesus ver esse ponto e cooperar, e por causa do julgamento impendente. A asseveração por Jesus que ele era o Messias verdadeiro, enquanto não constituindo ofensa, montou à rejeição da oferta estendida pelo Sumo Sacerdote e aqueles que o apoiavam, para evitar os eventos do dia seguinte. Podiam ter persistido nos seus esforços com Jesus somente se aceitassem a asseveração deste e reconhecessem as suas asseverações. Não o fizeram. Não só Jesus não declinou de se abster no futuro daquelas atividades que o pudessem levar outra vez para dentro de conflito com as autoridades romanas, pelas razões já mencionadas, mas ele também re-asseverou a sua missão messiânica, insistindo na continuação e culminação dessa. Era, assim, não blasfêmia, porque não havia nenhuma, que fez o Sumo Sacerdote rasgar o seu vestidos. Era a sua falha extrema para levar Jesus à razão, salvando-o assim do seu fado. Talvez havia também um presságio real das conseqüências desastrosas que estavam por seguir.
Os judeus não tinham parte no processo perante Pilatos. Os judeus não tinham parte na crucificação de Cristo. Eram os soldados sob o comando de Pilatos que, como os próprios escritores dos Evangelhos declaram, o flagelaram, o levaram ao lugar de execução e o pregaram à cruz. De fato, como o Evangelho de Lucas tem: "E aí lhe seguiu uma grande companhia de gente e mulheres, que também o lamentaram e lamentaram. Mas Jesus se voltou a elas dizendo: "Filhas de Jerusalém, não chorai por mim, mas chorai por vós mesmas e pelas vossas crianças!" E o Evangelho continua: "E os soldados se zombavam dele, chegando a ele, lhe oferecendo vinagre, dizendo: "Se fores rei dos judeus, te salva!"
O que, então é a explicação daquilo que seguiu? O que é a explicação daquilo que aparece nos Evangelhos, particularmente no Evangelho segundo São Mateus e a explicação para a história inquebrada dos últimos 2000 anos? Antes que venho àquela explicação, há mais a ser dito sobre o Sumo Sacerdote e os seus apoiadores. Eram amigos de Jesus. Todos eram, cada um, saduceus. Mas perceberam que a sua própria posição e permanecer estavam rapidamente sofrendo erosão sob a crítica sustentada da massa da comunidade que era ou fariseus ou, como disse antes, simpática ou se estreitamente identificando com aquela aproximação à lei e vida judaicas. O Sumo Sacerdote e o seu partido viam a si mesmos como escorando a sua própria situação se o pudessem alcançar e, sendo alcançando, a salvação de alguém aclamado como herói entre o povo. Relembra a natureza da entrada de Jesus em Jerusalém.
A explicação porque os escritores de Evangelho, e aqueles que os seguiam, retrataram esses eventos que acabei por descrever, numa maneira que levou à conclusão de que os judeus daquele tempo e, além disso, os judeus de todos os tempos, carregassem responsabilidade pela morte de Jesus, está no melhor modo, e brevemente, resumido pelas observações que Haim Cohn faz nas páginas de abertura do seu livro. Escreve:
Está submetido e em boa autoridade que eles, quer dizer os escritores do Evangelho, tinham em mente, não só o seu intento teológico, isso é o intento de transmitir aos seus leitores a personalidade e o status de Jesus Cristo, mas também um apologético. O mais antigo Evangelho de Marcos foi escrito entre 70 AD e 72, alguns 40 anos depois do processo e crucificação. O Evangelho de Lucas era o próximo, escrito acerca de 85. O Evangelho de Mateus está sendo comumente datado ao redor de 90, e aquele de João, ao redor de 110. Durante o período da segunda metade do primeiro e o começo do segundo século, os cristãos eram uma pequena comunidade, lutando desesperadamente por alguma medida de tolerância por parte dos seus soberanos romanos, que consideram a recusa cristã de venerar o imperador deificado, a insistência cristã de venerar o seu Deus e o Messias deste, o Cristo, como ofensa capital. Era bastante mal, de acordo com os romanos, negar a divindade imperial e orar um Deus invisível com o fizeram os judeus. Mas era imperdoável no topo daquilo venerar um malfeitor crucificado pelo governo de Roma, e que declarou ter autoridade excedendo aquela do Imperador de Roma. Enfurecidos pela obstinação inflexível dos cristãos pela aderência a uma superstição depravada - (e essas são citações dum escritor romano) - os romanos os perseguiam cruelmente.
