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6 de mai. de 2015

Política: Missão ou Negócio?




No próximo dia 5 de Outubro, teremos mais uma oportunidade de ajudar o Brasil a melhorar, sabendo que o nosso voto cidadão e missionário fará toda diferença para eleger: Presidente do Brasil, Governador, Senador, Deputado Federal e Deputado Estadual. Pesa sobre os nossos ombros uma imensa responsabilidade de colocar, com o nosso voto, as pessoas certas nos lugares certos, sabendo igualmente que essas mesmas pessoas governarão sobre nós, farão leis e as executarão, e isso definirá em grande medida a nossa vida. Que grande responsabilidade a nossa!
A maneira de cada eleitor tratar o seu voto fornece uma boa pista para sinalizar se o mesmo tem consciência política e exerce plenamente o seu direito de cidadão, ou não. Desse modo, a estatura de cada cidadão é medida pela valorização que confere ao seu voto, pelo modo como expressa a sua vontade política.
Por isso, o voto é não somente intransferível e inegociável, mas também precisa refletir a compreensão que o eleitor tem do momento histórico do seu país e do seu estado. Em função disso, o eleitor não deve, em hipótese alguma, violar a sua consciência política, principalmente no que diz respeito à sua maneira de ver a realidade social. Deve, portanto, discernir se o candidato que pede o seu voto é uma pessoa lúcida e comprometida com as causas da Justiça e da Verdade, e não um oportunista de plantão, que só aparece em época de eleição.
Devemos ter em mente que o nosso voto é, de algum modo, um instrumento revolucionário e pacífico de transformação social. E essa é uma característica única e essencial de democracias sólidas e estáveis, cuja ação só pode ser realizada por um ato responsável da vontade e da consciência de cada cidadão.
Quer queiramos admitir ou não, estaremos caminhando para uma situação que pode melhorar ou piorar o nosso país, dependendo da nossa atitude, da nossa escolha. Se formos omissos ou desinteressados, ajudaremos a piorar a situação; se formos responsáveis e diligentes, solidários e participativos, com o voto consciente e de qualidade, daremos um grande passo para melhorar o que pode ser melhorado. Se não der para mudar tudo de uma só vez e fazer o bem mais amplamente, poderemos ao menos tentar evitar que o mal prospere, em votando e elegendo os candidatos sérios e de melhores propostas.
Procure avaliar a vida dos candidatos, informe-se a respeito, veja se é um bom caráter, se é uma pessoa séria, se tem propostas coerentes, e prime por escolher o seu candidato num elenco que traga essas legítimas características.
É preciso entender a política como a nobre missão de governar produzindo o bem-estar comum, e não um meio de negócio. Quando a política deixa de ser missão para se transformar em negócio, perde sua função precípua de produzir o bem comum, passando a servir aos interesses individuais, tornando indistinta e promíscua a relação entre o público e o privado.
O que se pode esperar de um país com essa cultura política? A alienação do eleitor cresce pela desilusão, a degradação da democracia via corrupção, os partidos sem ideologia, os parlamentos sem identidade e sintonia com o povo, a burocracia da administração governamental criando dificuldades a fim de negociar facilidades.
Mudar essa cultura política não é coisa fácil, todavia se impõe como desafio a ser enfrentado para que um futuro melhor possa vir. Outras nações já alcançaram esse estagio e nós poderemos fazê-lo também. O desafio é grande, e no dizer do Ministro Joaquim Barbosa: "O Brasil precisa se livrar dos resquícios de autoritarismo, do nepotismo, da cultura dos privilégios, do jeitinho e de resquícios da escravidão".
Veja que não são poucos os candidatos que tentam passar a impressão de que são mais virtuosos que todos os outros. Fazem-nos pensar que, uma vez eleitos, a vida será transformada num mar de rosas. Embora saibamos que não existe candidato perfeito, não podemos nos deixar cair no extremo de deplorar constantemente a classe política, sem fazer absolutamente nada para mudar a situação. Essa é uma atitude negligente e cômoda de quem vive criticando, mas nada faz. As pessoas responsáveis, porém, têm de fazer algo a partir do seu próprio voto.
O que temos de entender adequadamente é que, a despeito da imperfeição dos candidatos, a operação da graça de Deus, mediante as nossas orações e vigilância, pode ajudar a brotar o melhor da sua humanidade. O candidato que for eleito, embora imperfeito, poderá agir decente e racionalmente para o bem comum e contribuir para resolver os intrincados problemas sociais que acometem a nossa sociedade.
Como seguidores de Cristo e cidadãos brasileiros, devemos fazer o que estiver ao nosso alcance para que a nossa sociedade melhore, principalmente em votando nos candidatos que defendem princípios que se harmonizam com a Palavra de Deus, a nossa regra de fé e prática. Vote especialmente em nossos irmãos que exercem o seu sacerdócio na política, fazendo do exercício de seu mandato uma grande missão cristã e cidadã, diferentemente daqueles que têm a política como um grande negócio e deste se locupletam.
Escrevamos esta história com o nosso voto, e que Deus nos abençoe nisto!
Feliz é a nação cujo Deus é Senhor!



