Resultados de Pesquisa

.

8 de agosto de 2014

Diante dos seus olhos


      

O rei Davi tinha um poder tão absoluto que poderia ter o que contemplassem os seus olhos e desejasse a sua alma. Se lhe agradasse um campo, ou uma virgem, ou qualquer outra coisa, poderia requisitar tudo o que quisesse em nome do reino, com a bênção de Deus, e ninguém ousaria contrariá-lo (1Sm 12.8). Davi tinha este elevado padrão moral a guiar-lhe os procedimentos: “Não porei coisa injusta diante dos meus olhos; aborreço o proceder dos que se desviam; nada disto se me pegará” (Sl 101.3).
       Todavia, esse mesmo Davi foi testado, quando deu a maior escorregada moral de sua vida, exatamente quando se permitiu olhar lascivamente para uma bela mulher que tomava banho num córrego perto do palácio real. Até hoje, fala-se muito sobre o adultério de Davi com Bate-Seba, e essa mancha jamais se apagará de sua biografia, apesar dos grandes feitos de toda uma vida. Tudo começou com um olhar, em colocar diante dos olhos a “coisa injusta”, ao contrário do que se comprometera evitar a todo custo.
Alípio era um teórico da música do quarto século, que havia se comprometido a viver uma vida digna. O escritor J. N. Norton conta que Alípio era sempre convidado por seus vizinhos a assistir aos combates de gladiadores, mas se recusava terminantemente, pois detestava a brutalidade desses programas bárbaros. Um dia, no entanto, conseguiram coagi-lo a ir. Como Alípio estava determinado a não assistir ao espetáculo sangrento, fechou bem os olhos e nada quis ver. Mas um grito cortante o fez dar uma olhadinha na hora em que um dos lutadores estava sendo ferido mortalmente. O que ocorreu com ele a partir daquele momento foi emblemático. Com a sua sensibilidade embotada, Alípio juntou a sua voz aos gritos e exclamações da multidão barulhenta que o cercava.
       Daquele momento em diante, ele passou a ser um homem mudado – mas mudado para pior; não apenas se tornou assíduo frequentador desse esporte, mas passou também a instar com outros a fazerem o mesmo. A lição que Norton destaca é que, apesar de Alípio ter entrado na arena contra a sua vontade, a exposição ao mal mostra o que pode acontecer com as melhores pessoas ao sentirem o gostinho pelo prazer destrutivo. Antes de o perceberem, já estão escravizados a ele.
       Assim, cuidado com o que você coloca diante dos seus olhos. Cuidado com o que assiste. Pergunte a si próprio – e procure responder com sinceridade – se a sua sala de estar é local de assassinatos diários. Verifique se você tem recebido costumeiramente convidados que xingam você e fazem piadas sobre a sua fé. Já aconteceu de alguém aparecer em sua casa e tentar convencê-lo de que o pecado sexual é uma piada, que traição é algo normal, e que a violência é uma forma de entretenimento?
       Se você geralmente passa algumas horas por dia diante da televisão, ou navegando pelos porões da internet, então tudo isso certamente já lhe aconteceu. Embora não seja nenhuma novidade, o conteúdo moral da televisão, assim como da internet, tem decaído constante e rapidamente nos últimos anos. A boa notícia é que nós não temos que cair junto.
       No Brasil, tem sido debatido se a regulamentação de horários de programação televisiva deve ser restrita aos próprios meios de comunicação, ou se a tarefa deve ser efetivada pelo governo. Mas isso não importa. O fato é que a maior parte do mundo do entretenimento fala muito sério sobre retirar todas as restrições. Tão seriamente que parece só nos restar o desafio de procurar proteger as nossas mentes.
       Antes de ser rei, Davi fora pastor de ovelhas. Ele sabia tanto sobre televisão quanto a maioria de nós sabe a respeito de cuidar de ovelhas. A despeito de si mesmo e de seus defeitos, ele fez a opção que todos deveríamos fazer: “Não porei coisa injusta diante dos meus olhos”.
Um salmista anônimo preferiu pedir ao Senhor que o ajudasse nisso: “Desvie os meus olhos de olharem para coisas sem valor” (Sl 119.37). O patriarca Jó, prezando a fidelidade conjugal, disse: “Fiz aliança com meus olhos; como, pois, os fixaria eu numa donzela?” (Jó 31.1). O apóstolo Paulo orientou o jovem Timóteo para fugir do mal, ou seja, cortá-lo pela raiz (2Tm 2.22). Todos eles sabiam que substituir desejos maus pela busca das coisas justas de Deus é a melhor maneira de evitar problemas.
       A maioria das pessoas não se importa com as sementes malignas que diuturnamente o inimigo de nossas almas tem semeado em suas mentes e corações. Mas há aqueles que se importam em seguir as orientações bíblicas, que certamente lhes ajudarão a guardar suas mentes e corações puros para Deus.
Portanto, procure fugir de piadas sobre sexo e também não se permita a ouvir linguagem vulgar (1Co 6.18; Ef 5.3,4,12). Não permita que as propagandas lhe excitem a cobiça (Ex 20.17; Cl 3.5). Decida-se a não deixar que seus olhos lhe façam pecar (Mt 18.9).
Acima de tudo, devemos ter cuidado com o que colocamos diante dos nossos olhos, pois isso tem o potencial de abençoar ou destruir a nossa vida. Mas a decisão cabe a cada um de nós.


Samuel Câmara
Pastor da Assembleia de Deus em Belém


Envie um e-mail para mim!

