Por César Illiano
BUENOS AIRES (Reuters) - Cristina Fernández de Kirchner recebeu na segunda-feira, entre lágrimas, a Presidência da República Argentina das mãos de seu marido, Néstor Kirchner.
Diante de líderes de todo o continente no Congresso, Cristina, de 54 anos, jurou "por Deus, pela pátria e os Santos Evangelhos" como primeira mulher eleita nas urnas para presidir a Argentina.
Usando um sóbrio vestido branco, a nova presidente se comprometeu a manter as políticas de seu marido contra a pobreza e disse que seguirá o exemplo de luta de Eva Perón.
"Sempre faltará a vitória definitiva até que haja um pobre na pátria", ressaltou ela no discurso improvisado e de tom severo, em que aproveitou também para estender a mão ao vizinho Uruguai, com quem a Argentina mantém uma disputa diplomática.
De carro, ela percorreu o trajeto que separa o Congresso da Casa Rosada, acenando pela janela a centenas de seguidores.
"Vai ser uma boa presidente, tem uma boa atitude, um caráter forte e vai lutar pelos pobres", disse a dona-de-casa Silvia Sergio, 59 anos, que vive no subúrbio de Buenos Aires.
Cristina chega à presidência depois de uma longa carreira na militância política e de quase duas décadas como parlamentar.
"Isso mostra a mudança de época, as mulheres por fim estão ocupando o lugar que merecem na história latino-americana", disse o presidente do Equador, Rafael Correa.
A nova presidente, que manterá a maioria dos ministros do marido, prometeu preservar o modelo voltado para o consumo doméstico, o que permite à Argentina crescer mais de 8 por cento ao ano desde 2003, embora tenha ressuscitado o risco de inflação, que beira os 9 por cento ao ano.
Segundo cifras oficiais, em cinco anos a pobreza caiu de mais de 54 por cento da população para 23 por cento.
Outro desafio do governo Cristina será o da infra-estrutura, especialmente energética.
AGENDA INTERNACIONAL
Com estreitas relações com o presidente esquerdista da Venezuela, Hugo Chávez, a nova presidente enfrentará o desafio de definir qual será sua relação com os Estados Unidos. O governo de Néstor Kirchner se caracterizou pela discrição em questões internacionais.
Em seu discurso, Cristina mostrou sua proximidade com Chávez ao afirmar que espera que em breve o Congresso brasileiro aprove a adesão da Venezuela ao Mercosul.
Ela também aproveitou a presença de seu colega uruguaio, Tabaré Vázquez, para mandar uma mensagem de conciliação a respeito da disputa entre os dois países por causa da construção de uma fábrica de papel no lado uruguaio da fronteira.
"[O Uruguai] não terá desta presidente um só gesto que aprofunde as diferenças que temos", disse ela. "Mas também com a mesma sinceridade quero lhe dizer que esta situação que hoje atravessamos não é imputável a nós."
A nova presidente também se comprometeu a colaborar com a Colômbia pela libertação de reféns da guerrilha Farc, entre os quais está a ex-candidata colombiana a presidente Ingrid Betancourt.
(Reportagem de César Illiano, com a colaboração de Karina Grazina, Damian Wroclavsky e Lucas Bergman, texto de Alejandro Lifschitz)
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