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2 de janeiro de 2010

Chuvas matam pelo menos 38 em Angra; 54 no Estado do Rio


Mesmo com o dia ensolarado após o fim de ano chuvoso, os últimos turistas deixaram a Ilha Grande
Felipe Werneck e Alfredo Junqueira, de O Estado de S. Paulo



Mais um corpo é resgatado no Morro da Carioca, em Angra dos Reis
Wilton Junior/AE
Mais um corpo é resgatado no Morro da Carioca, em Angra dos Reis
ILHA GRANDE e ANGRA DOS REIS, RJ - Um dia após a tragédia provocada pelas chuvas que matou, pelo menos, 38 pessoas em deslizamentos de terra em Angra dos Reis, no litoral sul do Rio, turistas assustados decidiram deixar a Ilha Grande, onde o desmoronamento de uma imensa barreira destruiu uma pousada, quatro residências de moradores e três casas de veraneio. Na ilha já são 26 mortos; no Centro de Angra, outros 12. A chuva também castigou outras regiões do Estado do Rio. Balanço da Defesa Civil contabilizava, até esta manhã, um total de 54 mortes.


Mesmo com o dia ensolarado após o fim de ano chuvoso, dois saveiros partiram pela manhã da Enseada do Bananal, na Ilha Grande, com 120 turistas, os últimos que estavam na área do acidente. Cerca de 120 bombeiros, agentes da Defesa Civil e voluntários estão trabalhando na busca às vítimas na Ilha Grande e no Morro da Carioca, no continente, onde quatro corpos foram resgatados na manhã de ontem, elevando para 12 o número de mortes confirmadas no deslizamento de uma barreira sobre casas da comunidade. De acordo com a Defesa Civil, 337 pessoas estão desabrigadas na cidade, 565 desalojados e 189 residências interditadas.

Na Ilha Grande, dois corpos foram encontrados no início da manhã na Enseada do Bananal, somando 22 vítimas confirmadas na região. Segundo o prefeito de Angra, Tuca Jordão, moradores estimam que 13 pessoas desaparecidas podem estar sob o grande volume de lama e pedras levado pela chuva até a praia na madrugada do primeiro dia do ano. O resgate era dificultado pelo cenário de destruição e pelo cansaço dos agentes, que estão na região desde ontem.


Helicóptero ajuda nas buscas por vítimas de deslizamento em Ilha Grande. Marcos Arcoverde/AE

Pela manhã, os bombeiros começaram a utilizar cães farejadores nos trabalhos de resgate. Mais uma retroescavadeira chegou à ilha, transportada em uma balsa. Agora, dois equipamentos desse tipo são usados na retirada de toneladas de terra e pedras que encobriram sete casas e destruíram parte da Pousada Sankay. Com cerca de 500 metros de extensão, a enseada tem 278 moradores, uma comunidade muito ligada entre si.

Os habitantes de quatro casas, onde morreram 12 pessoas, eram da mesma família. Entre elas, estavam a mulher, as duas filhas e o genro de João Batista de Brito, único sobrevivente de uma das casas. A família trabalhava para os empresários da indústria naval Willian e Gisela Mac Laren. Segundo parentes, o corpo de uma das filhas, Gabriela, de 12 anos, foi enviado por engano para o Instituto Médico Legal do Rio. O de Angra está sobrecarregado.

Elizabeth de Brito, agente de saúde na ilha, perdeu uma irmã e um sobrinho e se queixou da dificuldade de reconhecer os corpos. "É um absurdo não deixarem eu ver o corpo do meu sobrinho", reclamou. O sobrinho foi reconhecido pelo marido dela, Carlos Alberto Geraldo, presidente da associação de moradores do Bananal, que ajudou o trabalho dos bombeiros. Segundo ele, a filha de João Batista, Aline, de 22 anos, foi encontrada ainda com vida, mas morreu antes de ser resgatada. "Ela estava soterrada até as pernas, abraçada à mãe já morta. Antes de morrer, ela disse: "Tio, estou com medo, estou sentindo frio'", contou, emocionado.

Escavadeira toma parte no resgate em Ilha Grande, litoral fluminense. Marcos Arcoverde/AE

Em uma das casas de veraneio, havia 17 pessoas de um grupo de amigos da cidade paulista de Arujá que costumavam passar o ano novo juntos. Pelo menos cinco corpos de integrantes do grupo foram encontrados. Outras cinco pessoas estavam desaparecidas. Entre os mortos, estão o casal Márcio e Cecília Baccim, que estava grávida de 6 meses. O filho deles, Giovane, de 3 anos, também morreu.

Também foram encontrados os corpos dos noivos Natália Pacheco e Ricardo Ferreira da Silva. Segundo moradores da região, a casa vizinha, que também foi soterrada, estava vazia. Os dois casais de turistas que a ocupavam teriam deixado o local antes da virada do ano incomodados com o barulho dos vizinhos.
Na terceira casa alugada, duas crianças de uma mesma família morreram. Sobrevivente, Cláudia Cristine Ribaski Brazil Repetto, de 42 anos, só foi informada ontem, por parentes, da morte das duas filhas, Gabriela, de 9 anos, e Geovana, de 12. Ela permanece internada na UTI do Hospital Copa D'Or, no Rio, mas não corre risco de morte. Segundo boletim médico, ela sofreu fratura em três costelas e teve esmagamento nas duas pernas, embora sem fraturas.

O marido de Claudia, Marcelo de Assis Repetto Filho, também sobreviveu e está internado no Hospital São Vicente, também na zona sul do Rio. Marcelo está com as funções renais prejudicadas e os médidos decidiram esperar 72 horas para emitir um parecer sobre a gravidade do caso. Na mesma casa, morreram também Renato de Assis Repetto e sua mulher, Ilza Maria Roland.

As chuvas provocaram muitos transtornos na Ilha Grande, que teve o fornecimento de água e energia prejudicados, assim como o sistema de telefonia. Muitas pousadas estão funcionando com geradores. Houve deslizamentos em outras regiões da Baía da Ilha Grande, como na ilha particular do cirurgião plástico Ivo Pitanguy, onde estava hospedado Pierre Sarkozy, filho mais velho do presidente da França, Nicolas Sarkozy. No entanto, as construções da ilha não foram atingidas.

A rodovia BR-101 tinha ontem 24 pontos de queda de barreira entre Angra e Paraty, alguns com crateras e desabamento de parte da pista, prejudicando a circulação de veículos na região.

(Colaboraram Alexandre Rodrigues e Irany Tereza)


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