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26 de fevereiro de 2007

A revolução da mudança climática

O mundo está atravessando uma enorme transformação política, na qual a mudança climática se transferiu para o centro da política nacional e global. Para políticos em persistente recusa em torno da necessidade de agir, como o presidente dos EUA, George W. Bush, o primeiro-ministro australiano John Howard e o primeiro-ministro canadense Stephen Harper, não resta mais nenhum lugar para se esconder. A ciência é clara, as mudanças no clima produzidas pelo homem estão sendo sentidas e cresce a demanda do eleitorado por ação. Embora improvável há alguns meses, um vigoroso entendimento global até 2010, que poderá estabelecer uma rota de ação para as próximas décadas, hoje tem uma boa probabilidade de ser implementado. Líderes políticos de países que produzem carvão, petróleo e gás - como EUA, Austrália e Canadá - fizeram de conta que a mudança climática era uma mera hipótese. Por vários anos, a administração Bush tentou ocultar os fatos do público, eliminando referências ao clima produzido pelo homem dos documentos governamentais e até tentando suprimir declarações de proeminentes cientistas do governo. Até recentemente, a Exxon Móbil e outras companhias pagaram lobistas para tentar distorcer o debate público. A verdade, porém, triunfou sobre as manobras políticas. O próprio clima está mandando uma mensagem poderosa e muitas vezes devastadora. O furacão Katrina conscientizou o público dos EUA de que o aquecimento global muito provavelmente elevará a intensidade das tempestades destrutivas. Igualmente, a grande seca da Austrália no ano passado zombou da atitude arrogante de Howard com respeito à mudança climática. Os próprios cientistas se empenharam com grande sentido de propósito na educação do público. Podemos agradecer às Nações Unidas por isso. A ONU patrocina o Painel Intergovernamental para Mudança Climática (IPCC), um organismo mundial com centenas de cientistas climáticos que reporta ao público a cada número de anos sobre a ciência da mudança climática. Neste ano, o IPCC está divulgando a sua quarta série de relatórios, começando pelo publicado no começo de fevereiro. Aquele relatório foi inequívoco: reina um consenso poderoso de que a atividade humana, principalmente a queima de combustíveis fósseis (carvão, petróleo, gás), bem como o desflorestamento e outros usos da terra (como a cultura do arroz com casca), provoca maciças emissões de dióxido de carbono lançadas para o ar. Isto está provocando mudança no clima, que está se acelerando e representando graves riscos ao planeta. A maior ameaça isolada vem da produção e consumo de energia para eletricidade, transportes e para calefação e refrigeração de edifícios. Mas os cientistas e engenheiros do mundo, bem como líderes mundiais em tecnologia, como a General Electric, também estão enviando uma mensagem clara: podemos resolver o problema a um custo modesto se empenharmos os nossos melhores pensamentos e ações em soluções reais. Ao mudar para fontes alternativas de energia, economizando no uso da energia, e capturando e armazenando seguramente o dióxido de carbono produzido pelos combustíveis fósseis, a sociedade global pode limitar as suas emissões de dióxido de carbono a níveis prudentes a um custo estimado de menos de 1% da renda global. A passagem para um sistema de energia sustentável não virá rapidamente e exigirá novos tipos de usinas de energia elétrica, novos tipos de automóveis e "edifícios verdes", que economizam em uso de energia. A passagem para um sistema de energia sustentável não virá rapidamente e exigirá novos tipos de usinas de energia elétrica e automóveis O processo levará décadas, mas precisamos começar agora e atuar numa base global, usando tributos sobre carbono e licenças de emissão para criar incentivos baseados no mercado para que empresas e pessoas possam realizar as mudanças necessárias. Estes incentivos virão a um custo modesto e com enormes benefícios, e podem ser planejados para proteger os pobres e deslocar o ônus da mudança climática para os que podem arcar com ele. Uma escala de prazos razoáveis é possível. Até 2007, todos os governos do mundo devem iniciar conversações em torno de um sistema de mudança climática para os anos que se seguirem a 2012, quando expira o presente Protocolo de Kyoto. Princípios básicos devem ser estabelecidos durante 2008 e, até 2009, a comunidade mundial, incluindo as duas maiores emissoras de dióxido de carbono, EUA e China, deverá estar pronta para estabelecer um acordo sério, que deverá estar concluído até 2010 e ratificado em tempo de substituir o Protocolo de Kyoto. O Protocolo de Kyoto representou a primeira tentativa de criar esse tipo de sistema, porém ele só se aplicava aos países ricos e só estabeleceu objetivos modestos. O país mais rico e que mais contribui para a mudança climática global, os EUA, nem assinou. Assim como a Austrália. O Canadá assinou, mas não agiu. O mesmo fizeram enormes usuários de energia como China e Índia, que devem integrar qualquer solução significativa, [e que] enfrentam graves responsabilidades com base no Protocolo de Kyoto. Tudo isso precisará mudar. Todos os países deverão compartilhar as suas responsabilidades com o resto do mundo e com as gerações futuras. Hoje existe uma forma de as companhias e as pessoas se fazerem ouvir. O Instituto Terra na Universidade Columbia, que dirijo, recepcionou uma mesa-redonda global de empresas líderes, grupos ambientais e outras organizações internacionais para chegar a um consenso visando ajudar a informar as negociações que se aproximam. A mesa-redonda produziu uma importante Declaração de Princípios e uma declaração abrangente mais extensa que foi assinada por várias dentre as maiores empresas do mundo, incluindo as sediadas nos EUA, Europa, Canadá, China e Índia. Grande parte dos cientistas mais destacados do mundo também assinou. A mudança climática global requer decisões globais e iniciativas como a mesa-redonda mostram que podemos encontrar áreas de consenso para uma ação poderosa. Chegou a hora de os reticentes se unirem ao esforço. Jeffrey D. Sachs é livre-docente de Economia e diretor do Instituto Terra na Universidade Columbia. É também consultor especial para as Nações Unidas na questão das Metas de Desenvolvimento | Voltar | Imprimir | Enviar para um Amigo | Indicar o site | { Costa }

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