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7 de set. de 2007

Malandros em apuros

Ângela CorrêaDo Diário do Grande ABC

Pode até soar ofensivo à causa gay dois homens fingirem ser um casal para fraudar o sistema previdenciário e isso ser base para uma comédia típica de Adam Sandler. Mas por mais sacana que seja o mote, Eu os Declaro Marido... e Larry! é diversão, sem sistema de cotas.

O “casal” em questão é Chuck Levine (Sandler) e Larry Valentine (Kevin James, da série The King of Queens), melhores amigos e bombeiros machões em Nova York.

Chuck é um grande mulherengo até que Larry, viúvo e pai de duas crianças, lhe cobra a dívida por ter salvo sua vida dias antes: ele tem de declarar à prefeitura que é parceiro doméstico do amigo.

A proposta de casamento não é uma súbita mudança de orientação sexual. Larry não consegue colocar seus filhos como novos beneficiários de seu seguro de vida e só confia em Chuck para cuidar deles caso algo lhe aconteça.

O problema é que, para o governo, não basta que os dois tenham o mesmo endereço de correspondência: eles têm de provar a paixão, ou irão para a cadeia. Um funcionário da previdência (Steve Buscemi) desconfia da história e resolve desmascará-los.

A advogada Alex McDonough (Jessica Biel), experiente na causa, os aconselha a tornar a história o mais pública possível e a oficializarem o casamento em uma cerimônia no Canadá.

A partir daí, os machões têm de ser verdadeiros bastiões da militância gay: vão a festas beneficentes e paradas e cobrem-se de ícones gays, como discos da Wham!, banda de George Michael antes de ele sair do armário, e lubrificantes. Mas a paixão de Chuck pela advogada deve azedar ainda mais o caso.

Mestres do escracho, o “par” central está ótimo. Sandler, que andou menos histriônico nos recentes Embriagado de Amor e Espanglês, volta à velha escola, mas sem afetações (aquela vozinha irritante parece ter sumido).

A dupla brinca bastante com os clichês, mas parece não ter ofendido a militância. Em tempo: o ator Richard Chamberlain e o cantor Lance Bass, homossexuais assumidos, fazem ponta.

Malandros em apuros

Lula se explica à classe média

KENNEDY ALENCAR

Colunista da Folha Online

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva aproveitou a data de 7 de Setembro para fazer propaganda política com dois objetos específicos: cortejar a classe média, faixa da população em que há maior insatisfação com seu governo, e colocar no noticiário uma "agenda positiva" em contraponto à "agenda negativa" das últimas semanas.

Ao longo de um pronunciamento em rádio e TV, Lula fez diversos acenos para a classe média. Não citou medidas específicas para favorecê-la, mas fez uma promessa algo vaga: "Nenhum país do mundo pode crescer sem estimular, fortemente, o espírito empreendedor da classe média." A construção do texto soou como uma justificativa das razões de ter priorizado políticas para os mais pobres em seus quase cinco anos de poder. "Devemos entender que quanto menor for o número de pobres e maior o mercado de massa, melhor será este país."

Sem modéstia, Lula falou que, na sua gestão, "está nascendo um novo Brasil". O mote "novo Brasil" guarda semelhança com o nome dado pelo então presidente Fernando Collor de Mello ao plano econômico que congelou preços e seqüestrou recursos da poupança em 1990. Naquele ano, o nome oficial do "Plano Collor 1" era "Plano Brasil Novo".

Ao dizer que o país vive "grande transformação", deu uma cutucada nos críticos. Afirmou que essa "transformação" é de uma "amplitude" nem sempre percebia por 'quem participa de um momento histórico'.

Sem mencionar a decisão do STF de tornar réus em ação criminal a antiga cúpula do PT, Lula admitiu que era preciso "avançar, ainda mais, no terreno da ética e do combate à unidade". Disse que seu governo tinha a "coragem" de realizar esse esforço. E afirmou que colhe "os frutos doces e amargos desta semeadura".

Lula bateu bumbo a respeito das realizações sociais. Segundo ele, o Brasil vive "amplo movimento de inclusão social, de uma intensidade nunca vista". Apesar de ter reconhecido que ainda "há forte dívida social a resgatar com os mais pobres", Lula exagerou quando falou que, "ao contrário de outras épocas, agora não há arrocho salarial e exclusão social". A exclusão social, como ele mesmo assinalou, ainda é enorme.