Estava no interesse desse grupo rudemente perseguido, mas determinado, mudar as percepções das autoridades romanas. Por contraste, reivindicar e, pior ainda, enfatizar, que era a Roma imperial cujos oficiais processaram, condenaram e executaram Jesus, era sublinhar o relacionamento de perseguidor e perseguidos, "como amontoar combustível nas chamas de opressão". Antes, se o Procurador que estava em Jerusalém fosse retratado como homem convencido do valor e préstimo dos ensinamentos e dos atos de Jesus, poderia assim ser argüido dessa premissa que aqueles que seguiam o caminho dele devessem ser deixados em paz. Cohn conclui que isso era o motivo que determinava o curso que todos os evangelistas tomaram no descrever os eventos daqueles vários dias. Colocavam o cargo da culpa nas cabeças dos judeus, "que eram, de qualquer modo, objeto de ódio intenso e igual para os romanos e para os cristãos".
Recentemente, li um artigo com o título "Genocide and a Nation's Guilt" [Genocídio e a Culpa duma Nação], escrito por Robert Manne em The Austrálian de 13 de maio de 1996. No seu parágrafo de abertura, escreveu: "Em Washington, na semana passada, o Ministro do Exterior Alemão, Klaus Kinkel, proferiu um discurso importante ao Comitê Judaico Americano. Contou a essa audiência que os alemães permaneceriam com vontade a aceitarem responsabilidade plena pelo Holocausto." É a sentença próxima que é particularmente significante. Mas lembrou que culpa nunca era coletiva ou hereditária. Ninguém duvidou que esse discurso representou uma espécie de resposta obliqua oficial a um livro, Hitler's Willing Executioners [Os Prontos Executores de Hitler] por Daniel Goldhagen. Fui lembrado por isso que, quando era um adolescente impressionável, veio na nossa casa um livro chamado de Black Boy [Moço Preto], escrito por Richard Wright, a quem depois descobri sendo considerado como um dos primeiros, senão o primeiro, dos grandes contribuidores áfrico-americanos ao desenvolvimento da literatura moderna dos Estados Unidos. Quando li esse livro, este fez as impressões mais queimantes na minha mente. No seu livro, Wright escreve isto: "Todos do nosso povo preto, que vivíamos na vizinhança, odiávamos os judeus, não porque nos exploravam, mas porque fôramos ensinados na Escola de Domingo que os judeus eram 'matadores de Jesus'. Com os judeus assim eliminados para nós, os fizemos jogo livre para o ridículo. Wright, então, cita um número de cantigas cômicas feias que ele e os seus amigos cantavam quando dançavam ao redor dos lojistas judaicos e das crianças deles que viviam nessa área. A seguir escreve:: "Ninguém jamais pensava em questionar o nosso direito de fazer isso. As nossas mães e parentes geralmente o aprovaram, ativa ou passivamente. Manter uma atitude de antagonismo ou desconfiança aos judeus estava educado em nós desde criança. Não era preconceito meramente racial, fazia parte da nossa herança cultural." E agora falo como testemunha, querendo evitar qualquer exageração. Mas na minha própria infância, nesta cidade, em um dos subúrbios sulinos, não ouvi uma vez, mas várias vezes, que os judeus, todos os judeus em qualquer lugar e sempre, mataram Cristo.
Essa foi uma perspectiva judaica, não é uma abrangente. Mas então, como o centurião no Evangelho disse: "Sou um homem sob autoridade", estou obedecendo às instruções que me foram dadas sobre o âmbito e o tempo que me foram permitidos para essa apresentação.
