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6 de nov. de 2017

Mártires no império ( X )





3.11. Martírio de Êuplio Diácono, sob Diocleciano, no ano 304 O martírio de Êuplio, diácono de Catânia, aconteceu em 304, como pode ser deduzido da indicação do consulado de Diocleciano e Maximiano, e do fato que o cristão é convidado a sacrificar aos deuses, conforme a ordem do IV edito imperial, emanado naquele ano. Certamente ainda estava em vigor o edito contra a conservação dos livros sagrados, porque o ponto principal da acusação contra Êuplio refere-se ao evangelho, que o diácono tinha conservado e mostrava com orgulho. Os Atos que nos chegaram, num breve texto latino, une a ata da prisão e da primeira confissão de Êuplio à do interrogatório pelo qual passou em meio às torturas.

Uma frase do capítulo I: "...estando fora da tenda do escritório do governador, o diácono Êuplio gritou: "Sou cristão e desejo morrer pelo nome de Cristo", leva a crer que ele não tivesse sido preso, mas que se tivesse denunciado espontaneamente, talvez durante o interrogatório de outros fiéis; a hipótese é confirmada também pelas palavras do juiz que o entrega aos esbirros: "Como é evidente a tua confissão..." (c. I) e parece levado a proceder pela atitude do cristão, mais do que por uma vontade pessoal inquiridora.

"Durante o nono consulado de Diocleciano e o oitavo de Maximiano, na vigília dos idos de agosto, na cidade de Catânia, estando fora da tenda do escritório do governador, o diácono Êuplio gritou: "Sou cristão e desejo morrer pelo nome de Cristo".

Ouvindo isso, o procurador Calvisiano disse: "Que entre a pessoa que gritou". Tão logo Êuplio entrou no escritório do juiz, tendo os evangelhos nas mãos, um dos amigos de Calvisiano, que se chamava Máximo, disse: "Não é lícito ter estes livros, contra a ordem imperial".

Calvisiano perguntou a Êuplio: "De onde vêm estes livros? Saíram da tua casa?". Êuplio respondeu: "Não tenho casa. Sabe-o também o meu Senhor, Jesus Cristo". O procurador Calvisiano retomou: "Foste tu quem os trouxestes aqui?". Êuplio respondeu: "Eu os trouxe, como tu mesmo vês. Fui encontrado com eles".

Calvisiano ordenou: "Lê-os". Abrindo o evangelho, Êuplio leu: "Bem-aventurados os que sofrem perseguições por causa da justiça, pois deles é o reino dos céus", e, numa outra passagem: "Quem quiser vir após mim, tome a sua cruz e siga-me". Enquanto lia esses e outros passos, Calvisiano perguntou: "O que é isso tudo?". Êuplio respondeu: "É a lei do meu Senhor, que me foi confiada".

Calvisiano insistiu: "Por quem?". Êuplio respondeu: "Por Jesus Cristo, Filho do Deus vivo". Calvisiano interveio novamente dizendo: "Como é evidente a tua confissão, sejas entregue ao ministro da tortura e interrogado em meio a suplícios". Quando foi-lhes entregue, começou o segundo interrogatório, em meio às torturas.

Durante o nono consulado de Diocleciano e o oitavo de Maximiano, na vigília dos idos de agosto, o procurador Calvisiano disse a Êuplio, em meio aos tormentos: "O que repetes agora daquilo que declaraste na tua confissão?". Traçando o sinal da cruz sobre si com a mão livre, o mártir respondeu: "Aquilo que disse antes, confirmo-o agora: sou cristão e leio as divinas Escrituras".

Calvisiano rebateu: "Por que não entregaste estes livros, cuja leitura os imperadores vetaram, mas os mantiveste contigo?". Êuplio disse: "Porque sou cristão e não me era lícito entregá-los. É melhor, para um cristão, morrer do que entregá-los; neles está a vida eterna. Quem os entrega perde a vida eterna e, para não perde-la, eu ofereço a minha".

Calvisiano interveio dizendo: "Seja torturado Êuplio que, infringindo o edito dos príncipes, não entregou as Escrituras, mas leu-as ao povo". Êuplio disse, em meio aos tormentos: "Agradeço-te, ó Cristo. Protege-me porque sofro tudo isso por ti!".