Samuel Câmara
Pastor da Assembleia de Deus em Belém


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17 de mar. de 2015

Cristãos verdadeiros ou apenas fingindo




Vez por outra, ouve-se a história de um motorista que bateu em outro carro num estacionamento e, diante do olhar de testemunhas, fingiu identificar-se e colocar o seu endereço e o número do telefone em um bilhete pregado no para-brisa do carro abalroado, para posterior contato, quando na verdade escreveu: “Acabei de bater em seu carro. As pessoas que viram estão me observando, talvez achando que eu estou a escrever o meu endereço e telefone... mas não estou”. Ele estava apenas fingindo, dissimulando, encobrindo com astúcia um malfeito. Embora provavelmente todos pudessem pensar em seu gesto como algo honesto, o fingido bem sabia que estava apenas fingindo.
Como estou tratando de cristãos, se tomarmos apenas as aparências e os estereótipos, assim de cara, nunca saberemos quem realmente está sendo verdadeiro ou apenas fingindo. Mas cada pessoa, indubitavelmente, sabe se está sendo verdadeiro ou apenas fingindo. E Deus, acima de todos, sabe tão bem quanto.
Lembro-me do caso de um jovem que foi participar de uma entrevista para ocupar um cargo em uma empresa. Ele apresentou-se bem vestido e causou, de primeira, uma boa impressão ao diretor de recursos humanos. Ele também apresentou um excelente currículo, onde listou como referência o pastor da igreja onde frequentava, assim como o seu professor da escola bíblica e um diácono.
O diretor, após analisar o currículo por alguns minutos, então falou: “Aprecio as recomendações de seus amigos da igreja. Mas eu gostaria realmente de saber a opinião de alguém que se relaciona com você durante a semana”.
É lamentável dizer, mas a posição tomada pelo diretor parece revelar que há um nítido contraste na forma como alguns cristãos agem na igreja e o seu comportamento no mundo. Quando na igreja, diante da vista do Deus onisciente, que tudo vê e tudo conhece, todos deveriam ser verdadeiros – porque o próprio Deus está em busca de adoradores que o adorem em espírito e em verdade –, parece que o ambiente se torna muito mais propício ao fingimento de uma espiritualidade quase perfeita do que a uma expressão de fé genuína de gente imperfeita mas sincera.
Não pretendo desmerecer ou julgar ninguém, mas, como pastor, trato diariamente com questões dessa natureza. Não são poucos os cristãos que, mesmo sendo assíduos na igreja, embora parecendo quase perfeitos, na realidade não podem ser tomados como modelo de vida cristã autêntica, tanto na sua relação com Deus como em seu relacionamento com as pessoas.
Alguns cristãos vivem um padrão duplo, pois sua conduta diária teima em ser inconsistente com os valores espirituais; sua caminhada no mundo mostra-se francamente em desarmonia com sua suposta caminhada com Deus. São cristãos dissimuladores, que apenas fingem certos aspectos de sua fé.
Um bom teste para sabermos se estamos sendo coerentes é nos perguntarmos: Será que os nossos amigos da igreja se chocariam se observassem nossas ações e ouvissem o que falamos no trabalho ou em casa? As pessoas de nossa casa se impressionariam ao observarem o nosso comportamento no ambiente da igreja?
Há outras questões que não querem (e não podem) calar. Na verdade, que exemplo é deixado para as pessoas com as quais convivemos e que rotineiramente nos observam? Um bom cristão aos domingos não deveria também ser um bom cristão durante a semana toda?
Jesus nos ensinou que temos o dever de ser tanto “sal da terra” como “luz do mundo”. E isso todo dia, não só aos domingos; e o dia todo, não só na hora do culto. Isso quer dizer que o nosso testemunho deve ser efetivamente produtivo e verdadeiramente sincero. Mas Jesus também advertiu quanto ao perigo de o nosso testemunho vir a tornar-se improdutivo e incoerente, exemplificando isso com a possibilidade de o sal perder o sabor e a luz ficar escondida (Mt 5.13-20).
Há, porém, duas coisas que devemos considerar sobre esses elementos. Primeiro, o sal só é útil para dar sabor se estiver em contato com a comida, misturado a ela. Jesus nos chama para darmos “sabor” à sociedade em Seu nome, por meio do nosso envolvimento com as pessoas, obviamente com o nosso testemunho condizente com os valores espirituais que professamos. Assim, temos de viver, “acima de tudo, por modo digno do evangelho de Cristo” (Fp 1.27).
Segundo, a luz deve ser sempre visível, senão perde o seu papel e importância. Cristãos que vivem como “agentes secretos” de Deus precisam sair do esconderijo e ser conhecidos como discípulos. Em vez de “povo encolhido”, precisamos ser vistos como “povo escolhido” de Deus, cuja profissão de fé deve ser evidenciada por meio das boas obras, “as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas” (Ef 2.10).
O sal se imiscui na comida sem alarde e lhe dá sabor. Quando ele não está lá, logo se nota. Assim também a luz, quando fata, que falta faz. Moody disse: “Um farol não precisa fazer alarido para atrair a atenção dos navios. Ele apenas brilha”.
Assim, cada um de nós precisa responder: sou um cristão verdadeiro ou estou apenas fingindo?