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Texto inglês
Tradução: Pedro von Werden SJ – Rua Padre Remeter, 108 – Bairro Baú - 78008-150 Cuiabá-MT – BRASIL – pv-werden@uol.com.br
2006-01-01
{ Costa )
Veja abaixo a sentença que condenou Jesus (traduzida para o português)
Abaixo segue a mesma datilografada:
No ano dezenove de Silvério César, Imperador Romano de todo o mundo, Monarca Invencível, na Olimpíada cento e vinte e um e na Elíada vinte e quatro. Da criação do mundo, segundo o número e cômputo dos Helieus, quatro vezes mil cento e oitenta e sete do progênito Romano Império , no ano setenta e três , e na libertação do cativeiro da Babilônia, no ano mil e duzentos e sete, sendo governador da Judéia Quinto Sérgio ,sob regimento e governador da cidade de Jerusalém, Presidente Grandisssissimo, Pôncio Pilatos ;regente da Baixa Galiléia ,Herodes Antipas, pontífice Sumo Sacerdote, Caifás, magno do Templo Alis Almael , Robas Ascasel, Franchino Centauro; consules romanos da Cidade de Jerusalém, Quinto Cornélio Sublime e Xisto Rusto, no mês de março e dia XXV do ano presente- Eu Pôncio Pilatos, aqui Presidente do Império Romano, dentro do Palácio e arqui-resid6encia, julgo condeno e sentencio a morte Jesus, chamado pela plebe- Cristo Nazareno- e galileu de nação , homem sedicioso, contra a Lei Romana -contrário ao Grande Imperador Tibério Cesar. Determino e ordeno por esta que se lhe dê morte na cruz, sendo pregado com cravos como todos os réus, porque congregando e ajustando homens, ricos e pobres ,não tem cessado de promover tumultos por toda a Judéia, dizendo–se filho de Deus e Rei de Israel, ameaçando com a ruína de Jerusalém e do Sacro Templo negando tributo a César, tendo ainda o atrevimento de entrar com ramos em triunfo, com grande parte da plebe, dentro da cidade de Jerusalém. Que seja ligado e acoitado e que seja vestido de púrpura e coroado com alguns espinhos e com a própria cruz nos ombros para que sirva de exemplo a todos os malfeitores e que juntamente com ele sejam conduzidos dois ladrões homicidas saindo logo pela porta sagrada, hoje Antoniana, e que se conduza Jesus ao monte público da Justiça, hoje chamado Calvário, onde crucificado e morto ficará seu corpo na cruz , como espetáculo para todos os malfeitores que sobre se ponha em diversas línguas este título: "Jesus Nazareno Rex Judeorum" Mando tambem ,que nenhuma pessoa de qualquer estado ou condição se atreva, temerariamente, a impedir a Justiça por mim mandada, administrada e executada com todo o rigor, segundo os Decretos e Leis Romanas, sob as penas de rebelião contra o Imperador Romano.Testemunhas de nossa sentença: Pelas doze tribos de Israel: Rabaim Daneil, Rabaim Joaquim Banicar, Banbasu Laré Peuculari, Pelo Fariseus: Matumberto. Pelo Império Romano e pelo Presidente de Roma Lúcio Sextilo e Amácio Chilício.
Sentença firmada contra Jesus Cristo – O nazareno – cujo documento se encontra Biblioteca de Madrid. Espanha:
{ Costa }
A Sentença de Jesus Cristo
(Copiada do Processo de Cristo, existente no Museu da Espanha)
No ano dezenove de Tibério César, imperador romano de todo o mundo, Monarca invencível da Olimpíada 121, e na Elíada 24 da criação do mundo, segundo o número e o cômputo dos Hebreus, quatro vezes mil cento oitenta e sete, do progênio do Império Romano, no ano 73, e na libertação do cativeiro de Babilônia, no ano 1207, sendo Governador da Judéia Quinto Sérgio, sob o regimento e Governador da cidade de Jerusalém, o Presidente gratíssimo, Pôncio Pilatos; Regente na baixa Galiléia, Herodes Antipas; Pontífice do Sumo Sacerdote, Caifás; Magnos do Templo, Alis Almael, Robas Acasel, Franchino Centauro; Cônsules Romanos da cidade de Jerusalém, Quinto Cornélio Sublime e Sixto Rusto, no mês de março e dia XXV do ano presente, Eu, Pôncio Pilatos, aqui Presidente do Império Romano, dentro do Palácio e arqui-residência, julgo, condeno e sentencio à morte, Jesus, chamado pela plebe CRISTO NAZARENO e, galileu, homem sedicioso, contra a Lei Mosaica, e contrário ao grande Imperador Tibério César. Determino e ordeno, por esta, que se lhe dê morte na cruz, sendo pregado com cravos com todos os réus, porque congregando e ajustando homens, ricos e pobres, não tem cessado de promover tumultos por toda a Judéia, dizendo-se Filho de Deus e Rei de Israel, ameaçando com a ruína de Jerusalém e do sagrado Templo, negando tributo a CÉSAR, tendo ainda o atrevimento de entrar com ramos e em triunfo, com grande parte da plebe, dentro da cidade de Jerusalém. Que seja ligado e açoitado, e que seja vestido de púrpura, e coroado de alguns espinhos, com a própria cruz aos ombros, para que sirva de exemplo a todos os malfeitores, e que, juntamente com ele, sejam conduzidos dois ladrões homicidas; saindo logo pela porta sagrada, hoje Antoniana, que se conduza Jesus ao monte público da Justiça, chamado Calvário, onde, crucificado e morto, ficará seu corpo na cruz, como espetáculo para todos os malfeitores, e sobre a cruz se ponha, em diversas línguas, este título: "IESUS NAZARENUS, REX IUDEORUM". Mando, também, que nenhuma pessoa de qualquer estado ou condição se atreva, temerariamente, a impedir a Justiça por mim mandada, administrada e executada com todo o rigor, segundo os Decretos e Leis Romanas, sob as penas de rebelião contra o Imperador Romano.