Calvisiano exortou-o com estas palavras: "Desiste dessa loucura, Êuplio. Adora os deuses e serás libertado". Êuplio respondeu: "Adoro a Cristo, detesto os demônios. Faz de mim o que quiseres, sou cristão. Desejei isto por muito tempo. Faz o que quiseres. Aumenta os meus tormentos. Sou cristão".

A tortura já durava muito tempo quando Calvisiano ordenou aos carnífices que parassem e disse ao mártir: "Adora os deuses, infeliz! Venera Marte, Apolo e Esculápio!". Êuplio respondeu: "Adoro o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Adoro a Santíssima Trindade, fora da qual não existe outro Deus. Pereçam os deuses que não criaram o céu, a terra e tudo o que neles existe. Eu sou cristão".

O prefeito Calvisiano insistiu: "Sacrifica, se queres ser libertado!". Êuplio respondeu: "Justamente agora sacrifico-me a Cristo Deus. Não existe nenhum outro sacrifício que eu deva fazer. Tentas em vão fazer-me renegar a fé. Eu sou cristão".

Calvisiano ordenou que fosse torturado mais violentamente ainda; durante os tormentos, Êuplio disse: "Rendo-te graças, ó Cristo, socorre-me; Cristo, sofro isto por ti, Cristo!". Repetiu muitas vezes estas invocações e, quando faltaram-lhe as forças, já sem voz, dizia apenas com os lábios estas e outras orações.

Entrando no interior do seu escritório, Calvisiano ditou a sentença e, saindo, leu a ata que levara consigo: "Ordeno que Êuplio, cristão, que despreza os editos dos príncipes, blasfema contra os deuses e não se arrepende disso tudo, seja passado a fio de espada. Levai-o ao suplício".

O evangelho com que fora encontrado no momento da prisão foi pendurado ao pescoço do mártir, e o pregoeiro ia dizendo: "Êuplio, cristão, inimigo dos deuses e dos soberanos".


Alegre, Êuplio respondia sempre: "Graças a Cristo Deus!". Chegando ao lugar da execução, ajoelhou-se e orou longamente. Dando ainda graças ao Senhor, apresentou o pescoço e foi decapitado pelo carnífice. “O seu corpo foi depois recolhido pelos cristãos e embalsamado com perfumes, e sepultado". 



Organizado e publicado por:
Domingos Teixeira Costa



3 de nov. de 2017

Mátires no império (IX)




3.10. Marino, centurião sob Galieno Pode parecer estranho falar de um mártir sob o imperador Galieno (260-268), que não perseguiu os cristãos, e, pelo contrário, facilitou-lhes a vida, revogando os editos e restituindo os bens confiscados, como diz Eusébio num outro ponto do mesmo livro VII da História Eclesiástica.

Marino, de fato, não foi vítima de uma perseguição organizada, mas da rivalidade de um competidor na carreira militar. Nobre, rico, tendo chegado a um alto grau da hierarquia, Marino talvez tenha tido um momento de hesitação diante da intimação do juiz, tanto que usou o tempo que lhe fora concedido para refletir, diversamente de muitos outros que, em situações semelhantes, tinham tomado logo a resolução de enfrentar o martírio, mas, oportunamente acompanhado pelas palavras do seu bispo, não teve mais incertezas.

O fato é muito importante, porque permite compreender que, mesmo quando não havia uma perseguição oficial, ficavam sempre latentes as razões de dissídio entre a estrutura político-moral-religiosa do império romano e os princípios do cristianismo.

Durante o tempo em que a paz reinava em todos os lugares nas igrejas cristãs, foi decapitado na Cesareia da Palestina por ter confessado sua fé, Marino, que pertencia aos altos graus da hierarquia militar e era ilustre pela nobreza e riqueza.

A causa da condenação foi a seguinte: existe entre os romanos um distintivo formado por um ramo de videira, e o merecedor dele torna-se centurião. Como havia um lugar vago, a promoção cabia de direito a Marino, mas, quando já estava para conseguir tal honra, apresentou-se um outro ao tribunal, dizendo que, segundo as antigas leis, não lhe era lícito receber qualquer honorificência dos romanos, porque era cristão e não sacrificava aos deuses; o indivíduo sustentou, então que o lugar cabia a ele e não a Marino.

