Muito
se tem discutido, ultimamente, sobre a aparência de Jesus. Até mesmo
computadores com modernos programas de construção facial foram
utilizados em um suposto crânio do primeiro século de um suposto
palestino para sugerir a possibilidade de Jesus ser um homem de tez
morena e aparência tosca. Era uma primorosa tentativa de mostrar que
Jesus não era o bonitão que há séculos os artistas pintam em suas telas
ou que os filmes hollywoodianos mostram.
Sem
entrar no mérito da questão, porque jamais iremos resolvê-la a
contento, Jesus tinha, de fato, uma aparência comum. Para identificá-lo
entre os discípulos, Judas teve de lhe dar um beijo no rosto. É no
mínimo curiosa a descrição que Dele fez o profeta Isaías: “Não tinha
aparência nem formosura; olhamo-lo, mas nenhuma beleza havia que nos
agradasse” (Is 53.2). Alguns afirmam que isso era devido ao seu
sofrimento na cruz. Outros defendem que se aplicava à própria aparência
pessoal do Messias como um homem comum do povo.
Se
Jesus era de compleição atraente ou se não correspondia a um belo
espécime de masculinidade, não importa. O que contava para Jesus era a
Sua fidelidade ao Pai, não a Sua aparência. Em vez de buscar ser aceito e
medido por valores mundanos arbitrários, se entregou totalmente à
vontade de Deus, pois isso era tudo o que realmente lhe importava na
vida.
O
problema é que vivemos em um mundo absolutamente tomado pela idéia de
que o que importa não é o que você é, mas sim aquilo com que se parece. A
conexão entre beleza e felicidade é tão evidente que se alguém tem
algum defeito ou não possui beleza seu destino é ser tratado como
“sucata da humanidade”.
Hoje,
há drogas injetáveis para quem se recusa a envelhecer. Há abundantes
programas de dieta, nem tanto pela saúde, mas para ter um belo corpo.
Academias de ginástica proliferam e prometem esculpir corpos malhados e
bonitos. Cirurgias plásticas se tornaram imensamente acessíveis aos
endinheirados, e são o caminho mais fácil para, sob encomenda, refazer o
corpo.
Vivemos
numa cultura intoxicada pelo culto da beleza e pela divinização do
corpo. Essa obsessão pela aparência física gera o subproduto da
“epidemia de inferioridade”, acometendo pessoas que, por serem comuns e
não terem nascido com uma confluência maravilhosa de genes, gostariam de
estar do outro lado. É esse filão que os profissionais da publicidade e
propaganda exploram.
O
fato é que nascemos com um desejo legítimo de ter significação. Isso é
uma bênção de Deus. E deveria nos levar ao equilíbrio entre a ênfase
apropriada no caráter e o cuidado conveniente pelo corpo. Mas como nossa
cultura prima pela apreciação da beleza acima do caráter, muitos
procuram se empenhar em satisfazer seus padrões de aceitação, pois
desejam desesperadamente a aprovação dos outros.
É
tudo uma questão de valores. Afinal de contas, não é hora de voltarmos
aos valores cristãos fundamentais de que somos criados por Deus, temos
um valor intrínseco conferido por Ele, que somos amados pelo Senhor a
partir do que somos e não pelo que parecemos?
Quando
o profeta Samuel foi enviado por Deus para ungir um rei para Israel
entre os filhos do belemita Jessé, seus sete filhos mais velhos e
bem-apessoados desfilaram com suas melhores roupas diante do velho
profeta. Porém, o Senhor não indicou nenhum deles para ser o futuro rei.
Logo no primeiro, diante da perplexidade de Samuel, Deus lhe respondeu:
“Não atentes para a sua aparência, nem para a sua altura, porque o
rejeitei; porque o Senhor não vê como vê o homem. O homem vê o exterior,
porém o Senhor, o coração” (1Sm 16.7).
Essa
verdade deveria estar totalmente impregnada em nossa mente e coração,
sabedores que Deus privilegia e recompensa o comportamento, o caráter e a
fidelidade, não a aparência física. Temos de bradar que é injusto
competir no mundo da beleza física, principalmente no universo feminino.
Apregoemos que há coisas mais importantes que a aparência física, como
está escrito: “A formosura é uma ilusão, e a beleza acaba, mas a mulher
que teme ao Deus Eterno será elogiada” (Pv 31.30).
Tim
Hansel conta a história de um adolescente que tinha uma enorme marca de
nascença no rosto. Em vez dele se sentir inseguro ou com vergonha de si
mesmo, mostrava uma inabalável segurança em sua autoestima e mantinha
um bom relacionamento com os outros estudantes. Ele parecia não ter
consciência de sua aparência, de modo que alguém lhe perguntou o porquê
disso.
Ele
respondeu: “Desde que eu era pequenino, meu pai começou a dizer-me que
eu tinha a marca de nascença por dois motivos: primeiro, porque um anjo
me beijou; segundo, para que Papai do céu pudesse me achar no meio de
uma multidão”. E acrescentou: “Meu pai me contou essa história tantas
vezes e com tanto amor que, quando cresci, comecei a ter pena das outras
crianças que não tinham sido beijadas por um anjo como eu”.
Embora
seu filho não tenha sido beijado por um anjo e nem Deus precise pôr um
sinal em alguém para reconhecê-lo, aquele pai tinha um discernimento
teologicamente correto em um ponto. Ele fez o seu filho entender que
marcas de nascença ou deficiências físicas não provêm de um julgamento
divino; antes, porém, podem se tornar em bênção, quando admitimos que
Deus não olha para a aparência física e pode nos dotar de abundante
graça na própria vida.
Pastor da Assembleia de Deus em Belém
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