São testemunhas da nossa sentença:
Pelas doze tribos de Israel:
Rabaim Daniel,
Rabaim Joachim Banicar,
Benbasu,
Laré Petuculani.
Pelos Fariseus:
Bullieniel,
Simeão,
Ranol,
Babbine,
Mandoani,
Bancurfossi.
Pelos Hebreus:
Matumberto.
Pelo Império Romano e pelo Presidente de Roma:
Lucio Sextilio e
Amacio Chilicio.
" Autor não Identificado "
{ Costa }
A Visão Espírita Sobre quem matou Jesus
Quem Matou Jesus?
Anízio Fernandes de Moraes
Hoje, 06/07/2004 (d.C.) começo, com muito atraso, a responder as questões formuladas pelo jovem Petrick em 12/05/2004 (d.C.). As dúvidas de Petrick são as dúvidas da humanidade, porque o homem Jesus, pela sua importância, dividiu a história da humanidade em duas épocas: antes de Cristo (a. C.) e depois de Cristo (d. C.). A figura de Jesus encantou filósofos, cientistas, historiadores e artistas. A sua bondade e humildade levou a paz, o alívio, a cura a milhões de pessoas. Porém, com tudo o que foi dito a seu respeito, ele continua a ser um grande mistério.
O que sabemos sobre Jesus vem dos Evangelhos. A veracidade dos textos são contestadas por historiadores e teólogos. Há grande número de evangelhos, mas apenas quatro são aceitos por todas as igrejas cristãs: os chamados "canônicos" (de acordo com a regra) atribuídos a Marcos, Mateus, Lucas e João. Os demais foram considerados "apócrifos" (não autênticos). O Evangelho mais antigo, o de Marcos, foi redigido entre 66 e 68 d.C.. Os de Mateus e Lucas na década de 80 d.C.. Entre 90 e 110 d.C. foi concluído o de João. Por este motivo os evangelhos não são totalmente confiáveis, pois suas composições foram relativamente tardias, ou seja, escritas várias décadas após a morte de Jesus. Os Evangelhos de Marcos, Mateus e Lucas são muito semelhantes (possuem 330 versículos em comum), o que nos leva a pensar que mantiveram algum contato na elaboração dos evangelhos. Por isso são chamados de "sinóticos" (num rápido olhar se vê todas as partes do conjunto).
Tudo o que se sabe até hoje sobre Jesus está fundamentado em pesquisas científicas, fruto da análise de historiadores e cientistas e no estudo dos evangelhos e documento afins.
I - A época em que Jesus viveu
Para respondermos às questões de Petrick é necessário que conheçamos a época em que Jesus viveu, ou seja, estudar o ambiente político, social e religioso. Como sabemos, a humanidade vive ao sabor das alternâncias dessas três forças, que condicionam o comportamento e determinam direitos e obrigações.
Vamos comentar rapidamente alguns aspectos sobre o surgimento da nação judaica, para que possamos entender os aspectos psicológicos que norteiam o povo palestino, canalizados para um fanatismo religioso, no qual se identificam como o povo eleito de Deus.
Na época em que Jesus viveu, há dois mil anos, os territórios que correspondem hoje a Israel e à Palestina se encontravam sob o domínio romano. Esta região, ainda hoje, é palco de graves conflitos envolvendo judeus e palestinos, motivados por questões políticas e religiosas, mais políticas do que religiosas. Antes disso, desde o século 6 a.C., a região fora conquistada sucessivamente por babilônios, persas e gregos. Roma consolidou sua ocupação em 63 a . C.
A história da nação Israel se iniciou com Abraão, o Patriarca, que conversava com Deus e recebeu Dele a missão de conduzir o povo hebreu para Canaã (região da Palestina e da Fenícia), local onde seria constituída uma grande nação.
Abraão era homem de muita fé. A suprema prova da fé de Abraão ocorreu quando, em obediência às instruções de Deus, construiu um altar e preparou-se para oferecer Isaque, seu filho, como sacrifício queimado. No último instante Deus interveio e ofereceu um carneiro como substituto de Isaque.
Israel (Perseverador com Deus). Nome que Deus deu a Jacó quando este tinha cerca de 97 anos. Israel se consolidou como nação após ter o povo israelita se libertado da escravidão do Egito e ter se fixado na terra prometida. "Assim, libertado legalmente do Egito, Israel tornou-se propriedade exclusiva de Jeová. "Somente a vós vos conheci dentre todas as famílias do solo". (Êx 19:5,6). Deus então achou apropriado, contudo, lidar com eles, não estritamente como sociedade patriarcal, mas sim como a nação de Israel, que Ele (Deus) criou, dando-lhe um governo teocrático alicerçado no pacto da Lei como constituição. (Estudo Perspicaz das Escrituras, pg. 450)
Israel era uma nação teocrática, mesmo porque, segundo a Bíblia, o seu governo fora determinado por Deus. Portanto, politicamente falando, os direitos e deveres dos cidadãos eram impostos por pessoas que se achavam investidas de poderes divinos. Essa característica do poder, envolvida por profundo fanatismo religioso, impunha ao povo um regime austero e intransigente. (As análises têm por base a Bíblia)
Como já relatamos no início, a região da Palestina estava ocupada pelo império romano desde 67 a. C.. Assim, Israel tinha um governo teocrático que era subordinado ao imperador romano.
