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13 de abril de 2008

Berlusconi deve vencer eleições na Itália, diz analista

FERNANDA BARBOSA

Colaboração para a Folha Online

Em meio à crise econômica e ao descontentamento da população com o atual governo, a Itália realiza neste domingo e nesta segunda-feira as suas eleições parlamentares. O cargo de prêmie é disputado por Silvio Berlusconi, líder do partido conservador Povo da Liberdade (PDL), e Walter Veltroni, do Partido Democrático (PD).

Para Giovani Orsina, professor de Ciência Política da Universidade Livre Luiss Guido Carli (Roma), Berlusconi é o favorito na disputa. "Mesmo que ele não obtenha a maioria no Senado, deve vencer as eleições", disse o analista em entrevista à Folha Online.

AP
Os candidatos a premiê na Itália, Walter Veltroni e Silvio Berlusconi
Os candidatos a premiê na Itália, Walter Veltroni e Silvio Berlusconi

Questionado sobre a possibilidade de empate, o professor afirmou que, caso haja uma votação muito acirrada no Senado, os partidos concorrentes provavelmente farão uma coalizão. "Acredito que os dois partidos estão mais próximos do que antes, e que Berlusconi e Veltroni legitimam um ao outro".

Na entrevista, o professor italiano diz que a Itália "está se tornando mais democrática" desde 1994. "Eu acredito que, mesmo muito vagarosamente e com muitos problemas, nós estamos chegando a uma situação onde todos os partidos podem governar e se alternar no poder", afirma.

Segundo Orsina, os italianos estão "desiludidos" com a crise econômica e esperam um governo estável, mas o país tem "problemas estruturais que não serão resolvidos "da noite para o dia".

Leia a íntegra da entrevista concedida à Folha Online:

Folha Online - Berlusconi aparece oito pontos à frente de Veltroni nas últimas pesquisas de intenção de voto. Você acredita que ele é mesmo o favorito?

Giovani Orsina - Sim. Oito pontos parecem muito para mim, acredito que ele esteja cinco ou seis pontos na frente, mas os números das pesquisas não importam tanto. De qualquer maneira, acredito que Berlusconi deve vencer as eleições. Mesmo que não obtenha a maioria no Senado, ele deve ganhar.

Folha Online - Analistas políticos têm apontado a possibilidade de empate entre Berlusconi e Veltroni, e a formação de uma coalizão. Isso é provável?

Giovani Orsina - Isso dependerá do resultado no Senado. Há uma grande possibilidade de que Berlusconi alcance a maioria na Câmara. Porém, em razão do sistema eleitoral diferente, pode ser que ele não consiga a maioria no Senado. Neste caso, o governo de coalizão pode ser uma possibilidade.

Folha Online - Mas Veltroni e Berlusconi poderiam governar juntos com tranquilidade?

Giovani Orsina - Eu acredito que sim. Essa campanha eleitoral tem sido bem diferente das anteriores. Apesar de, nesses últimos dias, ambos terem retornado para uma estratégia de ataque verbal, a campanha de 2008 tem sido muito mais calma do que as de 2006, 2001 e 1996.

Então, acredito que os dois partidos [Partido Povo da Liberdade, de Berlusconi, e Partido da Democracia, de Veltroni] estão mais próximos do que costumavam ser. E, de qualquer maneira, Berlusconi e Veltroni legitimam um ao outro.

O governo de coalizão será possível desde que sejam estabelecidos pontos programáticos precisos. Eles precisam definir o que vão fazer juntos para depois de alguns anos rumarem para uma nova dissolução, em uma nova eleição.

Folha Online - A falta de apoio do partido opositor prejudicou o ex-premiê italiano Romano Prodi?

Giovani Orsina - Prodi foi prejudicado porque sua coalizão era muito dividida e havia muitas brigas. Esse foi o maior problema, e não a oposição. E esse é o motivo do Partido Democrata [de Veltroni] ter ido sozinho para as eleições deste ano, em vez de em uma coalizão com o Partido Arco-Íris, de esquerda.

Folha Online - Em um programa de TV nesta semana, Berlusconi atacou Veltroni, criticando seu passado como comunista, além de sugerir que o seu partido é o ex-Partido Comunista com um outro nome. Estas questões são apenas marketing ou possuem um significado político?

Giovani Orsina - Elas já tiveram um significado verdadeiro, pois a política italiana se tornou uma luta bipolar desde 1994, entre o anticomunismo do partido de Berlusconi e o "antiberlusconianismo" dos partidos de esquerda. Mas a campanha deste ano tem sido muito diferente das outras. Nós não tivemos quase nenhum sinal de anticomunismo ou "antiberlusconianismo" até os últimos dias. No último momento, a questão veio à tona como parte do jogo. Eu acredito que agora isso é somente marketing político. O radicalismo é algo que ficou para trás, mas está sendo utilizado para convencer eleitores.