Impressionado pelo fato, o juiz, que se chamava Arqueo, perguntou primeiramente a Marino qual a religião que seguia e, quando ouviu-o confessar-se firmemente cristão, concedeu-lhe três horas de tempo para refletir. Quando Marino saiu do tribunal, Teotécno, bispo de Cesareia, chamou-o para uma conversa, tomou-o pelas mãos e levou-o à igreja.

Tão logo chegaram ao lugar sagrado, o bispo acompanhou Marino até diante do altar, levantou um pouco o seu manto e, indicando-lhe a espada que aí estava presa, colocou ao lado dela o livro do Evangelho, impondo-lhe a escolha entre as duas coisas segundo a sua consciência. Sem sombra de incerteza, Marino estendeu a mão direita e segurou a divina Escritura.

"Permanece sempre junto do Senhor - disse-lhe Teotécno - e obterás o que escolheste. Fortificado pela sua graça, vai em paz". Enquanto Marino saía da igreja, o pregoeiro chamava-o em voz alta diante do tribunal, porque havia terminado o tempo concedido para a decisão. Diante do juiz, Marino mostrou grande fervor em confessar a própria fé e, levado ao suplício do modo que estava, consumou o martírio.

Recordam-se também na mesma circunstância a franqueza e o fervor religioso de  Astírio, que pertencia à ordem senatorial, estava em relações de amizade cordial com os soberanos e era conhecido de todos pela nobreza e pelos bens.


Estando presente ao martírio de Marino, tão logo este foi consumado, levantou o cadáver, carregou-o nos ombros, sobre a veste cândida e preciosa, e levou-o para que tivesse uma sepultura honrosa, digna da sua condição. (Eusébio, História Eclesiástica, l. VII, c. 15 e ss.) 


Organizado e publicado por:
Domingos Teixeira Costa





1 de nov. de 2017

Mártires no império (VIII)




3.9. Os mártires de Alexandria durante a perseguição de Décio (249-251) De uma carta de São Dionísio a Fábio, bispo de Antioquia, trazida por Eusébio de Cesaréia na História Eclesiástica, l. VI, c. 40,1-42,6. "A perseguição, entre nós, não teve início com o edito imperial, mas foi retardada de um ano, até quando chegou a esta cidade um adivinhador e tecelão de erros, quem quer que fosse, provocando e excitando contra nós a multidão dos gentios, atiçando outra vez a sua superstição congenial. Excitados por ele e levados a tirar da licenciosidade desenfreada todo gênero de impiedade, consideravam assassinar-nos como o único ato de devoção e culto que lhes era devido.

A primeira vítima foi um velho chamado Metras, que capturaram e tentaram obrigar a blasfemar; como ele não se rendesse a suas imposições, bateram nele e atravessaram seu rosto e olhos com bambus aguçados, levando-o depois à periferia da cidade onde delapidaram-no.

Uma mulher chamada Quinta foi levada até diante do altar dos ídolos, onde os pagãos tentaram obrigá-la a um ato de adoração: tão logo ela retesou o corpo com profunda sensação de desgosto, foi amarrada e arrastada pelos pés através da cidade, fazendo com que batesse contra as grandes pedras do duro calçamento. Levando-a ao mesmo lugar suburbano, delapidaram-na.

Depois disso os pagãos lançaram-se juntos sobre as casas dos cristãos e, irrompendo nas residências que cada um sabia pertencer aos próprios vizinhos, cumpriram toda sorte de roubos e saques. Separavam cuidadosamente os objetos mais preciosos, e jogavam das janelas e queimavam pelas ruas os mais rudes e os que eram feitos de madeira.

O espetáculo apresentado parecia o de uma cidade tomada pelos inimigos. Os irmãos procuravam fugir e esconder-se, e acolheram com alegria também o saque de seus bens, semelhantes àqueles dos quais deram testemunho o apóstolo Paulo (Hb 10,34). Não sei se houve naquela circunstância, alguém que renegasse a Cristo, a menos que se tratasse de uma pessoa caída nas garras dos adversários.

