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Só 18% das obras do setor energético foram concluídas; maioria é de usinas
Ana Paula Pedrosa
A
maior parte das obras de infraestrutura energética previstas no
Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) está com o andamento
satisfatório, segundo o oitavo Balanço do PAC, divulgado em setembro.
Segundo o relatório, das 689 ações monitoradas, 18% já foram
concluídas, 77% estão em ritmo adequado, 4% exigem atenção e apenas 1%
está em situação preocupante.
Os investimentos do setor
entraram na berlinda depois do apagão que deixou 18 Estados brasileiros
às escuras na semana passada. Mas, segundo especialistas, a geração de
energia no país é suficiente para manter as luzes acesas e os
equipamentos funcionando. O gargalo está na transmissão. "O que
aconteceu não foi falta de energia. Foi falta de transmissão. É como
ter uma caixa d’água cheia e morrer de sede porque não tem tubulação
para receber a água", diz o professor do Departamento de Engenharia
Elétrica da UFMG, Selênio Rocha Silva.
O problema é que a
energia de Itaipu, que representa 20% do consumo do país, é produzida
distante dos grandes centros consumidores, como São Paulo e Rio de
Janeiro, e depende de extensas linhas de transmissão para chegar ao
destino. O gargalo vai continuar mesmo depois de concluídas as obras do
PAC, já que as maiores usinas em implantação estão na região Norte. É o
caso de Santo Antônio (3.150 MW) e Jirau (3.300 MW), que ficarão
prontas em 2012 e 2013, respectivamente. As duas usinas ficam em
Rondônia. A usina de Belo Monte, ainda em fase de licenciamento, vai
gerar 11.233 MW no Pará.
As obras em andamento do PAC
garantirão 18,5 mil megawatts no sistema, a maior parte com previsão de
começar a gerar de 2010 a 2013. Em transmissão, já foram concluídas
sete linhas (1.537 km) e uma subestação, e foram iniciadas as obras de
cinco linhas (642 km) e duas subestações. Os investimentos somam R$
1,557 bilhão.
Emergencial. Para os especialistas, o ideal
seria uma solução emergencial para isolar o ponto com problemas e
redirecionar a carga. "Tem responder rapidamente em caso de pane", diz
o especialista no setor e diretor da Enercel Energia, Raimundo Batista.
De acordo com ele, era muito difícil prever que três linhas de
transmissão de Itaipu caíssem ao mesmo tempo. Essa é a causa mais
provável do apagão.
Batista diz que o sistema suporta a saída
de sua maior máquina, mas não da maior usina isoladamente. "Acidentes
sempre podem ocorrer, mas tem que haver uma manobra para retomar
rapidamente a interligação do sistema", diz o presidente da Sociedade
Mineira de Engenheiros (SME), Márcio Damázio Trindade.
Investimentos.
Claudio Salles, diretor do instituto Acende Brasil, destaca como
principal gargalo a excessiva concentração na expansão do sistema
interligado. "Tem sido colocado pelo governo que esta é a única
alternativa viável para a expansão e isso está longe de ser verdade",
afirma.
Salles recomenda dois estágios de investimentos. O primeiro,
defende, seria destinado a aumentar a velocidade da complementação da
oferta de energia, com a geração térmica entrando com mais frequência.
O
segundo estágio seria a incorporação da tecnologia alternativa, como,
por exemplo, a que utiliza hidrogênio ou outros combustíveis. "Esse
apagão é lamentável, mas pode ter servido como alerta, mostrando que
nem tudo está indo tão bem quanto fazem supor os investimentos
constantes no setor", disse, lembrando que o consumidor de energia paga
anualmente R$ 8 bilhões pelo transporte de energia em sua conta de luz.
(Com agências)
No Brasil, MWh custa o dobro dos EUA
Rio
de Janeiro. Além de insegura, como comprovou o blecaute de terça-feira,
a energia elétrica no Brasil é cara. Tão cara que supera o preço dos
Estados Unidos. Enquanto aqui, o custo do megawatt hora (MWh) foi de
US$ 138 em 2007, as empresas norte-americanas pagaram US$ 64 por MWh.
De
lá para cá, a situação não melhorou nada. Em uma década, a energia paga
pelas indústrias brasileiras subiu 247,39% contra uma inflação
acumulada, de 1999 até setembro último, de 93,74%.
Nas
residências, o aumento, no mesmo período, foi de 113,94%. E a energia
tende a ficar ainda mais cara, porque pouco mais de 80% da energia nova
que está prevista para entrar no sistema vem das térmicas, que custam
até seis vezes mais que a das hidrelétricas.
Consumo crescerá 45% até 2017
Atual rede de transmissão do país terá de ser ampliada em mais 36 mil km
Murilo Rocha
Brasília.
Em 2017, quando terá uma população estimada de 204 milhões de
habitantes, o Brasil irá consumir 45% a mais de energia elétrica, se
comparado ao consumo previsto para este ano. Pelos cálculos do Plano
Decenal de Expansão de Energia (2008 a 2017), divulgado no início do
ano pelo Ministério de Minas e Energia, a demanda do setor elétrico no
país vai passar de 411.644 bilhões de Watts por hora (GW/h), em 2009,
para 599.303 GW/h, em 2017.
No entanto, conforme o governo, não
há motivo para alarme se forem cumpridas todas as metas de investimento
e execuções de obras programadas para os próximos oito anos.
O
relatório, uma espécie de bola de cristal elaborada por técnicos da
área, leva em conta aspectos socioeconômicos do Brasil e do mundo, e
destaca o boom da demanda dos setores residencial e comercial, os
quais, diz a pesquisa, teriam um crescimento de consumo de eletricidade
de 49% e 68%, respectivamente, até 2017.