II - Atitudes de Jesus que o levaram a julgamento
Alguém matou Jesus. A morte de Jesus não foi um acidente. Porém, ninguém publicou algo que relatasse o processo e o concluísse trazendo provas irrefutáveis sobre o autor ou autores do crime. Os cristãos não acompanharam o julgamento, pois já tinham fugido quando Jesus foi capturado. A elite sacerdotal ou o poder romano nada registrou, porque Jesus era insignificante para eles. Quem realmente matou Jesus: a elite judaica; os romanos; os judeus, ou o próprio Jesus?
Segundo os Evangelhos, Jesus foi levado diante do Sinédrio, na presença do Sumo Sacerdote Caifás, onde os escribas e anciãos estavam reunidos. O chefe dos sacerdotes e todo o Sinédrio procuravam um falso testemunho contra Jesus, a fim de matá-lo. Apresentaram-se duas falsas testemunhas que afirmaram ter Ele dito: "Posso destruir o Templo de Deus e edificá-lo depois de três dias" e por ter afirmado que era Cristo, filho de Deus (Mt 26: 57-68), faltas consideradas graves e por isso foi levado para ser julgado por Pôncio Pilatos,
a) A elite judaica. Jesus foi levado a Pilatos, que era o governador romano da Judeia durante o ministério terrestre de Jesus, por ordem das autoridades judaicas para ser julgado sob a acusação de que era subversivo, que defendia o não pagamento de impostos, que iria destruir o templo e que dizia ser rei, rivalizando assim com César. Por quê? ® A atitude de Jesus não foi exatamente pacífica. O episódio está nos Evangelhos. "Numa visita ao Templo de Jerusalém, o coração religioso da Judeia, Jesus expulsa os vendedores de animais e comerciantes instalados nos arredores. "Não faças da casa de meu Pai um mercado!" (Mt 21:12, 13)
Não foi um simples "rapa" nos camelôs. Os comerciantes faziam parte da estrutura de arrecadação do Templo. Os animais eram vendidos a preços exorbitantes. Os cambistas trocavam moedas que os visitantes traziam pela única aceita pelo Templo, o "shekel". Esse dinheiro junto com os impostos cobrados de todos os judeus adultos, faziam do Templo mais do que uma igreja. Na prática era o Banco Central da Judeia, empregando em torno de 18000 homens, que administravam e guardavam imensa fortuna. Esta situação contrariava tudo o que Jesus pregava: igualdade, fraternidade, caridade, etc.
Jerusalém festejava a Páscoa (aniversário da fuga do Egito liderada por Moisés, 1400 anos antes). O Templo recebia entre 200 e 300 mil visitantes de toda a Judeia. Jesus é preso e a acusação (falsa) é de que dissera que destruiria o Templo e o condenaram à morte. Mas o direito de aplicar a pena de morte era exclusividade dos romanos. Diante disso, os chefes religiosos entregaram Jesus ao poder romano.
Os líderes judeus pediam a condenação de Jesus e sua execução. Pilatos, no entanto, não vê crime nos atos de Jesus. Ao saber que Jesus era da Galiléia, enviou-o a Herodes Antipas, judeu, governante distrital (tetrarca) da Galiléia, que era inimigo de Pilatos. Herodes, que era uma pessoa devassa e cruel (Estudo Perspicaz das Escrituras), apenas zombou de Jesus, pedindo-lhe que fizesse milagres, o que não ocorreu. Revestindo Jesus de uma túnica branca, envia-o de volta a Pilatos.
Desejava Pilatos livrar Jesus, pois o julgava inocente. Interroga-o novamente, porém nada encontra para condená-lo e oferece Barrabás, um criminoso, para ser crucificado em seu lugar. O povo pede que soltem o bandido.
Diante da situação incontrolável, Pilatos mandou levar Jesus a um pátio e entregou-o a uma companhia de soldados que o submeteram a terríveis flagelos.