Samuel Câmara
Pastor da Assembleia de Deus em Belém


Publicação
 

Domingos Teixeira Costa






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18 de set. de 2014

Oração, pra que te quero...

 
 
 
Pesquisadores da Universidade de Medicina e Ciência da Califórnia, nos Estados Unidos, comprovaram cientificamente que orar faz bem para a saúde. Isso mesmo: orar é um santo remédio para a alma e para o corpo. E chegaram também à conclusão de que não tem contraindicação. Trocando em miúdos: orar reduz em até 11% o risco de desenvolver arteriosclerose; faz a pessoa sentir disposição e ficar mais calmo; quem se habitua a orar torna-se mais saudável do que os que oram apenas eventualmente. Os cientistas concluíram também que isto acontece porque as ondas cerebrais ficam ordenadas, a respiração mais tranquila e os batimentos cardíacos mais lentos, o que reflete na saúde geral da alma e do corpo. Simples assim!
Os pesquisadores só não discorreram sobre a quem se deve dirigir a oração. Para eles, tanto faz se alguém ora ao Deus verdadeiro ou a qualquer outro “deus” ou “santo” que esteja disposto a ouvir suas preces. O simples ato de orar, concluíram os cientistas, já basta para produzir saúde e alento.
Tais afirmações, partindo de cientistas, seres não religiosos (ou mesmo antirreligiosos), têm o condão de ensejar pelo menos uma simples reflexão sobre a validade e importância da oração.
Mas será mesmo que os benefícios da oração são apenas físicos e emocionais? Ou podemos pensar para além desses benefícios, e nos voltar para o que ensina a Bíblia, de que orar traz benefícios espirituais que são úteis não somente para a nossa vida terrena e passageira, aqui e agora, mas também por toda a eternidade?
Nesse caso, que orientações a Bíblia oferece sobre a oração que vale a pena ser feita? Existe mesmo uma oração eficaz que tenha o poder de nos tornar vitoriosos na vida?
Quem melhor ensinou sobre oração, na Bíblia, foi Jesus Cristo. É Dele o ensino sobre a mais conhecida oração de todos os tempos, chamada de Pai Nosso (Mt 6.9-13). Ora-se o Pai Nosso em quase todas as situações da vida: na derrota e na vitória, antes de desafios e depois deles, na saúde e na doença, no nascimento e na morte, ou no simples festejo de um aniversário. Enfim, ora-se o Pai Nosso para entrar ou para sair, no perigo ou na bonança, na escassez ou na abastança, quer por correção moral ou diante de lambança.
Ao ensinar essa oração concisa e singela, Jesus tornou a atividade de orar algo descomplicado e simples, cujo modelo qualquer pessoa poderia seguramente seguir. O Pai Nosso, porém, não é uma reza para ser repetida como um passe de mágica. Antes, é um modelo simples de oração que serve para qualquer criança orar em um minuto, ou, aos experientes, um roteiro de oração que pode levar uma hora ou mais.
Jesus corroborou o ensinou de que é preciso orar a Deus, o Pai, em Seu nome: “E tudo quanto pedirdes (ao Pai) em meu nome, isso farei, a fim de que o Pai seja glorificado no Filho” (Jo 14.13-14). Desse modo, o poder da nossa oração não está na nossa necessidade ou no nosso conhecimento teológico, mas no santo nome de Jesus. Quão poderoso é o nome de Jesus diante de Deus! O Pai é glorificado quando oramos em nome de Jesus, pois assim damos crédito à obra que Ele realizou por nós na cruz do Calvário.
Ao orar, é necessário crer e esperar a resposta, pois é impossível agradar a Deus sem a fé (Mc 11.24; Hb 11.6). Mas não basta crer, é preciso estar em sintonia com a vontade de Deus: “Seja feita a Tua vontade” (Mt 6.10; 26.42). Além disso, é necessário manter a perseverança até a conquista total do que se pretende (Lc 18.1-7).
       Muitos têm dúvidas sobre a posição em que se deve orar. Mas isso não é relevante! De acordo com a situação e a conveniência, pode-se orar em pé ou sentado, ajoelhado ou deitado, curvados ou mesmo prostrados no chão, pode-se ficar imóvel ou com as mãos levantadas aos céus. O importante não é a posição em que se ora, mas a oração que parte de um coração humilde na presença de Deus (Ne 9.4-5; Mt 26.39)
A Bíblia diz que “não sabemos orar como convém”. Isto quer dizer que repetir palavras bonitas e rebuscadas, bem intencionadas e corretas, não nos faz orar adequadamente. São necessárias graça e sabedoria, as quais não residem em nós, mas em Deus. O próprio Deus nos ajuda a fazer a oração eficaz, pois o Espírito Santo é quem “intercede por nós sobremaneira, com gemidos inexprimíveis” (Rm 8.26).
A oração não só faz bem à saúde física e mental, como dizem os cientistas. Ela é tanto vital como fundamental, ao ponto de Deus, conhecendo a nossa fraqueza, nos assistir para que a nossa oração seja efetiva e nos traga os benefícios totais, aqui e agora, e também na eternidade.
Orar faz bem. Ore do jeito que você sabe. O pior de tudo é não orar.
 
 
Samuel Câmara
Pastor da Assembleia de Deus em Belém
 



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22 de ago. de 2014

"II" Vergonha pra que te quero...