Resumindo: foi um discurso para Lula vende o seu peixe para população, sobretudo para a fatia mais resistente a ele, e também para responder de certa forma à decisão do STF sobre o mensalão.

Negociação casada

Lula ouviu dos líderes partidários na Câmara que a negociação para aprovar a CPMF tem de ser feita já levando em conta a votação do imposto do cheque no Senado. Disseram que aprovam matérias de acordo com os interesses do Palácio do Planalto, sofrendo desgaste político, mas o governo não sustenta essas negociações quando os projetos chegam ao Senado. Afirmaram que não desejam votar um projeto que será "amaciado" no Senado. Lula deu ordem aos articuladores políticos para tentar fazer uma difícil operação casada.

Trem excedeu velocidade para atingir meta, diz maquinista

LUISA BELCHIOR

Colaboração para a Folha de S.Paulo, no Rio

O trem com 800 passageiros que colidiu com outro vazio no dia 31 de agosto em Nova Iguaçu, região metropolitana do Rio, estava em velocidade acima da permitida para poder cumprir metas de horários estabelecidas pela SuperVia aos maquinistas, segundo depoimento à polícia do condutor da composição. O choque entre os trens deixou oito pessoas mortas e outras 101 feridas.

Norival Ribeiro Nascimento era o maquinista do trem que transportava passageiros no momento da colisão e prestou depoimento na noite de anteontem ao delegado titular da 58ª DP (Posse), Fábio Pacífico.

Segundo o delegado, o maquinista confirmou que trafegava a 85 quilômetros por hora, acima do limite de velocidade do trecho, de 60 quilômetros por hora. Mesmo com o alarme de velocidade máxima disparando, Norival contou, conforme o policial, que seguiu no mesmo ritmo porque "tinha que cumprir horário". "A empresa exige isso", afirmou o titular da 58ª DP.

O maquinista só começou a acionar o freio ao ver o sinal vermelho antes do cruzamento em que colidiu com o trem sem passageiros e não conseguiu parar a tempo. Segundo o delegado, Norival não estava acelerando, mas tinha acabado de passar por um declive na pista, o que ajudou aumentar a velocidade da composição.

Sinal verde

O maquinista disse ao titular da delegacia da Posse que também não reduziu a velocidade antes porque passara por dois sinais que estavam verdes, o que indica que o maquinista pode seguir em frente. Para que começasse a desacelerar, um deles deveria estar amarelo, afirmou o maquinista.

Este, para a polícia, é um outro fator que pode ter contribuído para a colisão. Pacífico disse que os peritos agora vão investigar por que o penúltimo sinal pelo qual o trem passou antes da colisão não ficou amarelo, como, segundo o delegado, é normal naquele sistema.

O delegado explicou que, pelo sistema do Centro de Controle de Operações da SuperVia, esta sinalização é acionada automaticamente quando há mudanças de linha como a feita pela composição em teste.

"Quando ele [o controlador] autoriza a manobra, automaticamente o sinal da estação de Austin fica vermelho, e o anterior [que estava verde] fica amarelo."

Segundo o depoimento do controlador Edson Assunção, que estava em operação no momento do choque, o acionamento desse sistema foi feito.

Segunda-feira

Procurada pela Folha para explicar sobre a política de cumprimento de metas de horário mencionada pelo maquinista Norival Nascimento Ribeiro, a SuperVia disse que só se pronunciará na segunda-feira. Na data, a concessionária vai divulgar o laudo com as causas do acidente que vem sendo realizado pelos seus próprios técnicos.

Para o professor de engenharia do transporte da COPPE/ UFRJ Amaranto Pereira, a provável causa da colisão foi a combinação de fatores como o excesso de velocidade, a falha da sinalização e o estado de conservação da via. "Nunca em um acidente dessa natureza dá para determinar qual foi a causa principal. Normalmente, são muitas causas, e a principal delas é o estado da via."

Hoje, parentes das vítimas, ferroviários e moradores de Austin vão participar de uma passeata no local onde aconteceu a colisão.

