Bastou uma entrevista ‘cirúrgica’, na véspera da sua reabilitação por Bento XVI, para colocar o nome de Williamson nas primeiras páginas dos jornais de todo o Mundo. Não porque tivesse dito algo de novo, mas por causa do ‘timing’ da entrevista. Nela Williamson reiterou que as câmara de gás "nunca existiram" e garantiu que apenas 200 a 300 mil judeus morreram nos campos de concentração nazis, e não seis milhões. Mesmo depois do escândalo, não admite retractar-se, tendo feito apenas uma vaga promessa de "rever as provas históricas" e pedido perdão "a quem se sentiu ofendido".
Williamson garante não ser anti-semita, mas defende veementemente, por exemplo, a autenticidade do Protocolo dos Sábios de Sião, um documento que supostamente se refere a um plano dos judeus para "dominar o Mundo", e que, apesar de já ter sido sobejamente denunciado como uma falsificação da Rússia czarista, continua a ser o livro de cabeceira de muitos neonazis.
Nascido no seio de uma família anglicana, Williamson converteu-se ao catolicismo os 31 anos, tendo estudado no seminário de Marcel Lefébvre, fundador da Sociedade de São Pio X, grupo católico que contesta as mudanças liberais do Concílio Vaticano II – como o abandono da missa em Latim ou a promoção do diálogo inter-religioso – e se afirma como guardião da verdadeira fé católica apostólica romana.
Em 1988, Lefébvre decidiu ordenar Williamson e outros três padres da Sociedade como bispos, apesar das ameaças do Vaticano – acabaram todos excomungados por João Paulo II. É este ‘cisma’ de 20 anos que Bento XVI tentava agora resolver com a sua decisão de reabilitar Williamson e os outros três bispos tradicionalistas. Uma intenção polémica, até porque nenhum deles fez qualquer gesto de reaproximação ou retirou sequer uma vírgula às críticas que a Sociedade fez ao Vaticano nas duas últimas décadas. Williamson, por exemplo, continua a dizer que a Santa Sé é "controlada por Satã", e que uma eventual reconciliação entre o Vaticano e a Sociedade de São Pio X é "completamente impossível".
Perante a polémica, o bispo acabou por pedir perdão às vítimas mas ontem o Vaticano fez saber que não aceita as suas desculpas.
TEORIAS DA CONSPIRAÇÃO
Williamson gosta de ser polémico. Garante, por exemplo, que o 11 de Setembro não passou de uma conspiração dos EUA – com o auxílio da Mossad – para justificar as guerras no Iraque e no Afeganistão. Já sobre as mulheres, costuma dizer que "conseguem fingir que são capazes de ter ideias, mas se as tivessem não seriam mulheres". E acha que não devem usar calças ou calções, apenas saias.
A FIGURA
Richard Williamson nasceu no Reino Unido a 1 8 de Março de 1940, filho de pais anglicanos. Formado em Literatura pela Universidade de Cambridge, trabalhou como missionário em África, convertendo-se ao catolicismo em 1971. Estudou com Marcel Lefébvre e foi por este ordenado bispo em 1988, o que deu origem à sua excomunhão por João Paulo II.
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