Outra nobilíssima vítima foi a anciã Apolônia: os pagãos prenderam-na, fizeram arrancar todos os seus dentes, com murros dados nas faces e, depois, acesa uma fogueira diante da cidade, ameaçaram queimá-la viva caso não pronunciasse com eles as palavras ímpias, que eram a mensagem da blasfêmia pagã. A mulher, porém, depois de ter pedido vivamente que lhe deixassem à disposição um breve tempo, tão logo viu-se livre saltou sobre o fogo e foi queimada.

Serapião foi preso em casa: submeteram-no a duros tormentos, quebraram-lhe os ossos e finalmente lançaram-no de cabeça do andar superior. Não se podia percorrer nenhuma rua, larga ou estreita, de noite ou de dia, sem ouvir sempre e em todos os lugares as gritarias da multidão e, se alguém não entoava em coro com eles as palavras ímpias, era arrastado e queimado vivo.

A perseguição continuou por muito tempo nesse tom de violência, até quando a sedição e a guerra civil, que sucederam às desventuras anteriores, não levaram os pagãos a voltar-se reciprocamente a crueldade que antes tinham dirigido sobre nós.

Vivemos tranqüilos por algum tempo, durante a trégua que os pagãos tinham feito ao ódio contra nós, mas bem logo foi-nos anunciada a notícia da mudança do poder imperial, antes muito benévolo, e reacendeu-se com a máxima intensidade o terror de uma nova ameaça contra a nossa comunidade.

Foi promulgado o edito, talvez o mais terrível de todos os que nosso Senhor tinha predito, a ponto de escandalizar, se for possível, também os eleitos. É certo que todos ficaram arrasados. Entre as pessoas mais conhecidas na cidade alguns, por medo, aderiram às ordens do edito, outros, que cobriam encargos públicos, foram levados a obedecer ao edito da sua própria posição, outros ainda foram arrancados à vida familiar.

Chamados pelos nomes, alguns apresentavam-se pálidos e trementes diante dos sacrifícios ímpios e sacrílegos, como se não fossem sacrificar, mas fossem eles próprios as vítimas destinadas aos ídolos; entretanto a multidão girava ao redor dos altares pagãos fazendo burla sobre eles, porque mostravam claramente estar com medo, tanto da morte como do sacrifício.

Outros, porém, corriam intrépidos aos altares, declarando com desfaçatez que não eram cristãos e nem sequer o tinham sido no passado. Será verdade para eles a predição do senhor, que dificilmente se salvarão.

Dos restantes, houve quem agregou-se ao primeiro grupo, quem ao segundo, enquanto outros fugiram. Entre os que foram presos, uma parte resistiu ao cárcere e às correntes em que foram mantidos por muitos dias, mas depois abjuraram, antes de se apresentarem ao tribunal; outra parte suportou os tormentos também por um certo tempo, mas acabaram abjurando também eles.

Outros cristãos, entretanto, colunas sólidas e prósperas do Senhor, corroborados pela sua graça, tiraram a constância e a energia da fé que os inspirava tornando-se, assim, testemunhas admiráveis do seu reino.



Organizado e publicado por:
Domingos Teixeira Costa


30 de out. de 2017

Mátires no império (VII)



Esperado, Narsalo, Citino, Vetúrio, Félix, Aquilino, Letâncio, Genara, Generosa, Véstia, Donata e Segunda". 

3.8. Martírio dos Santos Silitanos (na Numídia, - África setentrional) O processo contra os cristãos de Sílio aconteceu no verão de 180 d.C., quando Cômodo era imperador há poucos meses, e pode ser considerado como continuação das perseguições iniciadas sob o predecessor Marco Aurélio. A fé cristã já estava difundida provavelmente na África proconsular, tendo chegado também aos pequenos centros: Sílio era, justamente, um vilarejo da Numídia. O texto latino do qual se apresenta a tradução é contemporâneo aos fatos; talvez seja a própria ata do processo, à qual foi acrescentada pelo transcritor apenas a última parte.