6 de agosto de 2014

Deus é Pai, Deus é Mãe





Nem sempre é fácil imaginar Deus numa perspectiva maternal, pois fomos acostumados à ideia de que Deus é Pai. Isso soa quase como um clichê numa cultura paternalista. O próprio Deus, quando resolveu revelar-se à humanidade, o fez utilizando essa mesma visão cultural: nasceu como Homem, viveu como Homem, morreu como Homem, ressuscitou como Homem. E Jesus, o Homem perfeito, deixou bem claro essa imagem paterna e masculinizada de Deus, quando disse: “Eu e o Pai somos um” (Jo 10.30). Jesus se referiu ao templo como “casa de meu Pai”. Deus era “Aba”, seu “paizinho” querido.
Quando Filipe indagou: “Senhor, mostra-nos o Pai, e isso nos basta”, Jesus lhe respondeu: “Filipe, há tanto tempo estou convosco, e não me tens conhecido? Quem me vê a mim vê o Pai; como dizes tu: Mostra-nos o Pai?” (Jo 14.8-10).
Embora Sua resposta não pudesse ser necessariamente diferente numa cultura de padrão masculino e patriarcal, não é desse tipo de critério que Jesus se utiliza para identificar o Pai. Ele está falando mais de caráter do que de forma ou gênero. Até porque essa imagem machista só tem razão de ser relativamente ao aspecto cultural. Não no trato superior da vida espiritual. É assim que, ao expor sobre a vida espiritual e eterna, Jesus também deixa claro que, no céu, não haverá divisão de sexualidade: “Porque, na ressurreição, nem casam, nem se dão em casamento; são, porém, como os anjos no céu” (Mt 22.30).
Na eternidade, não haverá para nós, assim como nunca houve essencialmente para os anjos, nem para Deus, essa visão de macho e fêmea. Em Cristo, não há “nem homem nem mulher”, porque somos um só corpo com Ele (Gl 3.28). Deus é o Verbo, o “EU SOU”, o Ser Perfeito e Supremo, onde todos os outros seres encontram seu sentido e importância na Criação, pois “Nele existimos e nos movemos” (At 17.28).
Desse modo, embora Deus não tenha gênero, como o ser humano, Ele é Pai e também é Mãe. Ou seja, Deus traz em Seu Ser a natureza de um Pai e de uma Mãe em sua expressão última, plena e definitiva. Tudo o que há de melhor em um pai ou em uma mãe tem a sua origem e sentido Nele, pois Deus é a Fonte de onde tudo isso emana.
A verdade é que Jesus chama de Pai o mesmo Ser que algumas vezes também se identificou como Mãe. Isto porque Deus não vê problema em tomar emprestado da natureza os exemplos das mais extremadas mamães. Por isso, Ele evoca para si a imagem de uma águia, mestra na arte de ensinar seus filhotes a voar: “Como a águia desperta a sua ninhada e voeja sobre os seus filhotes, estende as asas e, tomando-os, os leva sobre elas, assim, só o Senhor o guiou” (Dt 32.11,12).
Quando estava muito zangado, Deus se comparava a uma “ursa, roubada de seus filhos” (Os 13.8). E quem brincaria com uma mamãe ursa zangada?
Jesus era o Filho de Deus, “o resplendor da glória e a expressão exata do seu Ser” (Hb 1.3). Era o próprio Deus em essência e natureza, mas não achou de pouca monta se comparar a uma galinha, quando disse: “Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas e apedrejas os que te foram enviados! Quantas vezes quis eu reunir os teus filhos, como a galinha ajunta os seus pintinhos debaixo das asas, e vós não o quisestes!” (Mt 23.37). Por quê?
O historiador judeu Flávio Josefo nos ajuda a entender isso. Tratando sobre o cerco e destruição de Jerusalém, em 70 A.D., ele conta que um soldado romano encontrou uma galinha totalmente torrada, com as asas arqueadas como se estivesse chocando seus ovos. Quando a afastou com a espada, debaixo dela saíram uma dezena de assustados pintinhos. A conclusão óbvia é que o instinto “materno” falou mais alto. Mesmo diante do fogo destruidor, a galinha fez o que só uma mãe extremada pode fazer: preferiu morrer para salvar seus “filhinhos”.
Esse era o mesmo sentimento que havia em Jesus, quando comparou a Sua compaixão por Israel com o cuidado extremado de uma galinha. Porque nenhum outro animal tem comportamento semelhante, pois, diante do fogo, qualquer outro animal foge. A galinha, contudo, quando tem de salvar seus pintinhos, mesmo em face da morte, não hesita. Do mesmo modo, Jesus não amarelou nem fugiu da raia quando teve de sofrer na horrenda cruz para nos salvar.
É, portanto, uma grande injustiça chamar de “galinha” alguém que, por mero mau-caratismo, não consegue ser fiel ao cônjuge. Jesus, mostrando-se fiel à infiel Jerusalém, como uma “Mãe” sempre fiel, mantinha sempre as “asas” abertas oferecendo acolhimento a quem não merecia.
       Deus é Pai, bem mais pai que todos os pais. Deus é “Mãe”, bem mais mãe que todas as mães. Como está escrito: “Acaso, pode uma mulher esquecer-se do filho que ainda mama, de sorte que não se compadeça do filho do seu ventre? Mas ainda que esta viesse a se esquecer dele, eu, todavia, não me esquecerei de ti” (Is 49.15).
       Deus é Pai. Deus também é “Mãe”. Por causa do Seu Amor incondicional, todas as mães merecem ter um Feliz Dia das Mães!


Samuel Câmara
Pastor da Assembleia de Deus em Belém