Quem eram os líderes judeus:
"Os "chefes dos sacerdotes" e os "escribas", com freqüência acompanhados dos "anciãos", formam uma tríade sempre ao encalço de Jesus. Quem são essas figuras? O sumo sacerdote, no período da ocupação romana, era nomeado pelo governador, que o escolhia entre as famílias judias dominantes. Caifás, então, era o Sumo Sacerdote, genro de Anás, cuja influência aparentemente ainda se fazia sentir. Os "chefes dos sacerdotes", segundo o padre Raymond Brown (vide bibliografia), eram provavelmente antigos sumos sacerdotes, ao lado de preeminentes membros de famílias entre as quais sumos sacerdotes recentes haviam sido recrutados, e algumas pessoas a quem tinham sido confiadas especiais missões sacerdotais. Os "anciãos" seriam patriarcas das famílias mais ricas e distintas, e os escribas, pessoas que se destacavam pela "inteligência e cultura", entre as quais se encontrariam os "fariseus". Grosso modo, esses três grupos constituiriam o Sinédrio, que no total contava 71 membros." (Revista "Veja"- 04/95)
Caifás: José Caifás era sumo sacerdote durante o ministério terrestre de Jesus. (Lu 3:2). Era genro do sumo sacerdote Anás, seu antecessor. (Jo 18:13). Caifás era saduceu. (At 5:17).
Caifás era líder de um complô para eliminar Jesus. Profetizou que Jesus morreria em breve pela nação, e empenhou-se de todo o coração neste sentido. (Jo 11:49-53: 18:12-14). No julgamento de Jesus perante o Sinédrio, Caifás rasgou a roupa e disse: "Ele blasfemou!" (Mt 26:65), referindo-se ao fato de Jesus reivindicar a dignidade divina. Quando Jesus estava perante Pilatos, Caifás estava sem dúvida presente, clamando: "Para a estaca com ele! Para a estaca com ele! (Jo 19:6, 11); ele foi um dos que pediram que Barrabás fosse liberto, ao invés de Jesus (Mt 27:20, 21; Mr 15:11); estava ali, bradando: "Não temos rei senão César" (Jo 19:15); também estava protestando contra o letreiro afixado sobra a cabeça de Jesus: "O Rei dos Judeus" (Jo 19:21).
Anás: Designado sumo sacerdote por volta de 6 ou 7 EC por Quirino, governador romano da Síria até cerca de 15 EC. (Lu 2:2). Anás era, por conseguinte, sumo sacerdote quando Jesus, aos 12 anos deixou admirados os instrutores rabínicos no templo. (Lu 2:42-49). Quando Jesus foi preso, ele foi primeiro levado a Anás, para interrogatório, e então levado a Caifás, para julgamento. (Jo 18:13). O nome de Anás encabeça a lista dos principais oponentes dos apóstolos de Jesus Cristo. (At 4:6).
Anás era um homem rico, e uma de suas principais fontes de renda era a venda de sacrifícios no templo. Por este fato, tinha razões para matar Jesus, que por duas vezes purificou o templo, que eles tinham transformado num "covil de salteadores". (Jo 2:13-16; Mt 21:12, 13; Mr 11:15-17; Lu 19:45, 46). Um motivo adicional para o ódio que Anás tinha a Jesus e seus apóstolos, era o ensino sobre a ressurreição, cuja prova era a ressurreição de Lázaro, porque sendo Anás saduceu ele não cria na ressurreição. ("Estudo Perspicaz das Escrituras")
b) Os romanos: Pilatos, como um líder romano, era também responsável pela segurança do império. Ocorriam constantes rebeliões, que desgastavam a tropa. Roma, representada por Pôncio Pilatos, na região da Judeia, governava em conluio com as elites locais. Assim, tanto os sacerdotes (liderados por Caifás, o supremo sacerdote) quanto Herodes (judeu), governante distrital da Galiléia (designado pelo senado romano) podiam coletar impostos para si, desde que mantivessem o povo satisfeito com os romanos e dessem ao César parte da arrecadação. A corrupção é um mal muito antigo.
Diante deste quadro, Pilatos não poderia negar um pedido dos judeus (matar Jesus). Não importava se inocente ou culpado. Seu dever era evitar atritos com os líderes religiosos, garantindo o fluxo de impostos para si e para o império.
Por quê Pôncio Pilatos aparece na Bíblia preocupado em defender a inocência de Jesus? Na verdade, o que estava em jogo era a absolvição de Pilatos, afirma o historiador Edgar Leite, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro.
c) O povo judeu: A Bíblia narra que Pilatos propõe que os judeus escolham em soltar Jesus ou um bandido, Barrabás. A multidão escolhe o fora-da-lei. Diante disso, qualquer leitor é levado a aceitar o povo judeu como responsável pela morte de Jesus. Conforme diz o historiador Pedro Paulo Funari, da Unicamp, este fato é inverossímil. "Não existe nenhum outro caso conhecido em que um procurador romano fosse ouvir o que a população achava. Ainda mais se esse povo nem romano era". O que se tem como certo é a participação ativa da elite judaica, representada pelas autoridades locais e os sacerdotes, tendo à frente o sumo sacerdote Caifás.
