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22 de junho de 2007

Um homem na sombra de ‘Ségo’

François Hollande
candidatura da companheira de há quase 30 anos à presidência da República francesa deixou-o na sombra. Alguns especularam nas semanas anteriores ao escrutínio que François Hollande, em caso de vitória de Ségolène Royal, ficaria na situação embaraçosa de ‘primeira dama’ do Estado francês. A derrota de Ségolène poupou-o a essa humilhação mas os resultados dos socialistas, bem menos negativos do que se temia, na segunda volta das legislativas – graças a uma chefia mais dela do que dele – parece terem sido a gota que fez trasbordar a taça de uma relação há muito desgastada por desacordos políticos e por traições amorosas da parte de Hollande. Num golpe rotulado de oportunismo político pelos mais cáusticos, que imputam a responsabilidade do facto a Ségolène, o fim do ‘idílio’ foi tornado público na própria noite eleitoral do passado domingo.
A Hollande confirmou o fim do mais famoso romance da política francesa com um lacónico ‘sim’, mas ela, garantindo que não desejava a divulgação do facto antes de segunda-feira, pôs um ponto final na relação mais peremptório e bem menos discreto: “Pedi a François Hollande que saísse de casa e fosse viver à sua vontade a sua história sentimental, já revelada em livros e jornais, e desejei-lhe felicidades.” É clara a alusão às infidelidades de Hollande, mas o assunto não mereceu comentários da parte do visado.
O ainda primeiro-secretário do Partido Socialista tentou encerrar o assunto considerando que pertence à vida privada e garantiu que, para o que é relevante, a ruptura “não teve uma causa política e não terá consequências políticas”. Ora, se no capítulo das causas a declaração não parece verdadeira, no capítulo das consequências não se afigura provável.
É que na história do casal os limites do privado e do público, do amoroso e do político, estão traçados de forma muito imprecisa.
Segundo alguns observadores, Ségolène não perdoou ao companheiro a relação que manteve, a partir de 2004, com a jornalista Valérie Trierweiller, da revista ‘Paris Match’. Valérie foi designada para acompanhar as actividades do partido de Hollande mas acabou por acompanhá-lo a ele até ao quarto.
Ora, segundo se conta agora, Ségolène, depois de tomar conhecimento do romance tórrido do companheiro com a bela jornalista, avisou-o para uma vingança longa e doce. A frase utilizada terá sido semelhante a isto: “Primeiro vou obter a candidatura [à presidência] e depois vou destruir-te.” De seguida terá alertado Hollande de que o seu eventual apoio à candidatura de Lionel Jospin, contra ela, seria punido com a proibição de voltar a ver os quatro filhos.
Entretanto, Hollande reagiu mal à escolha de Ségolène como candidata oficial do partido ao Eliseu, pois ele desejava a nomeação, e viu-se esmagadoramente ofuscado pelo encanto e a convicção da companheira. Durante a campanha eleitoral disfarçou muito mal o desconforto.
Oficializada a separação, o próximo passo é a luta pela chefia do Partido Socialista. O actual mandato de Hollande (que lidera o PSF desde 1997) termina em 2008, e ele promete levá-lo até ao fim. Mas Ségolène pretende ‘puxar- -lhe o tapete’ o mais cedo possível, para capitalizar com os ‘bons’ resultados eleitorais de domingo. Mas garante: “Nada farei para prejudicar François.” Ao dizê-lo referia-se à política, mas mesmo aí – e justamente porque os planos político e privado sempre estiveram ligados – poucos acreditam que seja verdade.
Hollande, homem discreto e, segundo os críticos, indeciso até ao desespero, conheceu Ségolène há quase trinta anos, quando ambos frequentavam a École Nationale d’Administration (ENA). O seu ‘idílio’ resistiu a tudo, ou quase, pois há muito que os despiques políticos eram prolongamentos (sublimações?) dos desentendimentos conjugais. Agora, Hollande tenta dissociar a política da separação pessoal e evita falar do futuro. Questionado sobre um eventual apoio à ex-companheira para a sucessão na liderança, respondeu apenas: “Veremos!”
A FIGURA
FILHO DA CLASSE MÉDIA
François Hollande (1954) nasceu em Rouen numa família de classe média. A mãe era assistente social e o pai médico. Hollande forma-se em Direito e depois em Gestão, Estudos Políticos e Administração. Conhece Ségolène nos anos 70 e inicia com ela uma ligação amorosa (nunca casaram) de que nascem quatro filhos: Thomas, Clémence, Julien e Flora. Entra na política em 1983 quando é eleito para o conselho municipal de Ussel. Hoje é líder do PSF, deputado e presidente da Câmara de Tulle.
FUGA AO CASAMENTO
Uma vez corou em directo na TV quando Ségolène Royal lhe pediu a mão em directo. Não soube o que dizer, surpreendido pela exuberância da companheira. As explicações posteriores foram, se possível, ainda mais embaraçosas.
O casal teve de esclarecer que tem uma excelente relação e que aquilo não tinha passado de uma brincadeira.
Mas a questão do casamento voltou à baila. Num livro de entrevistas intitulado ‘Maintenant’, Ségolène contou como um dia teve o sonho de casar a bordo de uma piroga, numa ilha do Pacífico. Terão sido os conselheiros de Hollande a ‘matar-lhe’ o sonho.
DE INIMIGO A MANATE CIUMENTO?
Os ‘casos’ de François Hollande são há muito comentados em França mas foram sempre desmentidos por ele e Ségolène Royal.
Além da jornalista Valérie Trierweiller foi também muito ventilada a alegada ligação a Anne Hidalgo, secretária socialista para a Cultura e vice-presidente da Câmara de Paris. Mas o que mereceu menos comentários, e foi ainda desmentido com maior veemência, foi a suposta relação que Ségolène decidiu, por vingança, manter com Arnaud Montebourg.
O deputado socialista, inimigo declarado de Hollande na arena política, chegou a ser apelidado de ‘o playboy de Ségolène’. Isso não a impediu (quem sabe, até contribuiu) para levá-la a nomeá-lo porta-voz da sua corrida à presidência. Foi ele, aliás, quem esteve no centro de um dos incidentes mais mediáticos da campanha.
A 17 de Janeiro, em directo na TV, Montebourg afirma: “Ségolène Royal só tem um defeito: é o seu companheiro.” Terá falado como político ou como amante ciumento? F. J. Gonçalve

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