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26 de fevereiro de 2007

Diários ‘teen’ inspiram cartilha sobre sexo

ALINE OLIVEIRA Um caderninho onde pode-se registrar todos os detalhes da iniciação na vida amorosa, contando as melhores ficadas, melhores baladas, músicas que mexem com o coração e os contatos dos amigos mais importantes. E mais: tudo confidencial! Não, não se trata das velhas e já conhecidas agendas que as adolescentes enfeitam ao longo do ano ou dos diários, que ainda mantêm a tradição de serem trancados com cadeado. Trata-se da mais nova publicação que o governo federal lançou no final do ano passado e este ano deve chegar às mãos de alunos das escolas públicas de todo o país, inclusive da Paraíba, chamada “Caderno das Coisas Importantes”. Apesar de uma certa polêmica gerada pela sua linguagem considerada “avançadinha demais”, a proposta é bastante simples: oferecer um instrumento que será útil e atrativo aos adolescentes para, pegando carona, falar sobre sexo seguro. A idéia é do Programa Nacional de DST e Aids do Ministério da Saúde e foi realizada em parceria com o Ministério da Educação. Em sua apresentação, a publicação já deixa claro: “isto não é uma agenda, não é um diário, não é uma cartilha”. “É um arquivo – um arquivo de coisas importantes”, complementa, tentando maquiar a aparência fortemente educativa do projeto. Para quem já teve a oportunidade de xeretar a agenda de um adolescente – ou se lembra de como era a sua própria – não vai haver muita estranheza em relação ao conteúdo do material. A reportagem do JORNAL DA PARAÍBA teve acesso à publicação, cuja arte realmente imita um caderno e utiliza linguagem totalmente adaptada ao jeito adolescente de falar, lançando mão de algumas gírias para conseguir “dar o recado” de forma mais eficiente. Está tudo lá, desde as frases sobre amizade e amor de poetas conhecidos ou não; três páginas para anotar apelido, telefones e contatos virtuais dos amigos, incluindo MSN, blog e e-mail; espaço para registrar as melhores baladas e agitos, as comidas preferidas, as músicas memoráveis, os hobbies e os livros e filmes preferidos. E, claro, outras três páginas destinadas a fotos e mensagens dos amigos autorizados a terem acesso ao caderno. Em meio a tudo isso, o Ministério dá seu recado, através de um jogo de perguntas e respostas sobre Doenças Sexualmente Transmissíveis (DSTs) e Aids, onde o adolescente vai poder saber, por exemplo, o que não deve fazer em caso de observar algum sintoma das doenças e qual a diferença entre HIV e Aids. Se ainda restam dúvidas, o caderno lembra que basta ligar para o Disque-Saúde, através do telefone 0800-61-1997. SEXO SEGURO “Os adolescentes não vão fazer mais sexo por causa disso. Eles já são estimulados, o que vai acontecer agora é que terão acesso a informações claras e que vão ajudar a fazer sexo de forma segura e saudável”. Esta é a opinião do psicólogo escolar Aluízio Lopes, que comemorou a iniciativa dos Ministérios em, com o lançamento da publicação, incentivar a discussão sobre sexo dentro das escolas. Aluízio reclama que todo mundo está falando de sexo “pela janela”, principalmente através dos anúncios publicitários, estimulando o interesse dos adolescentes por um sexo ligado apenas ao consumo. “Sexo é para ser vivido e não consumido e eles têm direito de saber, inclusive, que não precisam fazer sexo para serem homens e mulheres, que esta questão é muito mais ampla”, acredita. A escola teria, portanto o papel de falar do sexo a partir do ponto de vista da ciência, dando a oportunidade dos alunos conhecerem seu próprio corpo, parte considerada indispensável para se viver a sexualidade de forma saudável. Governo vai distribuir 400 mil cartilhas no País O caderno foi lançado ano passado, nas comemorações pela passagem do Dia Internacional de Luta Contra a Aids, no dia 1º de dezembro. O governo federal encomendou 400 mil exemplares que serão encaminhados para a escolas públicas de todo o país ao longo do ano. A publicação reafirma o compromisso do governo federal com a promoção da saúde e a prevenção das DST e da aids nas escolas públicas. Parte de um programa conduzido pelo Ministério da Educação, Ministério da Saúde, Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) e Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), o caderno pretende ajudar 97,6 mil escolas a trabalhar o tema DST/Aids na sala de aula. No início do ano, os dois Ministérios já haviam anunciado uma outra iniciativa inusitada: a partir do ano que vem os alunos da rede pública de ensino poderão ter acesso a máquinas que liberam camisinhas. O trabalho começa este ano, com um concurso aberto a alunos dos Centros de Formação Tecnológica (Cefet), que vão poder desenvolver o equipamento que deverá ser utilizado semelhante a uma máquina de refrigerante. Em João Pessoa, os jovens de 15 a 24 anos representam 46% dos casos registrados de aids entre os moradores da cidade, índice que vem aumentando principalmente nos últimos três anos, quando cresceu o acesso aos serviços de diagnóstico da doença. A principal justificativa do projeto é a necessidade de incentivar os estudantes a tornarem a prevenção parte do cotidiano. “A intenção é associar a tecnologia do equipamento a uma tecnologia social capaz de desenvolver uma cultura de saúde e prevenção para esses jovens”, acredita a coordenadora geral de Articulação da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade (Secad) do Mec, Rosiléa Wille. (AO) Tabus são abordados com humor Tabus também entram na publicação, que talvez por isso esteja provocando tanta polêmica. Estão lá a masturbação feminina e as desculpas mais comuns apresentadas para deixar a camisinha de lado na hora do ato sexual. Tudo com muito bom humor, como o anúncio do “maravilhoso espetáculo do preservativo: o pirata da barba negra e de um olho só encontra o capuz emborrachado”. A publicação indica que todos, inclusive as meninas e os que ainda não tiveram uma relação sexual, devem ter sempre um preservativo por perto. “Ter uma camisinha não é sinal de sem vergonhice e nem de segundas intenções. Quem decide o momento certo de ter uma relação sexual é você e não a camisinha”, aconselha. Despreocupada com a polêmica, a diretora do Programa Nacional DST/Aids, Mariângela Simões, é enfática ao falar sobre a opção da linguagem utilizada na publicação. “O foco é o jovem, não a eventual censura que possa vir de um pai. A realidade é essa, ‘ficar’ hoje é parte da vida de muitos jovens”, explica. Para ela, é papel do estado oferecer informação à população, o que deve ser feito da forma mais clara possível. (AO) { Costa }

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