É o primeiro documento sobre o tributo de sangue que os cristãos da África versaram. "Dezesseis dias antes das calendas de agosto (17 de julho), quando eram Procônsules Presente, pela segunda vez, e Claudiano, foram convocados à autoridade judiciária Esperado, Narsalo, Citino, Donata, Segunda e Véstia. O procônsul Saturnino disse-lhes: "Podeis merecer a indulgência do nosso soberano, se retornardes a pensamentos de retidão". Respondeu Esperado: "Nada fizemos de mal, nem cometemos qualquer iniquidade, nem falamos mal de alguém, pelo contrário sempre retribuímos o mal com o bem; por isso obedecemos ao nosso imperador".

Disse ainda o procônsul Saturnino: "Nós também somos religiosos, e a nossa religião é simples. Juramos pelo gênio do nosso soberano e fazemos súplicas aos deuses pela sua salvação, coisa que vós também deveis fazer".

Respondeu Esperado: "Se me escutares com calma, eu te explicarei o mistério da simplicidade". Saturnino rebateu: "Não te escutarei nesta iniciação em que ofendes os nossos ritos; jurai, entretanto, pelo gênio do nosso soberano".

Respondeu Esperado: "Eu não conheço o poder do século, mas estou sujeito àquele Deus que nenhum homem viu nem pode ver com seus olhos. Jamais cometi um furto, mas toda vez que concluo um negócio pago sempre o tributo, porque obedeço ao meu soberano e imperador dos reis de todos os séculos".

O procônsul Saturnino disse aos outros: "Desisti dessa convicção". Esperado rebateu: "Trata-se de um mau sistema o fato de ameaçar de morte se não se jura em falso".

Disse ainda o procônsul Saturnino: "Não consintais nessa loucura". Disse Citino: "Não temos nada a temer de ninguém a não ser de nosso Senhor que está nos céus". Acrescentou Donata: "Honra a César, como soberano, mas temor somente a Deus". Véstia continuou: "Sou cristã". Disse Segunda: "Aquilo que sou, quero ser".

O procônsul Saturnino perguntou a Esperado: "Persistes em declarar-te cristão?" Esperado respondeu: "Sou cristão" e todos concordaram com suas palavras. O procônsul Saturnino perguntou, então: "Quereis um pouco de tempo para decidir?" Respondeu Esperado: "Numa questão tão claramente justa, a decisão já está tomada".

Perguntou então o procônsul Saturnino: "O que há em vossa caixinha?" Esperado respondeu: "Livros e as cartas de São Paulo, homem justo". Disse o procônsul: "Tendes uma prorrogação de trinta dias para refletir. Esperado respondeu: "Sou cristão", e todos estiveram de acordo com ele.

O procônsul Saturnino leu o decreto do ato: "Decreta-se que sejam decapitados Esperado, Narsalo, Citino, Donata, Véstia, Segunda e todo os outros que declararam viver segundo a religião cristã, porque, embora tenha sido dada a eles a faculdade de retornar às tradições romanas, recusaram-na obstinadamente". Esperado disse: "Damos graças a Deus". Narsalo acrescentou: "Hoje seremos mártires no céu. Sejam dadas graças ao Senhor!".


O procônsul Saturnino mandou proclamar a sentença pelo pregoeiro: "Foram condenados à pena capital: Esperado, Narsalo, Citino, Vetúrio, Félix, Aquilino, Letâncio, Genara, Generosa, Véstia, Donata, Segunda". Todos disseram: "Sejam dadas graças a Deus!", e foram em seguida degolados pelo nome de Cristo". 


Organizado e publicado por:
Domingos Teixeira Costa



27 de out. de 2017

Mártires no império ( VI )



Máximo

3.7. Martírio de Máximo, sob o império de Décio (249-251) Máximo era um cristão da Ásia Menor, que nos é conhecido pelo documento do seu martírio. Ele denunciara-se voluntariamente como cristão, com uma atitude que a Igreja não aprovava totalmente, mas foi corajoso e superou a prova.

"O imperador Décio, querendo expulsar e abater a lei dos cristãos, emanou alguns editos para o orbe todo, nos quais intimava que todos os cristãos abandonassem o Deus vivo e verdadeiro e sacrificassem aos demônios; quem não quisesse obedecer, devia submeter-se aos suplícios. Naquele tempo, Máximo, homem santo e fiel ao Senhor, declarou-se espontaneamente cristão: ele era um plebeu e exercia o comércio.

