BRASÍLIA - O ministro da Educação, Fernando Haddad, confirmou na noite desta terça-feira que o professor aposentado de direito da UnB e ex-secretário de Segurança do Rio de Janeiro no governo Benedita da Silva, Roberto Aguiar, é o reitor interino da instituição até que o novo reitor seja eleito. Aguiar foi o promeiro colocado da lista tríplice entregue nesta terça a Haddad. Roberto Aguiar foi o mais votado, com 40 votos, seguido por Lurde Bandeira (Departamento de Sociologia), que obteve 30 votos, e Gileno Marcelino (Faculdade de Ciências Sociais), 24 votos.
Antes do anúncio, Roberto Aguiar, de 67 anos, já falava como reitor. Ele disse que, caso nomeado, suas primeiras providências serão liberar o prédio da reitoria, que está ocupado por estudantes desde o último dia 3, analisar as contas da instituição e retomar "o mínimo de normalidade" no funcionamento da universidade.
Aguiar afirmou em seguida que travará um diálogo com todos os seguimentos da universidade para realizar as eleições que escolherão o futuro reitor. Ele evitou fixar prazos sobre o cronograma eleitoral e disse que daqui a 20 dias acredita que já será possível ter clareza sobre a consulta.
O professor defendeu uma investigação feita pela própria universidade sobre a relação da instituição com suas fundações de apoio.
" A gente tem que erradicar qualquer tipo de desvio de conduta "
- Não se pode brincar com investigação. Se for para abrir uma investigação, é de verdade. Só para inglês ver não pode. Fundação é para ser investigada. O que tem de errado é para ser punido. A gente tem que erradicar qualquer tipo de desvio de conduta - disse.
Ele criticou Timothy Mulholland, ressalvando, porém, que não há condenação judicial contra o ex-reitor. E avisou também que não fará uso do apartamento funcional.
- Não gosto de julgar as pessoas. Não dá para falar que alguém é culpado antes de ser condenado. No mínimo, foi um tremendo erro administrativo.
Sobre a reivindicação dos estudantes de que se faça um leilão com a mobília do apartamento funcional, ele disse que primeiro quer verificar o que foi comprado e quais itens podem ser utilizados por departamentos da universidade.
- Às vezes a gente faz leilão e depois a universidade precisa - disse, brincando sobre a lixeira de R$ 990 - Essa aí é para fazer um símbolo.
Em relação ao grupo que administrava a universidade nas três gestões passadas, Aguiar disse:
- Ela (a universidade) foi encampada por um grupo que se fechou e não deixou a universidade participar (...) Chega de dinastias.
" Ela (a universidade) foi encampada por um grupo que se fechou e não deixou a universidade participar (...) Chega de dinastias "
Ao falar para os membros do Consuni e estudantes que acompanhavam a reunião, Aguiar defendeu a paridade - peso igual para professores, funcionários e alunos nas eleições - deve ser discutida, mas evitou se comprometer com a questão:
- Têm várias nuances no Brasil inteiro. Tem que fazer a paridade da maneira mais adequada para a estrutura da universidade - disse Aguiar em entrevista, lembrando casos de instituições que adotaram a paridade e não tiveram êxito com o sistema.
O professor afirmou que estava com viagem marcada para o Chile no próximo dia 19, e que soube por telefone que seu nome foi colocado em votação. Ele disse que está com um pepino e afirmou apostar em diálogo com outros setores. Ele ressaltou que não será candidato a reitor nas eleições, ficando apenas no cargo pro-tempore, se for o escolhido por Haddad.
Nesta segunda-feira, os estudantes decidiram, em assembléia, manter a ocupação da UnB. Para desocupar o local, os estudantes exigem que todas as reivindicações sejam aceitas e não se contentam apenas com a renúncia do reitor Timothy Mulholland, acusado de improbidade administrativa. (Veja fotos da assembléia de estudantes)
Mulholland é suspeito de usar verba da Fundação de Empreendimentos Científicos e Tecnológicos (Finatec), ligada à universidade, para gastos uma reforma luxuosa do seu apartamento funcional. Nesta segunda, foram anunciadas medidas para impedir que as fundações ligadas às universidades federais sejam utilizadas como fachada para gastos irregulares com verbas públicas. Na quinta-feira, Mulholland pediu licença por 60 dias e o vice-reitor Edgar Mamiya o substituiu provisoriamente. No sábado, Mamiya também pediu afastamento. No domingo, Mulholland anunciou seu afastamento definitivo do cargo . Em carta, disse que deixa o cargo "com certeza do dever cumprido" e com a convicção de que o ministro saberá conduzir bem o processo. . (Veja fotos da ocupação) .
Agora, a principal reivindicação dos estudantes é a paridade nas eleições - que o voto dos alunos e servidores tenham o mesmo peso do voto dos professores da UnB. Atualmente, os votos dos professores têm peso de 70%, contra 15% para estudantes e 15% para funcionários.
Com a demissão de reitor e vice, todos os decanos (diretores de área), por ocuparem cargos de confiança, perdem o posto. Isso significa que o terceiro vértice das investigações de mau uso de verbas de pesquisa da UnB, o decano de Administração, Érico Weidle, também está fora do comando da UnB.
Mulholland e Weidle foram denunciados à Justiça por desvio de uso de R$ 470 mil do Fundo de Apoio Institucional da UnB, que foram empregados na decoração do apartamento funcional do reitor.
Mamiya não foi denunciado, mas é investigado por procuradores da República e promotores do Distrito Federal no caso de uma viagem, que teria sido custeado com recursos para programa de saúde indígena, e por 32 almoços e jantares pagos com verbas de convênios firmados por fundações de apoio à pesquisa ligadas à UnB.
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