Folha Online - Isso significa que, se Berlusconi vencer as eleições, ele vai suspender os ataques e suas posições mais polêmicas?

Giovani Orsina - Ele está propenso a isso. Bom, a política italiana sempre foi baseada em brigas verbais, e eles não vão parar com isso repentinamente. Mas os dois partidos tenham um interesse comum: fazer a política italiana girar em torno deles mesmos, para que todos os pequenos partidos sejam marginalizados ou desapareçam. Se Berlusconi vencer, vai tentar abrir um diálogo com Veltroni, que estará interessado nessa comunicação para manter a política italiana entre eles e enfraquecer os partidos menores.

Folha Online - A Itália passou por diversos governos em seus 60 anos como república. Isso quer dizer que os governantes nunca conseguiram o apoio suficiente dos outros partidos, ou é um sinal de democracia?

Giovani Orsina - Eu acredito que não há democracia sem alternância de poder. Na verdade, a Itália é uma democracia desde 1948, quando nossa Constituição foi escrita. Mas a democracia não era completa, não havia alternância no poder. O partido de oposição era o Partido Comunista, fortemente ligado à Moscou, e isso tornou impossível que ele fosse eleito o partido governante. O que tem acontecido desde 1994, é que a Itália, mesmo com muitos problemas, está mais democrática. Eu acredito que, mesmo muito vagarosamente e com muitos problemas, nós estamos chegando a uma situação onde todos os partidos podem governar e se alternar no poder.

Folha Online - Um provável governo de coalizão que pode unificar os interesses dos partidos deve prejudicar ou colaborar com a democracia?

Giovani Orsina - Se não houver maioria clara no Senado, muitas coisas podem ocorrer. Acredito que a melhor alternativa, que não será fácil de colocar em prática, é um governo de coalizão entre Berlusconi e Veltroni. Se Berlusconi vencer também no Senado, não será do seu interesse fazer um governo de união, e ele irá governar sozinho. De qualquer maneira, será do interesse dos dois discutir reformas para fazer da Itália uma democracia viável, com dois partidos que se alternem no poder. Eu não estou dizendo que as coisas vão se tornar melhores do que estão. Existem muitas contingências, tudo será difícil.

O sistema político italiano tem problemas de estabilidade, e todos os partidos políticos sabem disso. Então, independentemente de quem vencer, os problemas terão de ser enfrentados. E se eles vão ter êxito ou não, nós só saberemos vendo.

Folha Online - A economia italiana está em crise. Quais ações os candidatos devem colocar em prática após as eleições para atenuar o problema?

Giovani Orsina - O sentimento na Itália é que a crise deve ser dura. O país tem problemas estruturais que não podem ser resolvidos da noite para o dia, e os dois partidos não estão prometendo muito. Até mesmo Berlusconi, que é sempre otimista, não disse que vai solucionar o problema. Todos dizem que a situação é difícil, que os problemas italianos são profundos. Eles vão fazer o que puderem, mas os próximos anos serão duros.

Folha Online - Qual o papel dos eleitores que votam de outros países nas eleições italianas? Eles podem influenciar no resultado final?

Giovani Orsina - Se o resultado for claro, não. O que aconteceu nas últimas eleições foi que o resultado no Senado foi muito apertado e [Romano] Prodi teve uma vantagem tão pequena que cada voto fez a diferença. Nesse caso, os senadores eleitos por votos fora da Itália tiveram uma importância. Mas somente nesse caso, com uma margem de vitória muito pequena no Senado, os votos do exterior podem ser importantes.

Folha Online - Berlusconi criticou Veltroni por ser muito liberal nas políticas de imigração. Caso ele seja eleito, que medidas devem ser tomadas?

Giovani Orsina - O governo Berlusconi (2001 - 2006) colocou limites mais exigentes para a imigração, abriu centros para os imigrantes ilegais, que poderiam ser capturados e deportados e fixou cotas para imigrantes. O governo de [Romano] Prodi foi mais liberal nesta questão. Na verdade, acredito que os imigrantes ilegais são um problema real, mas as cotas estabelecidas por Berlusconi eram rígidas demais. O que vai acontecer é que eles devem manter algum tipo de política intermediária.

Folha Online - O que os italianos esperam das eleições?

Giovani Orsina - A população está desiludida. Já passou por governos de direita e governos de esquerda, mas nenhum deles conseguiu resolver alguns problemas básicos do país. A população não espera muito das eleições, mas gostaria de ter um governo estável, com uma maioria clara e possivelmente algum tipo de diálogo entre os dois principais partidos para que sejam feitas algumas reformas constitucionais capazes de estabilizar o sistema político nacional.

www1.folha.uol.com.br/folha/mundo/ult94u391571.shtml

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