 
 
 
A Copa do Mundo está em pleno andamento e as previsões catastróficas sob o epíteto do “Imagina na Copa” não se confirmaram. As manifestações contrárias, até agora, foram pífias. E os ensaios de quem desejaria desabafar com o despudorado “tenho vergonha de ser brasileiro” não encontrou ainda o seu respaldo nem audiência que o valha. Os turistas, que muitos esperavam passar pitos de reclamações bem fundamentadas pelos maus serviços públicos disponíveis, esses parecem não ligar e se mostram até mesmo mais alegres que os anfitriões brasileiros.
Nada disso, porém, faz desaparecer os problemas por demais conhecidos, nem exime as autoridades de suas responsabilidades, tampouco esvanece a justeza das reclamações emanadas do povo contra a incompetência das autoridades públicas diante dos problemas nacionais. Ademais, jamais deverá obscurecer a capacidade virtuosa de colocar a nossa vergonha na cara a serviço de alguma coisa boa e proveitosa.
Se o Brasil ganhar a Copa, sua vergonha diminuirá de importância? Se perder, aumentará? Se você não liga, deveria pelo menos questionar a motivação da sua propalada vergonha. Isto porque vergonha na cara não é somente um artigo raro, é também inerente aos cidadãos de bem. 
Na opinião de Capistrano de Abreu, a Constituição Federal deveria conter apenas dois artigos. Primeiro: “Todo brasileiro deve ter vergonha na cara”. Segundo: “Revogam-se as disposições em contrário.” Mas pergunta-se: Vergonha para quê?
Rui Barbosa, em discurso no Senado Federal, em 17 de dezembro de 1914, declarou: “De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto”.
Rui Barbosa fez este desabafo ao defender o requerimento sobre uma chacina de presos conhecida como “Caso Satélite”. A impunidade dos assassinos confessos, depois de quase quatro anos decorridos do crime, o motivou a fazer esse inflamado discurso. O que tinha de observação do cotidiano, seu discurso tinha também de profético. Pois ainda hoje, decorrido quase um século, a impunidade no Brasil perdura e recrudesce. Isso não e novidade, é apenas o reflexo da continuidade do triunfo das nulidades, da prosperidade da desonra, do crescimento da injustiça e do agigantamento do poder nas mãos dos maus.
Essa total inversão de valores não seria, hoje, o princípio que subjaz nos famigerados casos de corrupção no Congresso Nacional? Ora, não estaria isso também entranhado em outros setores da vida nacional?
Quando homens públicos procedem na contramão da honra, agem como quem acredita que não é o cachorro que abana o rabo, mas o rabo abana o cachorro. Felizmente a sociedade tem instrumentos para reciclar-se e fazer incisões eleitoralmente cirúrgicas para extirpar esses “apêndices” supurados de sem-vergonhice.
Mas esse não é o problema maior, que são os danos que suas posturas despudoradas e infames causam nas pessoas de bem, as que são interiormente susceptíveis de desânimo crônico.
O desânimo quanto ao exercício da virtude faz com que cidadãos, incapazes de sujar suas casas, joguem lixo nas ruas; faz com que cidadãos, incapazes de furar uma fila de banco, permitam-se a levar vantagem e passar na frente dos carros que estão enfileirados num retorno de pista única; faz com que cidadãos, mesmo tratando bem seus pais e filhos, não estendem o mesmo tratamento a velhos e crianças desconhecidos — antes, não lhes dão o lugar num coletivo lotado, não lhes cedem seu lugar na fila, não lhes dão prioridade na passagem de um cruzamento.
O mau exemplo é contagioso. Um atleta famoso, pelo simples desejo de ganhar mais dinheiro, se torna garoto propaganda de bebida alcoólica. É lícito, mas não convém. Pois fatalmente será responsável pelo descaminho de tantos garotos que, mirando-se no seu anunciado “exemplo”, no máximo se transformarão em bêbados contumazes.
A despeito de qualquer coisa errada ou fora de lugar, não desista nem desanime da virtude. Ainda que debochem de quem devolve o dinheiro achado, continue fazendo a coisa certa; ainda há quem devolva. Ainda que desdenhem de alguém ser gentil com uma mulher e abrir-lhe a porta do carro, mantenha a sua educação; ainda há que abra portas para mulheres. Ainda que desdenhem de quem é honesto e não se vende, mantenha a esperança; ainda há pessoas que não têm preço. Ainda que filhos ingratos desrespeitem e não honrem os próprios pais, seja fiel em cumprir o mandamento de Deus; ainda há quem o faça. 
Honestidade é virtude, mas é também obrigação. Por isso, não tenha vergonha de ser honesto, pois é seu dever. Tenha, antes, vergonha dos desonestos. Quem sabe, um dia se toquem de que o tempo deles passou, pois a própria História os varrerá para debaixo do tapete de suas insignificâncias.
Não tenha vergonha de pertencer à Igreja de Jesus, tenha antes vergonha daqueles que, semeando divisão e motivados pelo desejo de dominação do rebanho de Deus, envergonham a Cristo.
Constantemente lê-se sobre algum cidadão dizendo-se com “vergonha de ser brasileiro”. Mas não tenha vergonha de ser brasileiro; tenha, antes, vergonha dos brasileiros que não têm vergonha na cara.
 
