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5 de setembro de 2007

Darfur: Representantes de deslocados invadem edifício da ONU

Um grupo de representantes não oficiais de deslocados da região sudanesa de Darfur entrou hoje na sede da ONU na região, quando nela se encontrava o secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon.

Num comunicado publicado em Cartum pelo porta-voz do secretário-geral, indica-se que o incidente ocorreu minutos antes de uma prevista reunião entre Ban e três representantes acreditados dos deslocados, na sede da ONU em Al-Facher, capital de Darfur.

Segundo a nota, o grupo de sudaneses permaneceu vários minutos no edifício da ONU, até que os guardas os expulsaram.

Posteriormente, Ban foi transferido para um outro local, por razões de segurança, para encetar as conversações previstas.

Fontes oficiais explicaram horas antes que um grupo de várias dezenas de pessoas protestara porque os interlocutores escolhidos por Ban não incluíam qualquer representante dos grupo rebeldes de Darfur opostos aos acordos de paz e que continuam em armas.

A nota adianta que o incidente não alterará o programa previsto e que o secretário-geral da ONU manterá a sua agenda.

Ban chegou hoje de manhã a Darfur, para tentar acelerar o fim do conflito, que grassa nesta província do oeste do Sudão há mais de quatro anos.

«Durante demasiado tempo a comunidade internacional assistiu sem nada fazer (a este drama), como uma testemunha impotente. Isso está em vias de mudar», declarou terça-feira na universidade de Juba, sul do Sudão.

Em Al-Facher, Ban reuniu-se com o governador da região e deverá deslocar-se ainda ao local onde ficará instalado o futuro quartel-general UNAMID, a força híbrida ONU-União Africana que terá por missão pacificar esta região.

O conflito de Darfur fez 200.000 mortos e mais de dois milhões de deslocados, segundo a ONU. Cartum contesta estes números, afirmando que o número de mortos não ultrapassa os 9.000.

«No que respeita ao processo de negociação política, aproximamo-nos de um acordo quanto a um local e uma data», afirmou Ban, no avião que o transportava de Juba para Al-Facher.

«Espero poder finalizar (este acordo) muito em breve. Vou intensificar verdadeiramente o processo de negociações», acrescentou Ban, acompanhado pelo seu enviado especial encarregado do âmbito político do processo de Darfur, Jan Eliasson.

Eliasson esforça-se por fazer regressar à mesa das negociações os numerosos grupos rebeldes que não assinaram o acordo de paz de Abuja, em Maio de 2006, que fixa nomeadamente as etapas para um regresso à normalidade com disposições muito precisas sobre o desarmamento.

Em Agosto, oito grupos rebeldes de Darfur reunidos em Arusha, na Tanzânia, chegaram a acordo quanto a uma plataforma de reivindicações comuns, na perspectiva de negociações com Cartum, mas um influente dirigente rebelde, Abdulwahid Nour, boicotou a reunião. Ban exortou-o a sair do seu isolamento.

Segundo uma fonte da ONU, as conversações entre rebeldes e o governo poderão realizar-se em Outubro, na Tanzânia.

O estacionamento completo da UNAMID, que, com 26.000 homens será a mais importante missão de manutenção da paz no mundo, só é esperado para meados de 2008.

Ban indicou que, num encontro com o presidente sudanês Omar El-Béshir, segunda-feira, em Cartum, este lhe prometeu que «facilitará» o estacionamento da força nos planos «administrativo e logístico».

Sublinhando que «não há tempo a perder» e que «a cooperação do governo é essencial», disse que «apreciava o compromisso de Béshir em cooperar plenamente».

Béshir garantiu, por outro lado, a Ban que permitiria que um chefe rebelde de Darfur, tido como um possível mediador no quadro das conversações de paz, deixasse o Sudão para receber cuidados médicos.

Suleimane Jamus, confinado há mais de um ano num hospital, «continua no Sudão, mas esperamos fazê-lo sair ainda hoje», indicou um responsável da ONU que acompanha Ban.

Para além da manutenção da paz com a UNAMID e das negociações políticas, Ban quer agir no plano do desenvolvimento.

Deseja que a comunidade internacional contribua com uma ajuda financeira substancial para Darfur em domínios essenciais como as vias de comunicações, a saúde e, sobretudo, a água, bem raro nesta região desértica e uma das causas profundas do conflito.

Ban deverá regressar ao fim da tarde a Cartum, onde manterá quinta-feira encontros políticos, antes de prosseguir a sua digressão ao Chade e à Líbia.

Diário Digital / Lusa

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