Preso, foi levado diante do procônsul Ótimo, na Ásia. O procônsul perguntou-lhe: "Como te chamas?" Ele respondeu: "Chamo-me Máximo". Perguntou o procônsul: "Qual é a tua condição?" Máximo respondeu: "Nascido livre, mas servo de Cristo". Perguntou ainda o procônsul: "Quais as atividades que exerces?" Respondeu Máximo: "Sou plebeu e vivo do meu comércio". Disse o procônsul: "És cristão?" Respondeu Máximo: " Embora pecador, sou cristão". Disse o procônsul: "Não conheces os decretos dos invencíveis soberanos que foram promulgados recentemente?" Respondeu Máximo: "Quais decretos?" Explicou o procônsul: "Os que ordenam que todos os cristãos, abandonando sua vã superstição, reconheçam o verdadeiro soberano ao qual tudo é submetido, e adorem os seus deuses". Respondeu Máximo: "Cheguei ao conhecimento do iníquo edito emanado pelo soberano deste mundo e, justamente por isso, declarei-me publicamente cristão".

O procônsul intimou: "Sacrifica, então, aos deuses!" Máximo replicou: "Eu não sacrifico a não ser ao único Deus, e glorio-me de ter sacrificado a ele desde a infância". O procônsul insistiu: "Sacrifica, para que sejas salvo. Se te recusares, eu te farei morrer em meio a torturas de todos os gêneros".

Máximo respondeu: "É justamente o que sempre desejei: é por isso, de fato, que me declarei cristão, para obter finalmente a vida eterna, logo que for libertado desta mísera existência temporal".

O procônsul, então, fê-lo bater com varas e, enquanto era vergastado, dizia-lhe: "Sacrifica, Máximo, para libertar-te destes tormentos horrorosos". Máximo respondeu: "Não são tormentos, mas unções que me são infligidas por amor de nosso senhor Jesus Cristo. Se afastar-me dos preceitos do meu Senhor, nos quais fui instruído por meio do seu evangelho, então sim, estarão esperando-me os verdadeiros e perpétuos tormentos da eternidade".

O procônsul fê-lo colocar, então, no cavalete e, enquanto era torturado, dizia-lhe insistentemente: "Arrepende-te da tua loucura, miserável, e sacrifica, para salvar a tua vida!" Máximo respondeu: "Só se não sacrificar, salvarei a minha vida; mas se sacrificar, seguramente a perderei. Nem as varas, nem os ganchos, nem o fogo me produzirão dor, porque vive em mim a graça de Deus, que me salvará eternamente com as orações de todos os santos que, lutando neste gênero de combate, superaram a vossa loucura e nos deixaram nobres exemplos de valor".

Depois destas palavras, o procônsul pronunciou a sentença contra ele, dizendo: "A divina clemência ordenou que, para incutir terror nos demais cristãos, seja lapidado o homem que não quiser dar o próprio assentimento às sagradas leis, que lhe impõem sacrificar à grande deusa Diana".

O atleta de Cristo foi arrastado para fora, então, pelos ministros do diabo, enquanto dava graça a Deus Pai por Jesus Cristo seu Filho, que o tinha julgado digno de superar o demônio na luta.


Levado para fora das muralhas, esmagado pelas pedras, exalou o espírito. O servo de Deus Máximo padeceu o martírio na província da Ásia dois dias antes dos idos de maio, durante o império de Décio e o governo do procônsul Ótimo, reinando nosso Senhor Jesus Cristo, ao qual é dada glória nos séculos dos séculos. Amém".


Organizado e publicado por:
Domingos Teixeira Costa 



25 de out. de 2017

Mátires no império ( V )


Ptolomeu e Lúcio  

*3.6. Martírio dos santos Ptolomeu, Lúcio e outro desconhecido O trecho seguinte é tirado da segunda Apologia de Justino, que lhe foi inspirada pelo processo contra três cristãos, realizado em Roma em 162 ou 163 sob o prefeito Úrbico. Pouco posterior ao episódio, a narração é densa, sem divagações ou ornamentos retóricos, fazendo brotar, porém, da trama pobre, a calorosa defesa do cristianismo. Porque condenar pessoas cuja fé traduz-se numa regra de vida austera e na recusa de qualquer culpa contra a natureza? É este o sentido das palavras do mártir Lúcio, e é este o espírito de Justino, que poucos anos depois teria, também ele, confirmado a fé com o sangue.