Por quê condenar o povo Judeu?
O anti-semitismo é muito mais antigo que o cristianismo. A nação judaica foi construída através de longos e difíceis sacrifícios. Israel, cuja capital é Jerusalém, se encontra no Oriente Próximo, Ásia. Idioma: hebraico e o árabe. Israel é um país resultante da partilha da antiga Palestina (Jerusalém estava dividida até 1967 entre Israel e a Jordânia). Israel mantém constantes atritos com seus vizinhos árabes.
Falar sobre o povo judeu é um interessante tema para uma próxima oportunidade.
As acusações contra o povo judeu, que se espalham pelo mundo ao longo dos tempos, num nefando processo chamado anti-semitismo, por motivos que não importam no presente trabalho, teria como um dos fatores o nome de Judas. O nome "Judas" estaria etimologicamente ligado a "judeu". Seu gosto pelo dinheiro (30 moedas) foi generalizado para todo um povo. Santo Agostinho disse: "... enquanto Pedro representa a igreja, Judas representa os judeus..."
d) Jesus: A possibilidade de Jesus ter provocado sua morte não pode ser descartada. A investida violenta contra os vendilhões do templo deu inicio a grande revolta entre os participantes, bem como atingiu frontalmente as lideranças políticas e religiosas, envolvidas com a negociata. A sua presença era um perigo constante. Além do mais, João Batista tinha sido executado por Herodes, na Galiléia, por motivos banais. Jesus, com certeza, tinha consciência do perigo que corria. No entanto, sua morte traria grande impacto em prol da causa que sustentava. Isto não quer dizer que Jesus premeditou este desfecho.
III - O julgamento
Todo julgamento, em princípio, deve seguir uma máxima do direito que diz: "Não há culpa sem prova e nem crime sem cominação legal". De acordo com a análise dos atos praticados por Jesus, verificamos que ocorreram duas atitudes consideradas graves pelas autoridades judaicas, passíveis de punição: a primeira foi a expulsão dos "camelôs" do Templo e a segunda a acusação de blasfêmia por se declarar filho de Deus.
A expulsão dos mercadores do Templo, à luz da moral, não constitui uma falta grave, pelo contrário, visou preservar o respeito à casa de Deus. O fato de Jesus se dizer filho de Deus não é uma blasfêmia, pois Abraão e os demais patriarcas e profetas consideravam Deus como o supremo Senhor e, conforme diz a Bíblia, Deus afirmava ser os judeus o seu povo eleito, e Jesus era Judeu.
Disto se conclui que:
A condenação de Jesus foi uma farsa perpetrada com o objetivo de acobertar os atos imorais que vinham sendo praticados pela elite judaica (sacerdotes liderados por Anás, Caifás, escribas e anciãos) mancomunados com autoridades romanas, dentre as quais destacamos Pilatos e Herodes (que era judeu).
IV - A condenação
Por qual motivo Jesus foi condenado?
Jesus foi submetido a dois julgamentos: judeu e romano. O julgamento judeu teria sido uma investigação preliminar, não um julgamento. Outros afirmam que coube aos romanos apenas executar uma sentença judia. Segundo diálogo que João presenciou entre Pilatos (que não encontrava razões legais ou morais para condenar Jesus) e as autoridades judaicas, Pilatos diz: "Tomai-o vós mesmos e o julgai conforme a vossa lei". Os judeus responderam: "Não nos é permitido condenar ninguém à morte." Percebe-se através desse diálogo que a intenção das autoridades judaicas era matar Jesus e não simplesmente puni-lo. Surgiu, então, um problema de competência entre a justiça romana e a judaica. Pilatos diante do impasse, entregou Jesus aos soldados para que o castigassem e, em seguida, Jesus foi levado para ser crucificado.
Conclusão
Podemos agora, ao final desta análise, declinar nomes de supostos culpados pela morte de Jesus, sob o meu humilde ponto de vista, embora apoiado em fontes duvidosas, o que deixa um enorme campo para discussões.
Questionamento do Petrick:
1. De quem é a culpa pela crucificação: do povo ou de Pilatos?
Povo: Conforme constatamos através de documentos e relatos que chegaram até nós, o povo judeu aguardava, com ansiedade, um líder que os tirasse da condição de penúria e sofrimento em que viviam, cujos culpados eram os líderes judeus. O povo, em razão de sua humildade e miséria, não tinha expressão nenhuma que sensibilizasse as autoridades romanas, a ponto de contrariar um desejo de Pilatos (libertação de Jesus). Por outro lado, é impossível aceitar que um povo se manifeste contra um homem, que era judeu, e se empenhava em ajudar os pobres, enfermos e oprimidos, a ponto de pedir sua crucificação.
