O governo do Tibete no exílio estima que pelo menos 80 pessoas morreram nos protestos contra o domínio chinês na região autônoma na sexta-feira e no sábado.
As autoridades tibetanas beaseadas na Índia afirmam que o número foi confirmado "por diversas fontes", mas o governo da região autônoma, que tem o apoio de Pequim, reconhece dez mortos.
"As informações vêm de parentes e de fontes do nosso departamento de segurança. Elas (informações) foram confirmadas várias vezes", disse Tenzin Takla, uma fonte próxima ao Dalai Lama, líder espiritual dos tibetanos.
Ainda segundo Takla, entre os 80 mortos estariam 26 pessoas mortas no sábado perto da prisão de Dratchi, em Lhasa.
Outros corpos foram encontrados perto do templo budista de Ramoche, de uma mesquita e de uma catedral.
As restrições impostas pela China à entrada de jornalistas estrangeiros no Tibete torna a apuração do que está acontecendo no local extremamente difícil.
Genocídio cultural
Neste domingo, o líder espiritual do Tibete, Dalai Lama, pediu uma investigação internacional sobre o que caracterizou como genocídio cultural cometido pelas autoridades chinesas na região autônoma.
Em uma entrevista à BBC, o lama - palavra tibetana que designa o mestre ou líder espiritual - disse ter sentido "o mesmo espírito de 1959", quando o último grande levante tibetano contra a ocupação chinesa acabou obrigando-o a se exilar no exterior.
"(A situação) se tornou muito, muito tensa. O lado tibetano está determinado. O lado chinês está igualmente determinado. Isso significa: mortes e mais sofrimento", declarou ele.
"O governo chinês não está vendo a realidade. Eles acham que só porque têm armas têm o controle. Sim, podem controlar. Mas não podem controlar a mente humana. Quanto mais repressão, mais ocupação militar e mais repressão militar, mais ressentimento."
As declarações foram feitas em Dharamsala, no norte da Índia, onde o guru vive desde 1959. Mais tarde, ele falou a um grupo de jornalistas e pediu uma investigação para "descobrir o que está acontecendo" na região do Tibete.
"Por favor, investiguem por sua conta, ou se possível com alguma organização internacional, primeiro, qual é a situação no Tibete, e quais são os prejuízos", pediu ele aos repórteres.
"Que o governo chinês admita ou não, este é o problema. O problema é que uma nação com um patrimônio cultural antigo está enfrentando sérios perigos."
Amigos e inimigos
Neste domingo, a capital do Tibete, Lhasa, amanheceu tranqüila, com soldados chineses patrulhando as ruas da cidade e do centro velho.
Uma emissora de TV de Hong Kong afirmou que cerca de 200 veículos militares, cada um carregando 60 soldados armados, estão na cidade.
A BBC apurou que tropas da província vizinha de Chengdu tiveram as férias canceladas e estão aquarteladas.
"Diferencie entre inimigos e amigos, mantenha a ordem", diz uma mensagem emitida em altos-falantes públicos na cidade.
Jovens radicais
O governo deu aos manifestantes um prazo até a meia-noite da segunda-feira para se renderem.
As autoridades tibetanas prometeram poupar aqueles que se arrependerem - e responder "com força" aos que insistirem no que qualificam de "atos criminosos".
Mas o Dalai Lama disse não poder garantir que os manifestantes voltem atrás, mesmo que ele faça apelos pelo fim da violência.
"Não sei (se os manifestantes estão dispostos a se render)", disse ele à BBC. Segundo o lama, as gerações mais jovens, tanto no Tibete quanto no exílio, estão mais ressentidas e menos tolerantes em relação à China que gerações anteriores.
Na sexta-feira, os manifestantes perseguiram chineses que vivem na cidade, acenderam fogueiras para incendiar seus pertences, realizaram saques e queimaram lojas.
De outro lado, a polícia teria utilizado bombas de gás lacrimogêneo para dispersar manifestantes que desafiaram o toque de recolher imposto pelo governo chinês.
"Não estamos querendo independência ou secessão", disse o Dalai Lama. "Estou totalmente comprometido com a estabilidade, unidade. Isto é essencial. Mas a estabilidade e a unidade devem vir do coração."
O líder espiritual tibetano enfatizou que ainda apóia a realização das Olimpíadas em Pequim, em agosto.
Em sua opinião, é a oportunidade para os chineses demonstrarem alinhamento aos princípios da democracia e da liberdade de expressão.
http://oglobo.globo.com/mundo/mat/2008/03/16/governo _tibetano_no_exilio_estima_80_mortes_em _confrontos-426257990.asp
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