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7 de janeiro de 2007
Curdos do Iraque lamentam execução apressada de Saddam
Domingo 7 de Janeiro, 2007 11:39 GMT
Por Sherko Raouf
SULAIMANIYA (Reuters) - Sarwa Omar, dona-de-casa curda-iraquiana de 26 anos de idade, teve o pai morto nos campos da morte do Curdistão nos anos 1980s. Ela chorou de raiva quando Saddam Hussein foi enforcado, na semana passada.
"Não chorei porque gostava dele. Chorei porque ele não pôde ser enforcado pelo caso de Anfal", disse Omar, em referência à campanha militar de Saddam em 1988 contra a etnia curda que segundo promotores deixou 180.000 mortos, muitos deles vítimas de gás.
"As autoridades curdas não teriam deixado isso acontecer."
Alguns curdos dizem que a execução de Saddam no dia 30 de dezembro por crimes contra a humanidade -- pelas mortes de 148 xiitas -- tirou-lhes a oportunidade histórica de julgar o líder deposto pelo crime mais grave de genocídio. O caso de Anafal será retomado nesta segunda-feira em uma corte de Bagdá.
O primeiro-ministro do Iraque, o xiita Nuri al-Maliki, apressou a execução do antigo inimigo, apesar dos pedidos de adiamento feitos por autoridade dos Estados Unidos e das reservas de outros parceiros na coalizão de governo que esperavam meses de processo de apelação para dar mais tempo para a apresentação de queixas.
"Por que não esperaram até o final do caso de Anfal para executá-lo?", disse Satar Karim, 63, que teve três irmãos mortos em Anfal.
"O governo matou Saddam porque está subestimando o que aconteceu em Anfal. Que vai nos compensar agora?"
Adala Omar, funcionário público na cidade curda de Arbil, disse que a maioria xiita que está no poder desde que a invasão norte-americana acabou com o regime sunita de Saddam acelerou o caso para obter uma vitória política em detrimento do processo judicial.
Os curdos esperavam julgar Saddam por outras acusações, incluindo ataque com gás químico contra a cidade curda de Halabja, que matou 5.000 pessoas em 1988.
"Acho que a execução de Saddam no caso de Dujail é uma decisão política", disse Omar. "Os xiitas são a parte mais forte no governo e eles impuseram sua vontade na escolha do momento."
Os árabes sunitas ficaram irritados com o vídeo mostrando autoridades xiitas gritando palavras contra Saddam na hora da execução.
Outros curdos lamentam que Saddam não está mais na corte, mas dizem que se sentirão vingados se forem decretadas sentenças de culpa contra outros seis acusados, incluindo Ali Hassan al-Majid, conhecido como "Ali Químico" e considerado o maior comandante do ataque em Anfal.
Anfal, os Espólios de Guerra, recebeu o mesmo nome que um capítulo do Corão. Os curdos acusam Majid de ter participado das mortes de dezenas de milhares de pessoas com ataques com gases, execuções sumárias, tortura e destruição de centenas de aldeias. A exemplo de Saddam, ele enfrenta acusações de genocídio.
Outros curdos temem que a ausência de Saddam diminua o interesse no julgamento de Ansfal.
"A mídia não vai mais ligar", disse Abdul Rahman Zebari, advogado para acusações civis no caso.
Shamse Khader, 50, que perdeu um filho e um marido -- desaparecidos depois que foram levados por soldados de Saddam, em 1988 -- disse que a morte do ex-líder enterrou todas as suas esperanças.
"Esperei todos estes anos para ouvir algo sobre ele. Agora perdi toda a esperança."
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