Por Mohammed Assadi
RAMALLAH, Cisjordânia (Reuters) - Em seu primeiro discurso desde a vitória militar do Hamas na Faixa de Gaza, o presidente palestino, Mahmoud Abbas, da facção Fatah, disse na quarta-feira que não poderá haver reconciliação com um grupo que ele chamou de "traidor".
Suspendendo o embargo diplomático que vigorava desde a vitória eleitoral do Hamas no ano passado, a chanceler de Israel, Tzipi Livni, conversou com o novo primeiro-ministro indicado por Abbas no gabinete que substitui o governo que era liderado pelo grupo islâmico.
Cada vez mais isolado na Faixa de Gaza, o Hamas busca uma aproximação com Abbas. Mas o presidente, elogiado no exterior por romper com o Hamas, fez uma rara demonstração pública de recriminação, rejeitando os contatos.
"Nada de diálogo com esses assassinos", disse Abbas em discurso à direção da Organização para a Libertação da Palestina, da qual a Fatah é parte.
"Dirijo-me ao povo em Gaza. Digo a ele que os planos desses assassinos golpistas não têm futuro", disse ele em pronunciamento pela TV, temperado por citações do Corão e pela acusação --rejeitada pelo Hamas-- de que os "traidores" de Gaza teriam tentado matá-lo.
O Hamas rejeita o novo gabinete de Abbas e se considera ainda à frente da coalizão formada em março. Milhares de palestinos saíram às ruas de Gaza após o discurso de Abbas, queimando fotos dele e chamando-o de "fantoche dos EUA".
Sami Abu Zuhri, do Hamas, acusou Abbas de ser parte de "um complô israelense, norte-americano e regional para separar a Faixa de Gaza da Cisjordânia".
Recebendo na terça-feira o primeiro-ministro israelense, Ehud Olmert, o presidente dos EUA, George W. Bush, manifestou apoio a Abbas, por ser "o presidente de todos os palestinos".
Os EUA e a União Européia prometem suspender o embargo econômico e diplomático que vigorava desde março de 2006, quando o Hamas assumiu o controle do governo. Israel busca garantias de que a ajuda não chegará à administração do Hamas em Gaza.
Como gesto inicial, Olmert prometeu liberar os impostos arrecadados por Israel em nome dos palestinos, mas retidos há mais de um ano. Ao deixar a Casa Branca, ele afirmou que pedirá no domingo a seu gabinete que aprove a liberação das verbas.
Mas líderes da Fatah duvidam da disposição de Olmert em negociar. "Israel está liberando dinheiro não porque seja honrado, eles querem apenas reforçar a divisão entre Cisjordânia e Gaza", afirmou Mohammad Dahlan, chefe de segurança nacional de Abbas, na terça-feira à Reuters.
Em seu discurso, Abbas disse que não aceitará "nenhuma tentativa israelense de tirar vantagem deste ato perpetrado pelas milícias do golpe para abrirem caminho para a separação de Gaza e da Cisjordânia".
Os palestinos, afirmou, vão "restaurar a unidade e a pátria" num "Estado baseado nos pilares da democracia". Ele também sugeriu mudanças na lei eleitoral.
Depois de assistir à distância aos combates da semana passada entre Hamas e Fatah, Israel atacou na quarta-feira na Faixa de Gaza, matando quatro militantes palestinos. Um soldado israelense ficou ferido. Houve bombardeios também contra locais usados para o lançamento de foguetes contra o Estado judeu.
Também na quarta-feira, tropas israelenses mataram dois palestinos, nenhum deles do Hamas, na Cisjordânia, onde Israel mantém uma força de ocupação.
(Reportagem adicional de Wafa Amr e Ali Sawafta em Ramallah e Nidal al-Mughrabi em Gaza)
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