O setor industrial,
principal consumidor de energia elétrica no país, pelos cálculos do
ministério, também cresceria, mas sua participação dentro da demanda
nacional cairia de cerca de 46% para 43%. As regiões Sudeste e
Centro-Oeste juntas ainda serão, daqui a oito anos, quem mais gastam
eletricidade.
Investimento. O aumento da demanda, pelo menos em
tese, será acompanhado pelo reforço da infraestrutura na geração,
transmissão e distribuição da energia elétrica no Brasil, ao custo
estimado de R$ 181 bilhões até 2017. De acordo com o plano, haverá uma
adição de cerca de 54 mil MW de capacidade instalada no país – hoje ela
é de aproximadamente 100 mil MW –, sendo 16 mil MW em empreendimentos
de geração já contratados, como as usinas de Jirau e Santo Antônio, no
rio Madeira.
Orçamento. O governo bloqueou 23% do orçamento do
Ministério de Minas e Energia este ano. Isso significa que a pasta de
Edison Lobão sofreu uma retenção de quase R$ 6 bilhões, de acordo a ONG
Contas Abertas. O dinheiro deve ajudar o governo a cumprir a meta de
superávit primário.
Transmissão será expandida
Brasília.
Outra promessa no setor de energia elétrica para a próxima década é a
expansão do sistema de transmissão em 36.387 km de linhas em todo o
país, além do investimento na área de transformação. Conforme o
Ministério de Minas e Energia, os recursos previstos para o período são
da ordem de R$ 39 bilhões, sendo R$ 25 bilhões em linhas de transmissão
e R$ 14 bilhões em subestações.
Um dos projetos já licitados é a
integração de Manaus, Macapá e demais cidades da margem esquerda do rio
Amazonas, ao Sistema Integrado Nacional (SIN). O sistema contempla
1.810 km de linhas de transmissão e deve entrar em operação até 2012.
“A
gente, até 2013, está com toda a demanda atendida. A gente está olhando
para 2014 a 2018. Vamos fazer neste ano ainda leilão (de concessão de
energia) para 2014”, afirmou Mauricio Tolmasquim, presidente da Empresa
de Pesquisa Energética (EPE), uma das responsáveis pelo planejamento do
setor.
Ainda, segundo o Tolmasquim, o programa Luz para Todos
teve um peso importante para o aumento da demanda de energia no país.
“Houve uma retomada do que antigamente tinha, mas foi descontinuado na
década de 1990”, opinou. (MR com agências)
“Não é só o acidente, são também as consequências”
Queila Ariadne
O
que fez a maior hidrelétrica do mundo parar e deixar mais de 100
milhões sem luz? Itaipu não parou, ela foi desligada porque
a linha de transmissão caiu. Por que isso aconteceu não está explicado.
A linha de transmissão de Itaipu para o Sudeste não deu passagem à
corrente elétrica. São três linhas; uma entrou em colapso e as outras
duas, não sei por que cargas d’água, também caíram.
O apagão revela vulnerabilidade do sistema de energia brasileiro?
O
que aconteceu é a prova da vulnerabilidade. O sistema não deve cair
desse jeito, a energia de tantas cidades. Não sabemos onde essa
vulnerabilidade está, mas temos que pedir para que apure.
Mas o que aconteceu?
A
gente imagina algumas coisas como uma manobra errada, um programa de
computador errado, alguma ação não otimizada em alguma parte. Mas não é
só o acidente, são também as consequências. Caiu uma linha de
transmissão e caiu o Brasil todo, ou quase. Metade, pelo menos. A
dimensão do acidente é o problema. Tem que fazer um alinhamento para
não deixar o acidente se propagar tanto.
O que fazer para evitar que o problema se repita?
Tem
que ter um sistema mais inteligente no sentido de ser capaz de
circunscrever efeitos de um acidente. Mas primeiro tem que descobrir o
que aconteceu para saber como evitar repetição. É um problema de
engenharia elétrica, não é um problema de energia. Água nós temos.
É
grave o Brasil ser tão dependente de energia de hidrelétricas e,
principalmente, tão dependente de uma única usina, a de Itaipu? Não é
hora de investir mais em energias alternativas?
É sempre bom ter
outras fontes de energia, mas não é muito grave sermos dependentes de
Itaipu não. A gente pode ter uma boa performance, o Canadá tem um
sistema parecido com o nosso e funciona muito bem.
Qual a explicação para alguns Estados serem terem sido tão mais afetados pelo apagão do que outros?
Em
Minas Gerais, por exemplo, a Cemig explica que, assim que viu a queda
de energia, solicitou ao ONS autorização para liberar o seu excedente.
A explicação da Cemig pode orientar um tipo de procedimento que poderia
ter sido adotado em outros casos, mas não sei direito o que ela falou.
Agora, em relação aos Estados, pode ter algumas particularidades, ou
então pode ter sido casualidade mesmo. O sistema se propagou de certa
forma e foi para um lado e não para outro.
Qual a lição que fica?
Cidades
maiores devem ser mais protegidas do que as menores porque os efeitos
são mais graves, pois ela têm mais prédios, mais hospitais, linhas de
metrôs, as pessoas ficam presas. Acima de tudo, é preciso proteger os
grandes centros urbanos. Isso é uma forma inteligente de fazer uma
gestão do problema.
O apagão revela falta investimentos?
Certamente
uma coisa se liga à outra. Mas não creio que seja falta de
investimento, no sentido de fazer ligações. O Brasil está bastante
interligado e reforçou sua interligação. Em 2001, não havia as linhas
que temos hoje. Eram duas. Faltava a terceira linha e faltou capacidade
de ligação entre o Sul e o Sudeste. Hoje, não é isso. Há uma
instabilidade elétrica. Ou seja, o mundo todo dedica atenção a esse
problema.
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