Taxa oficial de inflação dobra durante agosto

Alimentos levam IPCA para 0,47%

RIO - A inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) dobrou em agosto, pressionada mais uma vez pelos alimentos. A taxa ficou em 0,47%, ante 0,24% em julho. Os produtos alimentícios aumentaram 1,59%, a maior variação mensal desde março de 2003, com forte influência do leite e seus derivados. A coordenadora de índices de preços do IBGE, Eulina Nunes dos Santos, acredita que a pressão dos alimentos poderá prosseguir, ainda que em ritmo mais brando, nos próximos meses.

O IPCA, que é referência para a meta de inflação do governo (4,5% em 2007), acumulou de janeiro a agosto alta de 2,80% e, em 12 meses, de 4,18%. O aumento da taxa em agosto já era esperado por economistas, que, no entanto, consideram que o índice está em patamar alto. “O IPCA veio com um resultado dentro do esperado, mas está num patamar elevado”, observou o economista-chefe do Banco Schahin, Silvio Campos Neto. Ele acredita que os alimentos vão continuar pressionando a inflação nos próximos meses, mas com desaceleração nos reajustes. Alguma redução de ritmo nos aumentos dos alimentícios também é esperada pela economista Basiliki Litvac, da MCM Consultores. Para ela, o IPCA de setembro estará em torno de 0,30%.

Os economistas da LCA Consultores, em relatório sobre o índice do IBGE, concordam com a perspectiva de reajustes menores para os alimentos, mas alertam que isso poderá ocorrer lentamente. A boa notícia para os consumidores é que, para eles, o repasse das altas dos alimentícios que estão sendo apuradas no atacado para o varejo ainda ocorre timidamente, o que pode significar que os varejistas estão absorvendo parte dos custos para manter o volume de vendas e haverá “uma desaceleração gradual e irregular do grupo alimentação nos próximos meses”.

Segundo Eulina, a alta nos preços do leite e derivados, que tem representado a maior pressão individual para o IPCA mensal desde maio, começou a desacelerar no final de agosto e deverá prosseguir nessa trajetória nos próximos meses, mesmo que ainda permaneça algum resquício sobre as despesas das famílias.

Em agosto, o item leite e derivados teve aumento de 5,77%, contribuindo com 0,13 ponto percentual para a inflação do mês.

Em julho, o reajuste havia sido de 11,31%. Eulina lembrou que esses produtos têm sofrido influência da entressafra, aumento do consumo interno e mundial e quebra de safra em países produtores importantes, como a Austrália. Em 2007, o leite pasteurizado já acumulou alta de 53,95%, contribuindo com 0,66 pp para a inflação de apurada no acumulado de janeiro a agosto.

Os produtos não alimentícios registraram reajuste de 0,22% em agosto. As principais pressões de alta foram dadas por telefone fixo (1,14%), conserto de automóvel (1,41%), empregados domésticos (0,69%), plano de saúde (0,56%), colégios (0,49%) e ônibus urbano (0,43%). Por outro lado, os combustíveis evitaram uma alta maior do índice, já que a gasolina registrou deflação de 0,89% e o álcool apresentou queda de 3,76% nos preços. (AE)

Peso é maior para mais pobres

RIO - As famílias da camada de renda mais baixa da população estão sendo mais prejudicadas com a alta dos produtos alimentícios. A inflação apurada para os mais pobres, no acumulado de janeiro a agosto, superou a dos mais ricos em 2007, fato que não ocorria desde 2003. O INPC, que mede a inflação para famílias com rendimento entre um e seis salários mínimos, subiu 0,59% em agosto e acumula, em 2007, alta de 3,13%, enquanto o IPCA, que se refere às famílias com renda de um a 40 salários mínimos, registra inflação um pouco menor, de 0,47% no mês e 2,80% no ano.

A coordenadora de índices de preços do IBGE, Eulina Nunes dos Santos, observou que “os mais pobres estão sendo mais prejudicados e as evidências são de continuidade” da inflação maior para essa camada da população. O argumento é que os itens, que deverão ajudar a conter a inflação em setembro, como telefone fixo e combustíveis, têm peso menor no INPC do que no IPCA, enquanto os alimentos devem continuar mostrando elevação de preços, mesmo que em menor ritmo. (AE)

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