 
Samuel Câmara
Pastor da Assembleia de Deus em Belém



8 de ago. de 2014

Diante dos seus olhos


      

O rei Davi tinha um poder tão absoluto que poderia ter o que contemplassem os seus olhos e desejasse a sua alma. Se lhe agradasse um campo, ou uma virgem, ou qualquer outra coisa, poderia requisitar tudo o que quisesse em nome do reino, com a bênção de Deus, e ninguém ousaria contrariá-lo (1Sm 12.8). Davi tinha este elevado padrão moral a guiar-lhe os procedimentos: “Não porei coisa injusta diante dos meus olhos; aborreço o proceder dos que se desviam; nada disto se me pegará” (Sl 101.3).
       Todavia, esse mesmo Davi foi testado, quando deu a maior escorregada moral de sua vida, exatamente quando se permitiu olhar lascivamente para uma bela mulher que tomava banho num córrego perto do palácio real. Até hoje, fala-se muito sobre o adultério de Davi com Bate-Seba, e essa mancha jamais se apagará de sua biografia, apesar dos grandes feitos de toda uma vida. Tudo começou com um olhar, em colocar diante dos olhos a “coisa injusta”, ao contrário do que se comprometera evitar a todo custo.
Alípio era um teórico da música do quarto século, que havia se comprometido a viver uma vida digna. O escritor J. N. Norton conta que Alípio era sempre convidado por seus vizinhos a assistir aos combates de gladiadores, mas se recusava terminantemente, pois detestava a brutalidade desses programas bárbaros. Um dia, no entanto, conseguiram coagi-lo a ir. Como Alípio estava determinado a não assistir ao espetáculo sangrento, fechou bem os olhos e nada quis ver. Mas um grito cortante o fez dar uma olhadinha na hora em que um dos lutadores estava sendo ferido mortalmente. O que ocorreu com ele a partir daquele momento foi emblemático. Com a sua sensibilidade embotada, Alípio juntou a sua voz aos gritos e exclamações da multidão barulhenta que o cercava.
       Daquele momento em diante, ele passou a ser um homem mudado – mas mudado para pior; não apenas se tornou assíduo frequentador desse esporte, mas passou também a instar com outros a fazerem o mesmo. A lição que Norton destaca é que, apesar de Alípio ter entrado na arena contra a sua vontade, a exposição ao mal mostra o que pode acontecer com as melhores pessoas ao sentirem o gostinho pelo prazer destrutivo. Antes de o perceberem, já estão escravizados a ele.
