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15 de novembro de 2009

PAC investe em geração, mas gargalo é transmissão

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Só 18% das obras do setor energético foram concluídas; maioria é de usinas
Ana Paula Pedrosa
A maior parte das obras de infraestrutura energética previstas no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) está com o andamento satisfatório, segundo o oitavo Balanço do PAC, divulgado em setembro. Segundo o relatório, das 689 ações monitoradas, 18% já foram concluídas, 77% estão em ritmo adequado, 4% exigem atenção e apenas 1% está em situação preocupante.

Os investimentos do setor entraram na berlinda depois do apagão que deixou 18 Estados brasileiros às escuras na semana passada. Mas, segundo especialistas, a geração de energia no país é suficiente para manter as luzes acesas e os equipamentos funcionando. O gargalo está na transmissão. "O que aconteceu não foi falta de energia. Foi falta de transmissão. É como ter uma caixa d’água cheia e morrer de sede porque não tem tubulação para receber a água", diz o professor do Departamento de Engenharia Elétrica da UFMG, Selênio Rocha Silva.

O problema é que a energia de Itaipu, que representa 20% do consumo do país, é produzida distante dos grandes centros consumidores, como São Paulo e Rio de Janeiro, e depende de extensas linhas de transmissão para chegar ao destino. O gargalo vai continuar mesmo depois de concluídas as obras do PAC, já que as maiores usinas em implantação estão na região Norte. É o caso de Santo Antônio (3.150 MW) e Jirau (3.300 MW), que ficarão prontas em 2012 e 2013, respectivamente. As duas usinas ficam em Rondônia. A usina de Belo Monte, ainda em fase de licenciamento, vai gerar 11.233 MW no Pará.

As obras em andamento do PAC garantirão 18,5 mil megawatts no sistema, a maior parte com previsão de começar a gerar de 2010 a 2013. Em transmissão, já foram concluídas sete linhas (1.537 km) e uma subestação, e foram iniciadas as obras de cinco linhas (642 km) e duas subestações. Os investimentos somam R$ 1,557 bilhão.

Emergencial. Para os especialistas, o ideal seria uma solução emergencial para isolar o ponto com problemas e redirecionar a carga. "Tem responder rapidamente em caso de pane", diz o especialista no setor e diretor da Enercel Energia, Raimundo Batista. De acordo com ele, era muito difícil prever que três linhas de transmissão de Itaipu caíssem ao mesmo tempo. Essa é a causa mais provável do apagão.

Batista diz que o sistema suporta a saída de sua maior máquina, mas não da maior usina isoladamente. "Acidentes sempre podem ocorrer, mas tem que haver uma manobra para retomar rapidamente a interligação do sistema", diz o presidente da Sociedade Mineira de Engenheiros (SME), Márcio Damázio Trindade.

Investimentos. Claudio Salles, diretor do instituto Acende Brasil, destaca como principal gargalo a excessiva concentração na expansão do sistema interligado. "Tem sido colocado pelo governo que esta é a única alternativa viável para a expansão e isso está longe de ser verdade", afirma.
Salles recomenda dois estágios de investimentos. O primeiro, defende, seria destinado a aumentar a velocidade da complementação da oferta de energia, com a geração térmica entrando com mais frequência.

O segundo estágio seria a incorporação da tecnologia alternativa, como, por exemplo, a que utiliza hidrogênio ou outros combustíveis. "Esse apagão é lamentável, mas pode ter servido como alerta, mostrando que nem tudo está indo tão bem quanto fazem supor os investimentos constantes no setor", disse, lembrando que o consumidor de energia paga anualmente R$ 8 bilhões pelo transporte de energia em sua conta de luz. (Com agências)

No Brasil, MWh custa o dobro dos EUA
Rio de Janeiro. Além de insegura, como comprovou o blecaute de terça-feira, a energia elétrica no Brasil é cara. Tão cara que supera o preço dos Estados Unidos. Enquanto aqui, o custo do megawatt hora (MWh) foi de US$ 138 em 2007, as empresas norte-americanas pagaram US$ 64 por MWh.

De lá para cá, a situação não melhorou nada. Em uma década, a energia paga pelas indústrias brasileiras subiu 247,39% contra uma inflação acumulada, de 1999 até setembro último, de 93,74%.

Nas residências, o aumento, no mesmo período, foi de 113,94%. E a energia tende a ficar ainda mais cara, porque pouco mais de 80% da energia nova que está prevista para entrar no sistema vem das térmicas, que custam até seis vezes mais que a das hidrelétricas. 
 
Consumo crescerá 45% até 2017
Atual rede de transmissão do país terá de ser ampliada em mais 36 mil km
Murilo Rocha
Brasília. Em 2017, quando terá uma população estimada de 204 milhões de habitantes, o Brasil irá consumir 45% a mais de energia elétrica, se comparado ao consumo previsto para este ano. Pelos cálculos do Plano Decenal de Expansão de Energia (2008 a 2017), divulgado no início do ano pelo Ministério de Minas e Energia, a demanda do setor elétrico no país vai passar de 411.644 bilhões de Watts por hora (GW/h), em 2009, para 599.303 GW/h, em 2017.

No entanto, conforme o governo, não há motivo para alarme se forem cumpridas todas as metas de investimento e execuções de obras programadas para os próximos oito anos.
O relatório, uma espécie de bola de cristal elaborada por técnicos da área, leva em conta aspectos socioeconômicos do Brasil e do mundo, e destaca o boom da demanda dos setores residencial e comercial, os quais, diz a pesquisa, teriam um crescimento de consumo de eletricidade de 49% e 68%, respectivamente, até 2017.