"Vivia uma mulher, esposa de um homem dissoluto, também ela anteriormente dissoluta. Entretanto, quando veio ao conhecimento dos ensinamentos de Cristo, não só começou a levar uma vida mais pura, como tentou convencer igualmente o marido a converter-se, falando-lhe da nova doutrina e anunciando-lhe o castigo do fogo eterno para todos os que levam uma vida impura e sem princípios retos.

O marido, porém, persistindo nos maus procedimentos, fez com que o espírito da mulher se afastasse pela sua má conduta, de modo que ela, considerando imoral viver o resto de seus dias ao lado de um homem que buscava o prazer das relações conjugais contra as leis da natureza e contra a justiça, decidiu separar-se dele. Foi dissuadida pelos parentes, que lhe aconselhavam ter ainda paciência, na esperança de que o marido mudasse de vida: ela, pois, conseguiu forças e permaneceu ao seu lado. Foi-lhe referido, em seguida, que o marido, tendo ido a Alexandria, cometia culpas ainda mais graves do que no passado; a mulher não querendo tornar-se cúmplice de sua maldade e impiedade permanecendo junto dele como esposa, dividindo com ele o leito e as refeições, deu-lhe aquilo que chamais de "libelo de repúdio", e divorciou-se.

O cavalheiro do marido, em lugar de alegrar-se pelo fato de a mulher - que antes se entregava aos servos e mercenários nas orgias da bebedeira, ter abandonado aqueles hábitos culpáveis e querer levá-lo também a fazer o mesmo -, despeitado com o divórcio obtido sem o seu consentimento, denunciou-a diante do tribunal como cristã.

 A mulher, senhor, apresento-te, então, um memorial em que pedia, antes de tudo, que lhe fosse concedida a administração dos próprios bens e, em seguida, a defesa da acusação, depois de ter sabiamente organizado suas coisas, e tu lhe concedeste. O marido, não podendo agir contra a mulher, voltou a acusação contra um certo Ptolomeu, mestre dela na doutrina cristã. Foi essa a sua tática: persuadir um centurião seu amigo, que colocara Ptolomeu na prisão, a pegá-lo de surpresa e fazer-lhe esta simples pergunta: "És cristão?". Ptolomeu admitiu sê-lo, sincero e sem qualquer subterfúgio que era, levando o centurião a mandar acorrentá-lo e torturá-lo por longo tempo na prisão.

Finalmente, quando o homem foi levado diante de Úrbico, foi-lhe dirigida a mesma pergunta, ou seja, se era cristão. Ptolomeu, novamente, consciente do bem que lhe vinha do ensinamento de Cristo, confessou que era mestre da divina virtude. Quem, de fato, nega qualquer verdade que seja, nega-a porque a despreza ou porque recusa reconhece-la considerando-se indigno e distante dos deveres que ela comporta; nenhuma dessas duas atitudes, porém, refere-se ao cristão sincero.


Quando Úrbico ordenou que Ptolomeu fosse levado ao suplício, um certo Lúcio, também cristão, vendo a insensatez de um processo conduzido dessa forma, gritou a Úrbico: "Qual o motivo pelo qual condenaste à morte este homem, não culpado de adultério, nem de fornicação, nem de assassinato, nem de furto, nem de rapina, nem de qualquer outro delito, mas apenas de ter-se confessado cristão? O teu modo de julgar, Úrbico, é indigno do imperador Antonino Pio, indigno do filho de César, amigo da sabedoria, indigno, enfim, do santo senado!". Sem pronunciar resposta, Úrbico disse a Lúcio: "Parece-me que tu também és cristão". Visto que Lúcio concordou calorosamente, Úrbico fê-lo levar ao suplício. O mártir declarou que era uma graça para ele, porque sabia que deixava o mundo dos malvados pela morada do Pai celeste. Um terceiro (homem) também veio para declarar-se cristão e foi igualmente condenado à morte".


Organizado e publicado por:
  Domingos Teixeira Costa