       Assim, cuidado com o que você coloca diante dos seus olhos. Cuidado com o que assiste. Pergunte a si próprio – e procure responder com sinceridade – se a sua sala de estar é local de assassinatos diários. Verifique se você tem recebido costumeiramente convidados que xingam você e fazem piadas sobre a sua fé. Já aconteceu de alguém aparecer em sua casa e tentar convencê-lo de que o pecado sexual é uma piada, que traição é algo normal, e que a violência é uma forma de entretenimento?
       Se você geralmente passa algumas horas por dia diante da televisão, ou navegando pelos porões da internet, então tudo isso certamente já lhe aconteceu. Embora não seja nenhuma novidade, o conteúdo moral da televisão, assim como da internet, tem decaído constante e rapidamente nos últimos anos. A boa notícia é que nós não temos que cair junto.
       No Brasil, tem sido debatido se a regulamentação de horários de programação televisiva deve ser restrita aos próprios meios de comunicação, ou se a tarefa deve ser efetivada pelo governo. Mas isso não importa. O fato é que a maior parte do mundo do entretenimento fala muito sério sobre retirar todas as restrições. Tão seriamente que parece só nos restar o desafio de procurar proteger as nossas mentes.
       Antes de ser rei, Davi fora pastor de ovelhas. Ele sabia tanto sobre televisão quanto a maioria de nós sabe a respeito de cuidar de ovelhas. A despeito de si mesmo e de seus defeitos, ele fez a opção que todos deveríamos fazer: “Não porei coisa injusta diante dos meus olhos”.
Um salmista anônimo preferiu pedir ao Senhor que o ajudasse nisso: “Desvie os meus olhos de olharem para coisas sem valor” (Sl 119.37). O patriarca Jó, prezando a fidelidade conjugal, disse: “Fiz aliança com meus olhos; como, pois, os fixaria eu numa donzela?” (Jó 31.1). O apóstolo Paulo orientou o jovem Timóteo para fugir do mal, ou seja, cortá-lo pela raiz (2Tm 2.22). Todos eles sabiam que substituir desejos maus pela busca das coisas justas de Deus é a melhor maneira de evitar problemas.
       A maioria das pessoas não se importa com as sementes malignas que diuturnamente o inimigo de nossas almas tem semeado em suas mentes e corações. Mas há aqueles que se importam em seguir as orientações bíblicas, que certamente lhes ajudarão a guardar suas mentes e corações puros para Deus.
Portanto, procure fugir de piadas sobre sexo e também não se permita a ouvir linguagem vulgar (1Co 6.18; Ef 5.3,4,12). Não permita que as propagandas lhe excitem a cobiça (Ex 20.17; Cl 3.5). Decida-se a não deixar que seus olhos lhe façam pecar (Mt 18.9).
Acima de tudo, devemos ter cuidado com o que colocamos diante dos nossos olhos, pois isso tem o potencial de abençoar ou destruir a nossa vida. Mas a decisão cabe a cada um de nós.