Pilatos: Pilatos teve uma participação muito grande na condenação de Jesus. Por quê?
Pilatos realmente não encontrava culpa em Jesus, porque Ele não havia cometido nada que violasse os princípios da lei vigente naquela época. (vide o princípio legal: "... não há culpa sem prova e nem crime sem cominação legal ...". No entanto, Pilatos não podia assumir sozinho a condenação e a transferiu para as autoridades judaicas: "Levai-O e aplicai a vossa lei". Este comportamento, aparentemente correto e justo, estava encoberto por dois importante motivos:
a) Era do interesse de Pilatos que Jesus fosse eliminado porque a sua presença atrapalhava a "negociata" do Templo (vide letra "a");
b) O povo judaico não aceitava o jugo romano e, portanto, ocorriam várias rebeliões contra as tropas romanas. Em razão disso, Pilatos não poderia contrariar as autoridades judaicas que pediam a morte de Jesus, para não provocar um descontentamento. Na verdade, Pilatos, lavando as mãos, salvou-se a si mesmo.
Pilatos, pela seu comportamento, a meu ver, seria enquadrado como co-autor da morte de Jesus.
2. Os soldados que crucificaram Jesus, embora cumprindo ordens, têm parcela de culpa?
Não têm culpa pela condenação, mas sim pela execução, levando-se em conta a necessidade de consumar o ato em razão de sua condição profissional. Vejamos em "O Livro dos Espíritos", Capítulo IV - Assassínio.
Questão 746: O assassínio é um crime aos olhos de Deus?
Sim, um grande crime, pois aquele que tira a vida de um semelhante interrompe uma vida de expiação ou de missão, e nisso está o mal.
Questão 747: Há sempre no assassínio o mesmo grau de culpabilidade?
Já o dissemos: Deus é justo e julga mais a intenção do que o fato.
Questão 749: O homem é culpado pelos assassínios que comete na guerra?
Não, quando é constrangido pela força; mas é responsável pelas crueldades que comete. Assim, também o seu sentimento de humanidade será levado em conta.
Devemos entender que "cada um tem o que merece, de acordo com suas obras" e o que conta nesses casos é a intenção de cada um.
3. Todos os que colaboraram para a sua condenação serão perdoados?
Perdoados por Deus ou pelos homens? Por Deus, com certeza. Pelos homens, não sei.
Cada um receberá o que merecer, de acordo com o seu grau de comprometimento. De uma coisa temos certeza, Deus é amor e não abandona ninguém. Todos alcançaremos, um dia, após vencermos nossas imperfeições, a condição de Espíritos Puros.
4. Até onde teria chegado o império de Jesus se não tivesse sido morto? Teria se tornado um grande rei ou imperador?
Acredito que a morte e a ressurreição de Jesus foram necessárias, pelos seguintes motivos:
a) Jesus revelou à humanidade o amor (Segunda Revelação).Portanto, as armas que Jesus utilizou para derrotar seus inimigos eram a paz, a solidariedade, a fraternidade, virtudes desconhecidas e ignoradas na época, cujo lema era: "Quem com ferro fere será ferido". Jamais Jesus derrotaria as grandes potências e impérios, constituídos de pessoas ainda no estágio da barbárie, com demonstração de amor e fraternidade.
b) A morte e a ressurreição de Jesus tornou-o um líder carismático e revelou que Deus existe e que a vida não se resume só ao plano material. A Doutrina Espírita nos revela a grandeza da obra de Deus e nos apresenta a maravilha de sua criação, da qual, felizmente, fazemos parte.
Se Jesus não tivesse sido morto, com certeza teria sido o maior rei ou imperador de todos os tempos, embora a humanidade fosse imperfeita. A sua gestão, embora divina, não faria milagres, pois milagre não existe.
Com isso concluo esse humilde trabalho que acrescentou muito à minha significativa ignorância, o que me leva a agradecer ao Petrick pela oportunidade que me ofereceu.
Bibliografia:
1. Revista "Veja" - 04/95;
2. Revista "Época" - 04/02;
3. "A Morte do Messias" - Padre Raymond Brown;
4. "Quem Matou Jesus" - John Domuinic Crossan;
5. "O Julgamento e a Morte de Jesus" - Hainn Cohn.
6. "Bíblia de Jerusalém", Paulus Editora.
7. "Estudo Perspicaz das Escrituras", Soc.Torre de Vigia de Bíblias e Tratados, 1992.
Anízio Fernandes de Moraes – Centro Espírita Ismael – 05/ago/2004.
{ Costa }
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