O setor industrial, principal consumidor de energia elétrica no país, pelos cálculos do ministério, também cresceria, mas sua participação dentro da demanda nacional cairia de cerca de 46% para 43%. As regiões Sudeste e Centro-Oeste juntas ainda serão, daqui a oito anos, quem mais gastam eletricidade.

Investimento. O aumento da demanda, pelo menos em tese, será acompanhado pelo reforço da infraestrutura na geração, transmissão e distribuição da energia elétrica no Brasil, ao custo estimado de R$ 181 bilhões até 2017. De acordo com o plano, haverá uma adição de cerca de 54 mil MW de capacidade instalada no país – hoje ela é de aproximadamente 100 mil MW –, sendo 16 mil MW em empreendimentos de geração já contratados, como as usinas de Jirau e Santo Antônio, no rio Madeira.

Orçamento. O governo bloqueou 23% do orçamento do Ministério de Minas e Energia este ano. Isso significa que a pasta de Edison Lobão sofreu uma retenção de quase R$ 6 bilhões, de acordo a ONG Contas Abertas. O dinheiro deve ajudar o governo a cumprir a meta de superávit primário.

Transmissão será expandida
Brasília. Outra promessa no setor de energia elétrica para a próxima década é a expansão do sistema de transmissão em 36.387 km de linhas em todo o país, além do investimento na área de transformação. Conforme o Ministério de Minas e Energia, os recursos previstos para o período são da ordem de R$ 39 bilhões, sendo R$ 25 bilhões em linhas de transmissão e R$ 14 bilhões em subestações.

Um dos projetos já licitados é a integração de Manaus, Macapá e demais cidades da margem esquerda do rio Amazonas, ao Sistema Integrado Nacional (SIN). O sistema contempla 1.810 km de linhas de transmissão e deve entrar em operação até 2012.

“A gente, até 2013, está com toda a demanda atendida. A gente está olhando para 2014 a 2018. Vamos fazer neste ano ainda leilão (de concessão de energia) para 2014”, afirmou Mauricio Tolmasquim, presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), uma das responsáveis pelo planejamento do setor.

Ainda, segundo o Tolmasquim, o programa Luz para Todos teve um peso importante para o aumento da demanda de energia no país. “Houve uma retomada do que antigamente tinha, mas foi descontinuado na década de 1990”, opinou. (MR com agências)
 
“Não é só o acidente, são também as consequências”
Queila Ariadne
O que fez a maior hidrelétrica do mundo parar e deixar mais de 100 milhões sem luz? Itaipu não parou, ela foi desligada porque a linha de transmissão caiu. Por que isso aconteceu não está explicado. A linha de transmissão de Itaipu para o Sudeste não deu passagem à corrente elétrica. São três linhas; uma entrou em colapso e as outras duas, não sei por que cargas d’água, também caíram.

O apagão revela vulnerabilidade do sistema de energia brasileiro?
O que aconteceu é a prova da vulnerabilidade. O sistema não deve cair desse jeito, a energia de tantas cidades. Não sabemos onde essa vulnerabilidade está, mas temos que pedir para que apure.

Mas o que aconteceu?
A gente imagina algumas coisas como uma manobra errada, um programa de computador errado, alguma ação não otimizada em alguma parte. Mas não é só o acidente, são também as consequências. Caiu uma linha de transmissão e caiu o Brasil todo, ou quase. Metade, pelo menos. A dimensão do acidente é o problema. Tem que fazer um alinhamento para não deixar o acidente se propagar tanto.

O que fazer para evitar que o problema se repita?
Tem que ter um sistema mais inteligente no sentido de ser capaz de circunscrever efeitos de um acidente. Mas primeiro tem que descobrir o que aconteceu para saber como evitar repetição. É um problema de engenharia elétrica, não é um problema de energia. Água nós temos.

É grave o Brasil ser tão dependente de energia de hidrelétricas e, principalmente, tão dependente de uma única usina, a de Itaipu? Não é hora de investir mais em energias alternativas?
É sempre bom ter outras fontes de energia, mas não é muito grave sermos dependentes de Itaipu não. A gente pode ter uma boa performance, o Canadá tem um sistema parecido com o nosso e funciona muito bem.

Qual a explicação para alguns Estados serem terem sido tão mais afetados pelo apagão do que outros?
Em Minas Gerais, por exemplo, a Cemig explica que, assim que viu a queda de energia, solicitou ao ONS autorização para liberar o seu excedente. A explicação da Cemig pode orientar um tipo de procedimento que poderia ter sido adotado em outros casos, mas não sei direito o que ela falou. Agora, em relação aos Estados, pode ter algumas particularidades, ou então pode ter sido casualidade mesmo. O sistema se propagou de certa forma e foi para um lado e não para outro.
Qual a lição que fica?
Cidades maiores devem ser mais protegidas do que as menores porque os efeitos são mais graves, pois ela têm mais prédios, mais hospitais, linhas de metrôs, as pessoas ficam presas. Acima de tudo, é preciso proteger os grandes centros urbanos. Isso é uma forma inteligente de fazer uma gestão do problema.

O apagão revela falta investimentos?
Certamente uma coisa se liga à outra. Mas não creio que seja falta de investimento, no sentido de fazer ligações. O Brasil está bastante interligado e reforçou sua interligação. Em 2001, não havia as linhas que temos hoje. Eram duas. Faltava a terceira linha e faltou capacidade de ligação entre o Sul e o Sudeste. Hoje, não é isso. Há uma instabilidade elétrica. Ou seja, o mundo todo dedica atenção a esse problema.
 
 
Site Originador desta publicação:

www.otempo.com.br
 
 
 
 
 
 
 

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