Samuel Câmara
Pastor da Assembleia de Deus em Belém


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6 de ago. de 2014

Deus é Pai, Deus é Mãe





Nem sempre é fácil imaginar Deus numa perspectiva maternal, pois fomos acostumados à ideia de que Deus é Pai. Isso soa quase como um clichê numa cultura paternalista. O próprio Deus, quando resolveu revelar-se à humanidade, o fez utilizando essa mesma visão cultural: nasceu como Homem, viveu como Homem, morreu como Homem, ressuscitou como Homem. E Jesus, o Homem perfeito, deixou bem claro essa imagem paterna e masculinizada de Deus, quando disse: “Eu e o Pai somos um” (Jo 10.30). Jesus se referiu ao templo como “casa de meu Pai”. Deus era “Aba”, seu “paizinho” querido.
Quando Filipe indagou: “Senhor, mostra-nos o Pai, e isso nos basta”, Jesus lhe respondeu: “Filipe, há tanto tempo estou convosco, e não me tens conhecido? Quem me vê a mim vê o Pai; como dizes tu: Mostra-nos o Pai?” (Jo 14.8-10).
Embora Sua resposta não pudesse ser necessariamente diferente numa cultura de padrão masculino e patriarcal, não é desse tipo de critério que Jesus se utiliza para identificar o Pai. Ele está falando mais de caráter do que de forma ou gênero. Até porque essa imagem machista só tem razão de ser relativamente ao aspecto cultural. Não no trato superior da vida espiritual. É assim que, ao expor sobre a vida espiritual e eterna, Jesus também deixa claro que, no céu, não haverá divisão de sexualidade: “Porque, na ressurreição, nem casam, nem se dão em casamento; são, porém, como os anjos no céu” (Mt 22.30).
Na eternidade, não haverá para nós, assim como nunca houve essencialmente para os anjos, nem para Deus, essa visão de macho e fêmea. Em Cristo, não há “nem homem nem mulher”, porque somos um só corpo com Ele (Gl 3.28). Deus é o Verbo, o “EU SOU”, o Ser Perfeito e Supremo, onde todos os outros seres encontram seu sentido e importância na Criação, pois “Nele existimos e nos movemos” (At 17.28).
Desse modo, embora Deus não tenha gênero, como o ser humano, Ele é Pai e também é Mãe. Ou seja, Deus traz em Seu Ser a natureza de um Pai e de uma Mãe em sua expressão última, plena e definitiva. Tudo o que há de melhor em um pai ou em uma mãe tem a sua origem e sentido Nele, pois Deus é a Fonte de onde tudo isso emana.
A verdade é que Jesus chama de Pai o mesmo Ser que algumas vezes também se identificou como Mãe. Isto porque Deus não vê problema em tomar emprestado da natureza os exemplos das mais extremadas mamães. Por isso, Ele evoca para si a imagem de uma águia, mestra na arte de ensinar seus filhotes a voar: “Como a águia desperta a sua ninhada e voeja sobre os seus filhotes, estende as asas e, tomando-os, os leva sobre elas, assim, só o Senhor o guiou” (Dt 32.11,12).
