LUISA BELCHIOR
Colaboração para a Folha de S.Paulo, no Rio
O trem com 800 passageiros que colidiu com outro vazio no dia 31 de agosto em Nova Iguaçu, região metropolitana do Rio, estava em velocidade acima da permitida para poder cumprir metas de horários estabelecidas pela SuperVia aos maquinistas, segundo depoimento à polícia do condutor da composição. O choque entre os trens deixou oito pessoas mortas e outras 101 feridas.
Norival Ribeiro Nascimento era o maquinista do trem que transportava passageiros no momento da colisão e prestou depoimento na noite de anteontem ao delegado titular da 58ª DP (Posse), Fábio Pacífico.
Segundo o delegado, o maquinista confirmou que trafegava a 85 quilômetros por hora, acima do limite de velocidade do trecho, de 60 quilômetros por hora. Mesmo com o alarme de velocidade máxima disparando, Norival contou, conforme o policial, que seguiu no mesmo ritmo porque "tinha que cumprir horário". "A empresa exige isso", afirmou o titular da 58ª DP.
O maquinista só começou a acionar o freio ao ver o sinal vermelho antes do cruzamento em que colidiu com o trem sem passageiros e não conseguiu parar a tempo. Segundo o delegado, Norival não estava acelerando, mas tinha acabado de passar por um declive na pista, o que ajudou aumentar a velocidade da composição.
Sinal verde
O maquinista disse ao titular da delegacia da Posse que também não reduziu a velocidade antes porque passara por dois sinais que estavam verdes, o que indica que o maquinista pode seguir em frente. Para que começasse a desacelerar, um deles deveria estar amarelo, afirmou o maquinista.
Este, para a polícia, é um outro fator que pode ter contribuído para a colisão. Pacífico disse que os peritos agora vão investigar por que o penúltimo sinal pelo qual o trem passou antes da colisão não ficou amarelo, como, segundo o delegado, é normal naquele sistema.
O delegado explicou que, pelo sistema do Centro de Controle de Operações da SuperVia, esta sinalização é acionada automaticamente quando há mudanças de linha como a feita pela composição em teste.
"Quando ele [o controlador] autoriza a manobra, automaticamente o sinal da estação de Austin fica vermelho, e o anterior [que estava verde] fica amarelo."
Segundo o depoimento do controlador Edson Assunção, que estava em operação no momento do choque, o acionamento desse sistema foi feito.
Segunda-feira
Procurada pela Folha para explicar sobre a política de cumprimento de metas de horário mencionada pelo maquinista Norival Nascimento Ribeiro, a SuperVia disse que só se pronunciará na segunda-feira. Na data, a concessionária vai divulgar o laudo com as causas do acidente que vem sendo realizado pelos seus próprios técnicos.
Para o professor de engenharia do transporte da COPPE/ UFRJ Amaranto Pereira, a provável causa da colisão foi a combinação de fatores como o excesso de velocidade, a falha da sinalização e o estado de conservação da via. "Nunca em um acidente dessa natureza dá para determinar qual foi a causa principal. Normalmente, são muitas causas, e a principal delas é o estado da via."
Hoje, parentes das vítimas, ferroviários e moradores de Austin vão participar de uma passeata no local onde aconteceu a colisão.
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