O líder da oposição do Zimbábue, Morgan Tsvangirai, que ontem anunciou que não participará do segundo turno da eleição presidencial contra o presidente Robert Mugabe, buscou refúgio na Embaixada da Holanda em Harare, informaram autoridades holandesas nesta segunda-feira.
O Ministério de Relações Exteriores da Holanda informou que Tsvangirai não pediu asilo, mas disse que ele era bem-vindo a ficar na embaixada para sua própria segurança. Ainda não houve confirmação de seu partido, o Movimento pela Mudança Democrática (MDC).
Arte Folha Online |
O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores holandês, Bart Rijs, negou-se a especular por quanto tempo o líder opositor ficará na embaixada. "Seu partido, o MDC, apresentou um pedido no domingo e o ministro Maxime Verhagen decidiu, se o que ele (Tsvangirai) buscava era segurança, que fosse aceito", explicou.
"Tsvangirai realmente perguntou, através do MDC, seu partido, se a Holanda estaria disponível para dar a ele segurança nos próximos dias", disse o ministro Verhagen à rede de TV americana CNN.
"Ele mesmo está atualmente considerando quais serão seus próximos passos, então não posso dizer quanto tempo ele precisa, mas é claro que demos a ele a oportunidade de se refugiar na embaixada", afirmou o ministro, ainda segundo a CNN.
Operação
Mais cedo, o MDC disse que a polícia invadiu a sede do partido em Harare e levou mais de 60 pessoas. O partido afirma que cerca de 90 de seus partidários foram mortos por milícias que apóiam o presidente Robert Mugabe. Entre os detidos estão mulheres e crianças.
AP |
Policiais esperam do lado de fora da sede do partido opositor em Harare |
A operação, a maior lançada pelas forças governamentais contra o MDC, teve a participação de dezenas de membros das forças de segurança fortemente armados, que detiveram os que estavam na sede do partido e os colocaram em um ônibus policial, disse o porta-voz da oposição, Nelson Chamisa.
Segundo Chamisa, entre os detidos estão simpatizantes do MDC que tinham ido à sede central do partido após serem atacados e feridos por simpatizantes da governamental União Nacional Africana do Zimbábue-Frente Patriótica (Zanu-PF).
"Detiveram todos os que se encontravam no edifício, incluindo aqueles que tinham vindo em busca de assistência médica. A polícia está tentando destruir as provas de sua brutalidade", disse à Efe o porta-voz do MDC.
Fontes policiais disseram, no entanto, que as forças de segurança só tinham detido os que se refugiaram na sede do partido opositor, após ter "cometido crimes" nos arredores de Harare.
"Alguns deles nem sequer são empregados dos escritórios (do MDC). Estamos investigando alguns dos casos e colocaremos em liberdade os que não tiverem cometido nenhum crime", afirmou o porta-voz policial, Wayne Bvudzijena.
Negociações
Tsvangirai, que anunciou sua saída do processo eleitoral neste domingo, afirmando que seus apoiadores arriscariam a vida se votassem, disse nesta segunda-feira que estava pronto para negociar com o partido de Mugabe, o Zanu-PF, mas só se a violência política for contida.
Taurai Maduna/Efe |
O líder da oposição, Morgan Tsvangirai, que anunciou saída da disputa presidencial |
Ele também pressionou líderes regionais para que exijam o adiamento da eleição ou a renúncia de Mugabe, mas o governo afirmou que a desistência de Tsvangirai veio tarde demais para cancelar a eleição.
A preocupação se eleva dentro e fora da África com a crise política e econômica do Zimbábue, que fez com que milhares de refugiados fugisse aos países vizinhos. Tanto a União Africana quanto a Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral estão discutindo a situação após a desistência de Tsvangirai.
O Reino Unido disse que Mugabe deve ser declarado líder ilegítimo e que as sanções contra seus simpatizantes têm de ser endurecidas.
Tsvangirai afirmou à rádio sul-africana 702: "Estamos preparados para negociar com o Zanu-PF, mas é claro que é importante que certos princípios sejam aceitos antes do início das negociações. Uma das precondições é que a violência contra o povo tenha fim."
Lefteris Pitarakis/AP |
Manifestantes protestam contra o governo do Zimbábue em frente à embaixada em Londres |
Mugabe, 84, está no poder desde a independência do Reino Unido, em 1980. Ele prometeu nunca entregar o governo para a oposição, qualificada por ele de marionete do Ocidente.
Ele nega que seus partidários sejam responsáveis pela violência, que teve início após Mugabe e seu partido perderem as eleições realizadas em 29 de março. Tsvangirai venceu o primeiro turno das eleições, mas não conseguiu o número de votos suficiente para eliminar um segundo pleito. As tentativas de Tsvangirai de percorrer o país fazendo campanha estavam sendo interrompidas pela polícia em bloqueios nas estradas. Ele já foi detido ao menos quatro vezes.
www1.folha.uol.com.br/folha/mundo/ult94u415231.shtml
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