Quando estava muito zangado, Deus se comparava a uma “ursa, roubada de seus filhos” (Os 13.8). E quem brincaria com uma mamãe ursa zangada?
Jesus era o Filho de Deus, “o resplendor da glória e a expressão exata do seu Ser” (Hb 1.3). Era o próprio Deus em essência e natureza, mas não achou de pouca monta se comparar a uma galinha, quando disse: “Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas e apedrejas os que te foram enviados! Quantas vezes quis eu reunir os teus filhos, como a galinha ajunta os seus pintinhos debaixo das asas, e vós não o quisestes!” (Mt 23.37). Por quê?
O historiador judeu Flávio Josefo nos ajuda a entender isso. Tratando sobre o cerco e destruição de Jerusalém, em 70 A.D., ele conta que um soldado romano encontrou uma galinha totalmente torrada, com as asas arqueadas como se estivesse chocando seus ovos. Quando a afastou com a espada, debaixo dela saíram uma dezena de assustados pintinhos. A conclusão óbvia é que o instinto “materno” falou mais alto. Mesmo diante do fogo destruidor, a galinha fez o que só uma mãe extremada pode fazer: preferiu morrer para salvar seus “filhinhos”.
Esse era o mesmo sentimento que havia em Jesus, quando comparou a Sua compaixão por Israel com o cuidado extremado de uma galinha. Porque nenhum outro animal tem comportamento semelhante, pois, diante do fogo, qualquer outro animal foge. A galinha, contudo, quando tem de salvar seus pintinhos, mesmo em face da morte, não hesita. Do mesmo modo, Jesus não amarelou nem fugiu da raia quando teve de sofrer na horrenda cruz para nos salvar.
É, portanto, uma grande injustiça chamar de “galinha” alguém que, por mero mau-caratismo, não consegue ser fiel ao cônjuge. Jesus, mostrando-se fiel à infiel Jerusalém, como uma “Mãe” sempre fiel, mantinha sempre as “asas” abertas oferecendo acolhimento a quem não merecia.
       Deus é Pai, bem mais pai que todos os pais. Deus é “Mãe”, bem mais mãe que todas as mães. Como está escrito: “Acaso, pode uma mulher esquecer-se do filho que ainda mama, de sorte que não se compadeça do filho do seu ventre? Mas ainda que esta viesse a se esquecer dele, eu, todavia, não me esquecerei de ti” (Is 49.15).
       Deus é Pai. Deus também é “Mãe”. Por causa do Seu Amor incondicional, todas as mães merecem ter um Feliz Dia das Mães!


Samuel Câmara
Pastor da Assembleia de Deus em Belém