O
Brasil é um país relativamente jovem, tanto no aspecto da idade
democrática, como pelo perfil etário dos eleitores, na sua maioria com
menos de trinta anos. Talvez por isso muitos não consigam avaliar o
quanto custou às gerações passadas os direitos que nos foram legados,
principalmente o de poder escolher livremente os nossos governantes.
Essa liberdade é uma grande bênção de Deus, que levantou e inspirou, no
decorrer da História, as pessoas certas para o encaminhamento da luta
democrática que pôs fim às inomináveis tiranias com as quais o mundo foi
obrigado a conviver por muito tempo.
O
escocês Samuel Rutherford (1600–1661) foi um desses homens. Ele viveu
numa época em que não havia democracia, quando o máximo que se podia
aspirar era sonhar por dias menos piores. Ele escreveu uma obra
intitulada “Lex Rex” (1644), cujo significado é: “A Lei é rei”, que
defendia a superioridade da lei sobre a realeza. A frase foi
absolutamente perturbadora para a sua época. Antes disso tinha sido “Rex
Lex”, ou seja, “o rei é a lei”. Desse modo, nessa obra magnífica ele
escreveu que a Lei, e ninguém mais, reina e estabelece todas as
estruturas de poder e autoridade. Depois desse libelo que propugnava
pelo governo baseado no império da Lei é que a democracia realmente
tomou fôlego e se estabeleceu em muitos países do mundo, inclusive, a
muitas custas, no Brasil.
Na definição de Abraham Lincoln, “democracia é o governo do povo, pelo
povo e para o povo”. Ou seja, o povo escolhe, pelo voto, não somente os
seus representantes, mas, principalmente, o seu próprio destino
político. É por isso que o modo como cada eleitor trata o seu voto é
importante. Se o mesmo tem consciência política e exerce plenamente o
seu direito de cidadão, saberá valorizar o seu voto na mesma proporção
da sua dignidade como ser humano responsável. Se não, apenas o venderá
por um bocado, um trocado, um agrado.
A
estatura de cada cidadão é medida pela valoração que dá ao seu voto,
pelo modo como expressa a sua vontade política. E o nosso país, embora
ainda esteja em plena infância democrática, já é rico em bons e maus
exemplos de como se deve ou não deve tratar essa questão.
Para
alguns, a consciência parece estar no estômago, pois vendem os seus
votos por uma cesta básica, por exemplo. Para outros, a consciência está
no bolso, e por um dinheirinho vendem o seu impagável direito de
cidadania, mesmo que tal ajudinha seja travestida de programa social em
suposto benefício dos pobres. Não sou contra ajudar os pobres, e nossa
Igreja faz isso muito bem há mais de 100 anos. Mas quando um programa
social mantém os pobres atrelados e imobilizados socialmente a uma
eterna dependência, ele se transforma em um grande e imoral estelionato
eleitoral. Isto porque obriga os pobres a votar num determinado
candidato “oficial” pelo simples medo de virem a perder as parcas
migalhas que caem da mesa dos donos do poder.
Outros
ainda votam por simpatia, se deixam levar por emoções da hora, porque o
candidato tem charme ou fala bonito. Há os que praticam o voto útil,
traindo as próprias convicções pelo simples temor de fazer parte do time
de perdedores. Um outro grupo está incluído na categoria do “tanto
faz”, pois votar é apenas uma outra chatice de que é obrigado a
participar. Esses são apenas alguns exemplos negativos, dentre muitos
outros. Mas há os que realmente se importam e fazem grande diferença com
o seu voto.
E
aqui, cabe-nos adicionar que, se há um grupo que pode e deve fazer
alguma diferença na hora de votar, é o que se chama de cristão, o que
inclui a todos os que se dizem seguidores de Jesus. Como “sal da terra e
luz do mundo”, precisamos influir na escolha daqueles que governarão
sobre nós. Como “sal”, podemos contribuir para “temperar” os destinos da
sociedade ajudando a colocar nos centros do poder homens e mulheres não
somente aptos, mas também tementes a Deus e comprometidos com a Justiça
e a Verdade. Como “luz”, podemos utilizar todo o equilíbrio de uma
consciência esclarecida para não nos deixar ludibriar por propostas
enganadoras, e também para pedir sabedoria do Alto para nos ajudar a
estabelecer a vontade de Deus quanto aos destinos de nosso país.
Portanto,
essa é a tônica: se o voto é tão importante, que diferencial o nosso
voto, como cristãos, adiciona a estas eleições? Em outras palavras, que
valor agregaremos no instante do voto e que diferença isso fará? Cada
cristão deve ter em mente que é cidadão brasileiro, mas também é cidadão
do reino dos céus. Por isso não deve de modo algum votar em candidatos
corruptos, ou ligados a grupos sabidamente comprometidos com a injustiça
da corrupção.
O
cristão agrega valor ao seu voto na medida em que faz a sua escolha com
a consciência limpa diante de Deus, velando sobre o seu voto com oração
para o Senhor guiar e abençoar os candidatos que ajudou a eleger.
Tenho
por certo que Deus quer o melhor para o Brasil. Mas sei também que essa
é uma tarefa que Ele quer fazer com a nossa cooperação. Portanto, o meu
desejo é que saibamos valorizar o nosso voto, e que neste Domingo, 5 de
Outubro, façamos uma grande diferença.
Samuel Câmara
Pastor da Assembleia de Deus em BelémEnvie um e-mail para mim!
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